A lei de causa e efeito tem por objetivo o bem da criatura. Ela não tem, como muitos pensam, um caráter punitivo, mas sim uma ação educadora, no sentido de fazer o ser reconhecer o seu erro, e indicar-lhe o caminho mais curto do acerto. Quando o apóstolo Pedro, diz em sua epístola: “O amor cobre a multidão de pecados”[9], quer nos ensinar que não é preciso sofrer para resgatarmos uma “dívida”, mas através da vivenciação do amor, podemos atingir o mesmo alvo de uma forma mais ampla e sem dor. Isto porque, como já dissemos, o objetivo da lei de causa e efeito, não é punir. Se pela vivenciação dos ensinamentos cristãos, o ser se redime, então não é preciso sofrer.
Vimos então que a ação da lei, do ponto de vista espiritual, não tem uma forma absoluta de se manifestar. Pode o homem pelo seu livre arbítrio acrescentar novas forças no sentido de abrandá-la ou de agravá-la.
Para melhor entendimento do assunto, sugerimos a análise de dois casos em que esta lei atua.
O primeiro fala sobre a possibilidade de abrandamento da lei, quando o elemento “amor” atua.
“Saturnino Pereira sofre um acidente na fábrica onde trabalha, vindo a perder o polegar direito. Seus colegas e amigos comentam a injustiça da ocorrência, dada a grande dedicação de Saturnino ao bem de todos. Comparecendo à reunião mediúnica em que colabora regularmente, um benfeitor espiritual espontaneamente lhe esclarece que, em existência anterior, foi poderoso sitiante que, num momento de crueldade, puniu barbaramente um pobre escravo, moendo-lhe o braço direito no engenho. Com o despertar de sua consciência, atrozes remorsos torturam-no no além túmulo. Deliberou então impor-se rigoroso aprendizado, programando um acidente para futura encarnação, na qual perderia o braço. No entanto, sua renovação para o bem, testemunhada por suas ações, possibilitou que o acidente apenas lhe ocasionasse a perda de um dedo.[10]
No segundo, vemos a lei atuando de maneira mais rigorosa:
André Luiz estudava, junto de amigos no plano espiritual, o caso de Laudemira, uma irmã que padecia muitas dificuldades no instante de dar à luz um filho muito importante para o seu processo evolutivo.
Envolta que estava por fluidos anestesiantes que lhe eram desfechados por perseguidores do plano invisível, durante o sono, tinha a vida uterina prejudicada por extrema apatia. Como conseqüência, talvez fosse necessária a intervenção cirúrgica. Mas a cesariana neste caso não seria aconselhável, porque a prejudicaria outras gravidezes que iriam se fazer necessárias.
Imbuídos que estavam de estudar os mecanismos da lei de causa e efeito, foi permitido a eles informação sobre o passado de nossa irmã, conforme veremos a seguir:
“(…) As penas de Laudemira, na atualidade, resultam de pesados débitos por ela contraídos, há pouco mais de cinco séculos. Dama de elevada situação hierárquica na corte de Joana II, Rainha de Nápoles, de 1414 a 1435, possuía dois irmãos que lhe apoiavam todos os planos loucos de vaidade e domínio. Casou-se, mas sentindo na presença do marido um entrave ao desdobramento das leviandades que lhe marcavam o caráter, acabou constrangendo-o a enfrentar o punhal dos favoritos, arrastando-o para a morte. Viúva e dona de bens consideráveis, cresceu em prestígio, por haver favorecido o casamento da rainha, então viúva de Guilherme, Duque da Áustria, com Jaime de Bourbon, Conde de la Marche. Desde aí, mais intimamente associada às aventuras de sua soberana, confiou-se a prazeres e dissipações, nos quais perturbou a conduta de muitos homens de bem, e arruinou as construções domésticas, elevadas e dignas, de várias mulheres do seu tempo. Menosprezou sagradas oportunidades de educação e beneficência que lhe foram concedidas pela Bondade Celeste, aproveitando-se da nobreza precária para desvairar-se na irreflexão e no crime. Foi assim que ao desencarnar, no fastígio da opulência material nos meados do século XV, desceu a medonhas profundezas infernais, onde padeceu o assédio de ferozes inimigos que não lhe perdoaram os delitos e deserções. Sofreu por mais de cem anos consecutivos nas trevas densas, conservando a mente parada nas ilusões que lhe eram próprias, voltando à carne por quatro vezes sucessivas, por intercessão de amigos do Plano Superior, em cruciantes problemas expiatórios, no decurso dos quais, na condição de mulher, embora abraçando novos compromissos, experimentou pavorosos vexames e humilhações da parte dos homens sem escrúpulos que lhe asfixiavam todos os sonhos (…)”[11]
Hilário, amigo de André nesses estudos, perguntou ao instrutor, se de cada vez que se retirava da carne, nessas quatro existências, Laudemira continuava ligada às sombras. Ele responde que sim:
“Ela naturalmente entrava pela porta do túmulo e saía pela porta do berço, transportando consigo desajustes interiores que não podia sanar de momento para outro. E continua (…) Nossa irmã, com o amparo de abnegados companheiros, voltou ao pagamento parcelado das suas dívidas (…)”[12]
Silas, o instrutor de nossos amigos na espiritualidade, informa ainda que estava previsto para ela receber nesta encarnação outros filhos:
“(…) Deve agora receber cinco de seus antigos cúmplices na queda moral, para reergue-lhes os sentimentos, na direção da luz, em abençoado e longo sacerdócio materno.” E complementa “Do seu êxito no presente, dependerão as facilidades que espera recolher do futuro, para a liberação definitiva das sombras que ainda ofuscam o Espírito, pois, se conseguir formar cinco almas na escola do bem, terá conquistado enorme prêmio, diante da Lei amorosa e justa.”
