Estudando o Espiritismo

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sábado, 29 de janeiro de 2011

Apenas Observando

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com onges do Tibete, da Mongólia, do  Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. 
        Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam.
        Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos produz felicidade?"
        Estamos construindo super-homens e super  mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente  infantilizados.
 
        Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!
        Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
        Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!"
        A publicidade não consegue vender felicidade, então passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este  tênis,  usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!"
        O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo o condicionamento . 
        Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
        Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.
        Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.
        Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado,pagar a crédito,  entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...
        Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:  "Estou apenas fazendo um passeio socrático". Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !" 

 
                      FREI  BETTO

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Deus - Sérgio Biagi Gregório



SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito: 2.1. A Origem da Idéia de Deus; 2.2. Etimologia; 2.3. Significado de Deus. 3. Deus e a Divindade: Monoteísmo e Politeísmo. 4. A Revelação de Deus. 5. Provas da Existência de Deus. 6. Deus da Fé e Deus da Razão. 7. Atributos da Divindade. 8. Imagem de Deus. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é buscar uma compreensão mais abrangente da idéia de Deus. Embora seja difícil não só definir Deus como também provar a sua existência, temos condições de senti-Lo e de intui-Lo em nossa mente e em nossos corações. É o que faremos neste ensaio sintético.

2. CONCEITO DE DEUS

2.1. A ORIGEM DA IDÉIA DE DEUS

A origem da idéia de Deus pode ser concebida:
  1. através da antiga doutrina cristã, que afirma que Deus se revelou aos antepassados do povo de Israel por meio das comunicações pessoais que lhes deram uma noção verdadeira, porém incompleta do Deus único, infinito e eterno; depois, no decurso de sua história, foi o povo alcançando gradualmente uma idéia mais adequada e estável acerca da natureza e dos atributos de Deus;
  2. como resultado de um desenvolvimento puramente natural. Enquanto o homem se manteve no nível meramente animal não houve nele a idéia de Deus, se bem que existisse uma tendência para a religião. As suas necessidades e aspirações não encontravam satisfação no Mundo ambiente; conheceu as dificuldades e a dor. Em tais circunstâncias, surgiram no seu espírito "por necessidade psicológica" a idéia de encontrar auxílio que de algures lhe viesse, bem como a de algum poder ou poderes capazes de lho ministrar. Uma vez introduzida a idéia de Deus, observa-se a tendência para a multiplicação dos deuses ( e daí o politeísmo). Com o alargamento da família para a nação, a esfera de deus também ia se ampliando, e as vitórias sobre outras nações, assim como um mais largo entendimento no que concerne ao Mundo, teriam produzido enfim a idéia de um deus único além do qual todos os outros deuses seriam somente pretensos deuses, sem existência real. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

2.2. ETIMOLOGIA

Deus é um dos conceitos mais antigos e fecundos do patrimônio cultural da humanidade. Deriva do indo-europeu deiwos (resplandecente, luminoso), que designava originariamente os celestes (Sol, Lua, estrelas etc.) por oposição aos humanos, terrestre por natureza. Psicologicamente corresponde ao objeto supremo da experiência religiosa, no qual se concentram todos os caracteres do numinoso ou sagrado. (Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado).

2.3. SIGNIFICADO DE DEUS

Tomou esta palavra a significação de princípio de explicação de todas as coisas, da entidade superior, imanente ou transcendente ao mundo (cosmos), ou princípio ou fim, ou princípio e fim, ser simplicíssimo, potentíssimo, único ou não, pessoal ou impessoal, consciente ou inconsciente, fonte e origem de tudo, venerado, adorado, respeitado, amado nas religiões e nas diversas ciências. Deste modo, em toda a parte onde está o homem, em seu pensamento e em suas especulações, a idéia de Deus aflora e exige explicações. É objeto de fé ou de razão, de temor ou de amor, mas para ele se dirigem as atenções humanas, não só para afirmar a sua existência, como para negá-la. (Santos, 1965)
Para o Espiritismo, Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

3. DEUS E A DIVINDADE: MONOTEÍSMO E POLITEÍSMO

Os termos monoteísmo e politeísmo surgem no processo de identificação ou de distinção entre Deus e a divindade.
No politeísmo há uma hierarquia de deuses, de modo que não há uma identidade entre Deus e Divindade. A não observância dessa distinção acaba por confundir muitas mentes. Platão, Aristóteles e Bergson, por exemplo, são qualificados como monoteístas, quando na realidade não o são. NoTimeu de Platão, o Demiurgo delega a outros deuses, criados por ele próprio, parte de suas funções criadoras; o Motor de Aristóteles, pressupõe a existência de outros motores menores. Em outros termos, a substância divina é participada por muitas divindades. Convém, assim, não confundir aunidade de Deus com um reconhecimento da unicidade de Deus. A unidade pressupõe a multiplicidade. Quer dizer, Deus sendo uno, ele pode multiplicar-se em vários deuses, formando uma hierarquia. Mas justamente por isso não é único: a unidade não elimina a multiplicidade, mas a recolhe em si mesma. Obviamente a multiplicidade de deuses em que se multiplica e se expande a divindade, não exclui a hierarquia e a função preemintente de um deles (o Demiurgo de Platão, o Primeiro Motor de Aristóteles, o Bem de Plotino); mas o reconhecimento de uma hierarquia e de um chefe da hierarquia não significa absolutamente a coincidência de Divindade e Deus e não é, portanto, monoteísmo.
monoteísmo é caracterizado não pela presença de uma hierarquia, mas pelo reconhecimento de que a divindade é possuída só por Deus e que Deus e divindade coincidem. Nas discussões Trinitárias da Idade Patrística e da Escolástica, a identidade de Deus e da divindade foi o critério dirimente para reconhecer e combater aquelas interpretações que se inclinavam para o Triteísmo. Certamente, a Trindade é apresentada constantemente como um mistério que a razão mal pode roçar. Mas o que importa relevar é que a unidade divina só é considerada abalada quando, com a distinção entre Deus e a divindade, se admite, implícita ou explicitamente, a participação da mesma divindade por dois ou mais seres individualmente distintos. (Abbagnano, 1970)
Para o Espiritismo, Deus é o Criador do Universo. Portanto, admite a tese monoteísta. Contudo, os Espíritos por Ele criado, conforme o grau de evolução alcançado, podem ser classificados como Espíritos Co-Criadores em plano maior e Espíritos Co-Criadores em plano menor. De acordo com o Espírito André Luiz, em Evolução em Dois Mundos, os Espíritos Co-Criadores em plano maior "tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes e obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas, quais moradias que perduram por milênios e milênios, mas que se desgastam e se transformam, por fim, de vez que o Espírito Criado pode formar ou co-criar, mas só Deus é o Criador de Toda a Eternidade"..."Em análogo alicerce, as Inteligências humanas que ombreiam conosco utilizam o mesmo fluido cósmico, em permanente circulação no Universo, para a Co-Criação em plano menor, assimilando os corpúsculos da matéria com a energia espiritual que lhes é própria, formando assim o veículo fisiopsicossomático em que se exprimem ou cunhando as civilizações que abrangem no mundo a Humanidade Encarnada e a Humanidade Desencarnada". (Xavier, 1977, p.20 a 23).

