O homem no mundo
Escrito por Dilton Pereira
O homem no mundo
Podemos, por um determinado tempo de nossa vida material, que pode ser de
maior ou menor duração, viver de forma descuidada, indiferente, sem a menor
noção de solidariedade, vivendo somente para nós, esquecidos de tudo e de todos
que nos cercam. Uma vida egoísta, onde tudo que interessa são as satisfações de
nossas vontades, e nada mais.
Mas… existe sempre um mas… na vida de cada um – chega para todos aquele
momento em que se acende uma luzinha vermelha em nossas mentes, e passamos a nos
perguntar: “Afinal, quem realmente sou eu? O que estou fazendo no mundo? De onde
vim? Para onde vou? Qual a minha destinação?”
São perguntas que brotam na mente de todos, uma a uma, em determinado momento
da vida. Essas considerações, essas perguntas que passam a martelar a mente do
ser humano, podem demorar a chegar, mas chegam. Para atingir este estágio, o
homem pode consumir mesmo muitas existências – de forma que, de experiência em
experiência, de luta em luta, de queda em queda, vai moldando seu caráter.
Em um dos muitos diálogos com seus discípulos, Jesus exortou a todos: “Sede
perfeitos, como perfeito é o vosso Pai Celestial”. Evidentemente, o Mestre não
queria, com tal exortação, dizer que todos podem chegar à perfeição do Pai
Celestial. Deus é um só, é único, é onipotente, é a causa primária de todas as
coisas, e a criatura jamais poderá igualar-se ao Criador.
O que certamente Jesus quis dizer é que todos possuímos dentro de nós um
potencial de crescimento espiritual que nós mesmos desconhecemos, e que muito,
muito mesmo, poderemos fazer, dentro daquilo que Ele pregou e exemplificou.
Mas… como chegar a esse estágio de perfeição relativa face à perfeição
absoluta de Deus?
As lutas a que somos compelidos a enfrentar no mundo, as desavenças, as
incompreensões, as atitudes alheias que nos chocam, as pessoas, com grau de
parentesco ou não, que gozam de nossa intimidade, que vivem conosco o dia-a-dia,
e que tantas vezes agem de forma a agredir ou contrariar nosso modo de ser e
pensar, são outros tantos obstáculos a impedir ou retardar nosso esforço no bem.
Como vencer tudo isso, como superar tantos obstáculos, se a vida material nos
oferece tão somente algumas dezenas de anos de existência? Cinqüenta, sessenta,
oitenta ou até mesmo cem anos constituem um espaço de tempo muito pequeno para
que tenhamos condições de atingir um grau tal de tolerância, de paciência,
tamanha capacidade de perdão, para amar os que nos odeiam, perdoar os que nos
ofendem, abraçar os que nos traíram, compreender no irmão faltoso o irmão
necessitado de compreensão e carinho.
Foi para responder tantas perguntas, esclarecer tantas dúvidas, que Allan
Kardec, sob a orientação de Espíritos superiores, codificou a Doutrina Espírita,
interpretando com clareza o pensamento de Jesus. Não resta a menor dúvida que,
baseando-nos no raciocínio simplista de uma só existência, torna-se praticamente
impossível conciliar alguns ensinamentos de Jesus com a realidade da vida, ao
passo que, com a reencarnação, sublime concessão de Deus para com todos os seus
filhos faltosos, tudo se esclarece, tudo se torna de fácil entendimento. Com a
Lei dos Renascimentos, já não somos os condenados ao sofrimento eterno.
Todos nós, Espíritos falíveis, estamos sujeitos a cometer erros, e somente a
certeza da reencarnação nos fortalece para prosseguir a caminhada. O próprio
Apóstolo Paulo, num rasgo de humildade, exclamou: “Sinto que faço o mal que não
quero, mas não faço o bem que desejo”, sintetizando, naquele momento, as
dificuldades que encontramos pelo caminho. Mas, para demonstrar que temos
condições de superar todos os obstáculos da caminhada. afirmou em outra ocasião:
“Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração”.
E exortando os discípulos a atitudes corajosas, afirmou: “Em tudo somos
atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos,
mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos”. E no final da jornada,
afirmou: “Combati o bom combate, terminei minha tarefa, conservei a fé”.
A fidelidade, a coragem e a perseverança do Grande Apóstolo foram a mola
propulsora do Cristianismo no mundo, e poderão ser, também, a mola propulsora do
nosso crescimento espiritual.
Texto extraído do Jornal “Macaé Espírita” – maio e junho/98.
(Jornal Mundo Espírita de Agosto de 1998)
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