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Estudando o Espiritismo
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quinta-feira, 14 de agosto de 2014
O Problema Com a Auto-Estima
PAUL C. VITZ
A teoria da auto-estima, com a qual tantas pessoas estão obcecadas hoje em dia, prediz que só os que se sentem bem consigo se sairão bem — motivo por que acham que todos os estudantes precisam disso. Contudo, as pesquisas não têm apoiado essa teoria.
Hoje, a parte maior e mais familiar da psicologia americana é a popular psicologia da auto-estima, que agora se encontra em toda a sociedade americana. Quase todos nós conhecemos bem a auto-estima e a obsessão que muitos têm com essa teoria em nossa época. Os programas de auto-estima afetam a vida de um número incontável de alunos de escola, pois essa idéia, realmente um ideal, foi adotada e aplicada principalmente na educação.
Historicamente, o conceito de auto-estima não tem origens intelectuais claras ou óbvias. Nenhum teórico de assuntos psicológicos de grande importância a tornou um conceito central. Muitos psicólogos, porém, enfatizaram o ego de várias maneiras, mas o foco costumeiro era a auto-realização ou cumprimento do potencial da própria pessoa. Como resultado, é difícil rastrear e chegar até a fonte dessa ênfase na auto-estima. Aparentemente, essa preocupação generalizada é uma destilação da preocupação geral com o ego encontrada em tantas teorias psicológicas. A auto-estima parece o denominador comum impregnando os escritos de tais variados teóricos como Abraham Maslow, Carl Rogers, psicólogos da força do ego e educadores morais, principalmente em época mais recente. Em qualquer caso, a preocupação com a auto-estima paira em todas as partes dos EUA hoje. No entanto, é impossível não achá-la no mundo da educação — dos mestres da educação, aos diretores, professores, conselhos de alunos e programas de televisão que se ocupam com a educação, de modo particular os programas que se ocupam com a educação pré-escolar, como Sesame Street.
O valor do ego, um sentimento de respeito e confiança na própria pessoa, tem mérito, conforme veremos. Mas um ego centrado em si, uma auto-estima do querer sentir-se bem com os próprios sentimentos, em que podemos ignorar nossos fracassos e nossa necessidade de Deus, é outra coisa bem diferente. O que há de errado com o conceito da auto-estima? Muita coisa, e é de natureza fundamental. Há milhares de estudos psicológicos sobre a auto-estima. Muitas vezes o termo auto-estima é confuso, pois seu rótulo é usado para vários aspectos como auto-imagem, auto-aceitação, autovalor, amor próprio, autoconfiança, etc. O ponto importante é que não há consenso acerca da definição ou medição para avaliar a auto-estima. E seja o que for a auto-estima, não há evidência confiável que apóie os resultados da auto-estima como se chegassem a ter muita importância.
Não há evidência de que a auto-estima provoque algum resultado. Aliás, um grande número de pessoas com pouca auto-estima realizou muito num tipo de atividade ou outra. Por exemplo, Gloria Steinem, que escreveu muitos livros e foi uma das principais líderes do movimento feminista, recentemente revelou numa longa declaração num livro que ela sofre de baixa auto-estima. E muitas pessoas com elevada auto-estima sentem-se felizes em ser ricas, belas ou ter ligações sociais importantes. Algumas outras pessoas, cuja elevada auto-estima foi observada, são bem sucedidos traficantes de drogas, de grandes cidades, que geralmente se sentem muito bem acerca de si mesmos. Afinal, eles tiveram sucesso em fazer muito dinheiro num ambiente hostil e competitivo.
Um estudo de conhecimentos matemáticos de 1989 comparou estudantes de oito países diferentes. Os estudantes americanos se classificaram em último lugar na capacidade matemática e os estudantes coreanos se classificaram em primeiro lugar. Mas os pesquisadores também pediram aos estudantes que dessem uma nota para si mesmos e que revelassem se eles se achavam bons em matemática. Os americanos se classificaram em primeiro lugar na opinião de si mesmos acerca da capacidade matemática, enquanto os coreanos se classificaram em último lugar. A auto-estima matemática teve uma relação inversa ao desempenho matemático. Isso com certeza é um exemplo da psicologia do sentir-se bem impedindo os estudantes de ter uma percepção acurada da realidade. A teoria da auto-estima prediz que só os que se sentem bem consigo se sairão bem, motivo por que acham que todos os estudantes precisam disso. Mas de fato, sentir-se bem consigo pode simplesmente fazer com que você tenha confiança exagerada, tenha uma vaidade exagerada e seja incapaz de trabalhar pra valer. Agora, não estou insinuando que uma elevada auto-estima tem sempre uma relação negativa com o desempenho. Em vez disso, a pesquisa mencionada acima mostra que as medições de auto-estima não têm nenhuma relação confiável com a conduta, positiva ou negativa. Em parte, o motivo simples disso é que a vida é complexa demais para uma noção simples ser de muita utilidade. Mas por outros motivos devemos de antemão esperar esse fracasso.
