Referências da Queda na Doutrina Espírita
Referências da Queda na Codificação Espírita e na obra de Chico Xavier
E o Espírito deve agora resgatar o homem da matéria.
Lázaro (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI)
Texto de autoria de Gilson Freire, extraindo e adaptado do Posfácio do livro Tabernáculo Eterno
O estudioso sincero do Espiritismo, ao entrar em contato com a extraordinária revelação de Pietro Ubaldi, sobretudo aquela contida na obra Deus e Universo e que nos traz a notícia de nossa Queda espiritual, pergunta-se, e com razão, se essa estupenda e indispensável proposição não contradiz formalmente o que aprendemos das fundamentais lições kardequianas. Assustado e indeciso, a primeira intenção do leitor espírita é de abandonar Ubaldi, julgando que essa aparentemente nova informação abala os basilares ensinos dos Espíritos.
Neste pequeno estudo procuremos demonstrar que a noção da Queda, além de ser a essência do Evangelho de Jesus, está presente tanto nas obras básicas da codificação quanto na literatura espírita moderna, sobretudo aquela que herdamos da maravilhosa mediunidade de Chico Xavier.
Para aqueles que se encontram receosos de impugnar as bases do Espiritismo adentrando esses aparentemente novos conceitos, apressamo-nos a citar Carlos Torres Pastorino, autor espírita altamente conceituado e tradutor de várias obras de Pietro Ubaldi, que nos afiançou categoricamente: “Para quem lê Kardec superficialmente, detendo-se nas palavras impressas, a teoria de Pietro Ubaldi pode parecer ‘herética’, mas aos que leem o mestre penetrando as entrelinhas das respostas dos Espíritos, tão sábias e profundas, nada lhes parece de contraditório”1.
Portanto, não é hora de deter-se em dúvidas destrutivas ou simplesmente abandonar a temática, pois a revelação espírita, como muito bem determinou o mestre de Lyon, não se estancou nos preciosos corolários estabelecidos em suas lições básicas. Estamos em evolução e participamos de uma revelação crescente que acompanha o nosso paulatino avanço, por isso o Codificador deixou-nos claro o conselho de acompanhar o inestancável andamento das revelações, ao exarar em A Gênese: “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”2.
Os espíritas mais conservadores poderão não estar de acordo com essa posição inovadora, julgando que as bases do Espiritismo, por trazerem verdades sagradas, são inamovíveis, não carecendo absolutamente de complemento algum. Certamente os seus preceitos fundamentais não estão eivados de equívocos. Destarte, seria uma imensa pretensão considerar que, ao serem lançados, eles albergassem toda a extensão da verdade e contivessem o máximo saber possível ao ser humano em todos os tempos. Tal postura misoneísta dificulta o avanço da revelação espírita, o que não condiz com a intenção progressista de seu Codificador.
Ora, muitos conceitos lançados por Kardec estavam atrelados aos conhecimentos de sua época e requerem uma revisão, fato que, em absoluto, nada reduz do imenso valor de sua obra. Além disso, embora se pudesse esperar das magnas entidades que a ditaram a mais absoluta fidelidade à verdade, as mentes dos médiuns que captavam os seus elevados pensamentos filtravam toda informação que lhes parecesse por demais desconhecida e contraditória à lógica que os servia, no tempo em que viviam na Terra. Daí a necessidade de se renovar permanentemente o nosso acervo de conhecimentos, coisa em que o mundo espiritual se esmera, enviando-nos a cada tempo novas e paulatinas parcelas da verdade, cuja completude, evidentemente, não podemos açambarcar de uma só vez. Esse é um fato verificável em todas as revelações e a doutrina espírita não pôde evadir-se dele, pois é lei natural da evolução do homem. E os Espíritos deixaram claro que a revelação a nós ofertada não estava concluída, ao afirmarem na questão 18 de O Livro dos Espíritos: “O véu se levanta a seus olhos à medida que o homem se depura; mas, para compreender certas coisas, são-lhe precisas faculdades que ele ainda não possui”. Na questão 182, completaram: “Nós, os Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos achais”.
