PREDIÇÕES REFERENTES AO NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA
Partindo do pressuposto de que o povo hebreu sabia e esperava o advento do Messias e que Elias haveria de precedê-lo, e se o próprio Jesus esclareceu que João era Elias reencarnado, é fácil compreender que da reencarnação até a desencarnação de João Batista, a vida deste valoroso precursor foi marcada por acontecimentos de grande importância para nós cristãos. O primeiro a ser destacado é o anúncio do seu nascimento, feito por um Anjo do Senhor a Zacarias, durante o ato sagrado da queima do incenso, no santuário, quando este exercia diante de Deus, o sacerdócio na ordem de seu turno. Este costume era acompanhado por uma multidão de pessoas que permanecia do lado de fora, orando. Durante este procedimento, o Anjo apareceu-lhe, em pé, à direita do altar, e revelou-lhe que, em atendimento às suas preces, a sua esposa Isabel, daria à luz uma criança a quem chamariam João. Ele seria grande diante do Senhor; não beberia vinho nem bebida forte e seria cheio do Espírito Santo, desde o ventre materno. Este espírito seria para o casal motivo de prazer e alegria e de regozijo para muitos filhos de Israel, que se converteriam ao Senhor Deus.Adiante dele irá no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, dos desobedientes à prudência dos justos e habilitaria para o Senhor um povo preparado. Diante da divina revelação, Zacarias pondera sobre o advento, uma vez que ele já estava avançado em idade e sua esposa estéril. O Anjo, então, mediante a incerteza de Zacarias, quanto às suas palavras, ordenou a sua mudez até o dia em que todas essas coisas se cumprissem.
Antes de prosseguirmos com outros acontecimentos, julgamos oportuno salientar alguns aspectos dessa passagem.
Inicialmente, o aspecto a ser contemplado é o acontecido no santuário. O evangelista Lucas relata em sua narrativa a presença do Anjo, em pé, à direita do altar. Nesta assertiva, chamou-nos à atenção, o porquê do “em pé” e “à direita do altar”. A referência ao “em pé”, o que não aconteceu quando do aviso do mesmo anjo à Maria, mãe de Jesus, acreditamos ser a representação da regidez de caráter, da solidez das atitudes frente aos desafios que iria enfrentar. Um Espírito que, embora ainda estando preso a terra, iria falar das coisas do céu – dos nascidos de mulher nenhum é maior do que João Batista, porém é o menor no Reino dos Céus - aquele que vem preparar o caminho, tanto material , como espiritual para a chegada do Messias.
O outro detalhe à “direita do altar”. O altar, na concepção de muitos, é tido como um lugar sagrado, onde, normalmente, encontram-se objetos que lembrem purificação e pode ser lido que quem está dando a Boa Nova é um espírito que assiste à direita do Pai, com todo conhecimento, sabedoria e autoridade para dar a notícia, pois tem todos os atributos de um espírito puro.
“Não beberia vinho nem bebida forte”. Para esta assertiva, podemos levantar duas hipóteses: a primeira é que o Anjo não teria nenhum motivo para a proibição do uso do vinho, uma vez que o próprio Jesus transformou água em vinho, nas Bodas de Canã e em nenhuma passagem dos Evangelhos encontramos uma proibição explícita do Mestre para o uso, sem excesso, dessa bebida, mesmo porque na última ceia todos os discípulos tomaram vinho e comeram o pão repartido pelo próprio Salvador.
