Curso de Introdução ao Espiritismo
Centre Spirite Lyonnais Allan Kardec
Parte 7
Conseqüências filosóficas da Reencarnação
Objetivo
A lei dos renascimentos explica e completa o princípio da imortalidade. A evolução do ser indica um plano e um objetivo: Esse objetivo, que é a perfeição, não poderia se realizar em uma única existência, por mais longa e frutuosa ela fosse. Devemos ver na pluralidade das vidas da alma a condição necessária à sua educação e ao seu progresso. É por seus próprios esforços, suas lutas, seus sofrimentos que ela se resgata de seu estado de ignorância e se eleva, degrau a degrau, primeiro sobre a Terra, depois através moradas inumeráveis do céu estrelado.
A reencarnação, afirmada pelas vozes de além-túmulo, é a única forma racional sob a qual se pode admitir a reparação das faltas cometidas e a evolução gradual dos seres. Sem ela, não se tem nenhuma sanção moral satisfatória e completa; nenhuma possível concepção de um Ser que governe o universo com justiça.
Metempsicose & Reencarnação
A metempsicose se distingue da reencarnação postulando que, após a morte, o homem possa reencarnar em um corpo humano, animal ou vegetal. Os Espíritos nos ensinam que o Espírito não pode retroceder e que a metempsicose é falsa se entendemos por tal palavra a transmigração do homem no animal e reciprocamente. Pode-se todavia supor que a alma que anima o homem hoje, tenha podido progredir pela seqüência animal ou mesmo vegetal, onde teria adquirido desenvolvimento que teria transformado sua natureza. Sabemos que, sobre o globo, a vida aparece primeiramente sob os mais simples, os mais elementares aspectos, para se elevar, por uma progressão constante, de forma em forma, de espécie em espécie, até o tipo humano, coroando a criação terrestre. Gradualmente, os organismos se desenvolvem, se apuram e a sensibilidade cresce. Lentamente, a vida se desembaraça das restrições da matéria, o instinto cego dá lugar à inteligência e à razão.
Essa escala de evolução progressiva, cujos degraus mais baixos mergulham em abismos tenebrosos, cada alma a teria percorrido ? Antes de adquirir a consciência e a liberdade, antes de possuir em plenitude a sua vontade, teve de animar organismos rudimentares, revestir as formas inferiores da vida ? O estudo do caráter humano, ainda marcado de bestialidade, assim nos levaria à crê-lo.
O sentimento de absoluta justiça nos diz que o animal, assim como o homem, não deve viver e sofrer em troca de nada. Uma cadeia ascendente e contínua parece religar todas as criações, o mineral ao vegetal, o vegetal ao animal, e este ao homem. Ela pode religá-los duplamente, ao material como ao espiritual. Estas duas formas de evolução seriam paralelas e solidárias, a vida não sendo mais que uma manifestação do espírito.
De qualquer forma que tenha sido, a alma, chegada ao estado humano, e tendo adquirido a consciência, não pode mais retroceder.
Desigualdades & Injustiças
A pluralidade das existências pode explicar por si só a diversidade dos caracteres, a variedade de aptidões, a desproporção das qualidades morais, em uma palavra, todas as desigualdades que chamam nossa atenção.
Fora desta lei, se perguntaria em vão por que certos homens possuiriam o talento, os sentimentos nobres, as aspirações elevadas, enquanto que tantos outros não têm em contrapartida senão tolice, paixões vís e instintos grosseiros.
Que pensar de um Deus que, em nos assinando uma única vida corporal, nos teria feito tão desiguais e, do selvagem ao civilizado, teria reservado aos homens bens tão pouco convenientes e um nível moral tão diferente ? Sem a lei das reencarnações, seria a iniquidade que governaria o mundo.
Se tudo começasse para nós com a vida atual, como explicar tanta diversidade nas inteligências, tantos degraus na virtude ou no vício, tantos escalões nas situações humanas ? Um mistério impenetrável pairaria sobre certos gênios precoces, sobre certos espíritos prodigiosos que, desde sua infância, se lançam com ardor nos atalhos da arte e da ciência, enquanto que tantos jovens pastelam nos estudos e permanecem medíocres malgrado seus esforços.
Todas essas obscuridades se dissipam diante da doutrina das existências múltiplas. Os seres que se distinguem por seu poder intelectual ou suas virtudes, têm vivido mais, trabalhado há mais tempo, adquirido uma experiência e aptidões mais extensas.
O progresso e a elevação das almas dependem unicamente de seu trabalho, da energia empregada por eles no combate vital. Uns lutam com coragem e transpõem rapidamente os degraus que os separam da vida superior, enquanto que outros se imobilizam durante séculos por existências ociosas e estéreis. Mas essas desigualdades, resultado das ações do passado, podem ser resgatadas e niveladas por nossas vidas futuras. Assim a sanção moral, tão insuficiente, por vezes tão nula, quando estudada sob o ponto de vista de uma única vida, se torna absoluta e perfeita ante a sucessão de nossas existências. Há uma correlação estreita entre nossos atos e nosso destino. Sofremos em nós mesmos, em nosso ser interior e nos eventos de nossa vida, o contragolpe de nossas ações. Nossa atividade, sob todas as formas, é criadora de elementos bons e maus, de efeitos próximos ou longínqüos, que recaem sobre nós em chuvas, em tempestades, ou em raios de alegria. O homem constrói seu próprio porvir. Até aqui, na sua incerteza, na sua ignorância, ele construiu às cegas e sofreu sua sina sem poder explicá-la. Logo, melhor esclarecido, penetrado pela majestade das leis superiores, compreenderá a beleza da vida, que reside nos esforços corajosos e dará à sua obra um impulso mais nobre e mais elevado.
