Está no Evangelho de Mateus (12:46-50) que Jesus pregava a pequena multidão, em uma residência, quando foi informado de que sua mãe e seus irmãos o procuravam e desejavam falar-lhe.
Perguntou o Mestre:
- Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?
E, indicando seus discípulos:
- Eis aí minha mãe e meus irmãos! Pois quem cumpre a vontade do meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe.
Estranha essa reação de Jesus. Uma desconsideração para com sua família, particularmente sua mãe, por quem, em outras oportunidades, sempre demonstrou solicitude.
Sua primeira aparição na vida pública, nas Bodas de Caná, deu-se ao lado de Maria. Sua última preocupação, na cruz, foi com Maria, que confiou aos cuidados do apóstolo João. Melhor que ninguém Jesus conhecia e cumpria o dever de honrar pai e mãe, consoante o princípio divino enunciado na Tábua da Lei, o que, obviamente, implica dar-lhes atenção e deles cuidar.
Por que, então, essa aparente contradição?
Não é difícil definir o que ocorreu.
Suponhamos que eu estivesse em casa de amigos espíritas, falando a respeito da pluralidade dos mundos habitados.
Alguém avisa:
- Richard, sua mãe e seus irmãos estão aí fora e querem falar-lhe.
Soaria mal.
Mas se estivesse falando sobre os valores da fraternidade, considerando a existência da família universal, filhos de Deus que somos todos, então a observação surgiria como uma ilustração, sem causar estranheza.
É provável que assim tenha ocorrido com Jesus.
Como o episódio foi registrado fragmentariamente, a observação pode sugerir uma desconsideração com sua família.
Há várias passagens evangélicas em que temos dificuldade para compreender seu pensamento, que nos parece enigmático e obscuro justamente porque houve um registro precário, sem que saibamos das circunstâncias que ensejaram a lição das explicações posteriores que ofereceu aos ouvintes.
Consideremos também o problema da afinidade. Explica Kardec, em "O Evangelho segundo o Espiritismo", que as palavras de Jesus sugerem que há uma parentela carnal e uma parentela espiritual.
Os parentes pela carne são aqueles que tem o mesmo sangue. Pais e filhos, irmãos e irmãs... Não raro, embora vivendo sob o mesmo teto, atendendo a variados compromissos, estão separados pela diferença de aptidões, de tendências, de estágio evolutivo...
As ligações pela carne podem ser constrangedoras e atritantes, porquanto envolvem pessoas que devem caminhar juntas mas não entram em acordo quanto aos caminhos ideais. Se não conseguem ajustar-se, exercitando entendimento, podem resvalar para a frustração e a rebeldia, transformando o lar em palco de lamentáveis dramas, onde se fazem presentes a traição, a agressão, a deserção...
Já a parentela espiritual é diferente. São Espíritos que se identificam nos mesmos ideais, nas mesmas tendências, nos mesmos desejos de realização superior, estabelecendo preciosos elos de simpatia e afetividade.
As ligações humanas podem romper-se com a morte, se determinadas apenas pelo sangue; mas as ligações espirituais, sustentadas pela afinidade, prolongam-se além-túmulo.
Formam famílias ajustadas e felizes, cujos membros ajudam-se sempre, cada vez mais unidos, embora atendendo, eventualmente, a compromissos distintos.
Pode ocorrer que um membro de nossa família espiritual não esteja reencarnado ao nosso lado, mas poderá ter assumido a posição de nosso mentor, o chamado anjo de guarda, que nos acompanha, estendendo sobre nós sua proteção e nos estimulando ao cumprimento de nossos deveres.
Quem melhor que o membro qualificado da família espiritual poderia desempenhar com maior dedicação e eficiência semelhante tarefa?
Imagino a esposa pensando:
Agora sei por que é tão difícil conviver com aquela besta que se intitula meu marido. Certamente é um inimigo do passado que devo aturar para ver-me livre dele um dia.