4. A REVELAÇÃO DE DEUS

A revelação de Deus aos homens pode ocorrer de três modos:
1.º) a que atribui à iniciativa do homem e ao uso das capacidades naturais de que dispõe, o conhecimento que o homem tem de Deus;
2.º) a que atribui à iniciativa de Deus e à sua revelação o conhecimento que o homem tem de Deus;
3.º) a que atribui à mescla das duas anteriores: a revelação não faz senão por concluir e levar à plenitude o esforço natural do homem de conhecer a Deus.
Desses três pontos de vista, o primeiro é o mais estritamente filosófico, os outros dois são predominantemente religiosos. O segundo ponto de vista pode ser visto em Pascal, quando afirma que "É o coração que sente a Deus, não a razão". O terceiro ponto de vista foi encarnado pela Patrística, que considerou a revelação cristã como complemento da filosofia grega. (Abbagnano, 1970)
De acordo com o Espiritismo, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo sua elaboração fruto do trabalho do homem. E como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental: formula hipóteses, testa-as e tira conclusões. (Kardec, 1975, p. 19 e 20)

5. PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

A prova da existência pode ser encontrada no axioma que aplicamos à ciência: não há efeito sem causa. Se o efeito é inteligente, a causa também o é. Diante deste fato, surge a questão: sendo o homem finito, pode ele perscrutar o infinito? Santo Tomas de Aquino dá-nos uma explicação, que é aceita com muita propriedade. A desproporcionalidade entre causa e efeito não tira o mérito da causa. Se só percebemos parte de uma causa, nem por isso ela deixa de ser verdadeira. Allan Kardec, nas perguntas 4 a 9 de O Livro dos Espíritos, diz-nos que para crer em Deus é suficiente lançar os olhos às obras da Criação. O Universo existe; ele tem, portanto, uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo o efeito tem uma causa, e avançar que o nada pode fazer alguma coisa. A harmonia que regula as forças do Universo revela combinações e fins determinados, e por isso mesmo um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso seria uma falta de senso, porque o acaso é cego e não pode produzir efeitos inteligentes. Um acaso inteligente já não seria acaso.

6. DEUS DA FÉ E DEUS DA RAZÃO

Descartes, no âmago da sua lucubração racionalista, descobre Deus através da razão. Pascal, por outro lado, fala-nos que só podemos conhecer Deus através da Fé. A dicotomia entre fé e razão sempre existiu ao longo do processo histórico. Aceitar Deus pela razão é um atitude eminentemente filosófica; enquanto aceitar Deus pela fé é uma atitude preponderantemente religiosa.
De acordo com o Espiritismo, a fé é inata no ser humano, ou seja, ela é um sentimento natural, que precisa, contudo, ser raciocinado. Não adianta apenas crer; é preciso saber porque se crê. É nesse sentido que Allan Kardec elaborou a codificação. Observe que junto ao título de O Evangelho Segundo o Espiritismo, o Codificador colocou uma frase lapidar: "Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade". Quer dizer, nunca aceitar nada sem o crivo da razão.

7. ATRIBUTOS DA DIVINDADE

Allan Kardec, nas perguntas 10 a 13 de O Livro dos Espíritos, explica-nos que se ainda não compreendemos a natureza íntima de Deus, é porque nos falta um sentido. Esclarece-nos, contudo, que Deus deve ter todas as perfeições em grau supremo, pois se tivesse uma de menos, ou que não fosse de grau infinito, não seria superior a tudo, e por conseguinte não seria Deus. Assim:
DEUS É ETERNO. Se Ele tivesse tido um começo, teria saído do nada, ou, então, teria sido criado por um ser anterior. É assim que, pouco a pouco, remontamos ao infinito e à eternidade.
É IMUTÁVEL. Se Ele estivesse sujeito a mudanças as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade.
É IMATERIAL. Quer dizer, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria, pois de outra forma Ele não seria imutável, estando sujeito às transformações da matéria.
É ÚNICO. Se houvesse muitos Deuses, não haveria unidade de vistas nem de poder na organização da matéria.
É TODO-PODEROSO. Porque é único. Se não tivesse o poder-soberano, haveria alguma coisa mais poderosa ou tão poderosa quanto Ele, que assim não teria feito todas as coisas. E aquelas que ele não tivesse feito seriam obra de um outro Deus.
É SOBERANAMENTE JUSTO E BOM. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nos menores como nas maiores coisas, e esta sabedoria não nos permite duvidar da sua justiça nem da sua bondade.

8. IMAGEM DE DEUS

Imaginar Deus como um velhinho de barbas brancas, sentado em um trono, é tomá-Lo como um Deus antropomórfico. Damo-Lhe a extensão de nossa visão. Quer dizer, quanto mais primitivos formos, mais associamo- Lo às coisas palpáveis, como trovão, tempestade, bosque etc. À medida que progredimos no campo da espiritualidade, damo-Lhe a conotação de energia, de criação, de infinito, de coisa indefinível etc. O homem cria Deus à sua imagem e semelhança. Não se trata de criar Deus, mas sim uma imagem de Deus à nossa imagem e semelhança. Observe que a imagem oriental é uma imagem de aniquilação. No Espiritismo, devemos lembrar sempre que Deus não tem forma, pois difere de tudo o que é material. Devemos, sim, intuí-Lo, simplesmente, como a causa primária de todas as coisas.

9. CONCLUSÃO

Lembremo-nos de que encontramos Deus em nossa experiência mais íntima. Quer sejamos crentes ou ateus - estamos sempre procurando transcender-nos rumo a metas cada vez mais novas e nunca completamente realizáveis. Nesse sentido, a experiência superficial é alienante. Somente num constante esforço de aprofundamento de tudo o que nos rodeia é que podemos alcançar a riqueza da vida. Desse modo, convém sempre nos dirigirmos a Deus alicerçados na humildade e simplicidade de coração, com o bom ânimo de atender primeiramente à Sua vontade e não à nossa.

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

  • ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1970.
  • Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.
  • KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.
  • KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
  • Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado.
  • SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.
  • XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, 4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.

