AS PROVAÇÕES
Habituamo-nos a considerar a dor em qualquer modalidade como conduto punitivo ou bitola disciplinante para a nossa alma, quando enclausurada na carne. E graças a essa conceituação injusta, condicionamos a dificuldade, o sofrimento e a pobreza ao crivo de provações lamentáveis, sob o impiedoso jugo da nossa própria revolta.
Todavia, as provações mais rudes não são as que se manifestam como abençoado látego de correção.
Há provações ignoradas que muitos disputam, por desconhecer-lhes os perigos e a gravidade.
O homem economicamente livre, de burras recheadas de moedas de ouro, responderá pelo uso que faça das disponibilidades monetárias.
O industrial possuidor de longa folha de empregados dirá da própria conduta, na direção de tantos destinos.
O agricultor poderoso com dezenas de agregados apresentará contas de como utilizou a dependência alheia nas glebas da terra de sua propriedade.
O governante será convidado a informar quanto ao uso dos dinheiros públicos e a respeito da felicidade do povo.
O médico, o advogado, o odontólogo, o obstetra serão convocados à prestação dos serviços realizados sob a benção do título universitário.
Igualmente o portador da beleza física, da inteligência brilhante, da palavra escorreita e pena formosa conduzem responsabilidades consigo que representam severas provações...
Foi por esta razão, e com muita propriedade, que o Mestre, lamentando a posição moral do jovem rico, afirmou ser difícil, aos abastados de qualquer natureza, entrarem no Reino dos Céus, vinculados como se encontram aos bens da Terra.
Em verdade, temos o que damos, somos o que fazemos o que fazemos e possuímos o que dilatamos em favor dos outros.
Convertamos nossa dificuldade, nossa limitação, nossa dor, em sublimação evangélica no roteiro da libertação espiritual.
Quem se suponha feliz, amparado pela fortuna fácil ou pela comodidade social, pelo título honroso ou pela situação privilegiada, resguarde-se na vigilância. Normalmente, os vencidos aparentemente, triunfam porque, não tendo para quem se dirigir voltam-se para Aquele que é a Vida e a Consolação, enquanto os que se encontram muito atarefados com os favores imediatos perecem longe do despertamento para os bens efetivos da experiência planetária.
Utilizemos, portanto, das nossas disponibilidade evolutivas à luz da Doutrina Espírita, sublimando as provações do caminho de lutas, a fim de alcançarmos a posição ideal de servos felizes, conservando a consciência tranqüila onde a lâmpada da fé imortalista brilhe, bendita, norteando-nos até o fim dos tempos.
João Cléofas
(FRANCO, D. P. Intercâmbio Mediúnico. Pelo Espírito João Cléofas. Salvador, BA: LEAL, 1986, cap. 56)
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