Reneé Danckwardt Ferrari
O momento da união do perispírito com o corpo físico, ainda em início de desenvolvimento. Este é o motivo do nosso artigo.
No livro “Missionários da Luz”(1) temos um excelente exemplo de um processo reencarnatório, que vamos recordar, pois é muito elucidativo.
Segismundo ia reencarnar em um lar composto por um casal onde o pai, em encarnação anterior, havia sido assassinado pelo próprio Segismundo. Encontrava-se muito aflito, pois sentia da parte de Adelino, seu futuro pai, certa relutância em aceita-lo como filho. Desdobrados, durante o sono, com ajuda de amigos espirituais, ambos se reconciliam pelo perdão e o processo reencarnatório pode prosseguir. Este perdão fez-se necessário, pois, conforme explicou Alexandre, instrutor espiritual de André Luiz: “Da mente humana se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de células do organismo físico; mas quando perturbada, emite raios magnéticos de alto poder destrutivo para as comunidades celulares que a servem”
“Segismundo repousava. Permanecia ele aflito, de olhar triste e vagueante. André Luiz pergunta:
-Porque motivo Segismundo sofre tanto?
-Desde muito, e particularmente, desde a semana passada, está em processo de ligação fluídica direta com os futuros pais. … À medida que se intensifica semelhante aproximação, ele vai perdendo os pontos de contacto com os veículos que consolidou em nossa esfera, através da assimilação dos elementos do nosso plano. Semelhante operação é necessária para que o organismo perispiritual (*) possa retomar a plasticidade que lhe é característica e, no estágio em que se encontra o serviço lhe impõe sofrimentos.
…Em vista de nova alimentação e novos hábitos em meio muito diverso, incorporou determinados elementos de nossos círculos de vida, dos quais é necessário se desfaça a fim de poder penetrar com êxito a corrente carnal. “
Ocorre alguma coisa semelhante com a morte física, considerando-se esta como o abandono de envoltórios terrestres.
Inicia-se o processo de ligação com o corpo materno. “Os Espíritos Construtores começam o trabalho de magnetização do corpo perispirítico. Alguma coisa do corpo (*) de Segismundo estava sendo eliminada.
Quase que imperceptivelmente, à medida que se intensificavam as operações magnéticas, tornava-se ele mais pálido. Tornava-se vago, menos lúcido.
O instrutor pede que sintonize a forma pré-infantil, lembre-se da “da forma fetal, faça-se pequenino”.
André Luiz compreende que a forma perispiritual (*) de Segismundo torna-se reduzida. Com grande assombro verifica que ele assume a forma de uma criança.
Raquel, a futura mãe, desdobrada no sono, recebe em seus braços a forma infantil de Segismundo apertando-o amorosamente em seu coração. Após a fecundação, “Alexandre ajusta a forma reduzida de Segismundo, que se interpenetrava com o perispírito de Raquel, sobre o microscópico globo de luz, impregnado de vida…”
Vamos analisar estas palavras grifadas:
1) A PERTURBAÇÃO: O condicionamento mental do reencarnante a fim de que se livre de pensamentos que possam prejudicar o processo de retomada da forma física. Tanto Adelino quanto Segismundo interfeririam com esta predisposição negativa, no processo reencarnatório. Alan Kardec disse: o reencarnante conhece o gênero de provas a que se submeterá, mas não sabe se sucumbirá e o receio de fracassar pode prejudicar. Então, os mentores que acompanham o processo estão sempre atentos, estimulando o “candidato”. Por isto, a perturbação que acomete o Espírito reencarnante tem, entre outras coisas, a finalidade de evitar que este magnetismo negativo afete o desenvolvimento do feto.
Outros fatores, segundo Zimmermann, no livro “Perispírito” (10), que podem prejudicar um programa de reencarnação seriam:
a) Antagonismo consciente ou subconsciente dos pais, resultante de reminiscências de vidas passadas.
b) Influências obsessivas que prejudicam a formação do novo ser, principalmente quando não há o apoio afetivo dos pais.
c) Medo do reencarnante, diante do futuro, que produz um grave retraimento, um campo desagregador que acaba desestruturando os processos de divisão celular.