Ademais, os próprios espíritos estão igualmente em evolução e não atingiram, evidentemente, o ápice do saber. Assim, é compreensível que seus conhecimentos, da mesma forma que os dos encarnados, achem-se sujeitos a avanços ao longo dos anos. Por isso o espírito Galileu, em A Gênese, de Kardec, afirma com sinceridade, demonstrando o caráter evolutivo da revelação espírita: “Há questões que nós mesmos, espíritos amantes da ciência, não podemos aprofundar e sobre as quais não poderemos emitir senão opiniões pessoais, mais ou menos hipotéticas”.
Assim, é compreensível que, a despeito das fantásticas luzes que a ciência espírita proporcionou-nos, não podemos nos gabar de haver respondido com elas a todas as questões que nos premem a alma, tendo em vista que, evidentemente, não atingimos o conhecimento absoluto. E pretender caminhar sempre não pode ser um erro, pois é o próprio Espiritismo, doutrina progressista por excelência, que nos concita a seguir adiante, sem jamais nos deter.
Kardec, o bom senso encarnado, indicou-nos em sua obra vários pontos dúbios a espera de futuros esclarecimentos. Como exemplo, citamos o item 21, cap. III, de A Gênese, no qual o codificador, um ano antes de desencarnar, declara com sinceridade ignorar as razões dos embates de vida e morte presentes na natureza: “Por meio do incessante espetáculo da destruição, ensina Deus aos homens o pouco caso que devem fazer do envoltório material e lhes suscita a ideia da vida espiritual, fazendo que a desejem como uma compensação. Objetar-se-á: não podia Deus chegar ao mesmo resultado por outros meios, sem constranger os seres vivos a se entredestruírem? Desde que na sua obra tudo é sabedoria, devemos supor que esta não existirá mais num ponto do que noutros; se não o compreendemos assim, devemos atribuí-lo à nossa falta de adiantamento. Contudo, podemos tentar a pesquisa da razão do que nos pareça defeituoso, tomando por bússola este princípio: Deus há de ser infinitamente justo e sábio. Procuremos, portanto, em tudo, a sua justiça e a sua sabedoria e curvemo-nos diante do que ultrapasse o nosso entendimento”.
Bezerra de Menezes, o chamado “Kardec brasileiro”, igualmente compreendeu que a doutrina espírita estava fadada a evoluir, escrevendo no jornal Gazeta de Notícias, edição de 6 de abril de 1897: “Enquanto o homem não chegar ao último grau da perfeição intelectual, de penetrar todas as leis da criação, a revelação não chegará a seu termo; pois ela é progressivamente mais ampla, na medida do desenvolvimento da faculdade compreensiva do homem. O Espiritismo, pois, tendo dado mais do que as anteriores revelações, muito terá ainda que dar, porque muito terá que progredir a humanidade terrestre”.
Então é hora de darmos um passo mais, absorvendo as novas preleções que o próprio plano espiritual envia-nos, desde que atendam à nossa necessidade de lógica e se mostrem coerentes com as nossas verdades fundamentais. Eis por que julgamos que a revelação de Pietro Ubaldi sobre nossa Queda espiritual fazem-se indispensáveis ao nosso amadurecimento espiritual. E sabemos que esse emérito enviado do Cristo cuidou de ofertar o seu trabalho não só à nação brasileira, mas, sobretudo, ao Espiritismo, onde se acomodam as mentes mais maduras e prontas para compreendê-lo e albergá-lo, em proveito de nossa mais rápida aproximação das esferas crísticas.
Aceitando a nova revelação que nos foi trazida por Ubaldi, sobretudo na obra Deus e Universo, o leitor sincero ainda estará se perguntando: por que então essa essencial informação não foi devidamente estabelecida nos alicerces doutrinários? E por que ela ressurge somente neste momento, em obras psicografadas por nosso intermédio (Tabernáculo Eterno e Senda Redentora), um médium desconhecido e sem expressão no cenário espírita nacional, não tendo sida anunciada pelos nossos grandes e famosos medianeiros? À primeira pergunta, respondemos que tudo tem a sua hora para dar-se a conhecer, pois nenhuma verdade poderá ser absorvida sem que tenhamos desenvolvido condições de apreendê-la. Portanto, era preciso aguardar o nosso paulatino amadurecimento. Quanto à segunda questão, somente podemos afiançar que se fazia necessário um instrumento mediúnico que antes albergasse com ardor a noção da Queda, a fim de dar guarida às entidades que a desejam veicular em nosso mundo. Um intermediário que a priori rejeitasse essa ideia dificilmente a acomodaria em seu campo psíquico, dificultando assim o seu trâmite pelas delicadas correntes de pensamento. Apenas isso justifica o fato de ela vir à tona pelas nossas parcas condições, pois não detemos, absolutamente, nenhuma especial qualificação que nos distinga dos demais.
