Palestra: Lei da Liberdade
Introdutório
É da natureza do espírito a necessidade de se libertar. Como a liberdade absoluta não existe, a criatura vive situações em que deve obedecer.
Na raiz da obediência por imposição residem as primeiras sementes da rebeldia. Com a sua rebeldia o homem quebra a harmonia entre a sua consciência e a criação. Esta harmonia só será restabelecida pelo conhecimento, compreensão e observância da lei divina ou natural.
Por ter, na sua intimidade (inconsciente), todos os germes das potencialidades divinas de que é dotado, o espírito busca libertar esse potencial, através da sua ação permanente, e tenta vivenciá-lo no consciente. Este é o caminho que o espírito realiza, através da linha do princípio e finalidade. Quanto mais livre do seu inconsciente mais responsável se torna o indivíduo pelo que faça; quanto mais sabe mais deve fazer.
Escravidão
A escravidão de antigamente, reprovável em todos os sentidos, dá lugar à escravização moderna do homem pelo homem, do homem pela máquina, do homem pela economia, do homem pela política, etc.
Todo aquele que tira proveito do outro, usando-o egoisticamente para atingir os seus próprios fins, transgride a lei de liberdade, incorrendo numa forma de escravização.
A desigualdade natural das aptidões tem servido como desculpa para o domínio dos fracos pelos fortes, quando cumpriria a estes fornecerem meios e recursos para aqueles que crescem. Isso dá-se não apenas no palco individual, mas também no empresarial, entre os povos e as nações. Cada ser, individual e coletivamente falando, tem o direito de ser senhor de si próprio, sendo "contrária à lei de Deus toda a sujeição absoluta de um homem a outro."
Liberdade de pensar
A liberdade de pensamento é uma condição básica para o espírito se sentir livre. A espontaneidade e a criatividade, que são fatores espirituais, devem estar sempre presentes no pensamento da criatura, evitando que ela se "robotize", apenas repetindo, em circuito fechado, o que lhe imprimem, através dos modernos meios de massificação.
Perante a lei divina o homem é responsável pelo que pensa e pelo que faz do seu pensamento.
Liberdade de consciência
Por ser a liberdade de consciência conseqüência da liberdade de pensar, "... é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso".
Tem-se como claro que Deus se manifesta no homem através da consciência; quanto mais consciente é o homem, mais próximo está de Deus.
Por ser a crença manifestação do entendimento íntimo do espírito, ela sempre será respeitável quando conduzir o homem à prática do bem, e será reprovável qualquer atitude de repressão à crença de quem quer que seja, a menos que esta leve o indivíduo para a prática do mal. Neste caso, em vez da repressão deve-se utilizar o esclarecimento e a educação. "Se alguma coisa se pode impor, é o bem e a fraternidade. Mas não cremos que o melhor meio de fazê-los admitidos seja agir com violência. A convicção não se impõe."
Uma doutrina será reconhecida como boa e útil quando fizer homens de bem, "...visto que toda a doutrina que tiver por efeito semear a desunião e estabelecer uma linha de separação entre os filhos de Deus não pode deixar de ser falsa e perniciosa."
Livre-arbítrio
O livre-arbítrio é uma função do pensamento livre acionado pela vontade. Pode ser obstáculo, pelas predisposições instintivas, que são o acervo que o espírito traz de vidas anteriores. Quanto mais evoluído for o espírito mais facilmente manejará o seu livre-arbítrio, e quanto mais livre para agir mais responsável pelas conseqüências dos seus atos.
Devemos, porém, lembrar a influência que exerce a matéria, representada pelo corpo físico, sobre o espírito, embaraçando-lhe a manifestação, mas não determinando-lhe a ação, que é da responsabilidade exclusiva dele. É como se um raio luminoso fosse opacificado pelo meio que atravessa. É causa de sofrimento para o espírito mais evoluído o contato com a matéria, que lhe impede a livre manifestação, servindo-lhe de limite à ação. O mau funcionamento dos órgãos do corpo físico pode, assim, ser um meio de punições para o espírito, por abusos cometidos anteriormente, que causam alterações perispirituais, correspondentes aos órgãos lesados. "O espírito, porém, sofre por efeito desse constrangimento, de que tem perfeita consciência. Está aí a ação da matéria."
Porém, não exime de responsabilidade e nem serve de desculpa para os atos reprováveis a afirmação de que o indivíduo agiu de maneira equivocada, porque estava sob a ação de qualquer tipo de tóxico (álcool, cocaína, drogas, enfim), pois aí, em vez de uma, comete duas faltas: a de se envenenar voluntariamente e a de agir incorretamente.
Fatalidade
A fatalidade é a conseqüência natural da lei de causa e efeito, quando todos os seus mecanismos amortecedores e compensadores não possam ser acionados, ou já se tenham esgotado, ficando o indivíduo à mercê da resposta inevitável do que tenha gerado.
Também a fatalidade pode ser a expressão da escolha que o próprio espírito faz ao encarnar, como prova física, ficando as chamadas provas morais na dependência do seu livre-arbítrio, em ceder ou resistir, às eventuais pressões que receba. As provas fatais, de uma forma geral, têm a finalidade de resgate para o espírito que se encontra em débito com a lei maior.
"Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-vos." Isto quer dizer que todos os acontecimentos que o homem, para justificar os seus erros, rotula de fatais, podem ser modificados, com a ação do seu livre-arbítrio, desde que, com a devida antecipação, raciocine e atue de modo a fugir daquilo que lhe pareça já sem solução ou fatal.
A morte como extinção do fluido vital, que aviventa o corpo físico, libertando o espírito para a sua vida noutro plano, é fatal, podendo, no entanto, o seu momento ser modificado, por antecipação ou adiamento, em que múltiplas situações se conjugam. Quando todos estes mecanismos convergem para determinada hora, o homem tem que se render, depois de ter utilizado todos os meios para evitá-la, porque se trata de um fenômeno natural, de passagem de volta para o seu mundo original - o mundo espiritual.
A fatalidade da morte é a manifestação da superioridade do mundo espiritual sobre o material e não como muitos pensam, um desígnio preestabelecido de dia, hora e local, como situação fixa, inamovível e inexorável.
O homem, por mais que faça, jamais conseguirá imortalizar a vida na matéria, porque isso contrariaria a natureza da própria matéria, que é perecível, finita e secundária ao espírito. Com a capa da fatalidade muitos procuram esconder os seus próprios atos, procurando eximir-se da responsabilidade, contudo "... sempre confundis duas coisas muito distintas: os sucessos materiais da vida e os atos da vida moral. A fatalidade, que algumas vezes há, só existe em relação àqueles sucessos materiais cuja causa reside fora de vós e que não dependem da vossa vontade (vide flagelos destruidores, no 8.º caderno). Quanto aos vossos atos da vida moral, esses emanam sempre do próprio homem que, por conseguinte, tem sempre a liberdade de escolher. No tocante, pois, a esses atos, nunca há fatalidade."
Se a fatalidade fosse uma lei que se sobrepusesse à do livre-arbítrio, não haveria, na ação do homem, nem mérito nem culpa, pois não haveria responsabilidade.
Diante da situação de dificuldade geral por que passa o mundo na atualidade, e lembrando que estamos numa época de fecho de ciclo evolutivo da humanidade, recordemos que nós mesmos escolhemos as nossas provas. "... Quanto mais rude ela for, e melhor a suportares, tanto mais te elevarás. Os que passam a vida na abundância e na ventura humana são espíritos pusilânimes, que permanecem estacionários. Assim, o número dos desafortunados é muito superior ao dos felizes deste mundo. Os espíritos, na sua maioria, procuram as pessoas que lhes sejam mais proveitosas. Eles vêem perfeitamente bem a futilidade das vossas grandezas e gozos. Acresce que a mais ditosa existência é sempre agitada, sempre perturbada, quanto mais não seja pela ausência da dor."
Os homens, através da sua imprevidência e da sua luxúria, criam a fatalidade, que a Divindade utiliza para que eles resgatem as suas próprias dívidas.
Conhecimento do futuro
O conhecimento do futuro é vedado ao homem, para lhe permitir a continuidade no trabalho e na esperança, desenvolvendo assim os seus dotes espirituais, porque se conhecesse, por antecipação, o que viria a acontecer, simplesmente acomodar-se-ia, já que tudo estaria traçado e nada poderia modificar.
Quando, porém, ele precisa de executar uma tarefa especial, Deus poderá conceder-lhe esse conhecimento, ou então revelar-lhe o futuro, como uma prova pela qual deve passar.
Se Deus sabe por antecipação que o homem sucumbirá, que falhará nesta ou naquela situação de vida, porque permite tal prova? O fato é que o homem fabrica o seu próprio futuro e tem necessidade de enfrentar a escolha entre o bem e o mal. Em caso de quedas, estas servem para abater o seu orgulho e a sua vaidade, para desenvolver-lhe a humildade, a força de vontade, a constância no trabalho e a sua capacidade de recuperação.
Se conhecesse o futuro em minúcias nada faria para evitá-lo, porque tudo já estaria escrito.
Sofrendo as conseqüências dos seus atos pela lei de causa e efeito, compreende que o futuro será fruto das suas ações e procura então evitar o mal e fazer o bem, que é o único caminho de crescimento espiritual.
Resumo teórico do móbil das ações humanas
O homem jamais é levado fatalmente à prática do mal. Ele, pelas circunstâncias da vida e do meio onde viva, pode encontrar maiores facilidades para a prática do mal, mas, em última instância, sempre tem a liberdade de agir, e o mal realizado sempre estará em relação direta com o nível de consciência em que a ação for praticada.
O conhecimento e a prática das leis que regem o comportamento fazem com que o homem progrida, e que os outros, que estão ligados a si, também progridam, pela influência benéfica que é capaz de transmitir.
A causa determinante dos nossos atos está no nosso livre-arbítrio, ou seja, na vontade livre de escolha, podendo sofrer a influência de espíritos, mas sem haver um arrastamento irreversível, senão uma verdadeira associação de propósitos. "Se dessa luta sai vencedor, ele eleva-se; se fracassa, permanece o que era, nem pior, nem melhor... Na razão da sua elevação, cresce-lhe a força moral, fazendo que dele se afastem os maus espíritos."
Fonte: L.E.Cap.X
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