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Estudando o Espiritismo
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terça-feira, 16 de setembro de 2014
Espiritismo: Religião, Ciência ou Filosofia?
Espiritismo: Religião, Ciência ou Filosofia?
O que é Religião?
A Religião (do latim: "religio" que significa "prestar culto a uma divindade", ou simplesmente "religar") pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que parte da humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental. Popularmente, entretanto, tem-se por religião o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças; identificando como tal a comunidade ou sociedade de pessoas que os defendem e os praticam.
Neste sentido é que os dicionaristas identificam o termo religião como “Conjunto de cultos ou rituais prestados à divindade” ou uma “doutrina ou crença religiosa”.
Assim, em termos gerais, não há, quanto ao termo em si, na língua portuguesa, diferença entre religião, doutrina religiosa ou crença religiosa.
Historicamente, observa-se que a crença inata na existência de um ser ou de seres superiores à humanidade está presente na mente do ser humano que sempre busca relacionar os fenômenos com a sua causa ou, no mínimo, aos motivos de tais fenômenos acontecerem.
Assim, está presente em todas as culturas a crença de que tudo o que não é criado pelo homem, o foi por alguma inteligência superior. Essa crença passa sempre a estabelecer alguma forma de relacionamento entre os grupos sociais e o Ser Divino que aqueles supõem os dirigir. As formas dadas a esse relacionamento é o que comumente temos chamado de Religião.
Portanto, podemos dizer que a religião decorre da crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal e reveste-se de um conjunto de relações que une o homem a Deus, englobando os deveres que daí emanam.
O Espiritismo é uma Religião?
Quando se explica sobre o Espiritismo, da mesma forma que quando falamos de religião de uma maneira geral, convém assentarmos as bases dos termos utilizados. Como comentamos na edição anterior, a palavra “espiritismo” adquiriu, na sociedade brasileira, a representação de uma série de práticas e crenças que não se coadunam com a origem específica do vocábulo. Por isso o termo espiritismo aqui citado será sempre referente à Doutrina Espírita Cristã, codificada por Kardec.
Com a metodologia utilizada, o tipo de questões que levantou, tipo de análise que apresentou, Kardec deu à proposta de estudo sobre os espíritos uma dinâmica de caráter científico. Daí o fato de chamar “Espiritismo” ao conjunto de observações e conclusões desenvolvidas.
Assim é que a pergunta foi respondida pelo próprio Kardec no livro “O que é o Espiritismo”- "O Espiritismo é, ao mesmo tempo, Ciência Experimental e Doutrina Filosófica. Como ciência prática, tem a sua essência nas relações que se podem estabelecer com os espíritos. Como filosofia, compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações. Pode ser definido assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal."
No mesmo volume, Kardec volta ao tema, quando cita: “Melhor observado depois de sua divulgação, o Espiritismo faz luz sobre uma multidão de questões até hoje tidas como insolúveis ou mal compreendidas. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não de uma religião. A prova disso é que conta entre seus adeptos homens de todas as crenças (...)"
Dos trechos citados, podemos observar que o codificador faz questão de citar que nunca foi o principio religioso que o moveu, mas o científico. E assim o foi porque Kardec não tinha qualquer idéia preconcebida do que redundaria as suas pesquisas.
Foram justamente as dúvidas que moveram todo o processo. Como já o dissemos, o Espiritismo espalhou centros de estudos espíritas e não igrejas, simplesmente porque era uma pesquisa científica e não uma religião.
Ocorre que, posteriormente ao livro citado “O que é Espiritismo”, em discurso proferido na Sociedade Espírita Parisiense - registrado na Revista Espírita, 1868 - Allan Kardec coloca o tema: “Espiritismo é uma Religião?” e responde - “É sim, senhores, sem dúvida uma religião e disso nos honramos, pois é a doutrina que funda os laços da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não em uma simples convenção, mas sobre a mais sólida das bases; as próprias Leis da Natureza”.
Por que então declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Porque não há uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem.
“Se o Espiritismo se dissesse uma religião o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opinião pública.”
Por fim, Kardec conclui: "O Espiritismo, não tendo nenhum dos caracteres duma religião convencional, na acepção usual da palavra, não se poderia, nem deveria ornar-se de um título sobre o valor do qual, inevitavelmente, seria desprezado; eis porque ele se diz simplesmente: doutrina filosófica e moral".
Hoje o termo Espiritismo identifica o conjunto das pessoas que, além de estudar sobre a realidade da trajetória do espírito humano, compreendem que as conclusões já consolidados são simplesmente a aplicação prática da moral dos ensinamentos do Cristo, consubstanciados nas virtudes do amor ao próximo, da caridade, do perdão, da humildade e da fraternidade.
Após um século e meio de consolidada a Codificação Espírita, entende-se porque milhões de pessoas buscam, por meio de seus ensinamentos, a compreensão efetiva de seu próprio ser e daí à mudança de postura diante da vida, diante do próximo e diante de Deus.
Assim, o que era uma pesquisa científica, transformou-se, ainda no século XIX, em uma doutrina filosófica para, do século XX adiante, consubstanciar-se na Religião do Cristianismo redivivo; sem dogmas, sem mistérios, sem chefes e sacerdotes. Uma universidade livre perfeitamente compatível com a ciência moderna, onde cada novo descobrimento representa um patrimônio humano a ser benéfico a todos e não obstáculos e divergências.
Por tudo isso, se alguém disser que Espiritismo não é religião; pode dizê-lo por dois motivos: pelo fato de o espiritismo não possuir os dogmas, rituais e mistérios das religiões tradicionais ou devido ao seu princípio ser movido pela pesquisa científica e não por predefinições proféticas.
Se, por outro lado, disser que é religião, dirá pelo fato de que o conhecimento espírita trouxe a luz da verdade sobre tantos artigos denominados geralmente de ocultos e misteriosos e, com isso, o Cristo nos faz tão compreensível e o amor de Deus em nós tão presentes, que a transformação de nossas vidas se processa de tal forma como qualquer outra religião até então nos pode fazê-lo. Assim, que o Espiritismo é sim, religião.
David José de Oliveira
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