"No princípio era o verbo…” prova a Trindade?
"No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (João 1:1)
Esse versículo é usado para provar que Jesus é Deus. Mas tem vários problemas aí. Por este versículo, os trinitaristas entendem que Jesus era o verbo e, desde que o verbo era Deus e se fez carne, Jesus é Deus. O "logos", aqui traduzido como "Verbo", seria Jesus Cristo, então por isso traduzem com "V" maiúsculo. Mas essa palavra aparece no Novo Testamento umas 300 vezes e os tradutores costumam colocar com "V" maiúsculo umas 7 vezes. Quando uma palavra aparece umas 300 vezes e em menos de 10 vezes é com letra maiúscula, é óbvio de que a decisão de quando usar ou não usar letra maiúscula é uma decisão do tradutor, baseada simplesmente na forma em que entende as escrituras e na forma que quer que os outros entendam.
A palavra "logos" tem vários significados. Uma delas é a mente e produtos da mente, como "razão" ("lógica" vem de "logos"), e também uma "palavra", "dito", etc. Na Bíblia, aparece traduzida como "explicação", "aparência", "livro", "conversa", "razão" e muito, muito mais coisa. Sendo uma palavra que define tanta coisa, qual será a melhor tradução no caso de João 1:1 ? Afinal, . "logos" significa muita coisa, mas certamente "Jesus Cristo" não é uma delas.
"Logos" em João 1:1 se refere a auto-expressão da criatividade de Deus, a Sua comunicação direta conosco, seja através da Sua criação, como em Romanos 1:19-20 ("Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis;") e especialmente os céus, como em Salmos 19("Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. (...) Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, Senhor, Rocha minha e Redentor meu!"). O "logos" se mostrou também através dos profetas e, principalmente, através de Seu filho: "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo" (Hebreus 1:1-2)
O famoso trinitarista John Lightfoot escreveu no seu livro "St.Paul’s Epistle to the Colossians and Philemon": "A palavra logos, então, significando ao mesmo tempo, "razão" e "fala", foi um termo filosófico adotado pelo Judaísmo Alexandrino antes de São Paulo escrever, expressando a manifestação do Deus invisível na criação e no governo do mundo, o que inclui todos os modos pelos quais Ele faz ser percebido pelo homem. Como sua razão, isso significa seu projeto ou "design". Como sua fala, significa sua revelação. Professores cristãos, quando adotam este termo, exaltam e determinam seu significado ligando a ele duas idéias precisas e definitivas: (1) "O Verbo é uma Pessoa Divina" (2) "O Verbo encarnou em Jesus Cristo". É óbvio que essas duas proposições devem ter alterado materialmente o significado de todos os termos subordinados conectados a idéia do logos."
Notem que foram escritores cristãos que ligaram a idéia do "logos" a uma "pessoa divina". É certamente verdade que quando a palavra "logos" passou a ser entendida como sendo Jesus Cristo, a idéia que se tinha sobre João 1:1 foi alterada totalmente. Lightfoot sabe que a idéia de logos diz respeito a razão e discurso, não Jesus Cristo.
O "logos", que é o plano, propósito e sabedoria de Deus, "se tornou carne" (ganhou uma existência física) em Jesus Cristo. Jesus é "a imagem do Deus invisível" (Colossenses 1:15), seu chefe emissário, representante e agente. Porque Jesus obedecia perfeitamente ao Pai, era como se o próprio Pai, que é invisível, se comunicasse numa forma física. Assim Jesus poderia dizer: "Quem me viu a mim, viu o Pai;" (João 14:9) ou "E o Pai que me enviou, ele mesmo tem dado testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua forma; " (João 5:37).
João 7:15-18 também é muito claro nesse sentido: "Os judeus ficaram admirados e perguntaram: "Como foi que este homem adquiriu tanta instrução, sem ter estudado? Jesus respondeu: "O meu ensino não é de mim mesmo. Vem daquele que me enviou. Se alguém decidir fazer a vontade de Deus, descobrirá se o meu ensino vem de Deus ou se falo por mim mesmo. Aquele que fala por si mesmo busca a sua própria glória, mas aquele que busca a glória de quem o enviou, este é verdadeiro; não há nada de falso a seu respeito".
"Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus, o nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; " (Atos 2:22)
Portanto, mais do que claro que Jesus foi enviado por Deus(o único Deus, o Pai), subordinado a ele, fazia as obras e deu ao mundo os ensinamentos de Deus e não dele mesmo.
Há outro problema para os que usam João 1:1 como prova da Trindade. A frase traduzida como "E o verbo era Deus", deveria ser "E o verbo era um Deus", pois na primeira frase (traduzida como "o verbo estava com Deus") há o artigo "o" no original grego e na segunda frase (traduzida como "o verbo era Deus") não há o artigo, e quando não existe o artigo devemos entender como artigo indefinido(“um”). Deveriam traduzir, portanto: "... o verbo estava com Deus... o verbo era um deus".
E quando ao "logo" estar "no princípio", se refere ao princípio do nosso mundo e não do Universo. Para os espíritas, Jesus colaborou na obra de nosso planeta, já sendo um espírito perfeito, tendo evoluído em encarnações em outros mundos.
No livro A Caminho da Luz, Emmanuel, através da mediunidade de Chico Xavier, narra a participação de Jesus na formação do nosso planeta:
"Sim, ele (Jesus) havia vencido todos os pavores das energias desencadeadas; com as suas legiões de trabalhadores divinos, lançou o escopro da sua misericórdia sobre o bloco da matéria informe, que a Sabedoria do Pai deslocara do Sol para as suas mãos augustas e compassivas. Operou a escultura geológica do orbe terreno, talhando a escola abençoada e grandiosa, na qual seu coração deveria expandir-se em amor, claridade e justiça. Com seus exércitos de trabalhadores devotados, estatuiu os regulamentos dos fenômenos físicos da Terra, organizando-lhes o equilíbrio futuro na base dos corpos simples da matéria, cuja unidade substancial os espectroscópios terrenos puderam identificar por toda parte no universo galáctico. Organizou o cenário da vida, criando, sob as vistas de Deus, o indispensável à existência dos seres do porvir. Fez a pressão atmosférica adequada ao homem, antecipando-se ao seu nascimento no mundo, no curso dos milênios; estabeleceu os grandes centros de força da ionosfera e da estratosfera, onde se harmonizam os fenômenos elétricos da existência planetária, e edificou as usinas de ozônio a 40 e 60 quilômetros de altitude, para que filtrassem convenientemente os raios solares, manipulando-lhes a composição precisa à manutenção da vida orgânica na orbe. Definiu todas as linhas do progresso da Humanidade futura, engendrando a harmonia de todas as forças físicas que presidem o ciclo das atividades planetárias."
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