O marido:
Ainda bem que aquela megera que se faz mãe de meus filhos pertence apenas à família humana. Não precisarei me preocupar com ela quando o diabo a levar.
O filho:
Desconfio não existir nenhuma ligação maior com meus pais. São uns quadrados que só complicam minha vida. Logo que puder darei no pé. Quero distância... Gente que pensa assim não entendeu bem o espírito da lição. A convivência com a parentela carnal não é um mero exercício de forçada tolerância para que nos livremos dela um dia. A finalidade maior é a harmonização.
Trata-se de aprendermos a conviver bem com os familiares, criando elos de simpatia e afeto, ainda que sejamos diferentes.
Se apenas toleramos aquele que está a nosso lado, guardando mágoas e ressentimentos, estaremos perdendo o nosso tempo e semeando dificuldades para o futuro. Certamente todos gostaríamos de pertencer à família de Jesus. Para tanto, segundo suas palavras, é preciso cumprir a vontade de Deus.
Parece meio complexo, não é mesmo, amigo leitor?
Saber o que Deus espera de nós...
É assunto de uma vida para os filósofos.
É desafio de muitas bibliotecas para os pesquisadores.
Aqui entra a incomparável sabedoria do Mestre.
Em breve enunciado ao alcance de todas as inteligências, explica que cumprir a vontade de Deus é fazer pelo semelhante todo o bem que gostaríamos de receber.
Simples, não é mesmo?
Simples e eficiente, principalmente no lar.
Quando alguém se torna irmão de Jesus a família humana é invariavelmente beneficiada. Ninguém consegue ficar indiferente a exemplos diários de abnegação e sacrifício, compreensão e renúncia, bondade e discernimento.
Quando, observando o Evangelho, deixamos de ver nos familiares a besta, a megera, o quadrado, e os enxergamos como a nossa oportunidade de colaborar com Deus na edificação de seus filhos, operam-se prodígios de entendimento em favor da mais gloriosa das realizações:
Integrar-nos todos na família universal. Richard Simonetti
Perguntou o Mestre:
- Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?
E, indicando seus discípulos:
- Eis aí minha mãe e meus irmãos! Pois quem cumpre a vontade do meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe.
Estranha essa reação de Jesus. Uma desconsideração para com sua família, particularmente sua mãe, por quem, em outras oportunidades, sempre demonstrou solicitude.
Sua primeira aparição na vida pública, nas Bodas de Caná, deu-se ao lado de Maria. Sua última preocupação, na cruz, foi com Maria, que confiou aos cuidados do apóstolo João. Melhor que ninguém Jesus conhecia e cumpria o dever de honrar pai e mãe, consoante o princípio divino enunciado na Tábua da Lei, o que, obviamente, implica dar-lhes atenção e deles cuidar.
Por que, então, essa aparente contradição?
Não é difícil definir o que ocorreu.
Suponhamos que eu estivesse em casa de amigos espíritas, falando a respeito da pluralidade dos mundos habitados.
Alguém avisa:
- Richard, sua mãe e seus irmãos estão aí fora e querem falar-lhe.
Soaria mal.
Mas se estivesse falando sobre os valores da fraternidade, considerando a existência da família universal, filhos de Deus que somos todos, então a observação surgiria como uma ilustração, sem causar estranheza.
É provável que assim tenha ocorrido com Jesus.
Como o episódio foi registrado fragmentariamente, a observação pode sugerir uma desconsideração com sua família.
Há várias passagens evangélicas em que temos dificuldade para compreender seu pensamento, que nos parece enigmático e obscuro justamente porque houve um registro precário, sem que saibamos das circunstâncias que ensejaram a lição das explicações posteriores que ofereceu aos ouvintes.
Consideremos também o problema da afinidade. Explica Kardec, em "O Evangelho segundo o Espiritismo", que as palavras de Jesus sugerem que há uma parentela carnal e uma parentela espiritual.
