Capítulo 11
Reencarnação
11.1 - Pluralidade X Unicidade das Encarnações
A reencarnação se baseia nos princípios da misericórdia e da
justiça de Deus.
Na misericórdia divina, porque, assim como o bom pai deixa
sempre a porta aberta a seus filhos faltosos, facultando-lhes a reabilitação,
também Deus - através das vidas sucessivas - dá oportunidade para que os homens
passam corrigir-se, evoluir e merecer o pleno gozo de uma felicidade duradoura.
Emmanuel chega a dizer que “a reencarnação é quase o perdão de Deus.”
Na lei de justiça, pois os erros cometidos e os males
infligidos ao próximo devem ser reparados durante novas existências, a fim de
que, experimentando os mesmos sofrimentos, os homens possam resgatar seus
débitos, passando a conquistar o direito de serem felizes.
A unicidade das existências é injusta e ilógica, pois não
atende às sábias leis do progresso espiritual.
É injusta, porque grande parte dos erros humanos é resultante
da ignorância e, numa só vida, não nos é possível o resgate de nossos erros,
principalmente quando o arrependimento nos sobrevém quase ao findar da
existência. É preciso que se dê oportunidades ao arrependido para que ele comprove
sua sinceridade através das necessárias reparações.
É ilógica, porque não pode explicar as gritantes diferenças
de aptidões das criaturas desde sua infância; as idéias inatas,
independentemente da educação recebida, que existem nuns e não aparecem em
outros; os instintos precoces, bons ou maus, não obstante a natureza do meio
onde nasceram.
As reencarnações representam para as criaturas imperfeitas
valiosas oportunidades de resgate e de progresso espiritual.
Só a pluralidade das existências pode explicar a diversidade
dos caracteres, a variedade das aptidões, a desproporção das qualidades morais,
enfim, todas as desigualdades que ferem a nossa vista.
Fora dessa lei, indagar-se-ia inutilmente porque certos
homens possuem talento, sentimentos nobres, aspirações elevadas, enquanto
muitos outros só tiveram em partilha tolices, paixões e instintos grosseiros.
A influência dos meios, a hereditariedade, as diferenças de
educação não bastam para explicar essas anomalias. Vemos os membros de uma
mesma família, semelhantes pela carne e pelo sangue, educados nos mesmos
princípios, diferençarem-se em bastantes pontos; personagens célebres têm
descendido de pais obscuros e destituídos de valor mora.
Os que defendem a unicidade das existências afirmam que isto
se deve ao acaso ou constitui-se um mistério divino. Mas quando passamos a
admitir a idéia de que já vivemos muitas vezes e voltaremos a viver outras
tantas, tudo se esclarece, tudo se torna compreensível e Deus, Justo, Bom e
Caridoso cresce diante do homem.
11.2 - Reencarnação nos Evangelhos
Em várias passagens dos Evangelhos aparece claramente a idéia
da reencarnação, mas Allan Kardec examina três, que ele considerava como as
mais importantes:
1ª) “Após a transfiguração, seus discípulos então o
interrogaram desta forma: Porque dizem os escribas ser preciso que antes volte
Elias? - Jesus lhes respondeu: É verdade que Elias há de vir e restabelecer
todas as coisas, mas eu vos declaro que Elias já veio e eles não o conheceram e
o trataram como lhes aprouve. Então, seus discípulos compreenderam que fora de
João Batista que ele falara.” [Mateus-XVII:10-13] [Marcos-IX:11- 13]
A consideração de que João Batista era Elias está
presente várias vezes no Evangelho, reforçando a idéia de que muitos judeus
tinham simpatia pela Teoria Palingenésica. Se fosse errôneo este pensamento,
certamente Jesus o teria combatido, como fez em relação a vários outros.
2º) ”Ao passar, viu Jesus um homem que era cego
desde que nascera; - e seus discípulos e fizeram esta pergunta: Mestre, foi
pecado deste homem, ou dos que o puseram no mundo, que deu causa a que ele
nascesse cego? - Jesus lhes respondeu: não é por pecado dele, nem dos que o
puseram no mundo; mas para que nele se patenteiam as obras do poder de Deus.”