A Existência de Deus


27/07/2001

Deus existe? Essa pergunta já foi feita muitas vezes, e continua ser feita por aqueles que ainda não compreendem Deus, a não ser na sua forma antropomórfica, e com as virtudes e defeitos humanos.
Ao abordar esse assunto, os espíritos advertiram Kardec da limitação do pensamento humano, mas o Espiritismo se aproxima da visão cósmica de Deus, ao dizer que ele é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom. Logicamente aí não está tudo, mas aproxima-se, pelo nosso raciocínio, que se Deus não tivesse essas qualidades, se uma só lhe faltasse, não seria Deus.
Há os que argumentam que se Deus existisse, e tivesse essas qualidades que enumeramos, o mundo não seria um lugar tão ruim e o homem não seria tão mal, quanto é. Parece ser um argumento de peso, entretanto, não resiste ao simples conhecimento de que Deus nos criou simples e ignorantes, mas com livre arbítrio e a destinação de sermos perfeitos. Para alcançar a perfeição, ele criou as leis da reencarnação e de causa e efeito. Com isso, compreendemos que somos os construtores do nosso destino.
A existência de Deus é um dos conceitos básicos do Espiritismo. A Lei de Adoração está incluída entre as leis naturais. Leon Denis conceituou essa adoração de uma forma linda, ao dizer: Tende por Templo o Universo. Por altar a consciência. Por Imagem Deus. Por Lei a caridade.
A espanhola Amália Domingo Soller, a poetisa das violetas, uma das mulheres mais lúcidas e valorosas do início do Espiritismo, escreveu: Deve-se adorar a Deus amando e praticando o bem, e para ele não há necessidade de templos nem de sacerdotes, sendo seu melhor altar o coração do ser virtuoso, e seu melhor culto uma moralidade inatacável. Deus não exige que o homem professe determinada religião, mas que seja humilde e sobretudo que ame o seu próximo como a si mesmo.
Jesus de Nazaré sintetizou todas as leis e os profetas na sentença: Amar a Deus sobre Todas as Coisas, ao próximo como a si mesmo. Recomendou ainda, que para sermos felizes, devemos fazer ao próximo aquilo que queremos que nos seja feito.
O universo não se fez por si mesmo. Deus é o Criador. Infelizmente algumas religiões querem impor ao homem aquilo que era coerente para uma época antiga, de milhares de anos atrás, e tenta submeter o homem com histórias como a criação em seis dias, Adão feito do barro e Eva de uma costela do homem. Tudo isso tem o seu valor simbólico, mas teorias como a de um povo escolhido, preferido de Deus, não tem mais cabimento em nosso mundo.
O Espiritismo reedita o erro com o Brasil, classificando-o, como um povo especial, o coração do mundo e a pátria do Evangelho. O coração do mundo estará sempre onde estiver um homem de boa vontade, que ame o seu próximo. Quando corrigirmos as injustiças cometidas no passado com o genocídio dos indígenas, a escravização dos africanos, as guerras no cone sul, e as diferenças sociais brutais que vivemos, aí sim, seremos modelo para o mundo.

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Resenhas do Leitores

EXISTÊNCIA DE DEUS - Miramez





A existência de Deus se expressa cada vez mais, com tonalidades fulgurantes, em toda a literatura humana, mostrando e fazendo sentir a todos os povos que o Criador se encontra mais perto de nós do que nós uns dos outros. Ele é a razão do nosso viver e, ainda se conclui, que Ele não tem forma definida e é capaz de tomar todas as dimensões, na proporção das necessidades de cada criatura. Deus está no máximo, mas desce ao mínimo, desde que haja urgência na evidência de suas qualidades aos sentidos mais apurados da alma.

O Senhor é a ponte de comando de todas as religiões, na feição em que estas podem se expressar, onde foram chamadas a servir. Ele vigia os véus que regulam o saber dos homens ante a própria ciência, para que o equilíbrio se manifeste, Os grandes missionários registram em tudo a sua presença infalível. Todas as filosofias falam da sua presença divina, pelos recursos que a linguagem alcançou, e o progresso é o seu agente revelador em todos os quadrantes do mundo.

Não existe alguém na face da Terra que não creia em Deus. Existem, sim, alguns que ainda não perceberam a sua paternidade, por orgulho ou ignorância, o que não deixa de ser a mesma coisa. Ele vibra em tudo e pronuncia a mesma mensagem em tudo que ocupa um lugar no seu “corpo ciclópico”, na imensidão universal. E cada um, em cada coisa existente, registra a sua presença insuperável, de acordo com o seu porte evolutivo; eis aí a justiça, o próprio Amor.

Computando valores e somando idades, na cronologia peculiar aos homens, a cada dia que passa, a cada ano que corre na tela do nosso tempo, o Arquiteto Divino fica mais presente na nossa visão e nos fala mais de perto, pelos registros dos nossos sentidos. Não que o Senhor se encontre mais ou menos longe. Ele está no mesmo lugar; nós outros é que, pelo despertar dos valores espirituais, vamos gradativamente abrindo as portas do entendimento, pelas mãos da maturidade espiritual.

Nenhuma pessoa, nenhum Espírito, nem algo que exista, é órfão da misericórdia, da bondade e da presença de Deus, que nos comanda todos. Essa é a grande esperança e a grande alegria que nos impulsiona a viver.

Se não há efeito sem causa, não precisamos de maiores explicações para provar a existência de Deus; basta levantarmos os olhos para a extensão infinita dos mundos, que bailam nos espaços, para a mecânica das galáxias, que viajam em velocidades incríveis na grande casa universal, para a vida dos sóis, para a harmonia do universo, e sentiremos constrangimento no centro da consciência, em negar a existência dAquele que fez tudo isso, e a nós também, por bondade e alegria.

E quando se fala na microvida, que são caminhos diversos do macro, apresentando os mesmos roteiros do infinito? Como negar aquilo que existe mais do que nós próprios? Nós, em Espírito, ainda estudamos os princípios da função biológica dos homens. O corpo físico é a síntese do universo, é a cópia perfeita do macrocosmo, que deverá funcionar em plena harmonia com a Divindade, quando o homem se conscientizar dos seus deveres perante a natureza. A maior maravilha da Terra, em se falando das coisas materiais, é o soma humano.

E os corpos espirituais a ele interligados, para que o Espírito se manifeste? E o Espírito, essa gema divina? E a harmonia de tudo o que existe?

Como não crer no Criador de todas essas coisas? Começa, meu irmão, a pensar pelo menos no sol que dá vida e sustenta o ambiente em que moras e não terás outro caminho a não ser aceitar um Criador que tenha, na linguagem comum, a Suprema Inteligência.

Repitamos o que afirmou O Livro dos Espíritos:

Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem, e a vossa razão vos responderá.

Livro Filosofia Espírita - Volume 1.Psicografia de João Nunes Maia

Palestra - Existência de Deus

Palestra - Existência de Deus

Deus na Visão Espírita - GERSON SIMÕES

ENTREVISTA CONCEDIDA - ASSESSOR DE
IMPRENSA DA RÁDIO RIO DE JANEIRO

MARCOS LEITE (ML) – Eu gostaria, inicialmente, que você falasse
para os ouvintes da Rádio Rio de Janeiro sobre Deus na Visão Espírita.

GERSON (G) – Falar da figura de Deus constitui sempre uma tarefa
muito difícil, embora agradável, tendo em vista a distância que, em todos
os aspectos, separa os homens, criaturas finitas e imperfeitas, da
incomensurável grandeza e perfeição do Criador. Por isso, escreveu com
acerto o professor Milton O'Reiily de Souza: “Deus, a idéia mais alta do
pensamento humano, é simples, como motivo de crença e adoração e se
torna complexo como motivo de conhecimento e explicação”. Assim, Deus
melhor se sente do que se entende. É como disse Léon Denis: "Há coisas
que de tão profundas só se sentem, não se descrevem".

