31. De novo retirou-se das fronteiras de Tiro e de Sidon e foi para o mar da Galiléia, por meio do território da Decópole. 32. E trouxeram-lhe um surdo e gago, e pediram-lhe que pusesse a mão sobre ele. 33. Tirando-o da multidão, Jesus levou-o à parte, pôs seus dedos nos ouvidos dele e, cuspindo, tocou-lhe a língua.
34. Depois, erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse: ephphetha, isto é, "abre-te"! 35. E foram abertos seus ouvidos, e logo se lhe rompeu o freio da língua, e falava corretamente. 36. Recomendou-lhes Jesus que a ninguém o dissessem; mas quanto mais o recomendava, tanto mais eles o divulgavam. 37. E admiravam-se imensamente, dizendo: “Fez bem todas as coisas: faz os surdos ouvirem e os mudos falarem".
A narrativa é peculiar às anotações de Marcos, e apresenta pormenores valiosos à interpretação.
Inicialmente o aceno ao caminho percorrido pela comitiva: "de Tiro e de Sidon, pelo meio do território da Decápole".
Isso nos revela que de Tiro Jesus se dirigiu mais para o norte, atravessando Sidon e tomando a estrada que leva a Damasco, a leste, alcançando as encostas meridionais do Líbano; no Hermon, abandona essa estrada, dobra a sudeste, atravessa o Jordão (talvez na "ponte das Filhas de Jacó") e chega ao coração da Decápole, ao sul do mar da Galiléia, tendo portanto, que voltar atrás para atingir esse mar.
Na decápole (Gerasa, cfr. Marc. 5: 1-20) fora deixado cerca de seis meses antes, com a tarefa de difundir sua doutrina, o ex-obsidiado. Dessa forma, logo que a comitiva penetra na região, é Jesus reconhecido e solicitado a curar um enfermo. Trata-se de um surdo e gago.
"Gago" é o significado preciso de mogilálon, que algumas versões traduzem por "mudo". Mas não há dúvida de que se trata de um gago, já que mais adiante se diz que "se lhe rompeu o freio da língua", e mais, "que falava corretamente" (orthõs), sinal de que antes falava, sim, embora atrapalhado.
O pedido é feito para que Jesus "lhe imponha as mãos", tradicional gesto que até hoje permanece nos denominados "passes", que Jesus tanto empregava (cfr. Marc. 6:5, 8:23, 25, etc.). Mas a técnica usada aqui por Jesus difere da normal.
Ele leva o doente para longe da multidão. Depois, ao invés de utilizar seus poderes maravilhosos, ao invés de uma simples ordem, vemos que emprega pequeno ritual mágico:
encosta os dedos fisicamente nas orelhas do enfermo;
a seguir cospe (possivelmente nas pontas dos dedos) e, com sua saliva, toca a língua do gago.
Depois desses gestos, levanta os olhos para o alto, suspira, como que recebendo ou emitindo uma onda fluídica através de sua respiração, e então pronuncia uma palavra em hebraico: éphphetha (que é o ithpael do verbo phâtah, que significa "abrir").
Observemos, de passagem - como mais uma prova de que Jesus e seus discípulos falavam normalmente o grego - que todas as vezes em que era proferida pelo Mestre uma palavra ou a expressão em hebraico, é por Marcos citada a palavra ou expressão no original, como coisa digna de ser notada e de registrar-se (cfr. Marc. 5:41; 7:11; 14:36 e 15:34).
Depois de realizados esses gestos e toques é que se efetua a cura da surdez e o rompimento do freio da língua, permitindo ao enfermo expressar-se corretamente, pronunciando com clareza as consoantes.
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