Nós todos conhecemos pessoas que são motivadas por inseguranças e dúvidas internas. Essas pessoas muitas vezes são os heróis e vilões da história. É um fato bem documentado que na história das realizações militares fanáticas há o predomínio de certos homens de estatura baixa. Júlio César, Napoleão, Hitler e Stálin eram todos homens determinados a provar que eles eram grandes. Muitos grandes atletas e outros tiveram de vencer deficiências físicas e falta de auto-estima. Poderíamos chamar isso de efeito de Demóstenes, de acordo com o grego da Antigüidade que tinha problemas de fala. Ele praticava a fala com a boca cheia de pedrinhas e mais tarde se tornou um orador famoso.
Muitas realizações superiores parecem ter sua origem no que o psicólogo Alfred Adler chamou de complexo de inferioridade. O ponto importante não é que sentir-se mal sobre nós mesmos é bom, mas que só duas coisas podem verdadeiramente mudar o modo como nos sentimos sobre nós mesmos. O desempenho real e o amor real.
Primeiro, o desempenho no mundo real afeta nossas atitudes. Uma criança que aprende a ler, que consegue fazer matemática, que consegue tocar piano ou jogar futebol, terá um sentimento genuíno de desempenho e um sentimento adequado de auto-estima. As escolas que fracassam no ensino da leitura, escrita e aritmética corrompem o entendimento adequado da auto-estima. Os educadores dizem: “Não dê notas a eles. Não os rotule com classificações. Faça-os se sentirem bem consigo”. Esses educadores causam esses problemas. Não faz sentido algum os estudantes estarem cheios de auto-estima se não aprenderam nada. A realidade logo furará seu balão de ilusões e eles terão de enfrentar dois fatos perturbadores: que eles são ignorantes; e que os adultos responsáveis pelo ensino deles lhes mentiram.
No mundo real, o elogio deve ser a recompensa por algo que valha a pena. O elogio deve estar ligado à realidade.
Há um modo ainda mais fundamental em que a maioria das pessoas chega à genuína auto-estima, realmente chega a sentimentos de se valorizarem ou ao que os psicólogos chamam de “confiança básica”. Tais sentimentos vêm através do amor que se recebe.
Em primeiro lugar, o amor de nossa mãe, normalmente. Mas não dá para falsificar essa experiência fundamental de amor e autoconfiança. Quando os professores tentam criar essa emoção profunda e motivadora fingindo que eles amam todos os seus estudantes por uma hora ou menos por dia, e louvando-os indiscriminadamente, eles entendem mal a natureza desse tipo de amor. Não dá simplesmente para um professor produzir o amor dos pais em poucos minutos de interação por dia. A criança não só sabe que tal amor é falso, mas também que os professores reais têm de ensinar, e que isso envolve não só apoio, mas também disciplina, requisitos, repreensões e, em resumo, amor e firmeza.
Os bons professores mostram seu amor se importando o suficiente para usar a disciplina. Assim os melhores e mais admirados professores na maioria das escolas secundárias americanas de hoje são os treinadores de esportes. Eles ainda ensinam, mas exigem desempenho e raramente se preocupam com a auto-estima. Uma das melhores coisas que podem acontecer para um jogador de futebol iniciante que não é bom é ser cortado do time, porque então ele poderá começar a ir atrás daquilo em que ele é bom. Em vez de ficar lutando para avançar no futebol — esporte em que ele poderia desperdiçar cruciais anos de sua vida como um jogador de terceira categoria — ele poderia ser um jogador de golfe, ou estudante de matemática ou artista de primeira. Muitas coisas na vida descobrimos pelo processo de eliminação e precisamos ter fé suficiente em nossos professores que eles nos eliminarão de algumas das matérias das quais não fazemos parte de modo que possamos encontrar o lugar ao qual pertencemos.
Problemas semelhantes surgem para os que tentam construir sua lenta auto-estima falando carinhosamente com sua própria criança interior ou outro ego interior inseguro. Tais tentativas estão condenadas ao fracasso por dois motivos: primeiro, se temos insegurança acerca de nosso próprio valor, como é que poderemos crer em nosso próprio elogio? Pense bem nisso. Se não achamos que somos realmente importantes, como é que então poderemos dizer a nós mesmos que somos e crer nisso? A realidade tem de existir — o amor de outras pessoas ou o desempenho real de algo. Então sabemos: “Ei, tem fundamento”. Caso contrário, a auto-estima é apenas um pequeno narcótico psicológico em nossa vida. E segundo, como toda criança, sabemos a necessidade de autodisciplina e desempenho. Em resumo, deve-se entender a auto-estima como uma reação, não uma causa. É principalmente uma reação emocional ao que nós e ao que os outros têm feito para nós. Embora seja um sentimento ou estado interior desejável, como a felicidade, não tem muito efeito. Além disso, como a felicidade e como o amor, é quase impossível se obter a auto-estima tentando obtê-la. Tente obter a auto-estima e você provavelmente fracassará, mas faça o bem aos outros e realize algo para si e você terá tudo o que precisa.