Concluindo então, temos que a lei de causa e efeito é um artifício da Misericórdia Divina para nos fazer retornar às origens, ou seja, ao Amor.
Sabemos que a lei divina é revelada aos homens na medida da condição evolutiva de cada um, isto nos leva a raciocinar que de acordo com esta condição evolutiva da criatura é que ela vai analisar o que é justo ou não.
A Doutrina Espírita não proíbe nada, um dos seus princípios básicos é o “livre arbítrio” (todas as coisas são lícitas), assim sendo ela não é proibitiva, mas é educativa, no sentido de mostrar a verdade, e ensinar o caminho para consegui-la (mas nem todas as coisas edificam).
O apóstolo, com este seu ensinamento, mostra sua capacidade de síntese e consegue fechar todo o tema que ora estudamos: “Livre Arbítrio e Causa e Efeito”. Com a afirmação de que “tudo me é lícito”, ele mostra o livre arbítrio, mas é taxativo ao afirmar: “nem todas as coisas edificam”, ou seja, nem todas as coisas nos conduzem para o caminho do Senhor, e é aí que a lei de causa e efeito atua de maneira a fazer voltar o ser à direção correta.
Outra coisa a ser analisada é qual o nosso objetivo diante da vida. Ela nos oferece muitos prazeres de caráter transitório, mas se o nosso objetivo maior é a nossa evolução espiritual, temos que buscar algo mais duradouro: o tesouro que o ladrão não rouba, nem a traça corrói[21].
Quando Jesus conversava com as irmãs de Lázaro, deixou um grande ensinamento:
Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a melhor parte, a qual não lhe será tirada.[22]
Portanto quando estivermos em dúvida sobre qual o caminho a seguir, usemos o nosso discernimento, e busquemos pensar se não estamos trocando:
“O divino, pelo humano
O transcendente, pelo rotineiro
O que redime, pelo que cristaliza
O espiritual, pelo material
Os prazeres do Céu, pelas alegrias da Terra”[23]
E lembremos sempre o que Ele, que é o Mestre dos mestres nos disse: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim.”[24]
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Notas:
[1] PERALVA, Martins. Estudando o Evangelho. 6a Ed., Rio de Janeiro, FEB, 1992..cap. 30
[2] João, 8: 32
[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1980, questão 829
[4] Idem, ibidem, questão 836
[5] Id, ib, questão 851
[6] XAVIER, Francisco C./ Vieira, Waldo/Luiz, André. Evolução em Dois Mundos, 13a Ed., RJ, FEB, 1993, 2a parte cap XVIII
[7] João, 10:10
[8](XAVIER/Waldo Vieira/André Luiz, 1993), 1a parte, cap. II
[9] I Pedro, 4: 8
[10] XAVIER, Francisco C./Hilário Silva. A vida Escreve, Rio de Janeiro, FEB, 1960, II Parte, cap XX
[11] XAVIER, Francisco C./André Luiz. Ação e Reação, 6a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1978, cap. 10
[12] Idem, ibidem
[13] (KARDEC 1980), questão 846
[14] Idem, ibidem, questão367
[15] Mateus, 26: 41
[16] (KARDEC 1980), questão 872
[17] XAVIER, Francisco C./Emmanuel (Espírito). Pensamento e Vida, 9a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991, cap. I
[18] Idem, ibidem, cap. II
[19] I Coríntios, 10:23
[20] Romanos, 2: 12
[21] Cf. Mateus, 6: 19 e 20
[22] Lucas, 10: 41
[23] (PERALVA 1992), cap. 48
[24] João, 14:6
http://espiritismoeevangelho.blogspot.com.br/2010/02/livre-arbitrio-e-lei-de-causa-e-efeito.html
FATOS VERÍDICOS QUE ACONTECERAM QUE NOS ENSINA UM POUCO MAIS SOBRE A LEI DE CAUSA E EFEITO SEGUNDO O ESPIRITISMO.
