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Considerações Doutrinárias sobre o Espírito Napoleão Imarço/2009 - Por Enrique Eliseo Baldovino
Informação reveladora que consta na 1ª edição de “O Livro dos Espíritos”
Estudando as páginas históricas da 1ª edição de Le Livre des Esprits, Livro-Luz lançado pelo ilustre Codificador, em Paris, no sábado, 18 de abril de 1857, encontramos uma valiosa e reveladora informação na Nota XVII de Allan Kardec à questão nº 500, colocada no final dos originais franceses à página 170, cujo fac-símile apresentamos neste artigo [ver reprodução da página e das linhas em detalhe], traduzindo, em seguida, o último parágrafo, diretamente do francês ao português (o apócope de santo, são, está com minúscula no original francês e de igual maneira o traduzimos):
Nota XVII de Kardec à questão nº 500
(…) “Vários Espíritos participaram simultaneamente destas instruções, às quais assistiam, tomando alternadamente a palavra e falando cada um deles em nome de todos. Entre os que animaram personagens conhecidos, citaremos a João Evangelista, Sócrates, Fénelon, são Vicente de Paulo, Hahnemann, Franklin, Swedenborg, Napoleão I; outros habitam as mais elevadas esferas (…).” (letra negrita final nossa) (1)
Prestemos muita atenção no último nome: Napoleão I, seguido do número romano (I) que indica o título de imperador dos franceses, cujo governo a História registrou entre os anos 1804 e 1815, período conhecido como o Primeiro Império Francês. (2)
Trata-se do célebre general Napoleão Bonaparte (Ajaccio [Ilha da Córsega], França, 15/08/1769 – Ilha de Santa Helena, Inglaterra, 05/05/1821), que, após os lamentáveis dias do Terror da Revolução Francesa, teve como missão, segundo o Espírito Irmão X, (3) preservar a integridade do território francês (ante a invasão das potências estrangeiras contrárias à República e face à guerra civil na França) para o nascimento de Hippolyte Léon Denizard Rivail que, em 1857, adotaria o pseudônimo de Allan Kardec – o ínclito Codificador do Espiritismo –, cujo Espírito de escol fora escolhido por Jesus para trazer à Terra o Consolador prometido.
Após preservar com sucesso militar as fronteiras francesas e consolidar as conquistas democráticas da 1ª República Francesa (direitos do homem e do cidadão etc.), o general Bonaparte deixou-se levar pela ambição e vaidade, invadindo com seus exércitos outras pátrias (Espanha, Rússia, Áustria, Bélgica etc.), coroando-se imperador dos franceses em 1804 e esquecendo a grande tarefa de colocar em prática os ideais da Revolução de 1789: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Napoleão é derrotado primeiramente em 1814, pelos países aliados – Rússia, Áustria e Inglaterra – que tomaram Paris, repondo no trono ao rei francês Luís XVIII (irmão de Luís XVI, morto na guilhotina), período conhecido como a Primeira Restauração.
Pelo Tratado de Fontainebleau, Napoleão Primeiro é exilado na Ilha de Elba, donde foge no ano seguinte, retomando o poder imperial, período denominado na História como Os Cem Dias (de 20 de março a 22 de junho de 1815). Após ser vencido definitivamente pelo general inglês Wellington na batalha de Waterloo (Bélgica), em 18 de junho de 1815, Napoleão I é novamente exilado, agora na distante Ilha de Santa Helena, onde desencarnará em 1821, após 6 anos de duro exílio. Esta segunda abdicação de Napoleão faz retornar ao trono ao já citado Luís XVIII, período designado como a Segunda Restauração dos Bourbons.
Certamente muito terá pensado Napoleão durante aqueles largos anos no desterro, imposto pela Coroa Britânica. Após ter conquistado muitas terras e povos, e dominar uma grande parte da Europa, o antigo general deve ter amargado um triste fim como soldado vencido, na estreita visão dos homens, mas com certeza essas horas foram abençoadas para as necessárias e urgentes reflexões do seu Espírito irrequieto.
Considerando que Napoleão I desencarnou em 1821, e sendo que a 1ª edição de O Livro dos Espíritos foi publicada em 1857, Bonaparte teve vários anos (aproximadamente 36) para renovar-se espiritualmente e para volver em si, como se diz na linguagem evangélica, e participar das instruções da Espiritualidade, segundo consta nas páginas históricas da mencionada 1ª edição. (1) Os Espíritos também nos informam que Napoleão foi a reencarnação de Alexandre Magno (356 a.C. – 323) e de César (100 a.C. – 44), os quais com suas conquistas militares, como célebres generais, mudaram a história política e geográfica da Humanidade.
Espírito Napoleão, o diplomata
A Revista Espírita de setembro 1859, no artigo intitulado: Conversas familiares de Além-Túmulo – O general Hoche, (4) nos proporciona a respeito outra importantíssima e reveladora informação dada pelo Espírito Hoche, general que quando encarnado (1768-1797) era contemporâneo de Napoleão.
Após a evocação de Allan Kardec, o histórico diálogo com o Espírito Hoche se desenvolve em torno da Guerra de Itália (1859, 2ª guerra de independência italiana). O ilustre Codificador pergunta ao Espírito Hoche, através da médium Sra. J…:
O general Hoche
(Sociedade – 22 de julho de 1859)
(…) 3. Dissestes a ela que estáveis acompanhando as operações militares da Itália; isso nos parece natural. Poderíeis dizer-nos o que pensais a respeito?
