Estudando o Espiritismo

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domingo, 27 de novembro de 2016

Vontade

 http://www.aluzdoespiritismo.com.br/teste/artigos/ler.php?texto=86


Por que há momentos em que sabemos claramente o que precisamos realizar para amenizar ou mesmo solucionar uma determinada situação difícil, entretanto, não conseguimos fazer nada? Por que é a vontade que impulsiona nossas ações e realizações? Tende ela a sofrer influências? Quanto maior for o aprimoramento intelecto-moral de um indivíduo, mais intensa será a ação de sua vontade? Que ensinamentos um rio pode nos proporcionar?
       

         Às vezes, viver pode ser como subir uma escada rolante, mas pelo lado que desce, quando os degraus, invariavelmente, nos puxam para baixo. Ondas de violência, problemas no emprego, dramas e conflitos familiares, doenças, carências íntimas podem comprometer o nosso estado de ânimo, favorecendo em nós reações nem sempre tão positivas. E dentre as várias que podemos adotar, citemos as duas mais frequentes.

         Uma é a tendência à acomodação. Há momentos sabemos, claramente, o que precisamos realizar para amenizar ou mesmo solucionar uma situação difícil. Mas, quantas vezes não fazemos nada! E nessa inércia, empatamos a vida, desperdiçando boas oportunidades de melhoria, e nos tornamos alvos do negativo, do difícil, do triste.

         A outra é reclamar. E se quisermos, sempre encontraremos motivos para as lamentações. A reclamação até pode funcionar como uma modalidade de desabafo bastante útil. Mas o “x” da questão é que tendemos a exagerar esse tipo de alívio íntimo, não percebendo que o excesso de queixas apenas nos torna cultivadores de dissabores e de sofrimentos, sem que, efetivamente, nossa realidade se altere para melhor. Por sua vez, quando nos queixamos, demasiada e repetidamente, podemos apenas estar superdimensionando tudo aquilo que nos desagrada, contribuindo para que aqueles que convivem conosco tenham as mais diversas atitudes em relação a nós. E essas pessoas podem:

·        dizer que concordam conosco, mas somente para não nos desagradar ainda mais;

·        silenciar, porém, pensando no tempo que desperdiçamos por não estarmos tomando as devidas providências no sentido de modificar a situação;

·        mostrar-se indiferentes, porque não conseguem verdadeiramente nos ajudar em razão de nosso pessimismo e derrotismo;

·        irritar-se, verbalizando o próprio aborrecimento;

·        afastar-se, para não terem de ouvir nossas lamúrias, já que ninguém é obrigado a ficar suportando nossos choramingos. Gostamos nós de ficar aturando os reiterados lamentos alheios? Nesse sentido, o espírito Joanes constata: “Ao reclamar em demasia você se torna inoportuno, excessivo e aborrecido.” [1]

                        Quando nos deixamos conduzir pela acomodação ou pela reclamação, é porque algo de muito importante está faltando em nós ou sendo mal direcionado. O espírito Emmanuel faz uma interessante analogia, quando compara a mente humana a um grande escritório, subdividido em diversas seções de serviço. Diz que nela possuímos o Departamento do Desejo, da Inteligência, da Imaginação, da Memória, entre outros. Mas, acima de todos eles, existe o “Gabinete da Vontade”. É ela “o leme de todos os tipos de força incorporados ao nosso conhecimento”, pois governa todos os setores da ação mental.



            “Nela dispomos do botão poderoso que decide o movimento ou a inércia da máquina. (...) Só a Vontade é suficientemente forte para sustentar a harmonia do espírito.” [2]



         E se formos buscar o significado da palavra “vontade” no dicionário, coincidentemente ou não, encontraremos: “A principal das potências da alma, que inclina ou move a querer, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa”. [3]

         Assim, conforme tais definições, podemos afirmar que a vontade é um relevante potencial íntimo, porque nos permite definir o rumo que queremos dar à própria existência.

         Entretanto, ela tende a sofrer várias influências, perturbadoras ou não, em razão da formação educacional do indivíduo, dos seus hábitos familiares e sociais e das crenças e concepções que alimenta. Porém, quando ainda está envolvida com a imaturidade psicológica, costuma-se dizer que a vontade é fraca, pois não proporciona à criatura a devida segurança e firmeza em suas decisões e atitudes. Quando, então, é decorrente de transtornos comportamentais, seu direcionamento pode até oferecer perigos a própria pessoa!

         Todavia, quanto maior for o aprimoramento intelecto-moral da criatura, mais intensa se torna a ação de sua vontade, porque amplia sua capacidade para a luta, para a conquista de valores íntimos mais aprimorados, para a superação de problemas, num constante autoestímulo para novas e importantes buscas. É o que podemos chamar de “vontade inteligente”. E segundo o Espírito Joanna de Ângelis, ela será tanto maior, quanto mais for exercitada!