O momento da reencarnação é, portanto muito preocupante, pois, como vemos no Livro dos Espíritos, itens 339 a 342, a perturbação que sofre o reencarnante pode ser maior que ao desencarnar, pois é mais longa: O Espírito sai da escravidão ao desencarnar e entra nela ao encarnar.
2) A PLASTICIDADE: o perispírito (*) vai sofrer modificações.
Recordando as propriedades do perispírito (*) (10):
PROPRIEDADES DO PERISPÍRITO (*)
Plasticidade, Densidade, Ponderabilidade, Luminosidade, Penetrabilidade, Visibilidade, Corporeidade, Tangibilidade, Sensibilidade Global, Sensibilidade Magnética, Expansibilidade, Bicorporeidade, Unicidade, Perenidade, Mutabilidade, Capacidade Refletora, Odor, Temperatura.
Algumas destas propriedades já estão evidenciadas na história de Segismundo;
- Plasticidade: O perispírito (*) molda-se conforme o comando da mente do Espírito e nesse caso vai, sob estímulo dos Espíritos Construtores, assumindo a forma fetal (antes do contato com o corpo físico, no processo de restringimento) .
- Penetrabilidade: o perispírito (nesse momento já modificado como veremos a seguir) do reencarnante e o da mãe se interpenetraram nos momentos anteriores a fecundação, preparando-se para assumir o novo corpo que ia se formar.
- Sensibilidade magnética: os fatores que podem intervir no processo reencarnatório envolvem atuação magnética, tanto para lado positivo como, às vezes, para o negativo.
3) “ALGUMA COISA ESTAVA SENDO ELIMINADA”
Que expressão estranha. André Luiz está muito espantado…
Na Revista Espírita, num artigo de Salvador Gentile, citando o livro “Imagens do Além” (3) psicografia de Heigorina da Cunha, pelo espírito Lucius, está relatada a viagem por desdobramento à colônia Eurípides Barsanulfo, situada sobre Minas Gerais. Há uma descrição do Ministério do Restringimento, local onde os Espíritos que vão reencarnar estão sofrendo o processo de restringimento do corpo perispiritual (*).
Palavras do capítulo 7, pág 43:
“Quando apresentamos ao nosso Chico Xavier, o desenho do restringimento, ele nos disse:
-Heigorina é isto mesmo o restringimento. O processo é mais lento, tratando-se de reencarnação compulsória, nesta categoria de Espírito. Leva mais de ano para completar o restringimento.
Assim que se inicia a fase do sono letárgico, o corpo espiritual (*) vai se despojando de matéria grosseira, ficando o perispírito sutil, sem trazer qualquer prejuízo algum. Por exemplo: a cobra que deixa a casca.
Apontando depois o desenho, do resultado do restringimento, que tem forma ovalada, lembrando uma pastilha, nos informou:
-Quer seja Senhora ou Mãe solteira, se não tiver no ventre materno o sêmen espiritual, não há fecundação pelo espermatozóide. Há a concepção espiritual e a material”.
4) FORMA REDUZIDA
No Ministério do Restringimento os Espíritos de terceira ordem que não tem condições de participar de seu processo reencarnatório, ficam em aparelhagem própria e vão compulsoriamente passar por este estágio.
O indivíduo fica reduzido a um diminuto corpo ovalado.
A metodologia do processo reencarnatório é complexa porque envolve grande número de atividades antes que se inicie o processo de restringimento do corpo perispiritual (*) que não se processa de maneira rápida.
Pausa para meditação:
Como podemos compreender que haja perda de matéria: sabendo que o perispírito é matéria derivada do Fluido Cósmico Universal, deveria, no mínimo, ser devolvido, então, a ele.
Podemos recorrer aos ensinamentos de outras filosofias, como a Teosofia, que estudam os corpos sutis do homem há muito tempo, para entender melhor o Perispírito. Vejamos:
No livro “Autocultura – À Luz do Ocultismo” de A K Taimni (7) encontramos que a constituição total do homem pode ser dividida em corpos:
Físico: corpo físico propriamente dito, mais o duplo etérico composto de 4 graus de matéria sutil e onde estão localizados os chackras.
