Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O CINISMO, A HIPOCRISIA E A ESSÊNCIA HUMANA


Euzebio Raimundo da Silva

Trago para mais uma discussão um tema muito importante para as nossas reflexões. A questão do cinismo, hipocrisia e essência humana em nossa sociedade. Apresento algumas considerações que nós Espíritas devemos conhecer tendo em vista que é um assunto atual, no qual inclusive servirá de base para uma palestra que farei na X Semana de Direitos Humanos que acontecerá na Universidade Federal do Recôncavo na Cidade de Cachoeira-Bahia. Reflitamos:
O Cinismo foi uma corrente filosófica fundada por um discípulo de Sócrates, chamado Antístenes, e cujo maior nome foi Diógenes de Sínope, por volta de 400 a.C., que pregava essencialmente o desapego aos bens materiais e externos.
O termo passou à posteridade como caraterização pejorativa de pessoas sem pudor, indiferentes ao sofrimento alheio (que em nada se assemelha a origem filosófica da palavra).  Supostamente, o pensamento cínico teve origem numa passagem da vida de Sócrates: estando este a passar pelo mercado de Atenas, teria exarado o comentário:
   “VEJAM DE QUANTAS COISAS PRECISA O ATENIENSE PARA VIVER”
    Ao mesmo tempo demonstrava que de nada daquilo dependia. De fato, o que o filósofo propunha era a busca interna da felicidade, que não tem causas externas — aspecto ao qual os cínicos passaram a defender, não somente com palavras, mas pelo modo de vida adotado.
Ao contrário da acepção moderna e vulgar da palavra para o cinismo, o objetivo essencial da vida era a conquista da virtude moral, que somente seria obtida eliminando-se da vontade todo o supérfluo, tudo aquilo que fosse exterior. Defendiam um retorno à vida da natureza, errante e instintiva, como a dos cães.
Afirmavam que dispunha o homem de tudo que necessitava para viver, independente dos bens materiais. A isto chamavam de Autarcia (ou a variante, porém com outra acepção mais difundida, Autarquia) - condição de auto-suficiência do sábio, a quem basta ser virtuoso para ser feliz. O termo grego original é autárkeia - significando auto-suficiência.
Sua filosofia partia do princípio de que a felicidade não depende de nada externo à própria pessoa, ou seja, coisas materiais, reconhecimento alheio e mesmo a preocupação com a saúde, o sofrimento e a morte, nada disso pode trazer a felicidade. Segundo os Cínicos, é justamente a libertação de todas essas coisas que pode trazer a felicidade que, uma vez obtida, nunca mais poderia ser perdida.
A hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a pessoa na verdade não possui. A palavra deriva do latim hypocrisis e do grego hupokrisis ambos significando a representação de um ator, atuação, fingimento (no sentido artístico). Essa palavra passou, mais tarde, a designar moralmente pessoas que representam, que fingem comportamentos Um exemplo clássico de ato hipócrita é denunciar alguém por realizar alguma ação enquanto realiza a mesma ação.
O cientista cognitivo Keith Stanovich fez uma carreira do estudo da hipocrisia. Ele a vê como surgindo da incompatibilidade de tais coisas como o interesse próprio e os desejos com crenças de ordem mais alta na moralidade e na virtude.

As únicas pessoas que não são hipócritas são a minúscula e talvez não-existente minoria que é tão santa que nunca se entregam a seus instintos mais básicos e o grupo maior que nunca tenta viver segundo os princípios da moralidade ou virtude. Ele dessa forma defende que os hipócritas são na verdade a classe mais nobre das pessoas.
François duc de la Rochefoucauld revelou, de maneira mordaz, a essência do comportamento hipócrita: "A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude". Ou seja, todo hipócrita finge emular comportamentos corretos, virtuosos, socialmente aceitos.
Hipocrisia é pretensão ou fingimento de ser o que não é. Hipócrita é uma transcrição do vocábulo grego "hypochrités". Os atores gregos usavam máscaras de acordo com o papel que representavam numa peça teatral. É daí que o termo hipócrita designa alguém que oculta a realidade atrás de uma máscara de aparência.
O Evangelho de Mateus capítulo 23, versículos 13 a 15:
  " Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós.”
No que concerne a essência humana, Até Marx todas as ontologias tinham que ser conservadoras porque partiam de uma concepção da essência humana enquanto eterna historicamente imutável. A partir de Marx a essência humana é o conjunto das relações sociais e que, portanto, tal essência é parte integrante, movida e movente, da história
O que caracteriza o primeiro período é a concepção dualista/transcendental de que teríamos um “verdadeiro ser”, que corresponderia à essência, à eternidade, ao fixo; e um ser menor, ou uma manifestação “corrompida” do ser, que seria a esfera do efêmero, do histórico, do processual.
Tal como os gregos, os homens medievais também concebiam a sua história como a eles imposta por forças que estes jamais poderiam controlar. Diferente dos gregos, contudo, a concepção cristã pressupõe os homens como essencialmente ruins, pecadores e, por isso, merecedores do sofrimento terreno. A passagem do mundo medieval ao mundo moderno não conseguiu romper completamente com a dualidade entre a eternidade da essência e a historicidade do mundo dos homens
Certamente, o pensamento moderno abandona a concepção medieval de uma essência divina dos homens; a essência humana é agora entendida como a «natureza» dos homens. Esta “natureza”, por sua vez, nada mais é que a projeção à universalidade da “natureza específica” do homem burguês: acima de tudo, ser proprietário privado
Os padrões modernos de racionalidade e de essência humanas correspondem às condições de vida nas sociedades mercantis, então em pleno desenvolvimento. A relação comercial capitalista, um momento apenas particular da história, é transformada na essência eterna e imutável de todas as relações sociais: o homem se converte em lobo do homem
Assim, que possamos refletir para onde vai a nossa humanidade? Com tanta impunidade, falta de referência (valor moral) e sobretudo, desconhecimento da Lei de Causa e Efeito que nos ensina que tudo que fazemos ao próximo recebemos de volta.

REFERÊNCIAS
1.Stanovich, Keith E. (2009-01-27). What Intelligence Tests Miss: The Psychology of Rational Thought (1 ed.). Yale University Press.
2. Si nous résistons à nos passions, c'est plus par leur faiblesse que par notre force. ("Se resistimos às nossas paixões, é mais pela fraqueza delas que pela nossa força”)
    Maximes du duc de La Rochefoucauld: Précédées d'une notice sur sa vie‎ - item CXXII, p. 33, de François La Rochefoucauld, Charles de Secondat Montesquieu, Vauvenargues, Jean Baptiste Antoine Suard - Publicado por F. Didot frères, 1855 - 345 páginas.

Euzebio Raimundo da Silva é pedagogo, pós-Graduado em Gestão de Pessoas e Coordenador do departamento Doutrinário do Centro Espírita Frei Fabiano de Cristo.

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