         A vontade deve e pode ser trabalhada através de exercícios mentais, da geração de interesse e de motivação para conseguir-se a autorrealização, a conquista de recursos de vária natureza, especialmente na transformação dos instintos em sentimentos, dos hábitos doentios em saúde, da conquista da beleza, dos ideais de engrandecimento humano.

            (...) A vontade é, portanto, o motor que impulsiona os sentimentos e as aspirações humanas para a conquista do infinito, sendo sempre maior quanto mais é exercitada.

            (...) Sem uma vontade bem direcionada não há vida saudável. [4]

       

         Tais considerações nos suscitam mencionar um importante componente desse potencial íntimo: a perseverança (constância, firmeza e determinação). Quando uma pessoa tem plena convicção do que quer, age de modo a remover os empecilhos de seu caminho, pois não permite que ninguém a demova de seus mais caros objetivos; não se deixa dominar pela ideia de que está fadada a sofrer e nem abre brechas psíquicas para que a incerteza anule sua força íntima. Assim, planeja sua vida, cria suas próprias metas e segue com a devida firmeza de propósitos.

         Mas, e se essa pessoa decidida e determinada vier a fracassar? Por ser consciente da grandeza de seu íntimo e de que, na vida, nem tudo “são flores”, não permite que sua vontade titubeie, mas, antes, transforma o insucesso em motivo para novas tentativas, tirando do problema a força necessária para a sua superação.

         No entanto, assim como a vontade, a perseverança também depende de fatores emocionais extremamente importantes. Dois deles são o entusiasmo e a motivação. E bem sabemos que quando estamos verdadeiramente entusiasmados com algo, nossa vontade e determinação nos capacitam à realização de coisas incríveis.

Certa vez, Jesus disse: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24:13) [5]

O sentido da palavra salvação que o Espiritismo nos apresenta é a capacidade da criatura de renovar-se moral e espiritualmente. Ao salvar-se, a pessoa se liberta dos erros, das tendências negativas, da ignorância, e, com isso, preserva seu íntimo dos tormentos, das angústias e das ilusões.

E quando a nossa vontade nos arranca da inércia e nos inclina ao cultivo das mais nobres realizações, uma intensa sintonia, com as forças da Espiritualidade Maior, se estabelece em nós, assistindo e fortalecendo a mente e o coração na superação dos desafios de nosso caminhar.





O rio

         Excelentes ensinamentos nos oferece o trabalho da corrente fluvial que avança vencendo distâncias e empeços variados.

            A partir de suas nascentes, o rio tudo supera, tudo vence, sem deter-se, em face do objetivo a atingir, que é alcançar o oceano, integrando-se no grande mar.

            Seja o leito rochoso, barrento ou arenoso, esteja margeado por fertilidade abundante com ervas luxuriante ou por pélreas muralhas, segue para o seu desiderato: o mar.

            Não há detritos que resistam a sua força.

            Nenhuma sujidade é respeitada por seu caudal.

            Atendendo aos que dele dependem, os humanos, os animais e as plantas, abençoa as paragens onde transita, reverdecendo tudo.

            Sentindo a formidável lição do rio, encontramos o incentivo para que, igualmente, a pessoa não se detenha diante dos desafios e óbices que se anteponham a sua marcha.

            Busque compenetrar-se, amigo, da corajosa atuação do rio, e viva assim, arrostando suas dificuldades, sem abatimento, sem esmorecimento, lutando por ultrapassar a si mesmo a cada dia, onde quer que esteja, pois além de tudo isso, quando tudo isso, quando um ingente esforço do exterior consegue cercear as águas fluviais, represá-las, desrespeitando-lhes o fluxo livre, nem aí o rio de detém. Converte a sua prisão em força hidráulica, porque tem que atingir o seu destino, transforma-se em luz, retirando da sombra cidades inteiras, iluminando a vida dos povos.

            Ao meditar sobre isso, refletindo o Criador na própria alma, faça o mesmo, porque você também tem o destino dos rios: alcançar o mesmo oceano da evolução, superando os limites que o cercam, com disposição, empenho e ousadia.  [6]





Silvia Helena Visnadi Pessenda

sivipessenda@uol.com.br



REFERÊNCIAS

[1]  JOANES (espírito); TEIXEIRA, José Raul (psicografado por). Para uso diário. 2. ed. Niterói, RJ: Fráter, 2000. Cap. 24. p. 127.

[2]  EMMANUEL (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Pensamento e vida. 11. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira.  Cap. 2.

[3]  MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998.

[4]  ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). Triunfo pessoal. 3. ed. Salvador, BA: Livr. Espírita Alvorada, 2002. Cap. 2. p. 41-43.

[5]  BÍBLIA. Português. Bíblia de estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

[6]  Rosângela (espírito); TEIXEIRA, José Raul (psicografado por). Rosângela. 1. ed. Niterói, RJ: Fráter, 1996. Cap. 17. p. 115-117.

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