Se, para muitos, os conceitos desenvolvidos por Ubaldi parecem revolucionários e contrários aos fundamentos da codificação espírita, os mais atentos perceberão que apenas os completam e esclarecem, sem nada abalar em seus alicerces, como nos afirmou Carlos Pastorino, referindo-se aos equivalentes ensinamentos ofertados por Ubaldi. Além disso, é pertinente considerar que, se muitas são as opiniões dos homens, diversas também são as crenças dos espíritos, nada mais do que seres humanos despojados da veste física densa e igualmente sujeitos à diversidade de opiniões e conhecimentos. Portanto, nosso trabalho consiste unicamente em mostrar, aos estudiosos da Terceira Revelação, que as acepções que nos foram apresentadas Por Ubaldi fazem parte do acervo cultural de grandes comunidades de desencarnados, competindo-nos respeitar suas crenças, aceitando-as ou não segundo nos autorize a lógica que nos assiste. O que não nos convém, em absoluto, é fazer-nos juízes da verdade, limitando-a à nossa particular condição de apreendê-la.
Assim, pedimos apenas aos estudiosos que, com sinceridade, perpassem as revelações do místico da Úmbria pelo crivo da lógica, antes de simplesmente rejeitá-las, ajuizando se podem melhor nos explicar a complexidade fenomênica em que respiramos e, apressando os nossos passos na alçada evolutiva, tornar mais feliz e proveitosa a nossa vilegiatura carnal. E, sobretudo, procuremos constatar se as suas afirmações encontram-se perfeitamente aderidas ao Evangelho de Jesus, nossa única e inquestionável referência da verdade. Se assim for, então não haverá motivos para fazermos dessas novas acepções pretextos para dissensões e enfrentamentos ideológicos na arena dogmática da fé, pois interessa-nos apenas unir esforços em torno dos excelsos ensinos do Cristo e seguir juntos as pegadas do bem, rumo às supremas realizações espirituais do porvir.
Sabemos ainda que a verdade se estabelecerá segundo as determinações da Lei de Deus, a qual jamais será abalada pelas nossas irrisórias e momentâneas opiniões individuais. Portanto, não precisamos arvorar-nos na defesa dos preceitos aqui apresentados ou apoquentarmo-nos com os ataques que venham a sofrer, pois a vida cuidará do seu julgamento, validando-os efetivamente se forem indispensáveis à nossa caminhada evolutiva.
A despeito de seu tom de novidade, sabemos que a revelação de Ubaldi de nossa Queda espiritual não é novidade em nosso mundo. Um leitor atento poderá identificar essa informação fundamental na codificação espírita. Se o tema parece, para muitos, encontrar-se oculto na letra e inserido de uma forma subliminar, possivelmente o fato se explique pela falta de um substrato mediúnico capaz de identificá-lo com clareza na captação do pensamento dos guias espirituais. Perpassando, no entanto a vasta obra de Chico Xavier, poderemos denotar que o tema lá está devidamente inserido, e passou despercebido de nossas leituras iniciais por não determos ainda subsídios para apercebê-lo.
