JESUS CURA OBSIDIADA DE CANANEIA+
Severino Barbos
FOLHEANDO O EVANGELHO DE MATEUS (cap.15:21-28) encontramos a narrativa de que o Cristo, em suas costumeiras andanças pelas regiões de Tiro e Sídon, fora abordado por uma mulher de Cananéia, pequena cidade da Galiléia.
REVELANDO NO SEMBLANTE intensa aflição, passou à frente de todos e, de forma um tanto assustadora, dirigiu-se diretamente ao Mestre, pedindo-lhe em altos brados:”Senhor, filho de David,tem piedade de mim; minha filha está sendo cruelmente atormentada pelo demônio”.,
AO OUVIR A PERSISTENTE E INCÔMODA ROGATIVA, Jesus não lhe repostou. Os discípulos, já demonstrando uma certa inquietação, solicitaram que seu Mestre a atendesse para que não continuasse insistindo e gritando ao encalço deles.
EM ATENÇÃO aos seus diletos auxiliares,Ele replicou dizendo que foi mandado para as ovelhas perdidas da casa de Israel.Ao ouvir tal resposta, a cananeiana, ao invés de recuar, parece até que se sentiu mais estimulada. Aproximou-se ansiosa e dobrou o pedido de socorro,demonstrando sublime veneração ao seu Senhor. E o Mestre, então,percebendo a grande fé da pedinte, com ela dialogou:”Não convém pegar do pão dos filhos e dá-lo aos cães”. Ela replicou:”Sim, Senhor; mas, os cãezinhos comem ao menos as migalhas que caem das mesas de seus amos”. –Encerrando, disse-lhe Jesus:”Mulher, grande é a tua fé; seja-te feito como desejas”.
CONTA-NOS O EVANGELISTA que, no mesmo instante,a filha da cananeiana ficou completamente curada.
A JOVEM obsidiada e filha da mulher de Cananéia, há bastante tempo sofria o assédio de Espíritos desequilibrados.E, devido à grave obsessão de que era vítima, seu comportamento, costumes e hábitos eram bastante diferenciados em relação aos das pessoas normais:nudez,dormidaprecária,, rara higiene,alimentaçãoescassa e poucofrequente.ALÉM DISSO,suas faculdades mentais foram seriamente afetadas pelos fluídos de suas companhias invisíveis.ENFIM, na concepção dos materialistas daquela época, ela não passava de uma perigosa endemoniada..
COM CERTEZA, uma vez que o problema obsessivo havia tomado rumo gravíssimo e aparentemente sem solução, é bem possível que a família já houvesse recorrido à Medicina daqueles velhos tempos, para tratamento e cura da jovem lunática.MAS, sem nenhum êxito..Porque, como sempre, as doenças da alma, sobretudo os casos específicos de influenciações espirituais não são curados com remédios de farmácia, nem tampouco com os recursos utilizados pela medicina convencional.Por isso mesmo OS ESCULÁPIOS, de forma geral,não estão preparados (porque não estudaram) para cuidarem dos desequilíbrios causados por criaturas enfermas que habitam no mundo Invisível. Falta-lhes competência para tal finalidade.PORQUE, muitas vezes, os médicos são bloqueados pelos nocivos preconceitos profissionais, científicos e sociais. Esses motivos também existiam na época do Cristo.
POIS BEM!, Provavelmente, depois de desenganada pela Medicina e tratamentos alternativos de então,foi que a mulher de Cananéia decidiu, como última alternativa, recorrer à medicina espiritual tão bem representada por Jesus de Nazaré.
CERTAMENTE, IMENSA FOI A ALEGRIA da mulher cananeiana ao encontrar sua filha em casa desfrutando do uso e gozo da razão E note-se que, para o restabelecimento das faculdades mentais da jovem obsidiada, Jesus não precisou se deslocar para seu lar, mas tão-somente ordenar, por pensamento, que o Espírito perseguidor se afastasse, no que foi imediatamente obedecido. E, assim, a subjugada, mediante a ação direta do Cristo, fora liberta, de forma definitiva, de cruel obsessão.
A NARRATIVA do evangelista Mateus e objeto destes comentários, suscita alguns raciocínios. SENÃO, VEJAMOS. OBSERVE-SE que Jesus ao ser procurado pela generosa mulher e genitora da jovem obsidiada, inicialmente demonstrou desinteresse pelo caso, até que disse “não fui mandado senão para as ovelhas perdidas da casa de Israel”. OU SEJA:que veio ensinar a verdade aos ignorantes de boa-fé e, aos de boa-vontade, a prática do bem. E acrescentou que não adiantaria dar aos cães o pão que seria dos filhos. Assim, que interpretação poder-se-ia apresentar sobre tais expressões, aparentemente incompreensíveis?