Astral: composto de matéria do plano astral tem como função primeira a transformação de vibrações captadas pelos 5 sentidos do corpo físico em sensações, por estímulos dos correspondentes aos do cérebro físico no corpo astral. Destas sensações derivam os sentimentos, desejos e emoções.
Mental inferior: veículo dos pensamentos concretos, composto de matéria dos outros planos inferiores. É parte de nossa personalidade transitória, juntamente com o Físico (Duplo Etérico) e o Astral, que é formada de novo em cada encarnação. Estes três corpos compõem a Personalidade, que é diferente a cada encarnação.
Mental superior: A função primeira deste veículo da consciência é o pensamento abstrato. É o veículo mais baixo da individualidade, passa de uma vida para outra e se expressa parcialmente nas sucessivas personalidades. É o repositório de todas as experiências através das quais, o Ego (personalidade) passa nas sucessivas reencarnações e das faculdades que aos poucos desenvolve no curso de sua evolução. O surgimento do Corpo Causal (outro nome que tem o mental superior) marca o surgimento do homem, pois só ele tem capacidade de pensamento abstrato. No Mental superior fica registrada a memória das encarnações anteriores. Juntamente com os corpos Búdico e Àtmicoé o veículo de manifestação da Individualidade.
Para o Espiritismo todos estes veículos de manifestação da consciência têm o nome de perispírito. Mas podemos ver que quando se usa este termo “perispírito” estamos falando de todos estes corpos. A literatura espírita confunde “corpo espiritual“, usado como sinônimo de perispírito, com corpo astral. Corpo espiritual é o corpo aparente de Espírito desencarnado, ou seja, Corpo Astral.
Zalmino Zimmermann no livro Perispírito (10) nos ensina as Funções do Perispírito e podemos fazer uma correlação:
Duplo Etérico:
Função instrumental: serve de instrumento da alma.
Função organizadora: rege o crescimento do corpo físico.
Função sustentadora: impregna-se de Energia vital e a transfere paulatinamente ao corpo físico
Corpo Causal, Atma e Budhi:
Função Individualizadora: A Alma é única e diferenciada.
O Corpo Mental de que André Luiz nos dá notícias como o formador da Tríade Inferior (duplo etérico, corpo astral e mental inferior) seria o Corpo Mental Superior. Este é o repositório das experiências encarnatórias, portanto com condições de administrar a formação de uma parte nova, Tríade Nova, após o restringimento, conforme as necessidades desta encarnação, que vai, por sua vez, dirigir a formação do novo corpo físico.
No desenho de Heigorina Cunha, podemos entender o restringimento como um “encolhimento” destas partes perispirituais que serão formadas de novo a partir do corpo Mental, ou como disse o Chico, uma verdadeira perda material.
Leitor: volte ao texto e onde encontrar (*) leia corpo astral. Verá que, com este entendimento, tudo fica mais claro.
Continuando:
5) IMPREGNADO DE VIDA: diz André Luiz que cada célula é um reservatório de energia Vital, energia inerente ao ser vivo, também derivada do Fluido Cósmico Universal. Esta energia vital existe em abundância no zigoto (óvulo fecundado), pois é o ser humano em potencial, nova vida em formação. Esta energia vital atrai o perispírito que, depois de modificado, se liga a ele e inicia sua magnetização no sentido de orientar a formação deste novo corpo, sob a orientação amorosa dos Mentores Espirituais.
A questão da hereditariedade assume papel muito importante, pois é o corpo físico, ferramenta de que dispõe o Espírito para se desenvolver em inteligência e moral.
Para cumprindo a Lei de Ação e Reação, os Espíritos que farão parte de determinada família consangüínea reúnem-se na espiritualidade. O instrutor do programa reencarnatório do grupo orienta os compromissos de ajuda mútua.
Como compreender as alterações que devem sofrer estes corpos físicos para cumprirem sua programação reencarnatória, em função da herança recebida pelos pais?
A cor da pele, o tipo e cor dos cabelos, estatura, forma do queixo, etc, são alguns dos caracteres que diferenciam os corpos externamente e devem seguir a orientação genética dos pais mas, devem também estar de acordo com os desígnios reencarnatórios.