Contrapondo com algumas interpretações parciais da codificação que suscitam estarmos tão somente em um processo natural de crescimento evolutivo, podemos ver, sobretudo permeando a fantástica obra de Emmanuel, a clara imagem do homem terreno como a de um ser falido, lutando e sofrendo pela sua regeneração. Citemos alguns poucos exemplos, para não cansar o leitor: a questão 282 de O Consolador3 afirma-nos ser “o Velho Testamento, o alicerce da revelação divina” e, “o Evangelho, o edifício da redenção das almas”. E agrega o sábio mentor: “Como tal, deve ser procurada a lição de Jesus”. Ora, sabemos que os antigos ensinos enfeixados na tradição judaica representam um nítido retrato da Queda primordial do espírito. E somente podemos compreender a redenção como o ato de redimir ou salvar alguém de uma situação aflitiva ou perigosa. Portanto, Emmanuel concita-nos claramente a caracterizar os ensinos do Cristo como o roteiro da salvação, aferindo-se assim o seu significado original. Logo, deveríamos concordar que as lições do excelso Mestre não se destinam unicamente à nossa ascensão moral, mas, sobretudo, à reconquista de uma posição perdida. Afirmação que somente pode nos legar plena lógica se nos virmos como seres desviados do correto caminho, em decorrência de um significativo erro original.
Vejamos alguns outros trechos da referida obra, onde a derrocada do espírito está claramente estabelecida. Na questão 13, explicando-nos por que sofremos as necessidades da vida, Emmanuel diz-nos: “O oxigênio é uma dádiva de Deus para todas as criaturas; quanto ao azoto e ao carbono, é pela sua obtenção que o homem luta afanosamente na Terra, recordando-nos a exortação dos Textos Sagrados ao espírito que faliu — comerás o pão com o suor do teu rosto”4. Compreendemos aqui que a inferência ao “espírito que faliu” não pode ser entendida de outra forma a não ser pela Queda de origem. E a expiação que a vida na carne representa, com todas as dificuldades que impõe a todos os seres que evoluem, deixa de ser um regime de normalidade para o conjunto dos filhos de Deus, mas atributo somente aplicável àqueles que caíram.
A questão 116 de igual maneira afirma-nos: “Podemos figurar o homem terrestre como alguém a lutar para desfazer-se do seu próprio cadáver, que é o passado culposo, de modo a ascender para a vida e para a luz que residem em Deus”. E a 243: “Todos os espíritos que estão em processos reencarnatórios no orbe terrestre estão em processo de resgate de quedas do passado” — ainda que consideremos que a magna entidade se refira somente aos espíritos racionais, os homens, dotados de livre-arbítrio, facilmente se constata que a totalidade dos seres em trânsito na Terra se acha em acerbas lutas evolutivas, pois, quanto mais involuído ele é, maiores são as suas dificuldades. Assim, absolutamente todos, entregues aos atritos e dores evolutivas, vivenciam processos expiatórios, caracterizando-nos como um planeta de expiações na escala dos mundos, como muito bem aferiu a doutrina. Ora, se os animais irracionais e os povos primitivos estivessem progredindo a partir de uma condição de pureza, ignorância e simplicidade, não poderiam estar submetidos aos sofrimentos evolutivos e provacionais que imperam em nosso orbe. Portanto se torna mais lógico considerar que o mentor se refere a todas as almas que trafegam pelas plagas terrenas, inclusive os animais, uma vez que são também espíritos em evolução.
No item 135, o autor explica-nos, com clareza, que o mal se origina da liberdade de escolha do espírito e não de Deus: “O determinismo divino se constitui de uma só lei, que é a do amor para a comunidade universal. Todavia, confiando em si mesmo, mais do que em Deus, o homem transforma a sua fragilidade em foco de ações contrárias a essa mesma lei, efetuando, desse modo, uma intervenção indébita na harmonia divina. Eis o mal. Urge recompor os elos sagrados dessa harmonia sublime. Eis o resgate. Vede, pois, que o mal, essencialmente considerado, não pode existir para Deus, em virtude de representar um desvio do homem, sendo zero na sabedoria e na providência divinas. O Criador é sempre o Pai generoso e sábio, justo e amigo, considerando os filhos transviados como incursos em vastas experiências” — aqui Emmanuel nos fala, com nitidez, dos filhos transviados e do significado de resgate em que se converteram suas vidas. Poderíamos inferir que ele aludia somente aos espíritos que caíram depois de adquirir a razão, fato a partir do qual teriam passado a existir o mal e a dor. Destarte, não se pode olvidar, como já afirmamos, que tais indesejáveis contributos são presenças peremptórias em todos os departamentos da vida planetária, sendo tanto mais intensos quanto mais primitivo é o ser. Ora, se a Lei de Deus é somente amor, como justificar tal disparate senão pela teoria da Queda?
