Estudando o Espiritismo

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sábado, 1 de janeiro de 2011

Sobre artigo Boletim 367 de Ademir Xavier, Elzio Ferreira de Souza, Brasil

Élzio comenta o artigo anterior


Caro Iglesias
Recebi e agradeço a remessa do boletim 369.
Estive lendo o Boletim do aniversário do GEAE e achei o trabalho do Aldenir bem feito, apesar do toque acadêmico da sigla. Há muitos anos escrevi no Mundo Espírita sobre o assunto, e estive retomando agora ao mesmo, mas acabei nao mandando para publicação na F.E. por causa da extensão. Tenho que avaliá-la primeiro.Anoto o seguinte:
1a - A primeira coisa que notamos é que o CCU foi uma descoberta inteligente de Kardec diante do dificílimo problema da autenticidade das mensagens dos Espíritos. Assim sendo, ele não é resultado do ensino dos Espíritos e, portanto, não pode ser tomado como um princípio da doutrina.
Seria interessante questionar a frase final - A Doutrina só aceita princípios quando revelados pelos Espíritos? Sigamos Kardec, para nao fugir do terreno em que ele tão bem colocou o assunto. Em A Gênese, ele destacou as duas características da revelação - divina e humana. Se os dois trabalhos foram colocados lado a lado, é de esperar-se que os princípios sejam sacados dos ensinos dos Espíritos e da observação dos homens. Os princípios básicos que ele enumerou foram fixados a partir dos ensinos dos Espíritos, mas porque se submeteram ao CCU forte, para utilizar a terminologia adotada. Isto significa que um princípio não é adotado só por ser revelação, mas porque o CCU o fixa. Se utilizarmos o termo princípio em sentido mais amplo, como se faz de um modo geral, para significar o que foi bem estabelecido pela investigação, a conclusão será de que CCU é também um princípio metodológico, que, apesar de algumas idéias desavisadas, ainda é o método mais seguro de depuração ao lado do controle racional, necessário para contrabalançar (Vide o caso dos Messias do Espiritismo na Revista Espírita, idéia que foi espalhada em vários núcleos de modo independente).
Agora bem, uma questão pode ser colocada em face do pensamento de Emmanuel que transcrevo - "Cada individualidade deve alargar o círculo das suas capacidades espirituais, porquanto, poderá, como recompensa à sua perseverança e esforço, certificar-se das sublimes verdades do mundo invisível, sem o concurso de quaisquer intermediários. (destaque nosso - Emmanuel: dissertações mediúnicas, p. 49). Ele deveria estar voltado para as percepções dos rishis (videntes) indianos e de um Chico Xavier, para citar um só exemplo entre nós). Em outras palavras, a revelação não teria uma origem exclusivamente nos Espíritos.
2. A questão dos princípios é interessante. Em Pérolas no Fio, eu anotei 10 (dez) e chamei a atenção de que eram princípios que podem encontrar-se no Hinduísmo. De propósito, a fim de que os confrades pudessem exercer o direito de pensar, não coloquei em que se podia diferenciar as duas doutrinas.
3. Ainda em relação aos princípios, devemos considerar que existem Espíritos que nao admitem o evolucionismo. No tempo de Kardec. E há mais de 60 anos (1937), quando Emmanuel ditou o livro que leva o seu nome, destacou o fato sobre a defesa do fixismo feita por Espíritos estudiosos:
"Se bem haja no próprio círculo dos estudiosos dos espaços o grupo dos opositores das grandes idéias sobre o evolucionismo do princípio espiritual, através das espécies, sou dos que o estudam, atenta e carinhosamente" (p.93)
Isto é interessante porque na quase totalidade dos núcleos se aparecesse um Espírito com tais idéias, será tido imediatamente como um pseudo-sábio. Aliás, podemos dizer que Kardec agiu nesta parte com muito tato, e, embora fosse pessoalmente um evolucionista, até o fim, manteve-se em cautela no enunciar a idéia, pelo menos em relação à evolução espiritual, que ele apresenta como posição defendida pelo filósofos espiritualistas. Este princípio alcançou assim o estado de cidade com os trabalhos de Léon Denis.
4. Escreve Aldenir - "Vejamos um exemplo concreto que nos auxilie nesse ponto. Suponhamos que um certo Espírito proponha uma modificação na lei III de evolução afirmando que a marcha de desenvolvimento do Espírito não é incessante mas que, em determinado ponto de sua vida maior, seja permitido por lei ao Espírito estacionar. Não é difícil ver que semelhante idéia depõe contra vários outros princípios e leva imediatamente a uma contradição com a noção de livre-arbítrio pois, se ao Espírito é possível estacionar, ele não tem, por lei, nenhuma responsabilidade sobre seus atos durante o período de falta de progresso. Essa idéia deve ser rejeitada por estar em contradição com uma série de noções que protegem os fundamentos da doutrina."
Ainda que ele tenha razão em relação à contradição, não me parece seguro que uma tal teoria iria de encontro à noção de livre-arbítrio e de responsabilidade individual durante o período de falta de progresso, porque a) seria exatamente o reconhecimento do seu livre-arbítrio que o permitiria estacionar; b) porque uma decisão livre sendo imputável, a sua responsabilidade pela opção é evidente, se isto causasse algum prejuízo ao sistema estabelecido. Bem, o Aldenir deveria estar pensando, no exemplo, com uma opção que fosse definitiva e irrevogável, pois, no entendimento que temos atualmente, um Espírito pode resolver estacionar e o faz, até que mude de opinião livremente ou que um acréscimo de dor, resultante da violação da lei, leve-o a abandonar a posição conflituosa com a lei.
Bem, meu caro Iglesias, estas são umas pequenas anotações ao trabalho do Aldenir que está muito bem lançado e que faço, no silêncio da madrugada, para manter uma simples conversa.
Com o abraço do
Elzio Ferreira de Souza

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