Há dois mecanismos fundamentais causadores de variação dos caracteres corporais: (11)
1) mutação;
2) epigenética.
Mutação é a modificação brusca que sofre o material genético e que pode ser transferido para descendências futuras.
Em cada encarnação o Espírito precisa introduzir no seu corpo físico algumas características funcionais novas, que não estavam presentes em vidas passadas.
Quando estas características novas são passadas de uma geração para outra imediata, ocorrem por meio de mutação genética e serão transmitidas para a descendência.
Epigenética: os genes podem ser ativados ou desativados, conseguindo-se que se expressem ou não, conforme uma série de alterações químicas.
Ativação: Dentro da célula, o filamento de DNA está enrolado ao redor de proteínas. Quando a ligação química com as histonas é mais frouxa, as informações genéticas podem ser ativadas.
Desativação: O gene será desativado quando ocorrer um processo chamado metilação
Existem ainda outras reações químicas que se conhece como sendo capazes de produzir essas situações.
Isto pode ser influenciado por diversos fatores como meio ambiente, alimentação, ingestão de substâncias.
A epigenética rege não só as características físicas e doenças como também as psicológicas. Vitimas de abuso sexual que se suicidaram tiveram seus cérebros pesquisados e em todos foi encontrado um modelo de metilação alterado em uma substância que desempenha papel importante no estresse, tornando essas pessoas de maior risco quanto ao suicídio.
Os últimos estudos mostram que essas alterações epigenéticas também podem ser transmitidas para novas gerações.
Neste processo podemos considerar a ação dos Espíritos que controlam o processo reencarnatório, ativando ou desativando alguns genes, conforme o necessário para aquele indivíduo.
No livro “O Perispírito e suas Modulações“ (6) Luiz Gonzaga Pinheiro relata suas experiências mediúnicas quando, em desdobramento, acompanha o processo reencarnatório. Notou que no óvulo fecundado surgiu um fiozinho que, segundo os Espíritos instrutores, é onde se ligará o perispírito reencarnante. À medida que o corpo se desenvolve será mais fortalecido formando o cordão prateado que o une ao Perispírito.
O Professor Wladimyr Sanches, na palestra “O Processo Reencarnatório entre as fases de Fertilização e da Concepção” (8) explica que isto acontece semelhantemente ao processo de fagocitose, onde a célula engloba, através de uma expansão de seu citoplasma, o elemento estranho, passando este a fazer parte dessa célula.
Compreendemos, então, que a ligação do Espírito (com seu perispírito) se dá no momento que o blastocisto (nome que se dá às fases iniciais do desenvolvimento do embrião) se implanta na parede do útero. Assim, quando o Espírito inicia seu processo encarnatório, o faz sobre um corpo já em formação.
O Espírito reencarnante precisa restringir ou compactar seu corpo astral para poder penetrar no útero da futura mãe. Essa redução implica em diminuição de volume e em perda de massa, para manter densidade compatível com a necessidade das faculdades que formam a mente do Espírito continuar atuando plenamente. Significa que neste processo o corpo astral perde grande quantidade de massa, que André Luiz afirma ser devolvida ao meio ambiente onde se encontra o Espírito reencarnante (plano astral). Esta redução de massa do corpo astral ocorre até nível que permita a ele enlaçar completamente o embrião que chega ao útero para iniciar a concepção.
No livro “Entre a Terra e o Céu” (2) André Luiz explica que o corpo astral para se ligar ao centro genésico feminino experimenta expressiva contração pela redução volumétrica produzida pela diminuição dos espaços intermoleculares. Toda a matéria que não serve ao trabalho de refundição é devolvida ao plano astral.
Ao término da formação do corpo físico intra-útero estará completado a ligação com o perispírito. O novo ser vem à luz em sua formação trina: corpo físico, perispírito, espírito.
BIBLIOGRAFIA
1) Francisco Xavier (André Luiz): “Missionários da Luz”
2) Francisco Xavier (André Luiz): “Entre a Terra e o Céu”
3) Hergoina Cunha ( Lucius): “Imagens do Além”
4)Jorge Andrea: “Correlação Espírito Matéria”
5) Luiz Gonzaga Pinheiro: “O Perispírito e suas Modulações”
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