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Estudando o Espiritismo
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domingo, 12 de novembro de 2017
PARÁBOLA DOS TALENTOS E DAS MINAS
"Porque isto é também como um homem que, partindo para outro país, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens: a um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um; a cada qual segundo a sua capacidade; e seguiu viagem. O que recebera cinco talentos, foi imediatamente negociar com eles e ganhou outros cinco; do mesmo modo o que recebera dois, ganhou outros dois. Mas o que tinha recebido um só, foi-se e fez uma cova no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles. Chegando o que recebera cinco talentos, apresentou-lhes outro cinco, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos: aqui estão outros cinco que ganhei. Disse-lhe o seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito; entra no gozo do teu senhor. Chegou também o que recebera dois talentos, e disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que ganhei.
Disse-lhe o seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito; entra no gozo do teu senhor. E chegou por fim o que havia recebido um só talento, dizendo: Senhor, eu sei que és homem severo, que ceifas onde não semeastes e recolhes onde não joeiraste; e, atemorizado, fui esconder o teu talento na terra; aqui tens o que é teu. Porém o seu senhor respondeu: Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei, e que recolho onde não joeirei? Devias, então, ter entregado o meu dinheiro aos banqueiros, e, vindo eu, teria recebido o que é meu com juros! Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos; porque a todo o que tem, dar-se-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem ser-lhe-á tirado. Ao servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes".
(Mateus, XXV, 14-30)
1 - CAIRBAR SCHUTEL
"Ouvindo eles isto, prosseguiu Jesus e propôs uma parábola, visto estar ele perto de Jerusalém e pensaram eles que o Reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente. Disse, pois: Certo homem ilustre foi para um país longínquo, a fim de obter para si o governo e voltar. Chamou dez servos seus, deu-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até eu voltar. Mas os seus concidadãos o odiavam, e enviaram após ele uma embaixada, dizendo: Não queremos que este homem nos governe.
Quando ele voltou, depois de haver tomado posse do governo, mandou chamar os servos, a quem dera o dinheiro, a fim de saber como cada um havia negociado. Apresentou-se o primeiro e disse: Senhor, a tua mina rendeu dez. Respondeu-lhe o senhor: Muito bem servo bom, porque foste fiel no mínimo, terás autoridade sobre dez cidades. Veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco. A este respondeu: Sê tu também sobre cinco cidades. E veio outro dizendo: Senhor, eis a tua mina que tive guardada em um lenço; pois eu tinha medo de ti, porque és homem severo, tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste.
Respondeu-lhe: Servo mau, pela tua boca te julgarei. Sabias que sou homem severo, que tiro o que não pus e ceifo o que não semeei; por que, pois não puseste meu dinheiro no banco? e então na minha vinda o teria exigido com juros. E disse aos que estavam presentes: Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem as dez. Responderam-lhe: Senhor, este já tem as dez. Declaro-vos que a todo o que tem dar-se-lhe-á; mas o que a esse meus inimigos, que não quiseram que eu os governasse, trazei-os aqui e matai-os diante de mim".
A Parábola dos Talentos tem a mesma significação que a das Minas. Aquela narrada por Mateus, e esta por Lucas, exprimem perfeitamente os deveres que nos assistem, material, moral e espiritualmente. Todos somos filhos de Deus; o Pai das almas reparte com todos, igualmente os seus dons; a uns dá mais, a outros dá menos, sempre de acordo com a capacidade de cada um. A uns dá dinheiro, a outros sabedoria, a outros dons espirituais, e, finalmente, a outros concede todas essas dádivas reunidas.
De modo que um tem cinco talentos, outro dois, outro um; ou então um tem dez minas, outro cinco, outro duas. Não há privilégios nem exclusões para o Senhor; e se cada qual, cônscio do que possui e compentrado de seus deveres agisse de acordo com os preceitos da lei divina, estamos certos de que ninguém teria razão de queixar-se da sorte ou de clamar contra a "má situação" em que a maioria se diz achar.