Encarnação & Desencarnação
A união da alma ao corpo se efetua por meio do envelope fluídico, do perispírito. Por sua natureza sutil, ele servirá de laço entre o espírito e a matéria. Depois da concepção até o nascimento, a fusão se opera lentamente entre os corpos físicos e o perispírito, os movimentos vibratórios do perispírito da criança vão se minorando e se reduzindo, ao mesmo tempo em que as faculdades da alma, a memória, a consciência, se apagam e se aniquilam. É a esta redução das vibrações fluídicas do perispírito, à sua oclusão na carne, que é preciso atribuir a perda da lembrança das vidas anteriores. Um véu sempre mais espesso envolve a alma e extingue suas radiações interiores. Todas as impressões de sua vida celeste e de seu longo passado mergulham nas profundezas do inconsciente. Elas não emergirão mais senão nos momentos de exteriorização ou na morte, quando o espírito, recuperando a plenitude de seus movimentos vibratórios, evocará o mundo adormecido de suas lembranças.
No momento da morte, tudo está em princípio confuso; é preciso algum tempo para a alma se reconhecer; ela está aturdida, e no estado de um homem saindo de um profundo sono, que procura se dar conta da situação. A lucidez das idéias e a memória do passado lhe vêm à medida que se apaga a influência da matéria da qual ela acaba de se desembaraçar, e que se dissipa a espécie de névoa que obscurece seus pensamentos.
A duração do problema que se segue à morte é muito variável, e pode ser somente de algumas horas, como de vários dias, de vários meses, e mesmo de vários anos. É menos longo entre aqueles que estão identificados por sua vivência com o estado futuro, porque compreendem imediatamente a sua situação ; é de qualquer forma mais longo para o homem que viveu mais materialmente.
Esquecimento do passado
Nós vimos precedentemente as causas orgânicas do esquecimento das vidas passadas. Resta-nos compreender sua utilidade: se o homem guardasse a lembrança de seus atos, teria também conservado a dos atos dos outros. As conseqüências nas relações sociais seriam consideráveis: imagine a situação de uma mãe que teria por seu filho um ser com o qual ela teria de alguma forma se desentendido! Os seres que reencarnam juntos para se perdoarem de suas faltas passadas e para aprenderem a se amar seriam continuamente entravados pela lembrança dos atos cometidos. O perdão seria muito mais difícil e o ódio se perpetuaria entre os seres.
Demografia
Opõe-se freqüentemente à teoria das vidas sucessivas a demografia humana. Com efeito, a Terra tinha uma população de 1 bilhão de habitantes, contra 6 bilhões no ano 2000. Como explicar este aumento?
O problema é simples de resolver se sairmos dessa visão estreita que faz com que a Terra seja o único mundo habitado e se considerarmos os bilhões de galáxias que preenchem o Universo. Deus não as criou para o prazer dos nossos olhos ! Os mundos habitados evoluem com os seres que os compõem ; à medida que os mundos de expiação e provas, como a Terra, se transformam em mundo de regeneração, o mal é pouco a pouco excluído. Por conseqüência, os Espíritos que se obstinam nesta via se encontram deslocados e irão continuar sua evolução sobre outros mundos que apresentam mais afinidade com seu estado.
Para saber mais:
- O Livro dos Espíritos Allan Kardec (2ª parte, cap. II, Encarnação dos Espíritos)
- O Livro dos Espíritos Allan Kardec (2ª parte, cap. III, Retorno da vida corporal à vida espiritual)
- O Livro dos Espíritos Allan Kardec (2ª parte, cap. IV, Pluralidade das existências)
- O Livro dos Espíritos Allan Kardec (2ª parte, cap. V, Considerações sobre a pluraldade das existências)
- O Livro dos Espíritos Allan Kardec (2ª parte, cap. XI, Metempsicose)
- O Livro dos Espíritos Allan Kardec (2ª parte, cap. VII, Retorno à vida corporal)
- O que é o Espiritismo ? Allan Kardec (n° 116-117, 144-145)
- O Evangelho Segundo o Espiritismo Allan Kardec (cap. IV, Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo)
- Após a morte Léon Denis (2ª parte, cap. XI, A pluralidade das existências)
- Após a morte de Léon Denis (4ª parte, cap. XLI, Reencarnação)
- O Problema do Ser e do destino Léon Denis (2ª parte, cap. XIII, As Vidas sucessivas. A Reencarnação e suas leis)
- O Problema do Ser e do destino Léon Denis (2ª parte, cap. XVI, As Vidas sucessivas. Objeções e críticas)
- Synthèse pratique du Spiritualisme de Léon Denis (II. De la Réincarnation)
- Spiritualisme vers la lumière de Louis Serré (Hérédité - Réincarnation, page 102)
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