Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

RIGIDEZ X FLEXIBILIDADE

 por Carlos Bernardo González Pecotche Raumsol




Esta deficiência responde a um pensamento inflexível que governa a mente do indivíduo e influi sobre seu caráter, tornando-o duro e contumaz.

A rigidez afeta os sentimentos, não permitindo que se manifestem em virtude do silêncio a que os submete.

Ela conduz os seres à intransigência pelo endurecimento que promove nos condutos sensíveis. Disto dão provas suas próprias fisionomias, nas quais aparece refletida com acentuado relevo a pertinácia que particulariza esta deficiência.

Todo sentimento de conciliação anula-se pela força desta falha temperamental, que raramente se abranda, nem mesmo ante as exigências da realidade. Isso faz considerar que por detrás da rigidez atua solapadamente outra deficiência: a obstinação.

É próprio do rígido o excesso de zelo no desempenho de suas funções, sejam estas públicas ou privadas, o que é a causa de sua inflexibilidade com os que estão sob suas ordens. Temos um exemplo em um chefe de escritório que, ante o informe desfavorável sobre a conduta de um de seus empregados, apressado pelo afã de aplicar-lhe um corretivo não se detém em averiguações que comprovem a exatidão da versão recebida e, sem ver nem ouvir mais nada, aplica uma sanção ao subordinado, vítima talvez de um erro ou, o que seria pior, de alguma calúnia. Posturas desta ordem advertem a presença de outra falha, a intolerância, irmã siamesa da rigidez.

A deficiência que nos ocupa induz e até obriga o ser a fiar-se unicamente em seu juízo. Dificilmente este acede a considerar viáveis outras opiniões que não as próprias a respeito de uma questão, causa pela qual dissente com frequência do juízo alheio.

A rigidez paralisa a ação dos pensamentos construtivos, que necessitam se mover com liberdade enquanto cumprem seu papel na vida diária. Isto se pode observar em diversas circunstâncias. Uma delas poderia ser a seguinte: durante uma reunião, em que várias pessoas reunidas procuram elucidar um assunto, uma delas, em razão da anomalia de que estamos tratando (rigidez), pretende impor com certo absolutismo seus pontos de vista. Apesar da boa vontade dos que intervêm, o propósito entorpece-se pela posição inflexível e nada conciliadora de uma das partes, que, sob o influxo mental de sua deficiência, não repara que, mudando convenientemente o enfoque, seu juízo sobre o que se está considerando poderia mudar toral ou parcialmente, pondo-se de acordo com as demais opiniões. Isto nos mostra quão nociva é a rigidez, porquanto inabilita o ser para superar as limitações de seu juízo, condena-o ao equívoco e o faz atuar em consequência dela.

Sua influência sobre a mente é muito sutil e, ignorando-a, a pessoa entrega-se a ela docilmente. Tal ocorre,  por exemplo, quando é vista reagir contra um ou outro de seus semelhantes, aos quais tacha de rígidos, sem se aperceber de que isso que vê neles não é mais que sua própria rigidez manifestada ao tratar com os mesmos.

Quem observa uma pessoa rígida tem a sensação de encontrar-se ante um ser limitado psicologicamente; igual sensação experimenta o rígido sob a pressão inflexível de seus pensamentos.

Dominado por este defeito, sofre continuamente as consequências de seu comportamento, uma vezes sem se advertir de onde provêm tais consequências e, outras, sem poder evitá-las. Sabe que sua pessoa não é grata a seus semelhantes e o sente, mas não pode com sua própria intransigência. Em muitos casos é possuidor de belas qualidades, que empalidecem por causa de seu temperamento duro, provocando contrariedades em sua vida, cuja imagem evoca o "locus suplicii" da antiga Roma.

Esta deficiência também nos recorda a rigidez de um cadáver, e pensamos que ninguém que o tenha em conta gostará de continuar olhando-se em um espelho tão poucos alentador.

Falha tão prejudicial para o homem, bem merece que se adote contra ela uma conduta capaz de reduzi-la e anulá-la. mas, tomada a decisão, se procurará que em nenhum momento sua força sobreponha-se ao desejo de combatê-la.

Praticar a flexibilidade como antideficiência implica suavizar as asperezas do caráter, fazê-lo dúctil e elástico. Implica em exercitar o ânimo na condescendência e na conciliação, favoráveis ambas ao bom entendimento com os demais e até consigo mesmo.

Se a rigidez desloca o inddivíduo e o afasta da realidade, nada mais oportuno nem conveniente que abrandar semelhante dureza psicológica, tornando-se amplo e compreensivo em todo o conteúdo da expressão. Para isso contribuirá a sensibilidade, fator de êxito na convivência entre as pessoas, mas terá de ser libertada da opressão que sofre por causa da rigidez.

Entregar-se com paciência e firmeza ao cultivo dos sentimentos permitirá assistir muito prontamente à sua plena manifestação.

A rigidez aferra-se ao passado e oferece resistência ao futuro, que sempre traz consigo novas oportunidades para aqueles que querem aproveitá-las.


Carlos Bernando González Pecotche Raumsol
(Deficiências e propensões do ser humano)

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