Não existe um só indivíduo no mundo que não seja depositário de um talento ou de duas minas. Ainda mesmo aqueles que se julgam miseráveis e mendigam a caridade pública, se perscrutarem as suas aptidões, o que trazem oculto nos recônditos de sua alma, verão que não são tão desgraçados como se julgam. Todos, todos trazem a este mundo talentos e minas para garantir não só o estado presente, como sua situação futura, porque o mundo não é mais que uma estância onde viemos fazer aquisições, provisões para construir e abastecermos a nossa morada futura.
Olhai o mendigo que passa andrajoso e sujo, procurai detê-lo por momentos, inquiri da sua vida, instigai-o a falar, pesquisai suas qualidades e seus defeitos, penetrai no recesso de seu coração e de seu cérebro; estudai-o física, moral e espiritualmente; fazei a sua psicologia, e tereis ocasião de ver nessa figura esquálida, monótona, e por vezes repelente, qualidades superiores às de muitos homens que se ufanam nas praças, assim como vereis nele dons adormecidos, semelhantes às minas escondidas na terra ou ao talento atado a um lenço!
E se assim acontece com o mendigo, o miserável, o andrajoso, com maior soma de razões a parábola tem aplicação aos grandes, aos poderosos, aos doutos, aos sacerdotes que justamente por se intitularem guias dos povos, são merecedores de maior soma de "açoites". Na época em que o senhor das Minas e dos Talentos veio exigir dos servos a primeira prestação de contas, só foram considerados servos maus os que haviam recebido o mínimo de minas e de talentos, pois os que haviam recebido em maior número prestaram boas contas. Mas se o senhor viesse agora a nos pedir conta da nova emissão de dólares, minas, talentos que espalhou pelo mundo, é certo que aconteceria justamente o contrário, porque não vemos o trabalho nem o "negócio" dos que receberam dois, cinco, dez minas e talentos!
Ainda mais, está a parecer-nos que o próprio capital, que pelos servos maus de outrora foi restituído do lenço ou desenterrado, nem este apareceria, pois a época é de "bancarrota" e de "falência fraudulenta". De fato, há dois mil anos o Supremo Senhor enviou ao mundo seu filho dileto e representante, cuja doutrina sábia, consoladora e ungida de amor é a única capaz de salvar a Humanidade; e o que observamos por toda parte? Na esfera religiosa, como na esfera científica o dolo, a má fé, a deturpação da verdade!
O brado das guerras de 1914 a 1939, com as suas consequências, levou a orfandade aos lares, cidades foram devastadas e a imoralidade assentou sua cátedra em toda a parte, banindo das almas os princípios de fraternidade que o Cristo nos legou. E onde estão os subsídios e os subsidiados; os servos, os talentos e as minas legadas no Evangelho às gerações? Esses servos indolentes, cheios de preconceitos e temores humanos, por haverem ocultado os substanciosos ditames que lhes foram doados, para com esse "capital" ganharem meios de se elevarem, passarão por penosa existência de expiação e de trevas até que, mais humildes, mais submissos à vontade divina, recebam novo talento, com o qual possam começar a preparar o seu bem-estar futuro.
E que diremos dos tartufos, dos mercenários, dos trapaceiros, dos ladravazes que unidos em coro impediam e impedem o domínio da lei de Deus, trancando os Céus, não entrando e ainda impedindo a entrada aos que desejam conhecê-lo? Que diremos dos que, semeando o ódio e a dissensão ao alarido dos sinos, dos foguetes e de fanfarra, fazem doutrina pessoal, substituindo o Criador pela criatura, e disseminam a "fé dos concílios" em vez da fé nos preceitos do Cristo?! Que diremos dos submissos, dos subservientes que, tendo idéias espíritas e estando convencidos de que o Espiritismo é a única doutrina capaz de nos iniciar no caminho da perfeição, ou por medo dos "maiorais", ou por medo do ridículo, negam a sua fé, traem a sua consciência, escondem os seus sentimentos?! Não terá o senhor direito de ordenar aos servos: conservai mortos esses suicidas, que se aniquilaram a si próprios; deixai-os no túmulo da descrença que eles próprios cavaram?"
