Estudando o Espiritismo

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sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Parábola do Mau Rico

 

Sérgio Biagi Gregório


SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Por que Jesus falava por Parábolas. 4. a anotação de Lucas: 4.1. O texto evangélico; 4.2. Sintetizando o texto evangélico. 5. Analisando o conteúdo doutrinário da Parábola: 5.1. A prova da riqueza é mais difícil do que a da pobreza; 5.2. O desencarne mostra a verdade das coisas; 5.3. As barreiras da comunicação são morais; 5.4. O seio de Abraão simboliza a Providência Divina. 6. Por que uns são ricos e outros pobres: 6.1. Problema insolúvel; 6.2. O princípio da Reencarnação no dá uma pista; 6.3. Orientação espírita: o desprendimento dos bens terrenos. 7. Conclusão. 8. Bibliografia.


1. INTRODUÇÃO


O objetivo deste estudo é mostrar que toda colheita depende da plantação. Assim, daremos uma idéia do que seja parábola, enunciaremos o texto evangélico, analisaremos os seus termos principais e, por fim, colocaremos em questão o problema da riqueza.


2. CONCEITO


Parábola - do gr. parabole significa narrativa curta, não raro identificada com o apólogo e a fábula, em razão da moral, explícita ou implícita, que encerra e da sua estrutura diamétrica. Distingue-se das outras duas formas literárias pelo fato de ser protagonizada por seres humanos. Vizinha da alegoria, a parábola comunica uma lição ética por vias indiretas ou simbólicas: numa prosa altamente metafórica e hermética, veicula um saber apenas acessível aos iniciados.


Sinteticamente: narração alegórica na qual o conjunto dos elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior.


Mau – Que causa prejuízo. Contrário à razão, à justiça, ao dever, à virtude.


Rico –  Que possui muitos bens ou coisas de valor; que tem riquezas.


3. POR QUE JESUS FALAVA POR PARÁBOLAS


Na época em que Jesus esteve encarnado, ele se valia das parábolas para divulgar os seus conhecimentos evangélicos. 


As parábolas – didática utilizada para transmitir instruções da época – eram estórias geralmente extraídas da vida cotidiana, como por exemplo, o semeador que saiu a semear, a ovelha desgarrada que deve ser capturada, a dracma que deve ser procurada, que tinham por objetivo passar de um conhecimento concreto para um conhecimento abstrato, de fundo moral, de alcance espiritual.


4. A ANOTAÇÃO DE LUCAS


4.1. O TEXTO EVANGÉLICO


“Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e de Holanda, e que todos os dias se banqueteava esplendidamente. Havia também um pobre mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à sua porta, e que desejava fartar-se das migalhas que caiam da mesa do rico, mas ninguém lhas dava; e os cães vinham lamber-lhes as úlceras. Ora sucedeu morrer este mendigo, que foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. E morreu também o rico, e foi sepultado no inferno. E quando ele estava nos tormentos, levantando os olhos, viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio. E gritando ele, disse: Pai Abraão, compadece-te de mim, e manda cá Lázaro, para que molhe em água a ponta do seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou atormentado nesta chama. E Abraão lhe respondeu: Filho, lembra-te de que recebeste os bens em tua vida, e de que Lázaro não teve senão males; por isso está ele agora consolado, e tu em tormentos. E demais, e que entre nós e vós está firmado um grande abismo, de maneira os que os que querem passar daqui para vós não podem, nem os de lá passar para cá. E disse o rico: pois eu te rogo, Pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho, e não suceda eles também venham parar a este lugar de tormentos. E Abraão lhe disse: eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Disse pois o rico: não, pai Abraão, mas se for a ele alguns dos mortos, hão de fazer penitência. Abraão, porém, lhe respondeu: se eles não dão ouvidos a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que seja ressuscite algum dos mortos.” (Lucas, cap. XVI, 19,31.)   


4.2. SINTETIZANDO O TEXTO EVANGÉLICO


Havia um rico (mau) e um pobre (Lázaro), que ficava à porta do rico. O rico não distribuía ao Lázaro nenhuma das migalhas que lhe sobravam.  


Passou-se o tempo: Lázaro desencarna; o rico também.


No mundo espiritual, Lázaro foi acolhido no seio de Abraão; o rico foi para o Hades (Inferno).


O rico pedia para Lázaro molhar a sua língua. Abraão diz ser impossível, pois há uma barreira entre ambos. Tenta outro pedido: manda o Lázaro ir lá na Terra avisar os meus familiares sobre esses tormentos. Abraão fala que eles já têm Moisés e os profetas.


5. ANALISANDO O CONTEÚDO DOUTRINÁRIO DA PARÁBOLA


5.1. A PROVA DA RIQUEZA É MAIS DIFÍCIL DO QUE A DA POBREZA


Esta parábola põe em evidência os dois extremos da condição humana: a pobreza e a riqueza. O rico simboliza as pessoas apegadas à matéria, ao egoísmo; o pobre, os desprovidos de bens materiais, os sofredores.


O rico, por estar mais próximo dos bens materiais, teve um esquecimento temporário dos benefícios que devia prestar ao seu próximo. Não passou pela provação que lhe foi  requerida. O pobre, por não ser vítima das facilidades do dinheiro, pode suportar a contento a sua prova.


5.2. O DESENCARNE MOSTRA A VERDADE DAS COISAS


Na Terra, os pobres convivem com os ricos. Um está próximo do outro. Passando para a outra dimensão da vida, cada qual vai para aonde o peso específico do seu perispírito o enviar.


