“A anarquia econômica da sociedade capitalista, tal como existe hoje, constitui, a meu ver, a fonte real de todo o mal.” A. Einstein – Gauche Européenne, de Paris, janeiro de 1957
Conrado Santos
Se voltarmos nossos olhos para a história recente da humanidade, não poderemos deixar de avaliar que muitas das conquistas, avanços tecnológicos e, ainda que de forma desigual, a distribuição de riquezas têm suas bases na lei de mercado livre, em que o capitalismo impera. Por outro lado, não há dúvidas de que podemos creditar a esse modelo econômico o próprio estímulo a valores desajustados de consumo excessivo e culto da ganância.
Ao longo de décadas, vimos também surgirem outros modelos socioeconômicos, porém como fruto da incapacidade humana de interpretação de propostas fraternas e equilibradas, e ainda tendo nos líderes desses movimentos a expressão clara do egoísmo e do acúmulo de riquezas, esses modelos foram fadados ao desaparecimento.
Enfim, temos plena convicção que o modelo socioeconômico mais adequado ainda está para ser descoberto, e com certeza só surgirá no momento em que houver valores morais que sustentem tais propostas. Porém, cremos que seja importante estimularmos, contribuirmos e até mesmo nos colocarmos como partícipes para que essa transformação
aconteça o quanto antes.
Por isso, este jornal recentemente abriu um espaço para a discussão de temas relacionados à economia sustentável, consumo e comportamento. Neste mês, despertou nossa atenção a transformação das empresas que freneticamente tentam consolidar-se na mente e no coração dos consumidores como marcas sustentáveis, e isso quer dizer que estão atentas aos seus valores ambientais, éticos, sociais e econômicos. Essas empresas descobriram um valor muito importante para que a promessa de sustentabilidade seja verdadeira: a generosidade.
A princípio, deparamo-nos com um impasse: será que uma empresa consegue ser generosa, bondosa e ainda dar lucro? A boa notícia é que sim.
Uma definição para generosidade pode ser entendida como nossa ação em priorizar as necessidades alheias em detrimento de nossas próprias. Mas o desafi o é: como aplicar esse importante pilar da transformação humana em uma base para a renovação da mentalidade corporativa e para o surgimento de práticas verdadeiramente sustentáveis?
Para uma reflexão consciente, recomendamos aos leitores o artigo na revista Business do Bem (ano IV – numero 12) do jornalista Rogério Ruschel, que com muita propriedade define a Generosidade Corporativa:
“No mundo corporativo, generosidade significa uma empresa ser menos gananciosa, tomar a decisão de reduzir um pouquinho a margem de lucro ou aumentar o prazo de retorno de um investimento para ser ambientalmente correta e socialmente justa – sem deixar de ser economicamente viável. Significa ter a coragem para modificar regras de mercado, de design de produtos e de formas de concorrência estabelecidas por força de um modelo de crescimento a qualquer custo que já se demonstrou completamente inviável do ponto de vista de recursos naturais e de felicidade humana.”
Com essa perspectiva, Ruschel coloca a generosidade como um dos pilares para a construção de uma empresa sustentável e admirada por seus consumidores. Vale lembrar que faz todo sentido ampliar o conceito de ser generoso, pois também essa é uma virtude que faz parte das buscas evolutivas do ser humano.
Ruschel defende que não basta à empresa adotar ser ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, ela precisa demonstrar essa atitude generosa. Isso quer dizer declarar de forma aberta e transparente suas convicções, e não usar de maneira velada a sustentabilidade para ganhar espaço no mercado e ter mais lucros.
A estrada é longa, nós sabemos. Mas quando nos deparamos com marcas e empresas que passaram a ser admiradas pela coragem de abrir mão da busca implacável pelo lucro, compreendemos que estamos caminhando na direção do aprimoramento das relações socioeconômicas em nosso planeta, através da mudança de nossa percepção do que realmente deve ser importante e fundamental. O acúmulo de riquezas de forma predatória e o consumo desvairado irão dar lugar a uma nova consciência, que nos permita, sim, dizer: é possível progredir e se desenvolver, por meio das práticas socioeconômicas, e ainda assim pensar no próximo.
Fevereiro de 2010
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