Portanto, para essa afirmativa, cabe uma outra leitura. Nós preferimos ler essa assertiva como sendo um processo de depuração da alma, de desapego às coisas terrenas e demonstrar a diferença evolutiva desse Espírito. Expliquemos: na época de Jesus o vinho, principalmente, era complemento da alimentação do povo, pois o cultivo da uva era comum naquela região – basta analisarmos as referências às videiras feitas por Jesus em suas parábolas. Outro aspecto é que a água era o símbolo da pureza para os judeus, tanto é que João batizava com água e Jesus também faz referência a essa mesma água no diálogo com Nicodemos, na limpeza das mãos para o alimento e para a Mulher samaritana. A água é alimento natural, já vem pronto, enquanto que o vinho é fruto de transformação pelo trabalho. Da uva, natural, faz-se o vinho. Sendo, porém, o vinho algo transformado pelo trabalho, cabe, assim, lermos a assertiva de que somente os que não estão pronto são os que precisam do trabalho de transformação, sendo que João Batista já estava pronto, portanto, não haveria necessidade do processo de transformação, não precisava beber vinho, como foi solicitado aos apóstolos durante a santa ceia, bebendo o vinho da aliança, ou seja, daquele momento em diante, eles deveriam transforma-se de pescadores de peixes para pescadores de alma, estariam isento das coisas do mundo, estariam se preparando para as coisas do céu. A outra hipótese, a mais comum entre os estudiosos do Precursor, é colocá-lo como Nazireu, uma vez que seu pai Zacarias, sendo um sacerdote do templo tinha pleno conhecimento de que o povo judeu encarava um nazarita vitalício como uma personalidade santificada e sagrada e tinha por eles quase o mesmo respeito e a veneração que a dedicada ao sumo sacerdote, pois eram os únicos, além dos altos sacerdotes, a quem eram permitidos entrar no local santo de um templo. E para que João ganhasse a fama de profeta como ganhou, era necessário que tivesse essa identificação para o povo.
Para a expressão “seria cheio do espírito santo, desde o ventre materno”, devemos compreender que por espírito santo são designados os Espíritos superiores a quem o Livro dos Espíritos os caracterizam como aqueles que “reúnem em si a ciência, a sabedoria e a bondade. Da linguagem que empregam se exala sempre a benevolência; é uma linguagem invariavelmente digna, elevada e, muitas vezes, sublime. Sua superioridade os torna mais aptos do que os outros a nos darem noções exatas sobre as coisas do mundo corpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber. Comunicam-se complacentemente com os que procuram de boa fé a verdade e cuja alma já está bastante desprendida das ligações terrenas para compreendê-la. Afastam-se, porém, daqueles a quem só a curiosidade impele, ou que, por influência da matéria, fogem à prática do bem.”
Portanto são aqueles que trazem as faculdades mediúnicas desenvolvidas e tem contato quase que contínuo com as esferas superiores, a fim de receber orientações e esclarecimentos na execução das atividades que deveriam desenvolver. Por isso, para um espírito que tinha como missão a difícil tarefa de abrir as veredas daqueles caminhos secos e tortuosos da Palestina e dos corações endurecidos pelo egoísmo e vaidade daquele povo, deveria estar sempre sintonizado com os espíritos puros, no intuito de manter-se equilibrado moral e intelectualmente para a tarefa, como é o caso de João Batista.
A profecia de que João seria “regozijo para muitos filhos de Israel que se converteriam ao Senhor Deus. Adiante dele irá no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, dos desobedientes à prudência dos justos e habilitaria para o Senhor um povo preparado”, remete-nos ordinariamente à profecia de Malaquias 3.22-24 “Lembrem-se da lei do meu servo Moisés, que eu mesmo lhe dei no monte Horeb, estatutos e normas para todo o Israel. Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível dia de Javé. Ele há de fazer que o coração dos pais voltem para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total.”
Obs.: em algumas traduções bíblicas essa passagem é citada como Ml 4.4-6;
Esta profecia ratifica o antes exposto de que o povo judeu tinha pleno conhecimento do advento do Messias e de que Elias o antecederia. Se compararmos as duas profecias, fatalmente concluiremos que as informações são as mesmas, o que muda, portanto, é a variante lingüística com que as duas foram elaboradas. Ambas falam do advento do precursor para abrir as veredas para o Messias. Malaquias, em sua profecia, explicita claramente que esse precursor, que abriria os caminhos para o Mestre, seria Elias. Na profecia do anjo Gabriel, ele diz que adiante dele irá no espírito e poder de Elias. Para esta variante cabem algumas considerações: a primeira é que João Batista não era Elias, embora o espírito fosse o mesmo, pois o espírito encarnado como Elias estava em um patamar evolutivo, já o espírito que anima João Batista, a centenas de anos depois, já havia evoluindo, pois um espírito dessa envergadura nunca ficaria estacionado. Isto é prova inequívoca da reencarnação “A alma passa, então, por muitas existências corporais? – Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse é o desejo deles. Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado o corpo, toma outro, ou então, que reencarna em um novo corpo. É assim que se deve entender? – Evidentemente.” Estes desdobramentos da pergunta 166 de “O Livro dos Espíritos” ratificam nosso ponto de vista.
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