O poder da resignação
Virtude esquecida e pouco trabalhada, a resignação é a base para nossa paz com Deus.
Ensina-nos o benfeitor espiritual Lázaro, em “O Evangelho segundo o Espiritismo” (Cap. IX, item 8), que: “a obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração.”
Sobre essa virtude, o benfeitor espiritual André Luiz, em seu livro “Agenda cristã”, ensina que “a rocha garante a vida no vale por resignar-se à solidão” e que “a resignação tem o poder de amenizar o impacto causado pelo sofrimento.”
Resignação não é o mesmo que conformismo. Enquanto o conformista se acomoda às circunstâncias, seja por preguiça, indolência, orgulho ou, até mesmo, por ignorância, o resignado procura se adequar sempre aos desígnios divinos e às lições de Jesus, sem deixar de se melhorar, melhorando a vida em torno de si e daqueles com quem vive.
Os que vivem revoltados ou indignados contra tudo e contra todos, acabam por se tornar antipáticos aos outros, além de correr o risco de prejudicar a própria saúde, física e mental.
Já os submissos a Deus, confiantes na bondade e na misericórdia divina, acabam por conquistar a simpatia e a admiração dos outros, tornando-se, eles mesmos, exemplos dessa virtude. Ser resignado é estar em paz com Deus e estamos em paz com Ele quando nos submetemos, confiantes, aos Seus desígnios. Mas a resignação não é possível sem uma fé sólida e esclarecida. Quanto mais robusta a fé, maior o sentimento da resignação. Essa é uma das muitas contribuições da Doutrina Espírita. Além de esclarecer consolando e consolar esclarecendo, ela nos ensina a voltar os olhos para o futuro, acalentando-nos com as bênçãos da esperança na vida futura – a vida espiritual – nossa herança divina. É o que nos ensina o Espírito Emmanuel, no livro “Benção de paz”, (Cap. 51):
“Falta-nos reconhecer – mas reconhecer claramente – que Deus está em nós, conosco, junto de nós, ao redor de nós e que, por isso mesmo, é imperioso, de nossa parte, aceitar as lições difíceis, mas sempre abençoadas do sofrimento, nas quais, a pouco e pouco, obteremos a coragem suprema da fé invencível.”
Allan Kardec, em suas obras, nos legou preciosas orientações em torno da resignação, inclusive no sentido de rogarmos aos Bons Espíritos o auxílio necessário para a conquista dessa virtude. No Cap. V, item 13, de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, em suas considerações sobre os motivos para a resignação, ele afirma:
“O resultado da maneira espiritual de encarar a vida é a diminuição de importância das coisas mundanas, a moderação dos desejos humanos, fazendo o homem contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, e sentir menos os seus revezes e decepções. Ele adquire, assim, uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo como à da alma.”
No capítulo dedicado às preces, Kardec incluiu três sugestões de rogativas para solicitarmos, aos Bons Espíritos, a benção da resignação nas situações aflitivas da vida, (Cap. XXVIII, itens 30-33), esclarecendo que:
“Em todos os casos, devemos submeter-nos à vontade de Deus, suportar corajosamente as atribulações da vida, se quisermos que elas nos sejam contadas e que se apliquem sobre nós estas palavras do Cristo: Bem-aventurados os que sofrem.”
Com a revolta diante das aflições da vida, não alcançaremos a vitória espiritual sobre nós mesmos, correndo o risco de termos que repetir essas experiências, talvez em condições mais difíceis, em futuras existências. Porém, com a resignação, nossas dores serão como os primeiros avisos de que nossa alegria espiritual está a caminho.
Considerando que tudo se resume numa única palavra – aceitação – Emmanuel conclui seus comentários sobre a resignação, na mesma lição citada: “Devemos “confiar em Deus nos de céu azul, mas igualmente confiar em Sua Divina Providência nas horas da tempestade. Acolher a dor como sendo a preparação da alegria. Atravessar a provação, entesourando experiência. Observar as leis da vida e acatá-las, compreendendo que a dificuldade é instrução imprescindível.”
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