A MÁGOA
O Carinho que Chico Xavier tinha para com os animais era surpreendente. O relacionamento entre ele e os bichos de qualquer espécie parecia-nos racional, pois os animais retribuíam-lhe o afeto, participando de tudo o que Chico fazia ou sentia.
Gatos ou cachorros apareciam em sua casa e lá faziam moradia. Chico os abrigava como se fossem da família consanguínea.
Numa ocasião, ao chegar de seu trabalho da Fazenda Modelo, ao abrir o portão apareceu, vindo do interior do quintal, um cachorro arrastando a pata de trás e todo alquebrado. Seu aspecto era de que fora vítima de um atropelamento. Mas à chegada de Chico, o animal pôs-se a lhe fazer festa, como se fosse um velho conhecido.
Chico alegrou-se, vendo o cachorrinho pular entre suas pernas. De imediato, recolheu-o em seu colo.
O cachorro estava muito debilitado em sua saúde. Chico comprou , com seu minguado ordenado, cobertor e remédios para abrandar as dores, pois à noite o animal gemia muito e sentia muito frio.
Durante muito tempo, esse cachorro deu bastante trabalho para o médium. Todas as noites, chegando do centro espírita, depois das tarefas e do atendimento ao público, ao entrar em seu quarto, encontrava-o todo sujo. Com todo carinho, o médium limpava o local, tratava do animal e depois de vê-lo tranqüilo, é que se recolhia para dormir.
Isso se repetiu por muitos anos. Numa noite, ao chegar, estranhou por não ouvir o latido do cachorrinho, como sempre ocorria. Quando Chico acendeu a luz, viu que o animal estava morrendo. Aproximou-se, e já com lágrimas correndo pela face, Chico passou com dificuldade a cauda, suspirou profundamente e morreu.
Após alguns meses, uma das irmãs de Chico soube algo que deixaria o médium arrasado, mas resolveu contar o que sabia, a respeito da morte do cachorro.
Quando Chico chegou para almoçar ela falou:
– Chico, eu soube que a morte do cachorro aleijado não foi natural.
Ao ouvir isso, ele, espantado, perguntou:
– Como?... Que negócio é esse?
– Pois é, meu irmão... a nossa vizinha morria de dó, por ver você chegar tarde da noite, cansado após tanto trabalho e ter que cuidar daquele cachorro todo esquisito e doente. Então, ela resolveu apressar a morte do pobre animal, dando-lhe veneno num pedaço de carne. E veja que não estou caluniando não, foi ela mesma quem contou.
Chico, levantando as mãos para o Alto, exclama:
– Valha-me Deus, não me diga uma coisa dessas... Que tristeza... nem sei o que dizer.
E Chico chorou. A irmã, vendo-o nesse estado, achou que as lágrimas poderiam ser de despreza pela vizinha. Mas o coração de Chico não guardava esse sentimento, só de tristeza pelo ato consumado. Porém, esse fato passou a interferir em suas atividades mediúnicas, a ponto de Emmanuel lhe chamar a atenção, dizendo:
– Chico, essa mágoa que você insiste em conservar em seu coração, está atrapalhando o trabalho espiritual a ser realizado.
– Não sei como fazer – respondia Chico. – Eu não consigo esquecer a morte trágica do animalzinho, envenenado pela vizinha.
– É preciso, Chico... – Insistia Emmanuel e recomendou:
– Você vai dar a sua vizinha uma grande alegria.
Chico assustou-se:
– O quê? Dar alegria a ela? Mas fui eu que sofri, não ela...
– Lembre-se do evangelho, Chico, quando recomenda: “Fazei o bem aos que vos aborrecem...” As palavras são de Jesus, não minhas.
Chico ficou pensando. Obediente ao Evangelho e ao seu guia espiritual, lá foi ele descobrir qual seria a alegria que poderia ocasionar à vizinha.
Descobriu por meio de conversas, que sua irmã teve com ela, que a vizinha seria muito feliz se tivesse uma máquina de costura, pois a ajudaria muito nas despesas da casa, costurando para fora.
Chico comprou a máquina de costura comprometendo-se a pagá-la em longas prestações.
Quando a vizinha viu Chico chegar com o entregador e a máquina de costura, ela o abraçou com tanta felicidade e tanta ternura, que uma luz desprendeu-se de seu coração, que o envolveu da cabeça aos pés. Quando Chico conseguiu se soltar daquele abraço tão afetuoso, percebeu que seu coração estava livre daquela mágoa terrível. E Chico, vendo a presença de Emmanuel, chorou agradecido, pela receita que o havia curado.
Erika – Jornal Seareiro n°98 – Dezembro/2009
Bibliografia: Adaptação de Chico, de Francisco – Adelino da Silveira – CEU
Obrigado amigo Chico, por mais uma bela lição compartilhada.
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