Estudando o Espiritismo

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sábado, 4 de novembro de 2017

E O VERBO SE FEZ CARNE

E O VERBO SE FEZ CARNE

"No princípio era o Verbo, e o Verbo era com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele era no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele; e nada
do que foi feito, foi feito sem Ele." (João, 1:1-3)

O Verbo é Deus, ou a Palavra de Deus. A vontade de Deus é força criadora. Através dela, se criaram todas as coisas. No início da formação do mundo, Jesus Cristo estava com o Verbo, era o seu eleito para presidir os destinos do mundo. O Verbo é Deus, mas Jesus era o escolhido por Deus, o seu Ungido, e, com a vontade de Deus e a supervisão de Jesus, tudo se fez, e, nada do que se fez, foi feito sem Ele. Realmente, o Verbo é Deus, porque é a palavra de Deus. Jesus, tendo recebido esta palavra diretamente de Deus, com a missão transcendental de a transmitir aos homens, assimilou-a. A palavra divina que Ele absorveu, ficou nele encarnada.

Da mesma maneira como um embaixador de um país fala em nome do seu supremo mandatário, Jesus Cristo também falou em nome do Pai, em nome de Deus, mas não era o próprio Deus. Não era parte de Deus, mas criatura de Deus, submisso a Deus. Em todo Evangelho, o Mestre deixou transparecer a sua submissão à vontade de Deus, a sua condição de criatura subalterna em relação ao Criador, contrapondo-se ao dogma emanado do Concílio de Nicéia, realizado no século IV o qual outorgou ao Mestre a condição de co-criador, ou parte trina de Deus, ou melhor, atribuindo-lhe a condição de segunda pessoa da Trindade.

Deus é Pai, eterno, incriado, não teve princípio. E o Criador de todas as coisas, Arquiteto do Universo e da vida. E' uno e indivisível. Jesus é criatura, é Filho de Deus, sujeito à evolução, embora já tenha atingido elevadíssimo índice de progresso. Existe uma pequena discrepância no trecho evangélico acima, pois a expressão o Verbo era com Deus conflita com o Verbo era Deus. O que é mais lógico é a terceira expressão: Ele era no princípio com Deus.

Em seu Evangelho, João asseverou: O Verbo se fez carne e habitou entre nós; porém, logo a seguir, diz: E vimos a sua glória como a glória do unigênito do Pai. Isso ainda uma vez comprova que quem se fez carne foi o Filho ungido de Deus, como seu Enviado; dai, poder-se dizer: "Vimos a glória do Filho como se fora a glória do Pai."

Jesus Cristo também não é unigênito, pois unigênito significa o único criado, e Deus não criou apenas Jesus, Ele é o Criador de todas as coisas, de todos os homens. Se Jesus fosse o unigênito, não poderia, mais tarde, ter dito a Maria Madalena: "mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus." (João, 20:17) Deste modo, quem tomou a forma carnal e habitou entre nós não foi o Pai, mas o Filho, e sentimos a sua glória como expressão da glória do Pai, pois foi o maior Espírito que já encarnou na Terra.

Allan Kardec, em Obras Póstumas, referindo-se ao enunciado de João, contido no capítulo I do seu Evangelho, diz: E preciso notar que as palavras supracitadas são de João e não de Jesus, e admitindo-se mesmo que não tenham sido alteradas, não exprimem, na realidade, senão uma opinião pessoal, uma indução onde se descobre o misticismo habitual, contrário às reiteradas afirmações do próprio Jesus. Aceitando-as, porém, tais quais são, ainda assim elas não resolvem a questão no sentido da divindade de Jesus, porque tanto se aplicariam a Jesus Deus como a Jesus criatura de Deus.

O evangelista João afirma, ainda, que "Deus jamais foi visto por alguém, mas Jesus o fez conhecer". Este versículo corrobora de forma categórica que Jesus não é Deus, mas o seu emissário, que desceu à Terra com o fito de fazê-lo conhecido de toda a humanidade. O capítulo l, versículos l a 14, do Evangelho de João, é o único que, à primeira vista, parece encerrar implicitamente algo que identifique Deus com a pessoa de Jesus Cristo, e também é aquele sobre o qual se estabeleceu, mais tarde, a controvérsia da qual resultou a divinização de Jesus e a implantação do dogma da Trindade.

