Doação de órgãos deve ser voluntária e consciente
Dr. Carlos Roberto de Souza O transplante de órgãos e tecidos, seja intervivos ou proveniente de cadáver, é uma das mais importantes conquistas científicas da atualidade. O ato de doar parte do corpo é um exemplo de desapego à matéria, expressando a sublimidade do amor incondicional em benefício do próximo.
São poucos os que deixam registrada a intenção de doar? E as famílias, também se sentem inseguras em relação ao procedimento? Por que pacientes morrem na fila dos transplantes? Essas e outras perguntas começaram a ser respondidas, em abril, em um novo quadro apresentado pelo médico Dráuzio Varella, no programa semanal Fantástico, da Rede Globo.
Mas, e quais as consequências espirituais dos transplantes? “Esta atitude, sendo voluntária e consciente, reveste-se de alto teor moral, o que gera inúmeros benefícios espirituais para aquele que doa, enriquecendo-o de bênçãos, bem como renova as esperanças de vida naquele que recebe, permitindo-lhe continuar na existência física, e passar a agir com segurança e respeito, a fim de corresponder à misericórdia divina. A Doutrina Espírita, fundamentada numa bioética do amor, amplia o debate e oferece relevante contribuição ao tema”, declara o médico anestesiologista Carlos Roberto de Souza, presidente da Associação Médico-Espírita de Campina Grande (PB). Na próxima edição do Mednesp, que acontece em junho, em Porto Alegre (RS), o especialista falará sobre o tema Aspectos Espirituais dos Transplantes.
Folha Espírita – Como pensar nos transplantes, sob o ponto de vista espírita?
Carlos Roberto de Souza – A doação deve ser voluntária e consciente. Para o doador, é uma atitude de desapego à matéria e de amor ao próximo, que lhe traz benefícios espirituais. Para o receptor, é um exemplo da misericórdia divina que permite, por moratória, a continuidade da existência física.
FE – Você considera seguras as avaliações clínicas da morte encefálica?
Souza – Sim, se forem realizadas de acordo com a Resolução CFM 1.408/97, que tem como base critérios científicos, os quais definem o que é parada total e irreversível das funções encefálicas, principalmente do tronco encefálico, cuja destruição leva à separação da alma do corpo físico.
FE – Como o coração ainda bate, haveria, de alguma forma, repercussão negativa sobre o doador, no momento do transplante? Se houver, há meios espirituais de contorná-la?
Souza – Sim, dependendo da situação evolutiva do ser espiritual e quando a retirada do órgão é feita contra a sua vontade. Nesses casos, os efeitos negativos podem ser atenuados, pelos benfeitores espirituais, por meio do magnetismo curativo, dos esclarecimentos do espírito a respeito dos benefícios do ato de doação e também pelas preces de agradecimento feitas pelos receptores dos órgãos.
FE – Você conhece casos da literatura mediúnica espírita que traz a descrição feita pelo espírito doador sobre o transplante efetuado?
Souza – Sim, uma mensagem de Roberto Igor Porto da Silva, sobre a doação do seu coração para transplante, e outra de Wladimir César Ranieri, referente à doação de suas córneas, ambas psicografadas por Chico Xavier e publicadas na Folha
Espírita de fevereiro de 1998. Eles relatam que, apesar de a doação ter sido involuntária, foram beneficiados com o ato e fariam tudo novamente.
FE – O doador deve ser anestesiado na cirurgia de retirada do coração ou de outro órgão?
Souza – É um tema delicado e depende de cada caso. Sob a visão espírita, após a morte orgânica, mesmo com diagnóstico correto de morte encefálica, a separação da alma não é brusca e a desencarnação depende das disposições psíquicas e emocionais do espírito, cujo tempo de desligamento do corpo físico é variável, diferindo em tempo, natureza e circunstância. Principalmente se a morte for violenta, modo no qual se enquadra a maioria dos doadores. Nesse caso, o doador deve ser anestesiado a fim de bloquear os efeitos da desagregação da matéria, que repercutiriam no espírito. Por outro lado, em situações de rápido desenlace, não há necessidade de anestesia, pois o espírito já partiu e a matéria sozinha nada sente. Sob a visão médica, recomenda-se a manutenção dos sinais vitais e, se for recomendada anestesia, é porque existem dúvidas quanto ao diagnóstico de morte encefálica e, portanto, não deveriam ser retirados os órgãos.
FE – Que existe de real quanto à repercussão dos hábitos do doador no transplantado?
Souza – Existem muitas teorias que tentam explicar o fenômeno da “memória celular” registrado nesses casos, o que necessita de mais estudos. Mesmo considerando que, inicialmente, os órgãos do doador estejam impregnados de sentimentos, uma vez que ele é transplantado, automaticamente, passa a receber a influência dos moldes perispirituais do receptor e a obedecer ao novo comando mental. Uma influência psicológica e comportamental do doador só é possível quando o receptor mantém sintonia mental na mesma faixa vibratória do doador, por diversas causas, e capta informações por meio de uma conexão não-local, podendo até
desenvolver um processo obsessivo.
FE – Qual o futuro dos transplantes?
Souza – Muito promissor, principalmente pelas descobertas de medicamentos (Bortezomib) e desenvolvimento de novas técnicas (como no transplante de traqueia), que diminuem ou eliminam a rejeição, reduzindo a necessidade do uso de imunossupressores. Também pelo maior esclarecimento da população, que vem aumentando a oferta de órgãos e possibilitando a dilatação da existência e a diminuição do sofrimento daqueles que merecerem continuar encarnados e souberem aproveitar, por meio da renovação moral, a nova oportunidade concedida pela bondade divina.
Maio de 2009 - Edição número 417
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