Todos somos filhos de Deus: o Pai reparte igualmente suas dádivas entre todos os seus filhos; faz levantar o Sol para bons e maus e descer as chuvas para os justos e injustos; mas exige que essas dádivas sejam acrescentadas por todos. Os que obedecem a seus preceitos têm o mérito de suas obras; os que desobedecem, o demérito, e são responsáveis pela falta de observância de seus sagrados deveres. O dinheiro não nos foi dado para volúpias nem a sabedoria para estufar; assim como os dons espirituais não nos foram concedidos senão para serem proveitosos à fé, à esperança e à caridade. Mais servos houvessem e mais subsídios lhes fossem concedidos, ainda não bastariam para mal empregarem o seu tempo, esbanjando a fortuna que lhes fora concedida, a eles, meros depositários, e da qual terão de prestar severas contas.
Tratando, pois, de dons-talentos materiais e morais, e de servos dotados com este gênero de subsídio, não é preciso estendermo-nos em maiores considerações. O livro do mundo está aberto e todos podem nele ler o que se passa. Encaremos agora as parábolas sob o ponto de vista espírita. Elas dirigem-se justamente àqueles que tiverem a felicidade de receber e as minas dos conhecimentos espirituais. Ora, é muito sabido que estes acontecimentos quando bem entendidos e bem aplicados, são uma fonte perene de felicidade, e, ao contrário, quando mal entendidos e mal aplicados, são como que setas de remorsos cravadas nas consciências desviadas do bem e da verdade.
Aqueles que recebem a doutrina e ainda os dons espirituais, e os aplicam em proveito próprio e alheio, com o fim especial de tornar conhecida a palavra de Deus, são os que receberam 2 e 5 talentos, 5 e 10 minas; à última hora do trabalho, quando chamados ao ajuste de contas, lhes será dito: "Servos bons e diligentes! Fostes féis no pouco, também o sereis no muito; confiar-vos-ei o muito; entrai no gozo do vosso Senhor". Ou então: "Servo bom, porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades, sobre cinco cidades, de acordo, cada um, com os talentos e as minas que recebeu".
Aqueles que recebem a doutrina e os dons espirituais e não os observam, ou os aplicam mal, prejudicando a causa que deviam zelar, são semelhantes aos que enterraram o talento e as minas. A estes dirá o Senhor: "Dizíeis que o Senhor é exigente e cioso, e, em vez de, ao menos, pordes o talento ou as minas a render juros num banco, os escondestes ou os esbanjastes, pois, pela vossa boca eu vos julgarei; entregai imediatamente as minas e o talento aos que têm dez e cinco, porque a todo o que tem, dar-se-á e terá em abundância, e, ao que não tem, até o que tem ser-lhe-á tirado!".
CAIRBAR SCHUTEL
2 - PAULO ALVES GODOY
Dentre as parábolas de Jesus, talvez esta seja uma das mais importantes, pois, indubitavelmente, ela encerra severa admoestação aos que não fazem bom uso das oportunidades que Deus lhes concede, quando do desempenho do aprendizado terreno.
Todos nós somos aquinhoados com uma parcela de bens quando nascemos na Terra: riqueza, sabedoria e outros bens, e, algumas vezes, todos eles juntos. Tudo isso em maior ou menor proporção, entretanto, uma coisa é inquestionável: a quem muito foi dado muito será pedido, ou, em outras palavras, teremos que prestar contas de tudo aquilo que nos foi confiado, na proporção que tenhamos recebido.
Na parábola deparamos com três personagens distintos: um deles recebendo cinco talentos, outro recebendo dois e o terceiro recebendo apenas um. Os dois primeiros, embora recebendo quantidades diferentes, foram previdentes e aplicaram o que haviam recebido, acumulando juros e prestando contas satisfatórias a seu senhor; o terceiro, por sua vez, embora recebendo a menor quantia, enterrou-a, deixando-a completamente improdutiva, tendo por isso sido severamente admoestado pelo seu senhor, em face de não ter procurado aumentar o capital que lhe fora confiado.
Em nossa vida de relação ocorre o mesmo. Muitos de nós somos aquinhoados com sabedoria e outros bens, aplicamo-os de forma a aumentar o nosso cabedal de conhecimento, prestando contas a Deus quando da nossa reintegração no mundo espiritual, fazendo jus à recompensa, traduzida nas palavras: "Servo bom e fiel, foste fiel no pouco, muito te será confiado".