ML – A idéia de Deus, ao que vejo, varia muito, de acordo com a
evolução espiritual de cada criatura. É isso?
G – Sim, essa circunstância foi exposta com muita beleza e
profundidade pelo professor Rubens Romanelli, da seguinte forma:
"Viviam num edifício de sete andares, moradores cujos olhos jamais
tinham contemplado a luz do sol, a não ser através das vidraças
diversamente coloridas de cada pavimento. Encerrados nos limites de seu
pequeno mundo, cada qual fazia uma idéia diferente quanto à cor da luz
solar. Os moradores do primeiro pavimento diziam que era vermelha,
porque vermelhos eram os vidros através dos quais se habituaram a vê-
la. Os do segundo pavimento diziam, por sua vez, que era alaranjada,
porque alaranjados eram os vidros pelos quais ela diariamente se filtrava.
Os do terceiro diziam, pela mesma razão, que era amarela. Os do quarto
diziam que era verde. Os do quinto, azul. Os do sexto, anil e os do sétimo
diziam que a luz solar era violeta.
Certo dia, porém, um morador mais inteligente e indagador resolveu
sair do edifício, e surpreendido com a luz do sol, que lá no alto se
decompunha na policromia do arco-íris, compreendeu logo que cada
morador havia apreendido somente uma parcela da verdade. Tudo se
passava exatamente como se cada um deles, em seu próprio pavimento,
tivesse a visão limitada a uma faixa apenas, dentre as sete faixas
luminosas do espectro solar. A luz do sol era realmente da cor sob que
cada qual a tinha visto, mas era também muito mais do que isso: era a
síntese das sete cores. Assim como cada morador via o sol, assim também
cada criatura humana vê Deus. Situado em diferentes faixas de evolução,
cada um o verá sob um aspecto diferente, segundo a coloração do seu
entendimento. Chegará, no entanto, um dia em que a criaturatranscenderá os augustos limites do seu mundo e compreenderá Deus em
sua essência, na síntese de seus atributos".

ML – Quer dizer, então, que os homens sempre se abstiveram de
estudar a figura de Deus por não poderem entendê-lo?
G – Sim. Isso não impediu, absolutamente, que os grandes
pensadores de todos os tempos, os maiores filósofos e estudiosos nos
campos da cosmologia e da metafísica, tivessem dedicado sua inteligência
e seu tempo à pesquisa e ao entendimento da figura do Criador de todas
as coisas e seres do Universo, este tomado no sentido amplo. Criaram até
uma ciência para isso: a TEODICÉIA.
Dois assuntos principais foram objeto do exame desses estudiosos:
a) a existência de Deus, e b) a essência de Deus.
DEUS EXISTE? O grande filósofo da França, Descartes, baseia-se no
chamado argumento ontológico, para afirmar que sim: eu tenho idéia de
um ser, de um ente perfeito; este ente perfeito tem que existir, porque se
não existisse faltar-lhe-ia a perfeição da existência e então não seria
perfeito. É o argumento pela evidência.
Outro vulto notável do pensamento francês foi Voltaire. Seu
raciocínio é prático, ao afirmar: "O Universo me espanta e não posso
imaginar que este relógio exista e não tenha relojoeiro". Assim, diante da
realidade do Universo, é forçoso reconhecer que ele foi feito por alguém.
Se esse alguém não foi o homem, só pode ter sido Deus, mas este nos
concede sempre o benefício da dúvida, não é mesmo?
Deve-se, porém, ao famoso S. Tomaz de Aquino, autor da não
menos famosa Summa Theológica, a prova da existência de Deus mais
  convincente, baseada nos   argumentos metafísicos.

ML – Antes de citá-los, Gerson, você poderia dizer por que são
chamados metafísicos?
G – Metafísica quer dizer: estudo das ciências não físicas, e faz
parte da Filosofia, cujo objeto é o estudo das causas primeiras ou
primárias, das causas supremas. Dessas causas uma é a maior, Deus.
Argumentos metafísicos são assim sutis, transcendentes.
ML – Você nos dizia que Tomaz de Aquino, uma das maiores
inteligências que o Mundo já conheceu, provou a existência de Deus pelos
argumentos metafísicos. Quais são eles?
G – Tomaz de Aquino nos diz que a existência de Deus pode ser
provada por cinco vias, que são a do movimento, da causalidade, dos
seres contingentes, dos graus de perfeição dos seres e da ordem do
mundo. Esses argumentos assim se sintetizam: 1 – Se no mundo existe
movimento ou mudança, que caracteriza o vir-a-ser, deve existir um
motor primeiro que não seja movido por nenhum outro, pois se tudo fosse
movido, teríamos o efeito sem causa; 2 – Há uma causa absolutamente
primeira, transcendente às causas em geral; assim, se existem as causassegundas, deve existir a causa primeira, porque as causas segundas são
efeitos.

ML – Lembramos aqui que os Espíritos definiram Deus como a
Causa primária de todas as coisas.
G – Exatamente. Causa primária ou primeira. Mas vamos aos outros
argumentos: 3 - Existem seres contingentes, que não possuem em si
mesmos a razão de sua existência, que são mas poderiam não ser; se
existem seres contingentes, deve existir um ser necessário; 4 - Nas
coisas existem vários graus de perfeição, referentes à beleza, à bondade,
à inteligência, à verdade; então deve haver um ser infinitamente perfeito,
porque o relativo exige o absoluto; 5 - Prova pela ordem do mundo, pela
organização complexa do Universo, pelo governo das coisas, tudo devido a
uma inteligência ordenadora, superior, absoluta, necessária.
ML – Estamos vendo que somente com sofismas e manifesta
incredulidade se poderá negar a existência de Deus. Do outro lado,
estamos vendo que o Espiritismo se estrutura em conceitos filosóficos dos
mais elevados. Com relação a Deus, que prova nos oferece o Espiritismo
quanto à sua existência?
G – Você viu, Marcos, que as provas citadas não repugnam à
inteligência mais lúcida e mais lógica e o Espiritismo nada lhes tem a opor.
Quanto à existência de Deus, se não houvesse motivos outros para
admiti-la, este seria bastante, conforme está na Questão 4 de “O Livro dos
Espíritos”: “Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?”
Resposta: "Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem
causa. Procurai a Causa de tudo que não é obra do homem e a vossa
razão responderá". E Kardec acrescenta: "O universo existe, logo tem
uma causa". Por isso, repetimos: Deus é a causa primária de todas as
coisas.

ML – Parece que Meimei tem uma página que bem ilustra esse
assunto...
G – É verdade. Há uma página simples, mas interessante, de
Meimei, na obra "Idéias e Ilustrações", psicografada por Chico Xavier,
capítulo 47, que vem a calhar. Ela conta que um velho árabe analfabeto
orava com tanto fervor e com tanto carinho cada noite, que, certa vez, o
rico chefe da grande caravana chamou-o à sua presença e lhe perguntou:
- Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe, quando
se nem ao menos sabes ler?
O crente fiel respondeu:
- Grande senhor, conheço a existência de nosso Pai Celeste pelos
sinais DELE.
- Como assim? Indagou o chefe, admirado.
O servo humilde explicou-se:
- Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como
reconhece quem a escreveu?- Pela letra.
- Quando o senhor recebe uma jóia, como é que se informa quanto
ao autor dela?
- Pela marca do ourives.
O empregado sorriu e acrescentou:
- Quando ouve passos de animais, ao redor da tenda, como sabe,
depois, se foi um carneiro, um cavalo ou um boi?
- Pelos rastros, respondeu o chefe, surpreendido.
Então, o velho crente convidou-o para fora da barraca e, mostrandolhe o céu onde a Lua brilhava, cercada por multidões de estrelas,
exclamou, respeitoso:
- Senhor, aqueles sinais, lá em cima, não podem ser dos homens!
Nesse momento, o orgulhoso caravaneiro, de olhos lacrimosos,
ajoelhou-se na areia e começou a orar também.
Não há dúvida, caros ouvintes, de que só o orgulho tolo do homem
pode negar a existência de Deus. Isso, entretanto, constitui atitude
passageira, pois todos um dia o encontrarão, de vez que cada um de nós
tem D'ELE a intuição de sua existência, como está na Questão 5 de “O
Livro dos Espíritos”.