PARECE MESMO QUE O MESTRE, em sua resposta, revelou radicalismo e parcialidade, querendo insinuar que a Mensagem do Cristianismo veio com exclusividade para os apóstolos,discípulos indiretos e demais seguidores da doutrina cristã. Os quais, simbolicamente, representavam os “filhos”. Já os “cães”, dentro da mesma simbologia evangélica, significavam os Gentios, ou seja, todos aqueles que adoravam imagens, ou mais propriamente as pessoas adeptas do Paganismo
RESSALTE-SE, POIS, que a mulher de Cananéia não era judia, mas de nacionalidade siro-fenícia e,acima de tudo, pagã. COMO GENTIA, adorava os deuses mitológicos. E diferentemente dos judeus, ela nem tinha crença no Judaísmo, nem era cristã. DESSE MODO, como não possuísse,ainda, nenhuma definição religiosa, auto-julgava-se “cãezinho”.Essa auto-avaliação levou-a à réplica com Jesus:”Sim,Senhor;mas, os cãezinhos comem ao menos as migalhas que caem das mesas de seus amos”. Com esse argumento, portanto,ela conquistou a simpatia do Mestre, que a considerou possuidora de invejável poder de fé.
JESUS DE NAZARÉ, atendendo às súplicas da mulher cananeiana, recuperando a saúde espiritual de sua filha, há muito atormentada por Espíritos inimigos,quis dizer particularmente aos judeus e,extensivamente a todos os homens, que, independentemente de toda e qualquer crença religiosa, a fé viva e ativa nos poderes celestiais é capaz de obrar verdadeiros “milagres”. E aqueles que a possuem, trazem dentro de si mesmos, forças e poderes espirituais capazes de realizar coisas acima da pobre imaginação humana.
A MULHER CANANEIANA ESBANJAVA ESSA FÉ. E, embora não conhecesse Jesus pessoalmente, nem tão-pouco seus discípulos ,porque não vivia em Jerusalém, a velha capital da Palestina, ela já ouvia as boas notícias sobre as benesses espirituais espalhadas peloMestre, por onde Ele passava. E auto-motivada pela firme confiança, armazenada pouco a pouco,pelas informações,decidiu-se ir ao seu encontrro e, sem a mínima vacilação,PEDIR-LHE E OBTER A CURA DE SUA FILHA, mesmo consciente da sua condição de “cães”, ou seja, pagã, porque não era cristã e muito menos adepta do Judaísmo, religião oficial dos judeus.
TODAVIA, com as luzes que hoje nos trás a Doutrina Espírita, sobretudo na interpretação do Evangelho, em espírito e verdade, sabemos que não foi tão-somente o fator FÉ que curou a jovem obsidiada de Cananéia.PORQUE, na época, diversos necessitados mais graves e com maior poder de fé recorreram ao Cristo e não obtiveram sucesso. APENAS RECEBERAM palavras confortadoras e LENITIVO PARA SEUS MALES..
ESSE OUTRO LADO da questão, naturalmente suscitaquestionamentos. Por que a jovem obsidiada recebeu a cura,enquanto que outros, talvez mais precisados, não obtiveram? Por que essa injusta discriminação? Por que JESUS DE NAZARÉ, o justo entre os mais justos, concedeu graças e privilégios a uns e, a outros, NÃO?
EM PRIMEIRO LUGAR, esclareça-se que o Mestre jamais fez concessões especiais através de graças e privilégios. Ele sempre se comportou dentro dos princípios da absoluta imparcialidade, obedecendo aos preceitos legais da LEI DE CAUSA E EFEITO, contida no Evangelho:”A cada um, segundo as suas obras”. EM SENDO ASSIM, todas as curas realizadas por Jesus, foram obtidas pelos necessitados por justo merecimento,porque suas dívidas espirituais já haviam sido pagas. Quitados os débitos, abrem-se espaços para o merecimento e a cura. PORTANTO, a cura da filha da mulher de Cananéia, entre os outros casos, enquadrada-se perfeitamente na lista dos merecimentos, por cessação de provas.
POR OUTRO LADO, já todos aqueles que, mesmo possuindo robusta fé, não obtiveram curas, certamente convinha ao seu progresso espiritual continuarem com seus males em forma de provas e expiações, com nomes de loucura por obsessão, paralisia parcial ou total, surdez-mudez, lepra, cegueira e resgates assemelhados.Nesses casos, o Mestre não podia descumprir às Leis Divinas.
JESUS APROVEITOU o ensejo da cura da jovem “endemoniada” (obsidiada) para apresentar ao mundo pagão e ao Judaísmo,a mulher de Cananéia como autêntico modelo de fé, coragem e perseverança. ASSIM, para ir ao encontro do Benfeitor de sua amada filha, ela o fez com invejável estoicismo. Permitiu-se incendiar pela fé viva que nutria pelo Cristo e soube desafiar o orgulho próprio de ser pagã e afrontar os preconceitos sociais e religiosos dos judeus
É INTERESSANTE CONSIGNAR, pois, que acima de qualquer crença religiosa, foi ela quem externou maior exemplo de fé nos poderes espirituais de Jesus, mesmo antes de conhece-LO pessoalmente.
PORTANTO, a mulher de Cananéia, em sua época, teve destaque especial na História do Cristianismo Primitivo, como a DAMA DA FÉ.
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