Estudando o Espiritismo

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domingo, 14 de outubro de 2018

A grande lição de Jó


Sueli Albano

A história de Jó, um dos personagens do Antigo Testamento, tem conduzido muitas pessoas à reflexão sobre o sofrimento humano e suas causas, bem como sobre a capacidade de aceitação ou revolta diante dessas situações.
Muitos afirmam que Jó, no sofrimento, se rebelou contra Deus. Essa questão requer uma análise mais apurada, recorrendo-se ao próprio texto bíblico que apresenta a sua trajetória.
Narra a história que Jó era um homem íntegro e reto, que temia a Deus, se afastava do mal e era o mais rico de todos os homens do Oriente. Entretanto sua vida muda drasticamente, levando-o a perder todos os bens materiais, os filhos e a saúde.
Nesse tempo vigorava a doutrina da retribuição, a qual afirmava que, no tempo oportuno, os bons seriam premiados por Deus antes da morte e os maus castigados.
No primeiro momento da história, Jó estava confortável com essa doutrina. Porém a situação muda completamente quando ele é lançado para o outro lado, representado no texto com a simbologia das cinzas – o que não serve mais, que é jogado para fora da cidade por estar impuro. Ele experimenta o sofrimento na condição mais extrema. Todavia, inicialmente demonstra aceitação (Jó 1, 20-21; 2,10).
Três amigos vêm visitá-lo e ficam tão aterrorizados com a situação que passam dias ao lado dele sem dizerem uma palavra. Tempo em que provavelmente Jó buscava o entendimento da sua situação à luz da doutrina da retribuição, mas algumas ideias não concatenavam:
Por que ele estaria sendo castigado, encontrando-se à beira da morte, se era um homem bom? Por que alguns ímpios morriam sem castigo?

Os supostos sábios começam então a fazer conjecturas, apresentando uma visão de Deus soberano e temível, aconselhando Jó a parar de se rebelar contra Deus para ter a sua situação restabelecida sobre a Terra.
Jó os escutava e também refletia a partir dos ensinamentos religiosos que recebera e ficava ainda mais confuso. Contudo, ele mesmo era a prova viva da inconsistência daquelas ideias. Além do fato de se lembrar de tantos ímpios que partiram da Terra sem pagarem por suas faltas. Alguns diziam que a punição recairia sobre os filhos deles, mas Jó não concordava mais com isso – "que os ímpios recebam seus próprios castigos, e não os filhos deles".
As palavras dos amigos, aliadas aos próprios pensamentos de Jó, dilaceravam-no ainda mais, por isso um dos seus maiores desejos era que o "sentinela dos homens" lhe desse uma trégua: "deixa-me, pois os meus dias são um sopro!"
De fato, Jó não se rebelara contra Deus. Suas palavras denunciavam a incapacidade de consolo através daquela doutrina, que se propunha apenas a julgar os homens e a segregar aqueles que não se enquadram num padrão de felicidade. Inconformava-se com a ideia de um Deus à imagem e semelhança dos homens da época: poderoso, indiferente, vingativo e sem misericórdia, representado na postura dos amigos sem compaixão, diante de alguém em situação extrema de sofrimento.
No final do Livro de Jó, fica claro que apesar de suas queixas, ele seguira o caminho certo. Inclusive em condições de interceder em favor dos pseudoamigos, pois o sofrimento o fez avançar a ponto de agora entrever o Deus-amor que seria apresentado por Jesus.: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora meus olhos te veem".
Mesmo sem compreender racionalmente as causas do seu sofrimento – explicação que viria a seu tempo, através da doutrina espírita – Jó sentiu-se profundamente amado pelo Criador e fortalecido em sua fé para enfrentar com perseverança as suas adversidades. Um exemplo para todos nós, principalmente nos momentos que nos exijam paciência e resignação.
E diferentemente de Jó, temos hoje a doutrina dos Espíritos a nos consolar e esclarecer racionalmente em relação aos sofrimentos humanos, permitindo-nos melhor compreensão dessa história, que ilustra a grande mensagem do Mestre: "Felizes os aflitos, porque serão consolados".



Frequentadora do Centro Espírita O Reencontro e do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Evangelho, em Cajazeiras, PB.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

• A Bíblia de Jerusalém. Paulus, 2002.
• O evangelho segundo o espiritismo. Allan Kardec. IDE, 2009.
• Retribuição e Prosperidade: gênese, percurso histórico e confronto com a teologia da graça. Marcelo Oliveira. 2006. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Departamento de Teologia, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Belo Horizonte.

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