Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sobre a educação dos sentimentos



Quando se fala em Educação, nossa primeira idéia refere-se a aspectos de ordem cognitiva (ensinar a falar, a escrever, a contar), ou de hábitos (escovar os dentes, tomar banho, ter uma boa postura, cumprimentar as pessoas). Normalmente a educação dos sentimentos aparece em último lugar. Talvez por ser a mais difícil…
Kardec, na pergunta 917 do Livro dos Espíritos, já dizia que “quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-los.” ¹

Talvez pudéssemos partir desse princípio, buscando analogias que possam nos ajudar a entender melhor a questão dos sentimentos.

Hoje, quando se ensina a criança a escrever, por exemplo, procura-se sempre partir daquilo que ela já traz ou conhece sobre a escrita, mesmo que as hipóteses que ela tenha não se confirmem na prática. A partir do que ela já sabe, ela vai comparando com o novo, transformando aquilo que não dá certo, construindo sua própria escrita.

Também os sentimentos já existem, de alguma forma, nas crianças. Muitas delas apresentam emoções que supomos inferiores. Buscamos aqui a contribuição de Vigotski, teórico soviético que muito contribuiu para a reflexão sobre a educação: “As emoções não podem ser inaceitáveis nem indesejáveis ao pedagogo. Ao contrário, ele deve sempre partir das chamadas sensações inferiores e egoístas como sensações primárias, basilares e fortes e já com base nelas lançar o fundamento da estrutura do indivíduo. (…) a educação dos sentimentos sempre é essencialmente uma reeducação desses sentimentos.” ²

Mudamos para a posição de encarar aquelas emoções indesejáveis como um desafio, buscar encontrar formas de possibilitar que ocorra a transformação dos sentimentos em nossos educandos. Compreender esses sentimentos que a princípio nos parecem totalmente ruins, buscando neles próprios elementos para sua transformação. O egoísmo ferrenho transformando-se no cuidado necessário consigo mesmo e com suas coisas; o orgulho transformando-se em segurança e fé na sua própria capacidade; a insegurança e dúvida na humildade…

São grandes passos para tal transformação, e como ninguém é uma folha em branco, todos têm por onde começar a querer mudar, transformar e aprender a lidar melhor com os próprios sentimentos. Inclusive o próprio educador, consigo próprio!

Transformar pode ser menos traumático do que arrancar um sentimento, sem ter nada para colocar no lugar…

Numa passagem belíssima do livro Boa Nova, Jesus fala à Joana de Cusa: “Por que motivo Deus não impõe a sua verdade e o seu amor aos tiranos da Terra? Por que não fulmina com um raio o conquistador desalmado que espalha a miséria e a destruição, com as forças sinistras da guerra? A sabedoria celeste não extermina as paixões: transforma-as.” ³

Kardec, também no Livro dos Espíritos, comentando a questão 908, explica que “Todas as paixões têm seu princípio num sentimento ou uma necessidade da Natureza. O princípio das paixões não é portanto um mal, pois repousa sobre uma das condições providenciais de nossa existência. A paixão propriamente dita é o exagero de uma necessidade ou de um sentimento; está no excesso e não na causa.” ¹

Portanto, entendendo nossos educandos (filhos, evangelizandos, alunos…), bem como a nós mesmos, como seres em evolução, reconhecendo que estamos todos caminhando, um olhar atento para estas emoções pode representar mais do que um reconhecimento triste de que somos imperfeitos: pode significar um plano de trabalho de reforma interior.

Referências Bibliográficas:
1 - Allan Kardec, O livro dos Espíritos.

2 - Vigotski, L.S. Psicologia Pedagógica, SP: Martins Fontes, 2001, pág. 141

3 - Humberto de Campos, Psicografado por Francisco Cândido Xavier, Boa Nova, RJ: FEB, 1977, pág. 101
Fonte: Verdade e Luz, edição 212 . Setembro de 2003

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