ML – Não havendo para o crente nenhuma dúvida quanto à
existência de Deus, podemos defini-lo? Podemos conhecer sua natureza?
G – Comecemos por esclarecer que definir é limitar, o que é
impossível com a figura de Deus: Infinito, Absoluto, Eterno.
Por isso já dissemos que Deus se sente, não se define, não se pode
conhecer em sua estrutura íntima. Isso não impede, entretanto, que
especulemos, no bom sentido, pois o homem é um ser eminentemente
metafísico.
Já o Livro dos Espíritos nos informa que Deus é a "inteligência
suprema, a causa primária de todas as coisas", o que nos leva a examinar
o que seja inteligência, o que seja causa. Sabemos que o espírito constitui
o princípio inteligente do Universo, mas que sua natureza íntima ainda nos
é desconhecida (Questão 23 de “O Livro dos Espíritos”).
A inteligência, atributo essencial do espírito, é, segundo Claparede, a
capacidade de resolver problemas novos por meio do pensamento, é a
capacidade de adaptação a situações novas. Outro autor nos diz que é a
faculdade pela qual a alma conhece as coisas de maneira imaterial, o que
vem a dar no mesmo. Isso quer dizer que, diante da dificuldade, o homem
pensa, reflexiona e procura resolvê-la, superá-la da melhor maneira para
ele próprio.
Entretanto, a inteligência no homem é limitada, só em Deus é
suprema, nenhuma outra se lhe pode igualar. A prova dessa inteligência
superior está na obra de Deus, o Universo infinito (Questão 9 de “O Livro
dos Espíritos”).
A noção de causa também é importante para conceituar o Criador,
na medida em que isso é possível. Causa é um conceito filosófico
importante e se define com tudo quanto concorre para que uma coisa
exista. Como a existência de todas as coisas e seres se deve a Deus, diz-se que Ele é a causa primária, principal, eficiente, de que dependem todas
as outras causas.

ML – Pelo que estamos vendo, têm razão aqueles que afirmam ser o
espiritismo uma doutrina profunda, embora seja também muito clara e
convincente. Assim, satisfaz tanto ao homem simples como ao
intelectualizado. Não é mesmo?
G – Estamos de pleno acordo com você. Mas continuemos.
Da natureza de Deus sabemos apenas que é espiritual. Para melhor
entendê-lo, porém, costumamos adjetivá-lo, pois o adjetivo, limitando-o,
torna-o mais acessível à nossa compreensão limitada. Por isso citamos os
chamados atributos de Deus, como está na Questão 13 de “O Livro dos
Espíritos”: "Deus é eterno, não teve princípio, nem terá fim, por isso é
chamado o INCRIADO; é infinito, isto é, nada o limita; é imutável, pois
não está sujeito a mudanças de qualquer espécie; é imaterial, portanto é
puro Espírito; é único, pois se houvesse mais de um, teríamos deuses, não
Deus; é onipotente, porquanto nada lhe é impossível; único e soberano,
nada se lhe opõe; é soberanamente justo e bom, pois a todos concede
suas graças, sem parcialidade e com amor.
Poderíamos acrescentar a esses os chamados atributos entitativos
ou metafísicos, assim enunciados pelos filósofos: simplicidade, infinitude,
unicidade, imensidade, eternidade. Como disse o filósofo Garcia Morente,
não podemos saber o que é Deus, sua essência ou natureza, apenas quem
é Deus, ou seja, atestar sua existência. Nós, espíritas, reconhecemos
nossa inferioridade moral e procuramos sentir DEUS, como Criador e
Senhor dos nossos destinos, o Pai amantíssimo que nos destina um futuro
glorioso, que estamos longe de poder prover, apenas imaginamos.

ML – Como disse Emmanuel no livro "Fonte Viva":
"Não perguntes se Deus é um foco gerador de mundos ou se é uma
força irradiando vidas. Não possuímos ainda a inteligência suscetível de
refletir-lhe a grandeza, mas trazemos o coração capaz de sentir-lhe o
amor. Procuremos, assim, Nosso Pai acima de tudo e Deus, Nosso Pai, nos
escutará”.
Sabemos que Deus é distinto de sua Criação, como está esclarecido
na Q. 77 de “O Livro dos Espíritos”. Por esse motivo o Espiritismo repele o
panteísmo. Por outro lado, imanência e transcendência são noções
inseparáveis, segundo o exige a própria razão. Gerson, você pode nos
explicar melhor esse aspecto da apreciação que estamos fazendo, com o
devido respeito à figura divina?
G – Para começar, dizemos que o Espiritismo é dualista, de vez que
admite a separação, em essência, substancial de Deus, o Criador, de sua
criação. Imanência de Deus significa sua presença espiritual em tudo,
como causa final e universal, de vez que Ele é o Criador de todas as coisas
e seres. Por isso disse o apóstolo Paulo: "em Deus temos a Vida, o
movimento, o Ser". Entretanto, a imanência de Deus não impede sua
absoluta independência em relação ao Universo, que Ele criou, e é isso
que denominamos de transcendência.Assim, imanência e transcendência se completam na natureza
divina, pois sem a primeira, Deus se faria estranho ao Universo e não
seria, por isso, infinito nem perfeito. Sem a transcendência, Deus seria
idêntico ao Universo e também imperfeito, como o próprio Universo em
evolução.
Assim, em resumo: Deus, por suas leis, eternas como Ele, está
presente na Criação, por efeito de sua imanência, sem se confundir com o
Universo criado por Ele (Questão 77 de “O Livro dos Espíritos”), isto
porque as leis de Deus permitem a ligação de todas as coisas ao Seu
poder e à Sua perfeição; entretanto, por Sua transcendência, Deus
continua distante do Universo, independente de tudo quanto cria.

ML – Como você já fez em relação ao entendimento da figura divina
e de sua existência, poderia ilustrar com uma historieta a questão da
presença de Deus em todas as coisas? Assim, o assunto ficará bem mais
interessante, não é mesmo?
G – Sem dúvida, Marcos. Há o episódio de um sábio hindu que,
inspirado, dizia ao discípulo:
- Meu filho, em tudo podemos notar a existência, a presença de
Deus, sustentando-nos a felicidade e a segurança. Na beleza da flor, no
verde da mata, no azul do céu, na majestade do oceano, no animal que
passa, no brilho das estrelas, no sorriso da criança... Em toda a Criação,
há sinais da Sublime Presença, convidando-nos à confiança e oferecendonos conforto e alegria.
Impressionado com tais raciocínios, o discípulo deixou a casa do
mestre, e, retornando ao lar, divagava:
“Sim, Deus está presente em tudo: nesta flor que desabrocha
deslumbrante, naquela cascata que canta a sublimidade da Criação, no Sol
que ilumina o Mundo...”.
Despertando do seu deslumbramento íntimo, avistou um elefante
furioso que corria pela estrada em sua direção. Montado no animal, um
homem advertia, desesperado, aos gritos:
- Sai da frente! Sai da frente!
“Ah!” - suspirou, tranqüilo, o crente. “Deus está em tudo. Nada há a
temer, porquanto a Majestade Divina está presente também naquele
elefante furioso que se aproxima. O nobre animal também faz parte da
Criação...”.
Mal teve tempo de formular semelhante raciocínio, foi violentamente
colhido pelo paquiderme, que o atropelou como um trem expresso,
jogando-o à distância.
Com contusões generalizadas, sentindo mil dores, foi socorrido por
seu mestre, que ouvira o barulho. Medicado, ainda gemendo de dor, o
discípulo comentou queixoso:
- Mestre, o senhor disse que Deus está em todas as manifestações
da Natureza, até nos animais. Veja como fiquei por confiar em que o
Senhor Supremo estava naquele elefante furioso!...
O sábio sorriu e respondeu:
- Meu filho, realmente Deus está presente em tudo. Até mesmo
naquele elefante furioso. Entretanto, você se esqueceu de que o TodoPoderoso estava presente também naquele homem que gritava a plenos
pulmões: "Sai da frente! Sai da frente!...".

