Mortes prematuras planejadas
Especial/ Por Marco Tulio Michalick
Exceto nos casos de reencarnação compulsória, muitos espíritos reencarnam com um planejamento bem definido, porém, nos dois casos existem aqueles que reencarnam por um período muito breve. Como explicar?
Acredito que nada pode ser tão intenso e angustiante quanto a dor de uma mãe que perde seu filho. A indagação é notória: Por que Deus o levou tão cedo? Por que Ele levou quem eu mais amava? Meu filho tinha uma vida pela frente...
Será que tinha mesmo? Quem de nós - humanos e imperfeitos - pode afirmar com certeza que aquela pessoa amada teria um futuro promissor pela frente? Não podemos ter uma visão dos fatos baseados apenas na vida presente; precisamos entender que muitos acontecimentos são frutos de nossa vida passada.
Mas como entender a justiça de Deus nestes fatos tão marcantes que podem pendurar na mente dos pais durante anos e até mesmo a vida toda? Afinal, o remorso penetra nosso Ser e as indagações são inevitáveis: "O que eu poderia ter feito para ter evitado esta tragédia?" São perguntas e mais perguntas que não cessam. Procuram-se culpados, principalmente os envolvidos na "fatalidade"... Estamos quase sempre em busca de culpados ou nos autopunindo pelos acontecimentos que acreditamos que poderiam ser evitados.
Vamos descrever, aqui, qual a finalidade da morte prematura e, não raro, quando constitui uma provação ou expiação para os pais.
O escritor e palestrantes espírita, Richard Simonetti, conta em seu livro Atravessando a Rua, que um casal reencarnou com a tarefa de cuidar de crianças em uma instituição assistencial. No entanto, envolvidos por interesses materiais, marido e mulher foram se afastando do trabalho ao qual se prontificaram ainda no mundo espiritual. Dedicado mentor que os assistia, preocupado com os acontecimentos, reencarnou como seu filho em breve existência. Aquela criança amável, sensível, inteligente e amorosa, fez com que a felicidade dos pais gravitasse em torno dela. Quando o projeto de morte prematura foi consumido,deixando os pais desolados, desiludidos e deprimidos, encontraram lenitivo à partir do momento que se entregaram de corpo e alma às crianças de um orfanato, exatamente como fora planejado; a vinda do mentor como filho foi apenas para ajudá-los a não desviar do compromisso assumido.
Analisando essa história, temos dois caminhos possíveis na provação ou expiação dos pais: após superar o momento de "fatalidade", eles buscam se fortalecer, recompondo assim suas energias e valores morais para iniciar ou dar sequência ao trabalho assistencial, sem se desviarem do objetivo planejado; ou, então, se revoltam com Deus ou com as pessoas que, direta ou indiretamente, participaram da tragédia e se fecham na mágoa ou no rancor, não tirando nenhuma lição dos acontecimentos e se voltando para o seu mundo imediatista.
Aqui nos lembramos da história de André Luiz, no Livro Entre a Terra e o Céu, psicografado por Chico Xavier, que reporta ao suicida que em outra existência havia se matado ingerindo veneno. Em nova existência, reencarna com a saúde frágil, desencarnando aos sete anos. O mentor espiritual explicou que aquela breve experiência na carne fora de suma importância ao espírito, livrando-o de parte dos desajustes, e que deveria em breve reencarnar na mesma família e já em melhores condições.
Nesta história podemos avaliar que dependendo da forma que desencarnou em outra existência o espírito necessita dessa abençoada estação regenerativa na carne para refazer, assim, as suas energias.
Mudanças de planos
Também temos a comovente história do livro Loucura e Obsessão, de Divaldo Pereira Franco, pelo espírito de Manoel P. de Miranda, que conta sobre um casal espírita que trabalhava na Seara do Bem e que, certa vez, estavam sofrendo com a enfermidade de sua filhinha, meiga e amorosa, que fora desenganada pelos médicos. Ali estava programado o desencarne natural, concluindo, assim, um ciclo em face de um suicídio anterior que a vitimou. Porém, o pai suplicou em profunda e desesperada oração, dirigida à mãe de Jesus, pela vida da filhinha. Solicitava com quase absurda imposição. Os benfeitores que acompanhavam o processo aflitivo, apareceram na penumbra do quarto lhe informando quanto à necessidade da submissão ao estabelecido. Sara, a filhinha, estava resgatando o passado e retornando ao mundo espiritual. Adquiria mais amplos e seguros recursos para prosseguir mais tarde, na Terra, com possibilidade de triunfo. Porém, o pai, transtornado com a possibilidade de perder a filha, seguiu em copiosa oração. Era tão pungente e veraz a sua rogativa que os benfeitores retornaram ao encaminhamento do pedido. Horas mais tarde, o resultado dizia que "Sara não possui resistências morais para enfrentar os insucessos que a aguardam. Debilitada, poderá cair, outra vez, no mesmo abismo donde está intentando sair. Já estão, na Terra, aqueles com os quais se encontra vinculada e faltam-lhe títulos de enobrecimento para sair-se bem do conforto. Todavia, se ficar, o seu calvário será mais vigoroso e fatal."
