Francisco Muniz
(publicado originalmente na revista Visão Espírita n.° 18 - Ano II - 1999)
"O artista é, por excelência, intuitivo, foge das análises demoradas; de um 'sopro intuitivo' cria sua obra, quase sempre sem retoques." Esta frase do psiquiatra e expositor espírita Jorge Andréa dos Santos, baiano radicado no Rio de Janeiro, resume o livro A inspiração espiritual na criação artística, compilado pela escritora carioca Cristina da Costa Pereira. O livro, editado pelas Publicações Lachâtre, reúne depoimentos de artistas dos mais diferentes gêneros acerca do processo artístico, desde a elaboração das ideias até a concretização da obra. Os testemunhos mostram que muitos escritores, pintores, músicos, teatrólogos, coreógrafos e até bailarinos estão convictos de que se sentem orientados espiritualmente para a realização de sua arte, que não é, portanto, uma atividade mecânica obtida unicamente do domínio de certas técnicas.
Embora preencha uma lacuna existente na ampla literatura espírita no Brasil, Cristina não quis fazer um livro doutrinário nem rotular a arte, deixando para o leitor a tarefa de chegar à conclusão quanto à evidência da inspiração no processo criativo do artista. Segundo ela, a preocupação maior foi relatar a vivência dos artistas depoentes - nenhum de expressão mercadológica, digamos assim, mas todos representativos dos respectivos campos de atuação -, dos quais muitos têm consciência do envolvimento anímico ou mediúnico em seu trabalho. Essa consciência precisa alcançar todo aquele que lida com as artes, diz a autora, acrescentado que "o artista não pode fingir-se irresponsável" neste momento da humanidade, em que as mudanças impelem à verificação e aceitação da influência espiritual.
O artista tem a obrigação de fazer melhor uso de seu dom, afirma a autora, em achar que, sabendo da orientação espiritual, sua arte terá menor apreciação. Muito pelo contrário, o processo de criação fluirá melhor, salienta Cristina. Além do prefácio de Jorge Andréa, A inspiração espiritual... tem apresentação de Léon Denis, através de mensagem mediúnica datada de outubro de 1997, psicografada no Círculo de Pesquisa Espírita (Cipes), em Vitória (ES). Na mensagem, Denis observa que "arte e espiritualidade precisam estar juntas no seio da humanidade, para que se restabeleça de vez o esplendor das cores celestiais diante dos olhos humanos, ávidos da presença divina, ainda não totalmente percebida".
Professora de literatura no Rio de Janeiro, Cristina Pereira é autora de outros cinco livros e ressalta sua vivência espiritualista nos meios social e familiar como preâmbulo para chegar à presente obra, dividida em três partes: influência da espiritualidade na arte, com os depoimentos; artífices da palavra e a esfera espiritual, onde relata como Fernando Pessoa, Federico Garcia Lorca, Cecília Meireles e Teresa de Ávila consideravam a inspiração; e caravana literária, desfile de trechos de depoimento de João Guimarães Rosa sobre seu fazer literário e de poemas de autores do porte de Carlos Drummond de Andrade, Pablo Neruda, Manuel Bandeira, Mário Quintana e Cora Coralina, dentre outros.
Lançado em abril (de 1999), durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, o livro vem sendo apresentado nas principais capitais brasileiras e no dia 28 de outubro Cristina autografou no centro de convenções do Parlamundi, da Legião da Boa Vontade, em Brasília.
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