Na pergunta 205, a sábia entidade mostra-nos o seu elevado conceito de homem, apresentando-o como alguém a quem a Lei de Deus impõe limites em decorrência de sua inata rebeldia: “O homem comum é uma representação parcial do homem transcendente, que será reintegrado nas suas aquisições do passado, depois de haver cumprido a prova ou a missão exigidas pelas suas condições morais, no mecanismo da justiça divina. Aliás, a incapacidade intelectual do homem físico tem sua origem na sua própria situação, caracterizada pela necessidade de provas amargas. O cérebro humano é um aparelho frágil e deficiente, onde o espírito em queda tem de valorizar as suas realizações de trabalho. Imaginai a caixa craniana, onde se acomodam células microscópicas, inteiramente preocupadas com a sua sede de oxigênio, sem dispensarem por um milésimo de segundo a corrente do sangue que as irriga, a fragilidade dos filamentos que as reúnem, cujas conexões são de cem milésimos de milímetro, e tereis assim uma ideia exata da pobreza da máquina pensante de que dispõe o sábio da Terra para as suas orgulhosas deduções, verificando que, por sua condição de espírito caído na luta expiatória, tudo tende a demonstrar ao homem do mundo a sua posição de humildade, de modo que, em todas as condições, possa ele cultivar os valores legítimos do sentimento”.
Nessa elevada definição da condição humana, vemos o mentor referindo-se a proposições a respeito das quais unicamente a visão da grande falência espiritual pode nos facultar uma coerente interpretação. Utilizando-se de terminologia muito própria da Queda, como “homem parcial”, “homem transcendente” e a premência de “reintegração de aquisições do passado”, posiciona-nos como alguém que perdeu atributos e agora precisa reconquistá-los.
E como compreender a necessidade de submeter-nos a uma “carne frágil e deficiente”, embutidos em “uma pobre máquina pensante” que nos abafa o potencial de origem, senão considerar que degeneramos a pureza com a qual fomos gerados e empregamos mal as potências que Deus nos confiou ao nascer? Ora, um pai não imporia aos seus filhos essas graves limitações caso não se justificasse restringir-lhes o poder.
Da mesma forma, aí vemos a clara referência à nossa condição de “espíritos caídos”, entregues às “lutas expiatórias do mundo”. Como elucidar tal realismo, se tudo indica que nos encontramos imersos nas arenas evolutivas do planeta desde tempos imemoriais, quando ainda experimentávamos a inconsciência?
Na questão 64, o autor, chamando-nos “espíritos decaídos”, exprobra-nos os erros que nos são comuns, caracterizando-nos como almas pejadas de culpas desde um passado ignominioso, cuja origem se perde na noite dos tempos. E na 255, ele nos fala de uma “redenção universal” sem nos explicar a que alude propriamente tão vultosa expressão.
Deixando-nos sem entender a que se referia, podemos ainda ler na obra Renúncia5 a curiosa afirmação também do prestimoso mentor: “A morte mais terrível é a da queda”. Afirmação que se assemelha à contida na Lição 176 do livro Caminho, Verdade e Vida6, na qual o benfeitor exarou: “É indispensável romper com as alianças da queda e assinar o pacto da redenção”. Tudo nos indica serem essas citações nítidas alusões à falência primária do espírito, que somente agora podemos elucidar com clareza.
Em Ave Cristo, ante as vicissitudes que visitam e atormentam a vida humana em todos os tempos, Emmanuel interroga: “Seremos, porventura, consciências caídas no integral esquecimento de si próprias, algemadas à Terra para serviços de purgação?”7. Interrogação que mostra nitidamente a intenção do autor em nos preparar para as novas revelações do porvir.