[João-IX:1-34]
A pergunta dos discípulos: “foi algum pecado deste
homem que deu causa aquele nascesse cego?” revela que eles tinham a intuição de
uma existência anterior, pois, do contrário, ela careceria de sentido, visto
que um pecado somente pode ser causa de uma enfermidade de nascença se cometido
antes do nascimento, portanto numa existência anterior.
3º) ”Ora, entre os fariseus havia um homem
chamado Nicodemos, senador dos Judeus, que veio à noite ter com Jesus e lhe
disse: Mestre, sabemos que vieste da parte de Deus para nos instruir como um
doutor, porquanto ninguém poderia fazer os milagres que fazes, se Deus não estivesse
com ele.
Jesus lhe respondeu: em verdade, em verdade, dito-te:
ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.” [João-III:1-12]
Não há dúvidas de que, sob o nome de ressurreição, o
princípio da reencarnação era ponto de uma das crenças dos judeus, ponto que
Jesus e os profetas confirmaram de modo e forma. Donde se segue que negar a
reencarnação é negar as palavras do Cristo.
11.3 - Evidências Científicas
As principais evidências científicas da reencarnação são:
Gênios Precoces
São crianças prodígios, que desde a mais tenra idade mostram
possuir conhecimentos de tal ordem à respeito de temas os mais diversos que
seria impossível explicá-los sem a certeza de que viveram antes.
Kardec, examinando a questão pergunta aos benfeitores como
entender este fenômeno [LE - qst 219] e eles dizem:
“Lembrança do passado, recordação anterior da alma.”
Recordação Espontânea de Vidas Passadas
Caracteriza-se pelo fato de pessoas, especialmente crianças
passarem a se recordar espontaneamente de vidas anteriores.
Regressão de Memória a Vidas Anteriores
Inúmeros casos têm surgido de pessoas que passam a relatar
vivências anteriores durante o fenômeno, hoje relativamente comum, de regressão
de memória.
No final do século passado, o pesquisador francês Alberto
Rochas, realizando experiências com regressão de memória conseguiu levar uma
das suas pacientes a uma existência precedente. A partir daí vários outros
cientistas, em diversas partes do mundo, começaram a desenvolver essas
técnicas, conseguindo anotar milhares de referências concordantes com o
princípio da Palingênese.
Recentemente, este processo foi desenvolvido com fins
terapêuticos, onde psiquiatras espiritualistas se utilizam de técnicas
apropriadas para, através da regressão de memória, dissolverem condições
neuróticas de pacientes psiquiátricos. Esses processo, ainda no campo
experimental, portanto não aceito pela Ciência Oficial, recebeu o nome de
T.V.P. (Terapia de Vidas Passadas).
11.4 - Objetivos da reencarnação
Ensina-nos Allan Kardec [LE - qst 330] que a reencarnação
está para os Espíritos, assim como a morte está para os encarnados: é um
processo inelutável, tão certo quanto o desencarne o é para os homens.
A encarnação é uma necessidade evolutiva, porque somente ao
contato com a matéria física consegue o Espírito certos elementos necessários
ao seu progresso.
A luta pela sobrevivência, o período de infância, o
esquecimento do passado são condições exclusivas da vida na Terra e essenciais
à aquisição de certos valores.
O Espírito São Luís, examinando o tema diz:
“A passagem dos Espíritos pela vida corpórea é
necessária, para que eles possam realizar, com a ajuda do elemento material, os
propósitos cuja execução Deus lhe confiou. É ainda necessária por eles mesmo,
pois a atividade que então se vêem obrigados a desempenhar ajuda-os a
desenvolver a inteligência. Deus, sendo soberanamente justo, deve aquinhoar eqüitativamente
a todos os seus filhos É por isso que Ele concede a todos o mesmo ponto de
partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de
ação.” [ESE - cap. IV]
Kardec completa o tema:
“A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover
ao alimento do corpo, à sua segurança, ao seu bem estar, o força a empregar
suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil,
portanto, ao seu adiantamento é a sua união com a matéria. Daí se constituir
uma necessidade a encarnação. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele
executa em seu proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e progresso
material do globo que lhe serve de habitação. É assim que, progredindo, colabora
na obra do Criador, da qual se torna fator inconsciente.” [Gên]
Estes objetivos reencarnatórios são sistematizados
didaticamente por Allan Kardec em três tipos: expiação, prova e missão [LE - qst
872].