Existem, porém, os que guardam egoisticamente para si tudo aquilo que recebem, "enterram os talentos", não beneficiando nem a si próprio nem ao seu próximo, tanto os talentos e eles ficaram improdutivos.
Um exemplo tipico do servo bom e fiel, que soube aplicar e multiplicar os talentos recebidos, nos é propiciado por Paulo de Tarso. Recebendo na estrada de Damasco, o convite generoso para seguir a Jesus, não trepidou, e os talentos que havia recebido, e que até então estavam enterrados, duplicaram.., triplicaram, quadruplicaram ...
Enquanto era implacável perseguidor dos cristãos e amante das tradições religiosas, distanciadas da verdade, ele havia enterrado os talentos, porém, tão logo se transformou no maior paladino da divulgação cristã, tornando-se de vacilante discípulo em verdadeiro consolidador das verdades cristãs, ele fez com que os seus talentos multiplicassem, merecendo de Jesus o qualificativo de "servo bom e fiel", a quem muito mais seria confiado.
Ao homem compete a responsabilidade de retribuir, pelo menos de forma duplicada, tudo quanto tenha recebido de Deus, no entanto, mergulha na nulidade o que não faz com que os bens recebidos produzam frutos na proporção de cinqüenta, sessenta ou cem por um, conforme preceitua a Parábola do Semeador.
Podemos simbolizar os que enterram seus talentos, homens como os doutores da Lei, do tempo de Jesus, os quais, com receio de perderem suas posições terrenas, não hesitaram em se insurgir contra as verdades trazidas por Jesus Cristo e até aprovando a sua condenação.
Em perfeita similitude com a Parábola da Candeia, a Parábola dos Talentos nos dá um senso de responsabilidade no desenvolvimento de nossa vida terrena.
Homem diligente e sábio é aquele que faz com que os bens que Deus lhe confiou, se dupliquem, beneficiando a coletividade e disseminando bens de todos os matizes, trazendo luz e esclarecimento àqueles que necessitam.
Homem negligente é o que enterra os talentos, é o que guarda as suas aquisições espirituais apenas para si, fazendo com que ela se torne improdutiva, constiituindo um verdadeiro peso morto no seio da Humanidade.
O homem, que enterra o seu talento, equivale ao que acende a luz e a coloca sob um vaso. Um deixa de beneficiar os seus semelhantes, outro deixa de iluminar aqueles que estão carentes de luz.
Paulo Alves Godoy
3 - RODOLFO CALLIGARIS
Tentemos a interpretação desta parábola. Está visto que o senhor, aí, é Deus; os servos somos nós, é a Humanidade; os talentos são os bens e recursos que a Providência nos outorga para serem empregados em benefício próprio e no de nossos semelhantes; o tempo concedido para a sua movimentação é a existência terrena.
A distribuição de talentos em quantidades desiguais, ao contrário do que possa parecer, nada tem de arbitrária nem de injusta: baseia-se na capacidade de cada um, adquirida antes da presente encarnação, em outras jornadas evolutivas.
Os que recebem cinco talentos são espíritos já mais experimentados, mais vividos, que aqui reencarnam para missões de repercussão social; os que recebem dois, são destinados a tarefas mais restritas, de âmbito familiar; e os que recebem um, não têm outra responsabilidade senão a de promoverem o progresso espiritual de si mesmos, mediante a aquisição de virtudes que lhes faltam.
Nota-se, aqui, a aplicação daquele outro ensino do Mestre: "Muito será pedido a quem muito foi dado." Ao que recebeu cinco talentos foram reclamados outros cinco; ao que recebeu dois, outros dois; e ao que recebeu um, a exigência foi de apenas um.
Os servos que fizeram que os talentos se multiplicassem representam os homens que sabem cumprir a vontade de Deus, empregando bem a fortuna, a cultura, o poder, a saúde ou os dons com que foram aquinhoados.
