O evangelista Mateus narra, no capítulo vinte e cinco de seu evangelho, a parábola dos talentos pronunciada pelo Senhor Jesus, descrevendo um homem, que de partida de sua terra distribuiu seus bens a três de seus servos. A um deu cinco talentos, ao outro dois talentos e ao terceiro um talento, a cada um segundo a sua capacidade.
Passado muito tempo aquele homem retorna e chama os servos para prestação de contas. O primeiro, que recebeu cinco talentos, devolveu-os e mais cinco que conquistou trabalhando com o que lhe fora confiado. O segundo, da mesma forma que o primeiro, devolveu em dobro o que recebeu. O terceiro, dizendo que sabia o quanto aquele homem era duro de coração, disse que por medo de perder o talento recebido enterrou-o e agora o estava devolvendo. O proprietário daquela terra chamou-o de servo de mau, negligente e inútil, dizendo que seria lançado em trevas onde haveria choro e ranger de dentes.
A interpretação da parábola traz interessantes ensinamentos, uma vez que o Senhor está se referindo ao que cada um dos filhos de Deus recebe para aplicar no mundo onde reencarna. Em primeiro lugar, os talentos são distribuídos conforme a capacidade pessoal de cada servo, o que podemos entender que são dados de acordo com nossas possibilidades e necessidades, que são formulados quando do planejamento reencarnatório.
Da mesma forma que na parábola, todos haveremos de prestar contas do recebido, e o próprio Senhor Jesus enfatizou isso ao dizer que “muito será pedido de quem muito recebeu”.
Para os dois que dobraram os talentos foi destinado vivenciarem a alegria do senhor da terra, o que significa vivenciarem um estado de “céu” provocado pela consciência tranquila.
Para o terceiro, que por medo de perder o talento não o usou, a reprimenda e a destinação são referentes à cobrança da própria consciência, que em desalinho, intranquiliza-se e produz sofrimento moral.
No livro Nosso Lar, ditado a Francisco Cândido Xavier por André Luiz, encontramos no capítulo quarenta e dois, interessante revelação de Narcisa para André Luiz sobre o medo:
“ – Talvez estranhe, como acontece a muita gente, a elevada porcentagem de existências humanas estranguladas simplesmente pelas vibrações destrutivas do terror, que é tão contagioso como qualquer moléstia de perigosa propagação.
Classificamos o medo como dos piores inimigos da criatura, por alojar-se na cidadela da alma, atacando as forças mais profundas.” (Grifo nosso)
Estas passagens fazem-nos lembrar de Jonas. Aquele Jonas que o Senhor Jesus se referiu dizendo que não haveria outro sinal a não ser o sinal de Jonas.
O Livro de Jonas faz parte do Velho Testamento e conta a história dele, Jonas, que tendo recebido uma ordem de Deus para pregar em Nínive, se nega e foge pegando carona em um navio para a Espanha. Uma grande tempestade envolve o navio, e ele, por ser visto como o causador da tempestade por ter desobedecido ao programa divino, é lançado ao mar e uma baleia o engole, mantendo-o no seu ventre por três dias e três noites. Por fim, em prece, louva a Deus e a baleia o vomita em uma praia.
Resolve Jonas cumprir com sua missão pessoal e prega em Nínive, convertendo seu rei e toda a população, que acabam por escapar do castigo divino. Jonas, não entendendo o plano de Deus para com todos os seus filhos, revolta-se com a mudança de planos e Deus mostra-lhe o quanto todos são importantes para Ele.
Também podemos tirar ensinamentos do Livro de Jonas, em paralelo à Parábola dos Talentos. Se Deus deu um encargo para Jonas é porque ele tinha condições de se desincumbir da tarefa executando-a, mas a fuga das responsabilidades cria uma tempestade consciencial e o comportamento pessoal reflete no ambiente em que se vive, envolvendo a todos os que respiram ao redor. É o mal que resulta do bem que não se faz.
Em prece e arrependido Jonas pediu nova oportunidade e a misericórdia divina assim concedeu.
São as oportunidades que recebemos para renovação espiritual que trazem os benefícios que poderíamos usufruir, desde longa data, se fôssemos mais determinados na execução de nossos planejamentos reencarnatórios.
O comportamento que se estabelece na fuga aos compromissos é identificado pela Psicologia Humanista como “Complexo de Jonas”, e, dessa forma, podemos nos perguntar: quanto nós poderíamos realizar em benefício do próximo, mas por esse ou aquele motivo não o fazemos? O que temos feito dos talentos que recebemos para esta reencarnação?
Se formos honestos em nossas reflexões, facilmente, identificaremos o quanto estamos impregnados do “Complexo de Jonas”.
Pensemos nisso.
Antônio Carlos Navarro
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