Expiação
Expiar, segundo a definição vulgar, significa sofrer em
função de alguma coisa. A expiação surge como objetivo encarnatório, quando o
homem malbarata o código divino que rege o universo. Quando o indivíduo por
excessos, maldade ou por imprudência fere a lei geral que cuida dos nossos
destinos, torna-se incurso na Lei de Causa e Efeito, para que, através do
sofrimento, se reeduque.
“A expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais
que são conseqüentes à uma falta, seja na vida atual, seja na vida espiritual
após a morte, ou ainda em nova existência corporal.” [CI - cap. VIII]
Em [O Consolador - qst 246] Emmanuel afirma:
“A expiação é a pena imposta ao malfeitor que comete
um crime.”
I - Características
da expiação
•
Sempre dolorosa
•
Sempre ligada a uma falta
|
Prova (Provação)
Ainda em [O Consolador - qst 246] Emmanuel continua:
“A prova é a luta que ensina ao discípulo rebelde e
preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual.”
As provas são uma série de situações apresentadas ao
Espírito encarnado objetivando o seu crescimento. Através do esforço próprio,
das lutas e do sacrifício ele vai burilando a sua personalidade, desenvolvendo
a sua inteligência e se iluminando espiritualmente.
“Não se deve crer que todo sofrimento por que se
passa neste mundo seja necessariamente o indício de uma determinada falta:
trata-se, freqüentemente, de simples provas escolhidas pelo Espírito, para acabar
a sua purificação e acelerar o seu adiantamento.” [ESE - cap. V it 9]
Lembra Kardec que nem toda prova é uma expiação, mas
em toda expiação há uma prova, porque diante do sofrimento expiatório, o homem
ver-se-á convidado a desenvolver (lutar) pelos valores de resignação.
II - Características
da prova
•
Não está vinculada a uma falta
•
Não é sempre dolorosa, embora possa ser
•
Representa sempre luta para crescimento pessoal
|
Missão
“Um Espírito querendo avançar mais, solicita uma
missão, uma tarefa, pela qual será tanto ou mais recompensado, se sair
vitorioso.”[ESE - cap. V it 9]
Pelo exposto, podemos entender a missão como sendo uma
tarefa específica que objetiva o bem da criatura.
Lembra ainda Kardec que:
“Todo homem, sobre a Terra, tem uma pequena ou grande
missão” e que “as missões dos Espíritos tem sempre o bem por objeto. Há tantos
gêneros de missões quanto as espécies de interesses a resguardar.”
Informa que a importância das missões está em relação
com a capacidade e a elevação do Espírito, e que cada um tem sua missão neste
mundo, porque cada um pode ser útil em algum sentido.
Kardec [CI] emprega ainda a expressão reparação para designar
aquela condição onde o indivíduo reencarna com o propósito de fazer o bem a
quem ontem fez o mal.
Pode-se considerar a reparação como uma variante da missão.
III -
Características da missão
•
Tarefa específica
•
Pressupõe certa condição evolutiva prévia
•
Objetiva o melhoramento de algo ou alguém
|
Bibliografia
•
O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
•
Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec
•
A Gênese - Allan Kardec
•
O Consolador - Emmanuel/Chico Xavier
•
O Problema do Ser, do Destino e da Dor - Leon Denis
•
A Reencarnação e Suas Provas - Carlos Imbassahy
•
Reencarnação - Gabriel Delanne
•
Depois da Morte - Leon Denis
•
A Memória e o Tempo - Hermínio Miranda
Nenhum comentário:
Postar um comentário