O servo que deixou improdutivo o talento, falhando na incumbência que lhe fora cometida, simboliza os homens que perdem as oportunidades ensejadas pela Providência para o seu adiantamento espiritual, oportunidades essas que lhes chegam através de uma enfermidade a ser sofrida com paciência, de um grande dissabor a ser recebido sem desespero, de um filho estróina ou rebelde" a" ser tratado com especial atenção e carinho, de uma injustiça a ser tolerada sem revolta, de um inimigo gratuito a ser conquistado com amor, de uma deslealdade ou traição a ser suportada com largueza de ânimo, de uma condição adversa a ser superada com esforço e perseverança, etc.
Nesse terceiro servo vemos posto em relevo o mau vezo de certos homens, que, para encobrirem suas faltas ou justificarem suas fraquezas, não hesitam em atribuir deméritos puramente imaginários aos outros.
"Dar-se-á aos que já têm e esses ficarão acumulados de bens", significa que todo aquele que diligencia por corresponder à confiança do Senhor, receberá auxílio e proteção para que possa aumentar as virtudes que já possui.
"Ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece ter, e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes", quer dizer que, aquele que não se esforçar para acrescentar alguma coisa àquilo que recebe da misericórdia divina, expiará, em futuras reencarnações de sofrimentos, a incúria, a preguiça, a má vontade de que deu provas, quando se verá privado até do pouco que teve, por empréstimo.
Agora, uma advertência:
Não sabemos quando o Senhor virá chamar-nos a" contas.
Poderá tardar ainda, como poderá ser hoje ou amanhã.
Estamos preparados para isso? Temos feito bom uso dos "talentos" que Ele nos confiou? De que maneira estamos empregando nosso tempo, nossa inteligência, nossas possibilidades de servir?
Faça cada qual um exame de consciência e responda, depois, a si mesmo ...
RODOLFO CALLIGARIS
A PARÁBOLA DOS TALENTOS
A parábola dos talentos (Mateus 25:14-30)
O Mestre Jesus nos fala de um homem que se ia ausentar do seu país. Chamou seus servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, cada qual segundo sua capacidade, isto é, de acordo com o seu dinamismo; e partiu.
O que recebera um talento, cavou a terra e escondeu o dinheiro, ao contrário dos outros servos que conseguiram multiplicar os bens recebidos de seu senhor.
Depois de muito tempo vem o senhor daqueles servos e ajusta contas. Aos dois primeiros servos dissera palavras de contentamento por terem aumentado os talentos. Já ao último servo lhe foi dito: "a todo o que tem se lhe dará e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado" (Mateus 25:29).
Portanto, todos aqueles que, tendo inúmeras oportunidades em vida pretérita de melhorarem-se espiritualmente, falham, tudo o que têm lhes é tirado por causa da existência improfícua que viveram, e quando retornarem ao mundo físico, em nova existência, nada mais lhes será dado, até que aprendam a utilizar para o bem os seus dons. O pouco que tinham lhes foi tirado, resultando daí uma encarnação expiatória, precedida, também, de grande sofrimento, na vida espiritual: "o servo inútil lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes" (Mateus 25:30). O sofrimento é resultante da vida anterior improdutiva, sem a frutescência dos "talentos" recebidos. Diz Pastorino: "Agora estão desarmados. Não por castigo nem por vingança, mas porque eles mesmos desgastaram sua matéria prima" ("Sabedoria do Evangelho").
O livro espírita "Os Mensageiros", do Espírito André Luiz, psicografado pelo querido médium Francisco Cândido Xavier, relata as experiências dolorosas, no plano espiritual, sofridas por irmãos que reencarnaram enriquecidos de bênçãos e que retornaram ao além-túmulo em condições lastimáveis. Um verdadeiro inferno de consciência os oprimia, por não terem aproveitado a grande oportunidade da multiplicação dos "talentos" recebidos.