No ano 177 da nossa era, na cidade de Lyon, nas Gálias Francesas o Concilium estava abarrotado de gente. Não se tratava de nenhuma das assembleias tradicionais, junto ao altar do Imperador, e sim de compacto ajuntamento.
Marco Aurélio reinava, piedoso e, embora não houvesse ordenado nenhuma perseguição aos cristãos, permitia que se aplicassem, com o máximo rigor, todas as leis existentes contra eles.
A matança, por isso, perdurava terrível. Ninguém examinava necessidades ou condições. Mulheres e crianças, velhos e doentes, tanto quanto homens válidos e personalidades prestigiosas, que se declarassem fiéis ao Nazareno, eram detidos, torturados e eliminados sumariamente.
Os cristãos de Lyon eram sacrificados no lar ou barbaramente espancados no campo. Os desfavorecidos da fortuna, inclusive grande massa de escravos, eram entregues às feras em espetáculos públicos.
Quando as feras pareciam entorpecidas, após massacrarem milhares de vítimas, nas mandíbulas sanguissedentas, inventavam-se tormentos novos. Mais de vinte mil pessoas já haviam sido mortas.
Naquele ano de 177 a que nos referimos, a noite caía célere e a multidão se acotovelava para decidir quanto ao espetáculo que ofereceriam a Lúcio Galo, famoso cabo de guerra que visitaria Lyon no dia seguinte.
Imaginaram-se, para logo, comemorações a caráter. Álcio Plancus dirigia a reunião programando os festejos. Tocado pelo vinho abundante, Álcio convocava a assembleia para que o ajudasse a pensar num espetáculo diferente, à altura do visitante.
Um gritava: A equipe de dançarinas nunca esteve melhor. Outro lembrava: Providenciaremos uma briga de touros selvagens. Excelente lembrança -falou Álcio, em voz mais alta, mas, em consideração ao visitante, é preciso acrescentar alguma novidade que Roma não conheça...Cristãos às feras já não constitui novidade.
É preciso algo novo. E o próprio Álcio apresentou um plano distinto: Poderíamos reunir, nesta noite, aproximadamente 1000 mulheres e crianças cristãs, guardando-as no cárcere... E, amanhã, coroando as homenagens, ofereceremos um espetáculo inédito.
Nós as colocaremos na arena, molhada com resina inflamável e devidamente cercada de farpas embebidas em óleo, deixando apenas passagem para os mais fortes. Depois de mostradas festivamente ao público, incendiaremos toda a área e soltaremos sobre elas os velhos cavalos que não sirvam mais para os nossos jogos.
Realmente, as chamas e as patas dos animais formarão um espetáculo inédito. Muito bem! Muito bem! Rugiu a multidão de ponta a ponta do átrio.
Durante a noite inteira, mais de mil pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam residências humildes e, no dia subsequente, ao sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e criancinhas, em gritos e lágrimas, no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte, queimadas nas chamas, ou despedaçadas pelas patas dos cavalos em correria...
(...) Quase 18 séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento...Entretanto, a justiça da Lei, reuniu todos os responsáveis que, em diversas posições de idade física, se aproximaram de novo para dolorosa expiação, no dia 17 de dezembro de 1961, na cidade brasileira de Niterói - Rio de Janeiro, em comovedora tragédia num circo.
As labaredas, fora de controle, se alastravam rápidas, ceifando, em poucos minutos, muitas vidas. Os animais, assustados, completaram a tenebrosa catástrofe, pisoteando pessoas em correria desesperada.
A reação de uma ação praticada há muitos séculos chegava ao endereço certo, ainda que para nossos olhos o acontecimento pareça fruto do acaso ou da má sorte daqueles que pereceram.
Eis a Lei de Causa e Efeito.
E completo com a frase de Oscar Wilde:
Roberta Carrilho
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