Percepções, sensações e sofrimentos dos espíritos
No mundo espiritual o espírito age com maior liberdade, conservando as percepções que tinha quando encarnado, e tendo outras que o corpo físico não lhe permite. Não queremos dizer com isso que o espírito, pelo simples facto de passar para o mundo espiritual, sofra profundas transformações no seu modo de ser e de agir, mas apenas que o corpo físico actua como um véu e limita as suas possibilidades.
Em relação ao conhecimento, ele é proporcional ao nível de evolução de cada um. Os espíritos inferiores não sabem mais do que os homens. A ideia que fazem do princípio das coisas, do passado e do futuro, varia de acordo com o grau de elevação de cada espírito. O mesmo ocorre em relação à compreensão de Deus: «Os espíritos superiores vêem-no e compreendem-no; os espíritos inferiores sentem-no e adivinham-no».
A vista dos espíritos não é circunscrita, como nos seres corpóreos, constituindo-se numa faculdade geral. Aqueles que, todavia, ainda se encontram presos mentalmente aos quadros da vida material, continuarão a ter limitadas as suas percepções visuais, como se ainda estivessem no plano físico.
«Todas as percepções são atributos do espírito, e fazem parte do seu ser. Quando ele se reveste de um corpo material, elas manifestam-se pelos meios orgânicos; mas no estado de liberdade já não estão localizadas».
Em relação à música e às belezas naturais, prevalece ainda a posição evolutiva do espírito na apreciação das mesmas. Esclarecem-nos os espíritos que a música celeste não pode ser comparada à nossa música.
Comunicando-se connosco, alguns espíritos dizem sentir fadiga, necessidade de repouso, frio ou calor.
Nas questões n.º 254 e 255 de «O Livro dos Espíritos» encontramos a explicação:
«Não podem sentir fadiga como a entendeis, e portanto não necessitam do repouso corporal, pois não possuem órgãos, em que as forças tenham de ser restauradas. Mas o espírito repousa, no sentido de não permanecer numa actividade constante. Ele não age de maneira material porque a sua acção é toda intelectual, e o seu repouso é todo moral. Há momentos em que o seu pensamento diminui de actividade e não se dirige a um objecto determinado; este é um verdadeiro repouso, mas não se pode compará-lo ao do corpo. A espécie de fadiga que os espíritos podem provar está na razão da sua inferioridade, pois quanto mais se elevam de menos repouso necessitam».
Em relação às sensações de frio ou calor o que existe é «a lembrança do que sofreram durante a vida, e algumas vezes tão penosa como a própria realidade. Frequentemente, é uma comparação que fazem, para exprimirem a sua situação. Quando se lembram do corpo experimentam uma espécie de impressão, como quando se tira uma capa e algum tempo depois ainda se pensa estar com ela».
Na questão n.º 257 de «O Livro dos Espíritos» Allan Kardec apresenta um «ensaio teórico sobre a sensação nos espíritos». Recomendando a consulta do estudo aludido, transcrevemos aqui um trecho do mesmo, que julgamos importante para resumir o que atrás já foi dito: «Vemos, pois, as deduções que podemos tirar dos factos, quando atentamente observados. Durante a vida, o corpo recebe as impressões exteriores e transmite-as ao espírito, por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que se costuma chamar fluido nervoso. O corpo, estando morto, não sente mais nada, porque não possui espírito nem perispírito. O espírito, desligado do corpo, experimenta a sensação, mas como esta não lhe chega por um canal limitado torna-se geral. Como o perispírito é apenas um agente de transmissão, pois é o espírito que possui a consciência, deduz-se que se pudesse existir perispírito sem espírito ele não sentiria mais do que um corpo morto. Da mesma maneira, se um espírito não tivesse perispírito seria inacessível a todas as sensações penosas: é o que acontece com os espíritos completamente purificados. Sabemos que quanto mais o espírito se purifica mais eterizada se torna a essência do perispírito, de maneira que a influência material diminui à medida que o espírito progride, ou seja, à medida que o perispírito se torna menos grosseiro».
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