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Estudando o Espiritismo
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quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Esquecimento do Passado
Escrito por André de Paiva Salum
Princípio fundamental de várias doutrinas espiritualistas, dentre as quais o Espiritismo, a reencarnação é lei natural para todos os seres em evolução, até que conquistem a condição de espíritos puros e não mais necessitem habitar os mundos materiais. É mecanismo universal que serve de instrumento ao progresso, ao reajuste dos equívocos passados, à conquista de novos valores e de experiências enriquecedoras.
Diante de tal realidade, mesmo aceitando a reencarnação, muitos se perguntam por que não são lembradas as vivências pretéritas.
O espírito, que já viveu inumeráveis experiências reencarnatórias, quando inicia o processo de ingressar em novo corpo carnal, sofre gradual esquecimento do seu passado espiritual. Ao nascer no mundo físico, desperta para uma nova vida, com possibilidades de reescrever sua história, renovar os propósitos, sublimar os impulsos e educar os instintos remanescentes em sua intimidade.
O esquecimento do passado funciona como proteção aos seres ainda desprovidos de estrutura psíquica que lhes permitiria assimilar os conteúdos das vivências passadas sem se perturbarem; portanto recebem a bênção de não se lembrarem, durante a encarnação, do seu pretérito espiritual.
A lembrança indiscriminada das ocorrências do passado traria, no atual estágio evolutivo dos habitantes da Terra, distúrbios diversos ao psiquismo humano. Antigos desafetos seriam reconhecidos, dificultando imensamente o processo de reconciliação. Parentes e amigos sofreriam constrangimentos ao se perceberem autores ou vítimas de crimes, infortúnios e demais comportamentos infelizes que houvessem protagonizado em encarnações pregressas. Pais e filhos, por exemplo, ao se reconhecerem como antigos cônjuges poderiam ter a harmonia familiar perturbada. Situações pretéritas de fama, poder ou riqueza despertariam ainda mais o orgulho e a vaidade nos seres ainda imaturos para viver além das ilusões do ego humano. Por outro lado, recordar experiências de miséria, dores e fracassos traria à tona sofrimentos desnecessários e dificilmente suportáveis. Atos infelizes do ontem viriam à memória, atraindo os seres desencarnados que delas tenham participado, gerando quadros obsessivos de mais difícil solução do que os já existentes.
É providencial que não haja a lembrança do passado, pois tal medida é necessária e muito benéfica ao espírito em nova imersão na matéria. Rememorações inoportunas seriam um obstáculo à plena experiência do aqui e agora. O esquecimento propicia maior espaço psíquico para as vivências do presente e permite que o ser se concentre melhor nos propósitos atuais.
Nos casos em que seja necessária e útil a recordação de existências pregressas, tal ocorre naturalmente, através de lembranças espontâneas, ou mesmo induzidas sutilmente por desencarnados habilitados. Também pode ocorrer através de informações mediúnicas, desde que sérias e responsáveis, com expressa autorização dos guias espirituais e sob a orientação dos mesmos. As lembranças podem ocorrer durante o sono, sob assistência dos orientadores desencarnados. Nesses casos o conteúdo rememorado é percebido, ao despertar, na forma de sonhos.
Muitos espíritos desencarnados, pela limitada condição evolutiva ou devido a perturbações íntimas, não se lembram de existências passadas. O simples fato de desencarnar não confere a ninguém o poder de conhecer o passado mais ou menos longínquo. Somente aos seres mais depurados e desenvolvidos em sabedoria e amor é facultada a incursão mais profunda no pretérito, sempre com finalidade evolutiva. Às vezes é necessário ao desencarnado um tempo de adaptação ao mundo espiritual e às novas circunstâncias da vida após a morte para que o espírito tenha acesso aos arquivos do seu passado. Tudo segue os sábios desígnios superiores de amor e justiça.
Existe, dentre as psicoterapias contemporâneas de abordagem transpessoal, a terapia de vivências passadas (TVP), que trabalha com regressão de memória para ter acesso a conteúdos conflitivos de encarnações pregressas ou de períodos entre as encarnações, e assim procurar resolvê-los. Essa abordagem, quando escolhida, deve ser feita por psicoterapeuta especializado e, mesmo assim, com restrições e cuidados, pelos perigos potenciais da eclosão de conteúdos psíquicos conflituosos do passado. A regressão corretamente conduzida é parte de um processo psicoterapêutico mais amplo. Essa terapia, embora se baseie numa visão espiritualista e reencarnacionista, não faz parte das práticas doutrinárias do Espiritismo, exceto nos casos de desobsessão em que seja necessário esclarecer aos envolvidos – encarnado e desencarnado – as origens do conflito atual. Consciente das responsabilidades que tem, o espírita normalmente não precisa conhecer detalhes do passado para saber os aspectos de si mesmo que precisam ser transformados. As tendências, condutas e hábitos do presente revelam o que foi cultivado no pretérito e ainda se manifesta na personalidade atual, aguardando a educação adequada.
Os seres mais evoluídos, por haverem conquistado os tesouros interiores de sabedoria, amor e pureza, podem recorrer à memória transpessoal, que guarda os arquivos de todas as experiências vividas nos longos caminhos da evolução. Condição ainda rara entre os habitantes do nosso planeta, é regra geral nos mundos e planos superiores.
Os ensinamentos espíritas esclarecem os mecanismos da reencarnação e os motivos do esquecimento temporário do passado, incentivando os seres a buscarem, no presente, a única oportunidade real de se transformarem e, se ainda não o fizeram, de plantarem no solo da vida as sementes da felicidade que colherão no futuro.
Se existem fatos e situações da existência atual dos quais é melhor se esquecer, em benefício da própria paz, tanto mais em relação ao passado reencarnatório, cuja lembrança inoportuna traria sérios prejuízos ao equilíbrio e à vivência presente. Muitas vezes precisamos nos esquecer do passado, desta como de outras existências, para estarmos inteiramente no agora, em que nos é possível viver e agir plenamente na construção de um destino mais feliz.
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