Sem medir a gravidade de suas rogativas, o pai assumiu a responsabilidade - dele e da esposa - cuidarem da filha, cercando-a de cuidados, preenchendo os seus vazios com a luz do amor, colocando a claridade da fé na mente e no coração, e acrescentou que a presença da filha daria forças para a prática do bem. Naquele momento, Celina, a mensageira de Maria, adentrou-se na câmara onde estavam e trouxe a seguinte resposta: "A Mãe de Jesus concede moratória, um prolongamento de vida, para Sara, conforme solicitado. Ela viverá. Que Deus nos abençoe!". O casal, agradecido, realmente se desdobrou com os cuidados com a filha, que curada da enfermidade que a culminaria, recebia dos pais a mais ampla dedicação de amor. Eles selecionavam amigos para ela; encaminharam-na à Universidade; infundiram-lhe a fé religiosa, que ela não conseguiu assimilar quanto deveria; experimentaram mil venturas, seguindo-a no clima social de uma vida honrada e trabalhadora. Porém, os pais não puderam sentir os problemas da afetividade na qual Sara fracassara antes. Assim, não perceberam quando ela se envolve com um homem casado e pai generoso. Não podendo ficar com o homem que amava, optou pelo suicídio, deixando para os pais uma carta comovente, revelando o que a levou àquele ato extremo.
De fato, antes ela houvesse partido naquela ocasião, naquela contingência e mediante os fatores estabelecidos, porquanto se encontraria novamente reencarnada, sem os perigos do desastre que acabava de acontecer. Ninguém foge à Lei, nem à consciência de si mesmo...
Diante dos que partem
Devemos nutrir algum sentimento pelo ente querido que "partiu"? Sim! Vamos orar e emanar boas vibrações; é tudo o que ele precisa. Quando questionamos, ou entramos em desespero, inconformados, emanamos vibrações desajustadas causando lhe aflições. Chico Xavier já havia recebido diversas mensagens de jovens reclamando que semelhantes atitudes os faziam reviver a angústia de sua desencarnação em circunstâncias trágicas. Aliás, Chico Xavier foi muito importante no lenitivo das mães desesperadas por notícias do ente querido. Quantas famílias não foram consoladas através das mensagens psicografadas? Quantas continuaram vivendo, sem remorso, entendendo que certos acontecimentos estavam programados? As milhares de mensagens que o médium psicografou serviam para reavivar o ânimo daqueles que ficaram.
Temos um sentimento muito grande de posse quando dizemo-los: "É meu filho!" Isso é muito nobre, pois demonstra o amor que se sente. Mas precisamos entender que nossos filhos, na realidade, não são nossos. São de Deus! Estão conosco por empréstimo!
Talvez estas palavras possam expressar ausência de sentimentos de alguém que nunca vivenciou essa experiência. Mas já passei, sim, por essa experiência quando meu irmão e sua esposa "perderam" a filha que se afogou em uma piscina. Acredito ter sido o dia mais triste da minha vida, principalmente vendo a imagem desesperadora deles. São momentos marcantes, agonizantes e profundos. Anos depois, meu irmão e sua esposa tiveram outra filha, um anjinho chamado Beatriz.
Precisamos ter fé, acreditar na sabedoria de Deus e confiar Nele.
Sorte das crianças depois da morte
197.Poderá ser tão adiantado quanto o de um adulto o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade?
"Algumas vezes o é muito mais, portanto pode dar-se que muito mais já tenha vivido e adquirido maior soma de experiência, sobretudo se progrediu."
a) - Pode então o Espírito de uma criança ser mais adiantado que de seu pai?
"Isso é muito frequente. Não o vedes vós mesmos tão amiudadas vezes na Terra?
198. Não tendo podido praticar o mal, o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade pertence a alguma das categorias superiores?
"Se não fez o mal, igualmente não fez o bem e Deus não o isenta das provas que tenha de padecer. Se for um Espírito puro, não o é pelo fato de ter animado apenas uma criança, mas porque já progredira até a pureza."
199. Por que tão frequentemente a vida se interrompe na infância?
"A curta duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que a animava, o complemento de existência precedentemente interrompida antes do momento em que devera terminar, e sua morte, também não raro, constitui provação ou expiação para os pais."
O Livro dos Espíritos. Parte 2, cap.IV
Allan Kardec. FEB Editora.
Nota do editor: É importante ficar claro que não podemos generalizar, achando que toda expiação ou morte prematura foi planejada antes do reencarne. A maioria das nossas expiações ocorre de forma compulsória, como consequência de atitudes desequilibradas, desta ou de encarnações passadas.
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