ML - Uma historia bem sugestiva essa, que você nos transmitiu.
Deus, de fato, está presente em tudo. Gostaríamos que você, agora, nos
dissesse alguma coisa a respeito de outro problema intimamente ligado a
Deus, ou seja, a compreensão que devemos ter da existência do Bem e do
Mal. Eu pergunto: existe o mal? Deus é o seu autor? Se não é, porque
permite a existência do mal?
G – Nós, espíritas, sabemos que Deus é puro amor e jamais nos
criaria para o sofrimento. Deus, portanto, não é o autor do mal, fruto
apenas de nossa imperfeição. Começamos por dar alguns conceitos
emitidos por estudiosos desse assunto, que tanto tem preocupado
filósofos e religiosos em todos os tempos:
“O Bem é essência do Criador, o mal, essência da criatura” – S.
Paulo.
“O Mal é a medida da inferioridade dos mundos e dos seres” –
Gustave Geley.
“O que é o Mal? É Deus que adormece na consciência humana” –
Victor Hugo.
“Fundamentalmente considerada, a dor é uma lei de equilíbrio e
educação” – Leon Denis.
“O Mal é a ausência do Bem” – Allan Kardec.
Ainda é de Léon Denis esta definição, que consideramos muito boa:
"O Mal é o Menos evoluído para o Mais, o Inferior para o Superior, a Alma
para Deus".
Emmanuel afirma, em “O Consolador”, pergunta 135, que "o mal
essencialmente considerado, não pode existir para Deus, em virtude de
representar um desvio do homem, sendo zero na sabedoria e na
previdência Divina".

ML – São conceitos muito interessantes esses que você citou, do
mal. Entretanto, gostaríamos de conhecer alguma explicação que fosse
aceitável a respeito da existência do mal e sua utilidade.
G – Vejamos a opinião, por exemplo, do prof. Carlos Toledo Rizzini,
em seu ótimo livro "Evolução para o Terceiro Milênio": "Para progredir foi
permitido ao Espírito humano violar a Lei, promover a desordem ao redor
de seus próprios passos, de modo a conhecer as conseqüências do erro e
afastar-se dele. Deus dispôs, portanto, que durante certo tempo lhe fosse
possível abusar e errar para aprender, pagando o preço do sofrimento. É a
dor o fator que traz o homem de volta ao regaço divino, depois que se
desviou do rumo traçado pela Lei".
D. Ludegero Jaspers, em seu Manual de Filosofia, afirma que "Deus
recusaria ao homem a liberdade, nobre prerrogativa, se não lhe desse
possibilidade de agir e, portanto, de errar. Por isso Ele dá mérito ao
homem que resiste ao mal".
Outro professor de Filosofia, R. Jolivet, em seu livro “Cursos de
Filosofia”, assim se exprime: "O mal resulta da criatura finita, que pecacriando-o, embora ele não seja absolutamente necessário: o homem tem
livre-arbítrio, que Deus respeita, garantindo sua liberdade. Ele peca
voluntariamente. Essa liberdade, mesmo falível, é um bem: o poder
determinar-se, ser o fruto de seus erros e acertos. A criatura assume,
sozinha, a responsabilidade do mal. Assim, o mal serve ao bem, é útil.
Seria absurdo se existisse sem nenhuma utilidade. É meio de reparação,
fonte de mérito: o homem corrige-se e segue o bem. Que é o bem? É o
que nos faz realizar a perfeição de nossa natureza. Esse fim último está na
conquista da felicidade".
Como vemos, esses conceitos se enquadram nos da filosofia espírita,
segundo a qual o Espírito, criado simples e ignorante, é dotado de
liberdade ou livre-arbítrio, que lhe permite escolher, optar entre o que é
certo, segundo a Lei de Deus, e o que a contraria, ou seja, o mal. Pelo
resgate das culpas, através do arrependimento, da expiação e da
reparação, o Espírito se redime e alcança a felicidade.

ML - Sabemos que o mal pode ser físico, moral e metafísico.
Gerson, o que você pode nos dizer do mal físico? Como conceituá-lo na
problemática espírita?
G – O mal físico consiste na dor fisiológica e tem função de
regeneração e reparação. André Luiz nos esclarece, em sua obra "Ação e
Reação", Capítulo XIX, que há três formas de dor, dor essa a respeito da
qual afirmou Vítor Hugo: "Dor! Chave dos Céus!":
 DOR-EVOLUÇÃO – mola do progresso, atuando de fora para dentro,
aprimorando o ser, por isso atinge os próprios animais irracionais;
 DOR-EXPIAÇÃO – que vem de dentro para fora, marcando a criatura
no caminho dos séculos, detendo-a em complicados labirintos da
aflição, por regenerá-la perante a Justiça. Regenera o Espírito,
provocando-lhe o arrependimento, sujeitando-a a expiação e o
levando à reparação das faltas;
 DOR-AUXÍLIO – que evita o mal maior, a queda no crime ou
concorre, freqüentemente, "para o serviço preparatório da
desencarnação, a fim de que não sejamos colhidos por surpresas
arrasadoras, na transição da morte". Sobre esta modalidade de dor,
temos uma sugestiva página de Humberto de Campos, intitulada "A
Moléstia Salvadora", componente do livro “Reportagens do Além
Túmulo”. É o caso de um espírita, casado, com filhos, que se vê
enredado por moça leviana, que o induz a abandonar o lar, para
viver com ela. Embora assistido por um Espírito amigo, o confrade
está prestes a fazer a vontade da moça, sentindo-se fraquejar. É
então que outro espírito, mais sábio e experiente, aconselha o
protetor do moço a provocar nele uma doença séria, que o joga
numa cama de hospital. A moça, quando o vê prostrado, mal
dissimula o desapontamento e some para sempre...ML – Na verdade, de quantos tombos nos livra a Espiritualidade,
com seus recursos maravilhosos, não é mesmo? E o Mal Moral, existe?
G – Tanto o mal físico como o moral são obras do procedimento dos
homens, começam e terminam entre eles. Deus não cria o mal.
Com referência ao MAL MORAL, diremos que consiste na violação do
dever, dos princípios éticos, das leis divinas, estando ligado ao nosso
direito de liberdade e vontade, expressa através do livre-arbítrio, levando
um grande filósofo, Leibniz, a afirmar que "o mal moral, no homem, é
consequência de um grande bem - o livre-arbítrio; é condição para o
mérito". Ele argumenta que “o mal metafísico é o limite puro e simples,
que resulta da ausência de perfeição não exigida pela Natureza: a planta
não vê, o homem não voa. O mal metafísico é apenas um limite e Deus só
poderia evitá-lo deixando de criar. A criatura é limitada necessariamente e
mais vale existir assim a não existir”.
Luciano dos Anjos, no seu livro “DEUS É O ABSURDO”, afirma: "O
mal metafísico não existe; não tem realidade, nem objetivo e nem
abstração; ele não pode ser dentro da criação perfeitíssima de Deus. É
preciso demonstrar pelo raciocínio a sua necessidade de NÃO SER".