Esse "Inferno de consciência" é citado nos Evangelhos, em imagem simbólica, em sentido figurado, como "fogo eterno" (Marcos 9:43; Mateus 18:8). Realmente, o sofrimento sentido pelo espírito, já desencarnado e sem a limitação do tempo próprio do mundo físico, tem a aparência ou ilusão de ser eterno (tempo indeterminado), de algo que não terá fim, que nunca mais terminará. Esse sofrimento, representado por "fogo", emblema das torturas morais que parecem con¬sumir as criaturas, mergulhadas que estão no inferno do remorso, é padecido com diferenciação e tem finalidade corretiva: "Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez cousas dignas de reprovação, levará poucos açoites" (Lucas 12:47-48).
A "Parábola dos Talentos" explica que terão de prestar contas rigorosas todos aqueles que recebem oportunidades ("talentos"), sem a produção de frutos espirituais: "Até o que tem lhe será tirado", advindo, então, uma penosa existência, onde os dons recebidos anteriormente não se farão mais presentes.
As dádivas ("talentos") podem ser exemplificadas na exuberância do intelecto, na perfeita saúde, na possibilidade do uso harmonioso das funções sexuais e de todos os sentidos, na utilização das riquezas para o bem comum, nas oportunidades de despojamento das paixões inferiores, no recebimento de dons espirituais a serem canalizados para o bem, a constituição da família, etc.
A possibilidade de formação da família é um "talento" que o Senhor fornece para o ajustamento no âmbito familiar de espíritos adversos, como também o reencontro de espíritos afins. E muitos são os que não levam a termo essa dádiva, falhando consideravelmente e acarretando dívidas para si.
Citamos o exemplo, publicado nos jornais, de um transexual americano, paralítico, de 33 anos de idade, que após uma cirurgia de mudança de sexo e casamento com um homem, há pouco mais de dois anos, queria ser mãe a todo custo ("... até o que tem lhe será tirado" — Mateus 25:29) e convenceu sua irmã de que se deixasse inseminar artificialmente por seu marido para adotar e criar a criança. Sem dúvidas foi a mãe e esposa, em existência pretérita, que errou enormemente, nas tarefas maternas e matrimoniais, acarretando a desventura em seus familiares, tendo agora a oportunidade de receber encarnada "o filho de outrora" de maneira moralmente humilhante e dolorosa.
Diz o recorte de jornal: "antes de converter-se cirurgicamente em mulher havia estado casado duas vezes com mulheres, com as quais não teve filhos".
"Na realidade eu não tinha de homem mais que o corpo, interiormente me sentia mulher", disse mais tarde.
Continua o recorte de jornal: "depois do nascimento do filho de seu marido e de sua irmã, filho do qual é mãe putativa e tia carnal, declarou-se encantada e, em sua cadeira de rodas, anunciou que quer adotar outras cinco crianças, das quais duas ou três aleijadas como ela".
Somente a reencarnação pode explicar esse drama, assim como o fato de um indivíduo de um sexo sentir-se como do sexo oposto. A existência de uma só vida física traria incredulidade e ira aos que passam por essas e outras expiações.
Quantas mulheres na vida atual são estéreis, por causa do menosprezo à bênção divina da maternidade no pretérito!
Quantas pessoas sofrendo de desvios sexuais no presente, devido à atividade genésica irregular no passado!
Quantos nascem mutilados, portadores de defeitos físicos, que construíram o presente doloroso à custa dos erros causados contra si mesmos, em vidas anteriores!
Quantos órfãos trilhando, na presente existência, na ausência do calor dos pais, o caminho errado que seguiram, no pretérito, como filhos rebeldes e intolerantes, produzindo prejuízo moral ou físico a seus pais!
Quantos seres passando a vida em isolamento e solidão, largados em asilos ou casas de repouso, recebendo, no presente, o mesmo menosprezo e a mesma indiferença que sentiram para com outrem, no passado!
Nós, espíritas, aceitamos a "Lei de Causa e Efeito": somos responsáveis por tudo que fazemos de bom ou de mau, e o que produzimos de ofensivo a outrem marca o nosso perispírito e, não raro, retornamos à carne com as mesmas mazelas e sofrimentos que infligimos aos nossos semelhantes, com o sentido de aprendizagem para os nossos espíritos.
O homem em sua vida atual é herdeiro de si mesmo, corrigindo o seu passado e construindo com sua própria vontade o amanhã.
Américo Domingos Nunes filho
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