O assunto é vital para os cristãos em parte porque tantos estão preocupados com essa questão, e em parte porque a recuperação da auto-estima vem sendo enfatizada de modo bem explícito, principalmente no Cristianismo protestante. Precisamos observar, porém, que a auto-estima é um conceito profundamente secular, e não é um conceito no qual os cristãos deveriam ter um envolvimento especial. Nem há necessidade alguma que eles se envolvam. Os cristãos deveriam ter um senso tremendo de valor próprio. Deus nos fez conforme Sua imagem, Ele nos ama, Ele enviou Seu Filho para salvar cada um de nós, nosso destino é estar com Deus para sempre. Cada um de nós tem tanto valor que os anjos se regozijam com todo pecador arrependido.
Mas por outro lado, não temos nada em nós mesmos do que nos orgulharmos. Recebemos vida com todos os nossos talentos, e somos todos pobres pecadores. Certamente não há nenhuma razão teológica para crer que os ricos ou os bem-sucedidos ou os que têm elevada auto-estima são mais favorecidos por Deus e têm mais probabilidade de chegar ao céu. Aliás, bem-aventurados sãos os humildes.
Além disso, a auto-estima é baseada na própria noção americana de que cada um de nós é responsável por nossa própria felicidade. Assim, dentro de um sistema cristão, a auto-estima tem um efeito sutil e negativo; podemos adotar a busca da felicidade como uma meta pessoal bem mais intensa do que a busca da santidade.
Hoje, a auto-estima se tornou muito importante porque é considerada essencial para a felicidade. A menos que amemos a nós mesmos, não seremos felizes. Mas presumir que devemos amar a nós mesmos, que Deus não nos amará tanto quanto precisamos ser amados é uma forma de ateísmo prático. Dizemos que cremos em Deus, mas não confiamos nEle. Em vez disso, muitos cristãos vivem de acordo com uma idéia que não tem base na Bíblia: “Deus ama aqueles que se amam”.
Outro problema é que os cristãos começaram a desculpar o mal ou comportamentos destrutivos na base da auto-estima. Mas a auto-estima, quer baixa ou elevada, não decide nossas ações. Temos de prestar contas por nossas ações e temos a responsabilidade de tentar fazer o bem e evitar o mal. A baixa auto-estima não torna alguém alcoólatra, nem faz com que uma pessoa finalmente seja capaz de confessar seu vício e fazer algo sobre o problema. Essas duas decisões competem a cada um de nós, independente de nosso nível de auto-estima.
Finalmente, colocar todo o foco em nós mesmos alimenta um amor a nós mesmos que não tem base nenhuma na realidade. É o que os psicólogos muitas vezes chamam de narcisismo. Poderíamos achar que os Estados Unidos já tiveram problemas demais com o narcisismo da década de 1970, que foi a Geração do Eu e na década de 1980 com os yuppies. Hoje, a busca da auto-estima é apenas uma expressão mais recente da velha egomania dos Estados Unidos.
Ao dar uma face feliz aos alunos de escola por seu dever de casa só porque foi entregue ou lhes dar troféus só por estarem presentes no time é bajulação do tipo vista durante décadas em nossos slogans comerciais: “Você merece uma pausa hoje”, “Você é o chefe”, “Faça do jeito que quiser”. Tal amor próprio é uma expressão extrema de uma psicologia individualista que nosso mundo consumista há muito tempo sustenta. Agora, quem reforça esse amor próprio sãos os educadores que gratificam a vaidade até mesmo de nossas crianças novas com mantras repetitivos como “Você é a pessoa mais importante do mundo inteiro”.
A ênfase narcisista na sociedade americana e principalmente na educação e até certo ponto na religião é uma forma disfarçada de adoração ao ego. Se aceita, os Estados Unidos terão 250 milhões das “pessoas mais importantes do mundo inteiro”. Duzentos e cinqüenta milhões de egos de ouro. Se tal idolatria não fosse socialmente tão perigosa, seria embaraçosa, e até de dar pena. Vamos esperar que o bom senso consiga fazer um retorno às nossas vidas.
Paul C. Vitz, Ph.D. (Universidade de Stanford, 1962), é professor emérito de psicologia, departamento de psicologia da Universidade de Nova Iorque.
Copyright © 1995 Paul C. Vitz.
Traduzido do original em inglês: “The Problema with Self-Esteem”.
Traduzido e adaptado por Julio Severo: www.juliosevero.com.br
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