R.. – Elas produziram grandes resultados. No meu tempo combatíamos mais longamente.
4. Assistindo a essa guerra, nela desempenhais algum papel ativo?
R. – Não, simples espectador.
5. Como vós, outros generais do vosso tempo lá estiveram convosco?
R. – Sim, bem o podeis imaginar.
6. Poderíeis designar alguns?
R. – Seria inútil.
7. Dizem que Napoleão I achava-se presente, no que não temos dificuldade em acreditar. À época das primeiras guerras da Itália ele era apenas general. Poderíeis dizer-nos se nesta ele via as coisas do ponto de vista do general ou do imperador?
R. – De ambos, e ainda de um terceiro: do de diplomata. (…) (Grifos nossos.)
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, diplomata é aquele que exerce a diplomacia, que é a ciência, a arte e prática das relações internacionais entre Estados, na hábil negociação dos problemas e das questões diversas entre países em litígio.
Portanto, todo bom diplomata tem como objetivo precípuo chegar ao justo entendimento entre os indivíduos e as nações que eles representam, sendo embaixadores da paz. Então, o Espírito Napoleão I dedicava-se agora à árdua tarefa da diplomacia entre as pátrias e os seus filhos. Antes, como general e imperador, tinha o objetivo de dominar os povos pela força. Agora era a vez da força das idéias e dos ideais superiores que, desde a Espiritualidade, o seu Espírito renovado pelo sofrimento moral, desejava conclamar aos homens à Liberdade, à Igualdade e principalmente à Fraternidade, sendo que este último ideal não fora atingido pela citada Revolução.
Sabemos da extrema prudência e sabedoria de Allan Kardec, virtudes demonstradas em muitas oportunidades no decorrer da sua vida apostólica. Se o insigne Codificador retirou o nome de Napoleão I da 2ª e definitiva edição de Le Livre des Esprits, deve haver tido suas profundas razões, por motivos óbvios e porque ademais o estatuto da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas impedia que a atividade política partidária fizesse parte da mesma, por ser uma Sociedade de caráter apolítico.
Não esqueçamos o contexto histórico da época: o sobrinho de Napoleão I estava no poder político francês à época da Codificação. Tratava-se de Charles Louis Napoléon Bonaparte (Paris, França, 20/04/1808 – Chislehurst [Kent], Inglaterra, 09/01/1873), que, após ser escolhido presidente da França em 1848, traiu os ideais republicanos tornando-se em 1852, imperador dos franceses, com o nome de Napoleão III, inaugurando um novo período chamado Segundo Império Francês, que teve seu desfecho em 1870, ao perder a guerra franco-prussiana.
No final dos Prolegômenos da 2ª e definitiva edição de O Livro dos Espíritos, constam os seguintes nomes no último parágrafo, página XLIII dos originais franceses:
“São João Evangelista, santo Agostinho, são Vicente de Paulo, são Luís, O Espírito de Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, etc., etc.” (5)
O Espírito Napoleão I foi retirado dessa lista de nomes, assim como o de Hahnemann, sendo adicionados os Espíritos Santo Agostinho, São Luís, O Espírito de Verdade e Platão. Na 1ª edição (com 501 questões e três partes) constam 8 nomes, seguidos pelo pronome indefinido outros, indicando portanto “outros [Espíritos] que habitam as mais elevadas esferas”.
Na 2ª e definitiva edição (com 1019 questões e quatro partes) constam 10 nomes, seguidos das importantíssimas abreviaturas etc. etc., que indicam que mais Espíritos participaram das instruções da Espiritualidade, e temos a certeza de que Napoleão I e Hahnemann se encontram entre eles, assim como tantos outros numes anônimos.
Com as considerações doutrinárias de este artigo, tivemos o intuito de registrar mais uma importante individualidade que fez e que faz parte dos anais da Espiritualidade: o Espírito Napoleão I.
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REFERÊNCIAS:
(1) KARDEC, Allan. Le Livre des Esprits. 1ª edição, 176 páginas. Paris: E. DENTU, 18/04/1857. Palais Royal, Galerie d’Orléans, 13. Tradução de Enrique Eliseo Baldovino do último parágrafo da p. 170.
(2) KARDEC, Allan. Revista Espírita: Periódico de Estudios Psicológicos. CEI: 2009, ano II. Julho de 1859, traduzida do francês ao espanhol por Enrique E. Baldovino, junto das pesquisas extraídas das notas do tradutor 153 e 231 sobre o Espírito Napoleão I e o general Hoche, respectivamente.
(3) XAVIER, Francisco C. Cartas e Crônicas. Pelo Espírito Irmão X. 8ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991. Cap. 28 (Kardec e Napoleão), pp. 121-127.
(4) KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. Ano II. Setembro de 1859. 4ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, pp. 364-368.
(5) KARDEC, Allan. Le Livre des Esprits. 2ª edição, inteiramente refundida e consideravelmente aumentada, 475 páginas. Paris: DIDIER ET Cie, 1860. Palais Royal, Galerie d’Orléans, 31. Reprodução fotomecânica pelo IDE, edição da FEB, Rio de Janeiro, 1998.
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