Na obra A Caminho da Luz, Emmanuel sugere-nos, ainda que de forma sutil, que a queda do homem tenha ocorrido fora do tempo e do espaço, transcendendo o exílio de Capela, ao escrever: “Onde está Adão com a sua queda do paraíso? Debalde nossos olhos procuram, aflitos, essas figuras legendárias, com o propósito de localizá-las no espaço e no tempo. Compreendemos, afinal, que Adão e Eva constituem uma lembrança dos espíritos degredados na paisagem obscura da Terra, como Caim e Abel são dois símbolos para a personalidade das criaturas”8. Aqui vemos uma simbologia muito mais abrangente, que somente a tese da queda primordial pode explicar, por retratar arquétipos que configuram o inconsciente coletivo humano, não se aplicando exclusivamente aos exilados de Capela. Todos somos almas degredadas nas sombrias paisagens da matéria, eis a realidade que tudo explica. E, como já compreendemos, os capelinos retrataram uma pequeníssima parcela de nossa humanidade e, em sua maioria, retornaram ao plano de origem antes mesmo da vinda do Cristo à Terra, não sendo genuínos representantes do homem em evolução nas plagas terrenas. Fato que nos leva a concluir que o exílio da constelação do Cocheiro é mera repetição, em escala menor, de um fenômeno muito mais abrangente e cósmico.
No livro Emmanuel, da mesma maneira, identificamos muitos informes que dificilmente encontrarão uma coerente interpretação sem a teoria da Queda. Para não delongar este estudo citaremos apenas duas passagens que nos dizem estarmos vivendo na Terra a condição de seres exilados, em regime de recomposição espiritual: “Dilatai vossa esperança, porque um dia chegará em que, na Terra, devereis abandonar o exílio onde chorais como seres desterrados (cap. XII, item Aos meus irmãos). E no cap. V, item O que significa a reencarnação: “Cada encarnação é como se fora um atalho nas estradas da ascensão. Por esse motivo o ser humano deve amar a sua experiência de lutas e de amarguras temporárias, porquanto ela significa uma bênção divina, quase um perdão de Deus”. Se entendermos a vida na matéria como uma condenação exclusiva para o espírito que se rebelou, faz-se coerente a mensagem. Todavia, se admitimos que a reencarnação é simples meio de crescimento evolutivo, não haveria por que considerá-la propriamente um “perdão de Deus”, desde que o erro é perfeitamente aceitável para aquele que ainda é ignorante.
Assim, acatar a derrocada inicial é a única forma de tornar perfeitamente lógicas todas essas pertinentes informações de Emmanuel, deslindando o que de fato a magna entidade ocultou sob o véu da letra, por não ser ainda o momento propício para explicar claramente o seu pensamento.
Em André Luiz encontramos, igualmente, subjacentes informações que somente o conhecimento da Queda do espírito pode elucidar convenientemente. Na obra Entre a Terra e o Céu, por exemplo, o autor nos afirma que “a cadeia de ascensão do espírito vai da intimidade do abismo à suprema glória celeste”9. Como aceitar que o Senhor tenha simplesmente nos arremetido às ignominiosas profundezas abissais apenas para crescer? Certamente, fomos nós que nos arrojamos às furnas da matéria, gerando-nos a tremenda necessidade de alçar novamente às altitudes divinas, proposta de outra forma incompreensível ante a sabedoria e o infinito amor de Deus.
Essa afirmação é abonada pelo relato de Pedro em sua segunda epístola (Pe II, 2:4), que nos diz: “Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos, a fim de serem reservados para o juízo”. Ora, segundo nos assevou Jesus, um “juizo” nos espera na resolução dos tempos; e se nossa alçada evolutiva se inicia na “intimidade do abismo”, como alega André Luiz, facilmente concluímos que somos os próprios “anjos que pecaram”, retidos nos despenhadeiros infecundos da matéria, aguardando o “julgamento final”.
Em A Vida Continua, o excelso mentor declara que “a evolução é a nossa lenta caminhada de retorno para Deus”10. Logo, se estamos em uma via de regresso, deduz-se consequentemente que nos retiramos da casa do Pai. E se nosso caminho está eivado de dores, esforços, numerosas privações e onerosas necessidades, caracterizados pela preclara entidade em seu conjunto como a “dor-evolução”, então deve ter existido algo que justifique tão árdua jornada na justa Lei de Deus.
