Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante
“Mas os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca aos saduceus, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, veio lhe fazer esta pergunta para o tentar: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Jesus lhe respondeu: Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma e de todo o vosso espírito. Eis aí o maior e o primeiro mandamento. Eis o segundo, que é semelhante a este: Amareis vosso próximo como a vós mesmos. Toda a lei e os profetas estão contidos nesses dois mandamentos. (Mateus, cap. XXII, v. 34 a 40)
Cabe uma pequena explicação antes de comentarmos os versículos. Os fariseus eram um povo que estavam mais preocupados com as escrituras, com o exterior, do que com o interior. Os saduceus acreditavam em Deus, mas não acreditavam na imortalidade da alma e achavam que o nada os esperava após a morte.
O doutor da lei era um conhecedor das escrituras e queria testar Jesus perguntando qual era o maior mandamento da lei. Jesus responde-lhe com toda perspicácia: “Amareis o Senhor vosso Deus...” Observemos bem que Jesus não diz nosso Deus ou meu Deus. Ele diz o Senhor “vosso” Deus. Deixando claro que cada um de nós entende o que é Deus segundo a nossa religião e cultura. Frisamos “o que é Deus” para fazermos um desdobramento segundo o que a doutrina preceitua. Na questão nº 1 de “O Livro dos Espíritos” temos o seguinte: – Que é Deus? “Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas”.
Mas mesmo entre nós espíritas, diante desta explicação também compreendemos Deus de formas diferentes. E por isso também vivenciamos de forma diversa o que a doutrina ensina.
Então o primeiro ponto é amarmos o Deus que compreendemos. Segundo Ele nos fala, devemos amá-lo de todo nosso coração, com a pureza de sentimentos; de toda a nossa alma; espíritos encarnados que ainda somos devemos praticar os ensinamentos de Jesus desde já; não esperar por um Reino dos Céus, e devemos aplicar estes ensinamentos também na nossa vida em sociedade; e de todo nosso espírito, por toda a eternidade e em plenitude.
“Amareis vosso próximo como a vós mesmos.” Precisamos amar o nosso próximo como a nós mesmos. Lembramos da questão 876 de “O Livro dos Espíritos”, que fala sobre a justiça, que devemos fazer ao outro o que gostaríamos que ele nos fizesse. No comentário de Kardec, na referida questão, fica claro que a recíproca não é verdadeira. Explico melhor: nós só vamos desejar o que é bom para nós, por isso que devemos desejar ao outro o que queremos para nós. Mas se fosse o contrário, desejar para nós o que desejamos ao outro é diferente. O outro nos faz coisas que nos magoam e por um segundo que seja acabamos desejando algo de ruim para ele. Se desejarmos para nós o que desejamos ao outro, por um segundo que seja também estaremos desejando coisas ruins para nós. Por analogia entendemos amar o nosso próximo como amamos a nós mesmos. Da forma que nos amamos, da maneira que compreendemos o que significa amar.
Cabe um parêntese. Amarmo-nos não é egolatria, narcisismo. É respeito por nós mesmos, é reconhecer os nossos limites e trabalhar para superá-los, é nos enxergar tal qual somos e analisar o que podemos fazer para nos melhorar.
Ele encerra dizendo que “Toda a lei e os profetas estão contidos nesses dois mandamentos.” Não só a moral, que neste caso é representada pelos profetas, como, também, as leis humanas estão (pelo menos deveriam estar) contidas nestes dois mandamentos. “793 – Por que sinais se pode reconhecer uma civilização completa? – Vós a reconhecereis no desenvolvimento moral. [...] não tereis, verdadeiramente, o direito de vos dizer civilizados senão quando houverdes banido de vossa sociedade os vícios que a desonram e puderdes viver, entre vós, como irmãos, praticando a caridade cristã. Até lá, não sois senão povos esclarecidos, não tendo percorrido senão a primeira fase da civilização.” (“O Livro dos Espíritos”). A informação nós já temos. Precisamos nos decidir a pô-la em prática. Da mesma maneira com relação à Doutrina Espírita, a gama de informações que encontramos nas obras da codificação é imensa. Mas muitas vezes temos preguiça de lê-las. Entendemos que algumas coisas precisam ser explicadas para serem mais bem compreendidas. Mas o nosso querido “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, repositório de amor em palavras, é uma obra acessível e de grande cunho moral. Façamos dele o nosso amparo nas horas difíceis, mas não nos esqueçamos dele nas horas alegres.
Quanto à dificuldade de possível entendimento das outras obras, nos engajemos em grupos de estudos nas casas espíritas. Se eles não existem, formemos pequeno grupo e conversemos com a direção da casa. Se ela estiver realmente com bases firmes voltadas para o ensino que a doutrina nos traz em essência, não irá se opor à formação do grupo e, principalmente, ao amparo da casa para realização do trabalho. A falta de conhecimento não é desculpa para não existência desses grupos. Estaremos, assim, exercitando a nossa humildade e principalmente o amor ao próximo que Jesus nos orientou.
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