• Octávio Caúmo Serrano
No capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Bem-aventurados os aflitos, o Cardeal Morlot, nome eclesiástico do autor acima mencionado, afirma que a felicidade não é deste mundo.
A que mundo ele se referia: À Terra, ao mundo dos homens imperfeitos e materialistas, ao mundo espiritual primitivo, que ainda graça neste planeta? A qual?
Ele simula lamentos de alguém, hipoteticamente, que diz “não sou feliz!”. “A felicidade não foi feita para mim”, exclamação dos homens de todas as camadas sociais. Conclui-se, portanto, que dinheiro, beleza, inteligência ou posição social não são recursos para que alguém tenha felicidade. Pode ter conforto, folga financeira, prestígio na sociedade, mas não felicidade.
Observemos que ele diz: “A felicidade não é deste mundo”. Uma seca e dura afirmação. Mas ele não diz que a felicidade não pode ser deste mundo.
Assim como Jesus disse que seu reino não era deste mundo (João 18:33 a 37) não disse também que não poderia ser. Aliás mencionou o Velho Testamento onde diz somos deuses e que, segundo João, 5:28, não devíamos nos maravilhar do que ele fazia, porque viria a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a voz do Pai. Não poderia ser o sepulcro da carne?
Quando lemos que a felicidade não é deste mundo, os autores querem dizer que o homem não está preparado para ser feliz porque a procura onde ela não está. Procura do lado de fora dele, quando ela mora no seu interior. Para ser feliz é preciso que a pessoa esteja contente, satisfeita e de consciência limpa. É o primeiro passo e condição fundamental. Sem isso, nem todos os bens do mundo poderão fazê-la feliz.
Na mensagem em análise, Morlot nos mostra que não tem cabimento os homens mais pobres terem inveja dos ricos. Todos, ricos e pobres, têm seu quinhão de riqueza e de miséria. Material ou espiritual. Afinal, o planeta é de provas e expiações e, portanto, habitado por espíritos que têm como principal característica a imperfeição. Quando não é pela maldade e pela ignorância.
Observem que estamos todos preocupados com a violência que assola o mundo, em todos os países. Assaltos, sequestros, latrocínios, homicídios, acidentes de toda ordem. No entanto, a grande e mais grave violência é a que se pratica dentro dos lares; no núcleo chamado família onde todos os que ali vivem têm os mesmos objetivos: ser feliz. No entanto, o que fala mais alto é ainda o egoísmo e o orgulho. Cada um pensando primeiramente em si mesmo.
Se a base da sociedade, a família, abriga a violência, o que pode ser comprovado pelas delegacias da mulher, cada vez mais espancadas pelos maridos e companheiros; pela violência dos filhos contra os pais idosos, marginalizando-os no quarto do fundo ou num asilo para descartáveis, que esperar de pessoas estranhas entre si?
Diz ainda nosso orientador espiritual, Morlot, que se um sábio é coisa rara neste planeta, um homem feliz não se encontra com facilidade maior. A efemeridade dos momentos felizes, geralmente pelas conquistas das coisas do mundo, não deixam que o homem desfrute de alegria por muito tempo. São muito difíceis de serem conseguidos e, pela insaciabilidade do ser humano da Terra, perdem-se com grande facilidade.
Como nossa vida se destina a vencer provas e resgatar o passado por meio de expiações às vezes dolorosas, resta-nos a resignação e a conformação diante do sofrimento. Quando éramos adeptos de outra religião, íamos para o céu ou para o inferno. Para o céu, lugar dos puros, vê-se claramente que quase ninguém tem méritos para ir. No inferno, sofrendo por toda a eternidade, teríamos a negação da misericórdia de Deus, soberanamente justo e bom.
Depois que conhecemos o Espiritismo e recebemos a orientação de que tudo obedece a uma eternidade espiritual, que é feita de etapas de encarnação e de desencarnação, sendo sempre o mesmo espírito o autor dos atos, ficou mais fácil de entender. Podemos até ir para o inferno depois de desencarnarmos. Mas será só por um pouco. Voltaremos ao purgatório da carne para consertar os erros e aprender um pouco mais. Mesmo que voltemos ainda para o inferno, por algumas vezes, será cada vez por um tempo menor até que possamos chegar aos planos celestiais. Mesmo que sejam nos mais primitivos da esfera celeste, mas já nos livraremos do inferno permanente.
Ao finalizar seus conselhos, ele nos diz que a Terra não está condenada a ser eternamente uma penitenciária para delinquentes conscientes ou inconscientes. Ela progredirá e será um mundo que abrigará pessoas felizes. Só lutando muito poderemos estar entre elas. Como Paulo, temos de matar o homem velho para fazer nascer o homem novo que vive em nós desde quando Deus nos criou simples e sem conhecimento.
Não ignoremos as orientações do Espiritismo, porque ele é o grande recurso que temos para construir a felicidade. Agora sabemos que a vida não termina no túmulo; que a lápide é apenas um departamento do mundo encarnado onde são depositados os restos imprestáveis daquilo que não mais precisamos. Seremos apenas uma biografia na sociedade em que vivemos; expressiva, comum ou censurada, mas uma biografia provisória que continuará a ser escrita quando vivermos com outros nomes, outros corpos, noutras famílias. A nossa história será sempre nossa e a continuidade se perderá na eternidade dos tempos. Desde o que chamamos passado remoto até o que intitulamos o futuro distante.
Vamos contrariar as previsões e decretar que, para nós, a felicidade pode ser e queremos que seja também já deste mundo!
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