Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Justiça, Reencarnação, Lei de Causa e Efeito


O tema é recorrente na doutrina espírita. Muito se tem falado sobre isso. Aproveito o espaço próprio para expor minha opinião sobre o tema, e meu embasamento.

Para quem olha o título parecem palavras soltas, temas díspares, entretanto, eles se entrelaçam e misturam de tal forma que se torna quase impossível falar de um sem mencionar o outros.

O conceito mais popular de justiça, mencionado inclusive n'O Livro dos Espíritos é que justiça é dar a cada um o que merece. É um conceito clássico. Porém todos nós achamos que merecemos mais do que temos recebido. E nos achamos injustiçados.

Entretanto, embora simples, o conceito acima nos basta para entendermos o motivo de misturarmos temas como justiça, encarnação e lei de causa e efeito.

Começo explicando que os espíritos falam em "lei de causa e efeito" e não em "lei de ação e reação". Parece uma diferença bizantina, porém, é importante termos em mente que se toda causa tem um efeito, e toda a ação tem uma reação, a lei de ação e reação prevê que " toda ação corresponde uma reação de igual intensidade e sentido contrário" lei da física enunciada por Isaac Newton, e que não lembro se é a primeira ou a segunda. O que é bem diferente da lei de causa e efeito, pois se este segue aquela, nem sempre é de intensidade igual e em sentido contrário.

Vejamos, se eu jogo uma bola de borracha na parede ela certamente voltará para mim com a mesma força com que a mandei. Isso é lei de ação e reação.

Porém, o comportamento humano não é uma ciência exata, e obedece a variáveis muito mais amplas que o ato de atirar uma bola na parede. Por esse motivo, nem sempre uma causa determinada tem o efeito que seria de se prever. Ou o que desejaríamos.

Um exemplo pode explicar melhor o que estou dizendo. Numa determinada encarnação, há 800 anos atrás, João, casado com Maria, pai de Carlos, mata num duelo a Pedro, cuja esposa, Carlota, era amante de João.

Em várias outras encarnações João e Pedro repetirão metaforicamente esse duelo, prejudicando-se e agredindo-se mutuamente, e patinando em sua evolução espiritual, sem conseguirem efetivamente superarem o primeiro ato delituoso. Mesmo com várias encarnações projetadas para que o problema fosse resolvido, os resultados foram infrutíferos.

Eis que então, é lançado o plano "b'. Já que não conseguiram superar a causa de forma amena, passarão pela prova de fogo: a família. João que em uma encarnação tirou a vida de Pedro deverá agora dar-lhe a vida, e renascerá como sua mãe. Carlota a amante de João, será nesta encarnação também seu amante, o pai de seu filho. Maria e Carlos virão como irmãos de Pedro.

Uma solução certamente bem diferente da que teria o ato delituoso de João caso se aplicasse a "lei de ação e reação", ou a "lei de talião". Nesse caso João seria assassinado em uma outra encarnação e seu débito estaria saldado. E outra pessoa, o assassino, teria contraído um débito ao violar a lei divina que diz "não matarás". Seria despir um santo para vestir outro.

Ora, por que então confundimos tanto lei de causa e efeito com lei de ação e reação? Porque ainda não entendemos que justiça é diferente de vingança. A justiça perdoa, leva em conta as circunstâncias, grau evolutivo, conhecimento, intenção. A vingança quer apenas que o outro sofra do mesmo modo como fez sofrer.

Apesar de tudo que os grandes mestres da humanidade nos ensinaram, principalmente Jesus, ainda não aprendemos a nos conciliar com o nosso adversário quando estamos a caminho do tribunal, muito menos a perdoar setenta vezes sete vezes, e menos ainda que o Amor cobre a multidão de pecados, e que a quem muito se perdoa, muito se ama. Preferimos lembrar da frase dita a Pedro no monte das Oliveiras de que quem pega da espada morre pela espada.

Grifei a palavra "pega" pois ela é importante na frase de Jesus que eu citei. Ele não disse que quem mata pela espada morre pela espada. Disse que quem "pega" da espada morre pela espada. É uma diferença significativa. Quem pega da espada? As pessoas de temperamento briguento, belicoso. São esses os mais prováveis de se encontrarem em situação de agredir, ferir, matar. E são esses também, aqueles que sofrerão os efeitos de tais comportamentos.

Já li e reli em inúmeros lugares, especialmente quando há algum crime de morte com grande repercussão na mídia, que o criminoso devia pagar com a vida, que na próxima encarnação o criminoso certamente pagará, que o criminoso pode fugir da justiça dos homens mas não fugirá da justiça divina, entre outras coisas que dizemos quando estamos com raiva, e cegos pela nossa paixão vingativa.

Quando enunciamos castigos tão rigorosos nos esquecemos de várias coisas: a primeira é que não conhecemos o passado daquela pessoa, tanto o físico como o espiritual e, não sabemos tudo o que motivou tal ato; a segunda é que estamos emitindo um julgamento baseados em informações incompletas, portanto, um julgamento injusto; a terceira é que estamos esquecendo de dois princípios que nos foram legados por Jesus: "Não fazer aos outros o que não queremos que nos façam" e "Com a mesma medida com que julgardes sereis julgados" que nos deviam levar à misericórdia; a quarta é que Deus é soberanamente bom, sábio e justo, portanto seus critérios são melhores que os nossos; por último, que a Justiça tanto a Divina como a humana, não visam apenas punir o mal, mas e, principalmente, reparar o mal, educando àquele que o praticou para que não volte a fazê-lo.

Muitas vezes eu chego a dar risada quando vejo pessoas no Brasil pedindo a volta da pena de morte, como forma de diminuição de crimes graves. A pena de morte é aplicada no mundo desde que a história existe. Se fosse uma boa solução para prevenir a criminalidade, os crimes por ela punidos já estariam extintos a séculos. No entanto eles continuam a ser cometidos, o que demonstra a ineficácia da medida.

Só podemos falar em justiça verdadeira, quando aliamos ao nosso desejo de que o mal seja reparado o sentimento de misericórdia para quem ainda erra, e, no caso de sermos nós os ofendidos, quando sinceramente aprendermos a perdoar. Então poderemos dizer, sem nenhuma hesitação: Pai, perdoa nossas dívidas como perdoamos nossos devedores.

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