Realmente, no século IV se produziram duas correntes entre os que acreditavam ser Jesus o Messias anunciado pelos profetas: uma corrente judeu-cristã, que não concordava com a divinização de Jesus, a qual tinha Ário como expoente, e uma corrente judeu-grega que foi até à divinização completa do Cristo. Quando, no ano 313, o Imperador Constantino, através do Édito de Milão, proclamou igual a liberdade de todos os cultos, fez com que os debates em torno da divindade de Jesus, que até então não tinham alcançado muita repercussão, fossem levados para as praças públicas, tornando-se ostensivos.

O povo passou a tomar parte nas discussões, acesas disputas foram realizadas, chegando a haver até derramamento de sangue por parte dos mais exaltados. O Imperador, a fim de resguardar a tranquilidade pública, teve que intervir nos debates, ordenando ao bispo Osius que tentasse um acordo com Ário. Vendo malogrado os seus esforços no sentido de convencer Ário a ceder, Osius aconselhou Constantino a convocar uma grande assembléia de bispos, que se chamou Concilio de Nicéia, no qual os arianos foram proscritos por afirmarem que o Filho é de uma outra hipóstase ou substância que o Pai, prevalecendo a tese sustentada por Atanásio e Alexandre, que gozou da simpatia do Imperador que Jesus era da mesma substância de Deus.

A questão da divindade de Jesus surgiu, gradualmente, nos primeiros séculos da Era cristã. Ela nasceu das discussões levantadas a propósito das interpretações de alguns sobre as palavra Verbo e Filho. Uma parte da Igreja resolveu aceitar as recomendações do Concílio de Nicéia, tendo isso sido o ponto de partida para o futuro surgimento do dogma da Trindade, dividindo Deus em três partes distintas: Pai, Filho e Espírito Santo, transformando o Deus uno em Deus trino e divisível.

Os Evangelhos estão repletos de afirmações partidas de Jesus Cristo, asseverando não ser Deus, mas está submisso a Deus. Citaremos apenas algumas: "Então, aproximou-se um moço e disse-lhe: Bom Mestre, que boas obras devo fazer para ganhar a vida eterna? Jesus respondeu-lhe: Por que me chamais bom? Só Deus é bom." (Mateus, 19:16-17) "Eu não falo de mim mesmo: mas meu Pai, que me enviou, é quem me prescreveu o que devo dizer e como devo ensinar." (João, 12:49)

"Se me amásseis, regosijar-vos-íeis de me ver ausentar para ir a meu Pai, porque meu Pai é maior do que eu." (João, 14:28) "Eu não baixei do Céu para fazer a minha vontade, mas sim a d'Aquele que me enviou." (João, 6:38) "A minha doutrina não é minha, mas sim d'Aquele que me enviou." (João, 7:16) "Quando será o dia e a hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos que estão nos céus, nem mesmo o Filho, mas somente o Pai." (Marcos, 13:32)

"A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim de meu Pai, que me enviou." (João, 16:24) "De mim mesmo nada posso fazer. Julgo conforme entendo, o meu juízo é justo, porque eu não me levo pela minha vontade, mas pela d'Aquele que me enviou." (João, 5:30) "E o Pai que me enviou, a si mesmo deu testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua face. E a sua palavra não ficará entre vós, porque vós não credes n'Aquele que ele enviou." (João, 5:37) "Então Jesus em alto brado exclamou: Pai, em vossas mãos deixo o meu Espírito." (Lucas, 23:46) "E dizia: Abba, meu Pai, tudo vos é possível; afastai de mim este cálice; entretanto, faça-se a vossa vontade e não a minha vontade." (Marcos, 14:36)

A divinização de Jesus, como parte trina de Deus, é, portanto, uma resolução partida de homens falíveis. Se Ário tivesse alcançado maioria no Concílio de Nicéia e tivesse contado com a simpatia do Imperador Constantino, não existiria o dogma da Trindade. Os partidários da divinização teriam sido proscritos, anatematizados. Jesus Cristo é, portanto, o Filho Ungido de Deus. Mentor Maior do nosso mundo, que preside desde o seu princípio. Nosso Irmão Maior que dirige, com amor e dedicação, o Planeta onde vivemos, e ao qual desceu para dar testemunho da verdade, e, para dar esse testemunho, pagou com a própria vida, crucificado no cimo do Calvário.

Paulo A. Godoy

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