ML – Na verdade, ficamos confusos com o problema, procurando
solução para ele em nossa inteligência finita. É claro que há uma
explicação aceitável, mas não atinamos com ela, não é mesmo?
G – É claro que sim, pois não podemos duvidar da perfeição do
Criador. O assunto, entretanto, estará no rol daqueles que não nos é dado
conhecer ainda, como está nas Questões 10 e 17 de “O Livro dos
Espíritos”.
Isso não impede, porém, que nosso pensamento procure o porquê
das coisas, na ânsia de aumentar, sempre e sempre, o nosso
conhecimento. O filósofo Battista Mondim, em seu livro "Introdução à
Filosofia", afirma: "O termo criação quer evidenciar a inexistência total do
Mundo antes de sua produção por parte do Ser subsistente. Por meio do
ato criador, o Ser subsistente comunica seu ser ao Mundo. Trata-se,
porém, é óbvio, de uma comunicação limitada. O Ser subsistente não cria
um outro ser subsistente, mas um ser contingente. Por esse motivo o
Mundo não iguala a perfeição de Deus e muito menos se identifica com
sua realidade. O mundo simplesmente participa da perfeição do Ser
subsistente, ou seja, possui, de modo particular, limitado, imperfeito,
aquela perfeição que no ser subsistente se realiza do modo total, ilimitado
e perfeito. Há, entretanto, uma tensão permanente no Mundo para voltar
à sua fonte primitiva, ao Ser subsistente. Isso explica o profundo
dinamismo que o permeia, a transformação constante e a evolução
maravilhosa que o anima: o Mundo está a caminho, na direção de Deus".

ML – Muitos assuntos de grande interesse para a melhor
compreensão da figura de Deus, Nosso Pai e Criador, foram comentados
nesta entrevista. Agora perguntamos a você: de que recursos dispõe,
então, o homem e, em particular, o espírita, para progredir moral eintelectualmente, até que se possa defrontar com o Criador, tornando-se,
como Jesus, "um com o Pai", como está no Evangelho de João?
G – Marcos, dispomos, todos nós, graças ao Espiritismo, do
conhecimento explicitado da Lei de Deus, desdobrada em 10 partes.
"Para abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial",
como diz a Questão 648 do Livro dos Espíritos. A observância dessas leis é
o caminho certo, seguro e único para essa finalidade.
Podemos dizer que Deus é a Lei e que essa Lei está escrita não em
livros perecíveis, mas em nossas consciências; entretanto, por acréscimo
de misericórdia, ela é revelada aos homens periodicamente. A última vez
que isso se deu foi com o advento do Espiritismo, que o ínclito Missionário
Allan Kardec codificou para todos nós.
Lembramos que a primeira dessas leis – a de Adoração – resume
exatamente o mandamento maior de Jesus, que nos mandou amar a Deus
sobre todas as coisas, de todo nosso espírito. Essa lei nos mostra como
ter acesso, embora indireto, ao Pai Celestial, através da prece, do culto
interno, quando, ajoelhados, lhe entregamos nossos corações, sem
vaidades, sem orgulho, sem egoísmos, sem mágoas e nem
ressentimentos.

ML – Vamos terminando esta entrevista, mas antes pediríamos ao
nosso Gerson que nos oferecesse, como fecho de ouro, uma produção
poética sobre Deus.
G - Você veio ao encontro de nosso desejo e aqui está uma bela
poesia de Maria Dolores, intitulada Deus é Caridade, obra prima da nossa
irmã, que ela oferece como lembrança aos companheiros da Doutrina
Espírita e está publicada em Antologia da Espiritualidade, edição FEB:
DEUS É CARIDADE
Não guardes e nem fales, coração,
Palavras de azedume ou desesperação.
O verbo que escarnece, esfogueia, envenena,
Traz em si mesmo a dolorosa pena
De amarga frustração!
Muitas vezes, nós mesmos, trilha afora
No pensamento que se desarvora,
Nas teias da ilusão sem motivo ou sem base,
Para sair do mal e regressar ao bem
Precisamos apenas de uma frase
Do carinho de alguém!
Na dor que nos renova,
Quantas vezes na vida a gente espera
Simplesmente um sorriso,
Para fazer o esforço que é preciso,A fim de não perder nas lágrimas da prova
A paz da fé sincera!...
Pensa nisso e abençoa
Aquela própria mão que te espanca ou aguilhoa
Fel, tristeza, amargura,
Transformam desventura em maior desventura!
Se a mágoa te domina,
Observa a lição da Bondade Divina!
Se o homem tala o campo nos horrores da guerra,
Deus recama de verde as úlceras da Terra.
Cerre-se a noite fria,
Deus recompõe sem falta os fulgores do dia.
Atire-se um calhau à frente na espessura,
Deus protege a corrente
E a fonte lava a pedra a beijos de água pura
E prossegue indulgente.
Doce, clara, bendita,
Fertilizando o campo em que transita.
Isola-se a semente pequenina
Na clausura do chão
E eis que Deus a ilumina
E ela faz a alegria e a fartura do pão!
Que a poda fira a planta a golpes destruidores
E Deus reveste o tronco em auréolas de flores!...
Conquanto seja em tudo a Justiça Perfeita
Que nos premia, ampara, aprimora e indireita
Pelo poder do amor incontroverso,
Deus quer que a Lei do amor seja cumprida
Para a glória da vida,
Nas mais remotas plagas do Universo!
Serve, pois, coração,
À tolerância, à paz, à bondade e à União;
Embora desprezado, anônimo, sozinho,
Agradece em silêncio, a injúria, o pranto, o espinho
E serve alegremente...
Dor é nova ascensão à Vida Superior!...
Rende-te a Deus e segue para a frente,
Pois Deus é Caridade e a Caridade ardente
Tudo cobre de amor!...