Os parentes pela carne são aqueles que tem o mesmo sangue. Pais e filhos, irmãos e irmãs... Não raro, embora vivendo sob o mesmo teto, atendendo a variados compromissos, estão separados pela diferença de aptidões, de tendências, de estágio evolutivo...
As ligações pela carne podem ser constrangedoras e atritantes, porquanto envolvem pessoas que devem caminhar juntas mas não entram em acordo quanto aos caminhos ideais. Se não conseguem ajustar-se, exercitando entendimento, podem resvalar para a frustração e a rebeldia, transformando o lar em palco de lamentáveis dramas, onde se fazem presentes a traição, a agressão, a deserção...
Já a parentela espiritual é diferente. São Espíritos que se identificam nos mesmos ideais, nas mesmas tendências, nos mesmos desejos de realização superior, estabelecendo preciosos elos de simpatia e afetividade.
As ligações humanas podem romper-se com a morte, se determinadas apenas pelo sangue; mas as ligações espirituais, sustentadas pela afinidade, prolongam-se além-túmulo.
Formam famílias ajustadas e felizes, cujos membros ajudam-se sempre, cada vez mais unidos, embora atendendo, eventualmente, a compromissos distintos.
Pode ocorrer que um membro de nossa família espiritual não esteja reencarnado ao nosso lado, mas poderá ter assumido a posição de nosso mentor, o chamado anjo de guarda, que nos acompanha, estendendo sobre nós sua proteção e nos estimulando ao cumprimento de nossos deveres.
Quem melhor que o membro qualificado da família espiritual poderia desempenhar com maior dedicação e eficiência semelhante tarefa?
Imagino a esposa pensando:
Agora sei por que é tão difícil conviver com aquela besta que se intitula meu marido. Certamente é um inimigo do passado que devo aturar para ver-me livre dele um dia.
O marido:
Ainda bem que aquela megera que se faz mãe de meus filhos pertence apenas à família humana. Não precisarei me preocupar com ela quando o diabo a levar.
O filho:
Desconfio não existir nenhuma ligação maior com meus pais. São uns quadrados que só complicam minha vida. Logo que puder darei no pé. Quero distância... Gente que pensa assim não entendeu bem o espírito da lição. A convivência com a parentela carnal não é um mero exercício de forçada tolerância para que nos livremos dela um dia. A finalidade maior é a harmonização.
Trata-se de aprendermos a conviver bem com os familiares, criando elos de simpatia e afeto, ainda que sejamos diferentes.
Se apenas toleramos aquele que está a nosso lado, guardando mágoas e ressentimentos, estaremos perdendo o nosso tempo e semeando dificuldades para o futuro. Certamente todos gostaríamos de pertencer à família de Jesus. Para tanto, segundo suas palavras, é preciso cumprir a vontade de Deus.
Parece meio complexo, não é mesmo, amigo leitor?
Saber o que Deus espera de nós...
É assunto de uma vida para os filósofos.
É desafio de muitas bibliotecas para os pesquisadores.
Aqui entra a incomparável sabedoria do Mestre.
Em breve enunciado ao alcance de todas as inteligências, explica que cumprir a vontade de Deus é fazer pelo semelhante todo o bem que gostaríamos de receber.
Simples, não é mesmo?
Simples e eficiente, principalmente no lar.
Quando alguém se torna irmão de Jesus a família humana é invariavelmente beneficiada. Ninguém consegue ficar indiferente a exemplos diários de abnegação e sacrifício, compreensão e renúncia, bondade e discernimento.
Quando, observando o Evangelho, deixamos de ver nos familiares a besta, a megera, o quadrado, e os enxergamos como a nossa oportunidade de colaborar com Deus na edificação de seus filhos, operam-se prodígios de entendimento em favor da mais gloriosa das realizações:
Integrar-nos todos na família universal. Richard Simonetti
Nenhum comentário:
Postar um comentário