Lázaro foi admitido no seio de Abrão; o rico foi para o Hades (inferno). Quer dizer, Lázaro recebeu a recompensa pelo seu sofrimento, por sua humildade, por viver uma existência sem nada gozar. O rico, pelo contrário, já tinha recebido a sua recompensa na Terra, pois usufruíra os bens materiais.


5.3. AS BARREIRAS DA COMUNICAÇÃO SÃO MORAIS


O abismo entre o Lázaro e o rico não é físico, mas moral. No mundo dos Espíritos, há ordem e organização, ou seja, não nos é facultado freqüentar qualquer ambiente, quando as nossas vibrações menos elevadas possam atrapalhar o trabalho de almas mais evoluídas. Por isso, Abraão nega a presença de Lázaro, junto do rico.


Não podendo receber o auxílio de Lázaro, o o rico pede a Abrão que mande Lázaro descer na terra e avisar os seus familiares sobre o teor de seus sofrimentos. Abraão nega mais uma vez o seu pedido. Responde: eles já têm Moisés e os profetas.


5.4. O SEIO DE ABRAÃO SIMBOLIZA A PROVIDÊNCIA DIVINA


Abraão, patriarca bíblico vindo da Mesopotâmia para as terras de Canaã, no reino de Hamurabi, por volta de 1850 a.C. De acordo com a tradição bíblica, Deus o havia retirado de uma região politeísta, a fim de fazê-lo guardião da revelação e do culto monoteísta.


Abraão simboliza o homem escolhido por Deus para preservar o sagrado repositório da fé; o homem abençoado por Deus que lhe prodiga as promessas de numerosas descendências e imensas riquezas. É pai da multidão, o homem de fé.


6. POR QUE UNS SÃO RICOS E OUTROS POBRES


6.1. PROBLEMA INSOLÚVEL


Cientistas sociais do mundo inteiro têm se preocupado com esse problema, mas sem solução adequada. Paul Samuelson, em 1976, disse: “Nenhum esclarecimento foi oferecido até hoje para explicar porque os países pobres são pobres e os países ricos são ricos”.


Qual o tamanho do abismo entre ricos e pobres? A diferença em termos de renda per capita entre a mais rica nação industrial, a Suíça, e o mais pobre país não-industrial, Moçambique, é de cerca de 400 para 1. Há 250 anos, esse hiato entre o mais rico e o mais pobre era aproximadamente de 5 para 1.


Tenta-se formular hipóteses que envolvam a inteligência, a educação, os recursos naturais, a posição geográfica etc. O que é válido para um país é refutado em outros países.


6.2. O PRINCÍPIO DA REENCARNAÇÃO NOS DÁ UMA PISTA


De acordo com os princípios doutrinários, mesmo que se distribuísse a riqueza eqüitativamente, logo ela estaria desigual, porque uns saberiam empregá-la melhor que outros. Os mais talentosos frutificá-la-iam, como é expresso na Parábola dos Talentos. Os temerosos deixá-la-iam enferrujar em suas mãos.


O Espiritismo nos mostra também que o Espírito, ao reencarnar, pode escolher a prova da riqueza ou da pobreza. Muitas vezes esta ou aquela provação é sugerida pelos benfeitores espirituais, em função do que o Espírito fez numa reencarnação passada. Nesse sentido, a pobreza é uma prova em que o Espírito iria se conscientizar do que é a falta do necessário para o provento da vida.


6.3. ORIENTAÇÃO ESPÍRITA: O DESPRENDIMENTO DOS BENS TERRENOS.


Se todos nos colocássemos como usufrutuários dos bens materiais, teríamos uma vida mais tranqüila, e não invejaríamos a riqueza do próximo, pois cada ser humano está colocado no devido lugar e circunstância para a sua evolução espiritual.


Refletindo sobre os ensinamentos espíritas, tomaríamos consciência de que tanto a inteligência quanto o dinheiro e o poder foram colocados em nossas mãos para desenvolver as inteligências menos evoluídas. Isso não deve ser um galardão para as nossas funções, mas uma oportunidade de praticar a lei ensinada por Deus a todos os seus filhos.


O desapego, porém, não é dar tudo o que temos, mas saber ter sem se prender ao que se tem. É estar no mundo sem ser do mundo, ou seja, estar pronto para perder tudo o que temos sem nos inquietarmos com isso.


7. CONCLUSÃO


Na pobreza exercitemos a paciência; na riqueza, a humildade. Procedendo desta maneira, conquistaremos a verdadeira propriedade, aquela que nenhum ladrão nos roubará, porque representará um patrimônio inalienável de nossas conquistas interiores.


8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


XAVIER, F. C. Escrínio de Luz, pelo Espírito Emmanuel. Matão: O Clarim, 1973, p. 127.

VINICIUS. Nas Pegadas do Mestre. 5. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1979, p. 155-157.

CALLIGARIS, R. Parábolas Evangélicas à Luz do Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 1963.

XAVIER, F. C. Lázaro Redivivo, pelo Espírito Irmão X. 6. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1978, cap. 16.

XAVIER, F. C. Pontos e Contos, pelo Espírito Irmão X. 4. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1978, cap. 28.

MOISÉS, M. Dicionário de Termos  Literários.  5. ed.  São Paulo: Cultrix, 1979.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984, cap. XVI.

SCHUTEL, C. Parábolas e Ensinos de Jesus. 11.ed., Matão: O Clarim, 1979, p. 104-114. 


São Paulo, maio de 2005 

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