A existência de Deus




Apresentamos nesta edição o tema n57 do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, que está sendo aqui apresentado semanalmente, de acordo com programa elaborado pela Federação Espírita Brasileira, estruturado em seis módulos e 147 temas.
Se o leitor utilizar este programa para estudo em grupo, sugerimos que as questões propostas sejam debatidas livremente antes da leitura do texto que a elas se segue.
Se destinado somente a uso por parte do leitor, pedimos que o interessado tente inicialmente responder às questões e só depois leia o texto referido. As respostas correspondentes às questões apresentadas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões para debate
1. Quais são os princípios fundamentais da Doutrina Espírita mais relevantes?
2. Os materialistas opõem à tese da existência de Deus um argumento interessante que eles consideram irrespondível. Que argumento é esse?
3. Qual é o principal argumento apresentado pelo Espiritismo como prova da existência de Deus?
4. Como a Doutrina Espírita conceitua Deus?
5. Eram ateus os gênios da Física Albert Einstein e Isaac Newton? 
Texto para leitura 

A existência de Deus é um dos princípios básicos do Espiritismo

1. Um dos princípios básicos da Doutrina Espírita é o da existência de Deus como o Criador necessário de tudo o que existe. Outro, igualmente fundamental, é o da existência dos Espíritos, como criaturas suas; e outro ainda  é o princípio da natureza espiritual da alma humana, considerada como Espírito encarnado, que constitui a individualidade consciente, permanente e imperecível do homem.
2. Tudo o mais que os Espíritos revelaram – a pluralidade dos mundos habitados, a encarnação e a reencarnação, a lei de causa e efeito, o princípio da  necessidade das provações como meio de progresso e das cruciantes expiações –, tudo isso, que revela a suprema sabedoria do Criador, é decorrência natural daqueles princípios básicos. Fulge, no entanto, luminoso e à frente de todos, o princípio da existência do Eterno Criador.
3. Kardec iniciou “O Livro dos Espíritos” com um capítulo inteiramente consagrado a Deus e às provas de sua existência. Nesse livro, o Codificador perguntou aos Espíritos onde se pode encontrar a prova de que Deus existe, e eles assim responderam: “Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá” (L.E., questão 4).
4. Em “A Gênese”, sua última obra, após explicar, no capítulo I, o caráter da revelação espírita, o Codificador trata novamente da existência de Deus, logo na abertura do capítulo II, mostrando que ela constitui o mais importante princípio da Doutrina Espírita.

Deus não se mostra, mas se revela por suas obras

5. O codificador do Espiritismo examina em seguida a opinião dos que opõem à tese da existência de Deus o pensamento de que as obras ditas da Natureza são produzidas por forças materiais que atuam mecanicamente, em virtude das leis de atração e repulsão, sob cujo império tudo ocorre, quer no reino inorgânico, quer nos reinos vegetal e animal, com uma regularidade mecânica que não acusa a ação de nenhuma inteligência livre. O homem – dizem tais opositores – movimenta o braço quando quer e como quer. Aquele, porém, que o movimentasse no mesmo sentido, desde o nascimento até à morte, seria um autômato. Ora, as forças orgânicas da Natureza são puramente automáticas.
6. Tudo isso é verdade, redargüiu Kardec, mas essas forças são efeitos que hão de ter uma causa. São elas materiais e mecânicas, mas são postas em ação, distribuídas, apropriadas às necessidades de cada coisa por uma inteligência que não é a dos homens. A aplicação útil dessas forças é um efeito inteligente, que denota uma causa inteligente.
7. O Espiritismo dá o homem uma idéia de Deus que, com a sublimidade da Revelação, está conforme à mais perfeita e justa racionalidade.
8. Convence-nos da existência do Criador sem necessidade de recorrer a outras provas que não as que provêm da simples contemplação do Universo, onde Deus se revela através de leis sábias e de obras admiráveis que constituem um conjunto grandioso de tanta harmonia e onde há perfeita adequação dos meios aos fins, que se torna impossível não ver por trás de tão portentoso mecanismo a ação de uma Suprema Inteligência, como os Espíritos Superiores fizeram questão de asseverar na resposta dada à pergunta de abertura de “O Livro dos Espíritos”: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”(O Livro dos Espíritos, pergunta 1).

A mecânica celeste não se explica por si mesma

9. Assim o compreendem, numa inata intuição de sua existência e de seu poder, todos os que não se deixaram empolgar totalmente pelo terrível entorpecer da inteligência e do sentimento humanos, que é o orgulho, reconhecendo no harmonioso mecanismo que entretém os movimentos universais a existência imprescindível de um primeiro motor transcendente. “A mecânica celeste não se explica por si mesma – escreveu Léon Denis -, e a existência de um motor inicial se impõe. A nebulosa primitiva, mãe do Sol e dos planetas, era animada de um movimento giratório. Mas quem lhe imprimira esse movimento? Respondemos sem hesitar: Deus.”
10. Assim como o reconheceu Léon Denis, já então iluminado pela luz do Espiritismo, fê-lo também Albert Einstein, com todo o rigor do seu raciocínio lógico, puramente matemático. Por muito raciocinar em busca da verdade, Einstein adquiriu um alto grau de intuição que o levou, do mesmo modo que a muitas coisas, também ao reconhecimento da existência de Deus, como fonte necessária da energia que dá o primeiro impulso a tudo o que se move no Universo.
11. Muito antes de Einstein, igualmente Isaac Newton teve de reconhecer a existência necessária de uma causa transcendente e de um primeiro motor para explicar o movimento dos planetas. Apesar de descobrir a grande lei da gravitação universal, que viria aparentemente resolver esse milenar problema, no fim de seu livro “Princípios matemáticos de filosofia natural” o grande matemático declarou-se impotente para explicar aqueles movimentos somente pelas leis da Mecânica.
Respostas às questões propostas 
1. Quais são os princípios fundamentais da Doutrina Espírita mais relevantes?R.: A existência de Deus como o Criador necessário de tudo o que existe; a existência dos Espíritos; a natureza espiritual da alma humana, considerada como Espírito encarnado; a pluralidade dos mundos habitados; a reencarnação e a lei de causa e efeito.
2. Os materialistas opõem à tese da existência de Deus um argumento interessante que eles consideram irrespondível. Que argumento é esse? R.: Eles opõem à tese da existência de Deus o pensamento de que as obras ditas da Natureza são produzidas por forças materiais que atuam mecanicamente, em virtude das leis de atração e repulsão, sob cujo império tudo ocorre, quer no reino inorgânico, quer nos reinos vegetal e animal, com uma regularidade mecânica que não acusa a ação de nenhuma inteligência livre, porque as forças orgânicas da Natureza seriam, segundo eles, puramente automáticas.
3. Qual é o principal argumento apresentado pelo Espiritismo como prova da existência de Deus? R.: Segundo o ensino espírita, a prova de que Deus existe pode ser encontrada num axioma aplicável às ciências: não há efeito sem causa. Procuremos a causa de tudo o que não é obra do homem e a razão nos responderá. Aos materialistas, Kardec disse que as forças orgânicas da Natureza, que eles consideram automáticas, são na verdade efeitos que hão de ter uma causa. São elas materiais e mecânicas, mas são postas em ação, distribuídas, apropriadas às necessidades de cada coisa por uma inteligência que não é a dos homens.
4. Como a Doutrina Espírita conceitua Deus? R.: Deus é, segundo o Espiritismo, a inteligência suprema, a causa primária de todas as coisas.
5. Eram ateus os gênios da Física Albert Einstein e Isaac Newton? R.: Não. Einstein reconhecia a existência de Deus como fonte necessária da energia que dá o primeiro impulso a tudo o que se move no Universo e Newton, muito antes dele, declarou-se impotente para explicar os movimentos dos astros somente pelas leis da Mecânica.

Bibliografia
:
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, item 1.   
A Gênese, de Allan Kardec, cap. II, itens 1 a 6.
O Grande Enigma, de Léon Denis, FEB, 6a. edição, pp. 70 e 238.