É inegável que vivemos sérias dificuldades evolutivas e estamos envoltos em graves limitações que nos roubam o potencial divino de origem. Portanto somente a opção por caminhos e condutas impróprias pode justificar a acerba condição que vivenciamos na senda do progresso. Ou seja, nossas vidas e o próprio universo onde vivemos partem, de fato, de uma grande revolta básica da qual todos participamos. Não temos outra forma de explicar o exótico realismo que vivenciamos, condição completamente inadequada para seres que foram criados como puros pensamentos, quais éramos ao surgir no seio divino. Assim, confere-se à nossa existência o seu inquestionável caráter expiatório, validando-se a existência da “dor-evolução” como genuíno recurso divino de reintegração de espíritos falidos na impreterível ordem do absoluto.
No livro Ação e Reação, a sábia entidade caracteriza a vida física como a “prisão redentora da carne”11. Fato que está absolutamente em conformidade com os preceitos estabelecidos em O Livro dos Espíritos que, na questão 11, nos diz que o “espírito se acha obscurecido pela matéria”. Assim, elucida-se que estamos em uma via de recomposição da perfeição perdida, detidos nos cativeiros regeneradores dos redemoinhos atômicos, como uma imposição àqueles que se rebelaram contra a Lei do amor, jamais como condição de normalidade da obra divina. Deus não poderia impor uma verdadeira clausura aos seus rebentos em processo de crescimento, exigindo-lhes dela libertarem-se através da dor e da renúncia, sem um motivo que a justificasse.
No livro Missionários da Luz (cap. 17), do mesmo autor, encontramos a afirmação: “Quase todas as escolas religiosas falam do inferno de penas angustiosas e horríveis, onde os condenados experimentam torturas eternas. São raras, todavia, as que ensinam a verdade da queda consciencial dentro de nós mesmos, esclarecendo que o plano infernal e a expressão diabólica encontram início na esfera interior de nossas próprias almas”. Torna-se evidente nessa afirmativa que os planos inferiores da vida, tanto física quanto extrafísica, onde imperam dores e expiações e Deus parece ausente, são nítidas projeções “de nossa esfera interior”. Desse modo, se vivemos em um universo imperfeito que parte do caos e nos subordina à evolução pela ação permanente da dor, do atrito e do esforço, a caracterizar um verdadeiro inferno, somente podemos imputá-lo às circunstâncias que criamos para nós mesmos, através de uma “queda consciencial”. Entretanto preferimos acreditar na nossa inocência, compreendendo a vida nos mundos primitivos como um normal roteiro que o Criador teria imposto a todos os seus filhos. Não percebemos que nosso orgulho nos ludibria, pois admitir a imperfeição e o sofrimento como condições naturais da vida é violar a impreterível perfeição e o imaculado amor que necessariamente devem imperar na obra divina.
Conferindo validade ao novo conceito de ressurreição, como nos foi apresentado por Ubaldi, André Luiz afere-nos em Ação e Reação que “o Mensageiro divino utilizara o sacrifício para traçar-nos o caminho da vitoriosa ressurreição”12. E, na obra Libertação, um de seus personagens, o espírito Gúbio, suplica ao Pai: “Revela-nos tua vontade soberana e misericordiosa a fim de que, executando-a, possamos alcançar, um dia, a glória da ressurreição verdadeira”13. Aclara-se aqui que a entidade suplica por outro tipo de ressurreição, a legítima, aquela que representa o retorno definitivo ao absoluto e transcende a simples transposição dos umbrais da morte ou mesmo o renascimento na carne. A ocorrência se torna evidente em outra citação da mesma obra: “Cada criatura encarnada permanece só, no reino de si mesma, e faz-se indispensável muita fé e suficiente coragem para marcharmos vitoriosamente, sob o invisível madeiro redentor que nos aperfeiçoa a vida, até ao Calvário da suprema ressurreição”14. E em Os Mensageiros, o mentor conclui, na voz de outro de seus personagens: “Meditei muitíssimo, refleti intensamente e concluí que, para atingirmos a ressurreição gloriosa, não há, por enquanto, outro caminho além daquele palmilhado pelo doutrinador Divino”15.
Não necessitamos de maior clareza. Mediante a revelação de Ubaldi podemos agora compreender melhor essas pertinentes citações, contidas na extraordinária obra de Chico Xavier, e que não foram referidas na literatura básica do Espiritismo, por não haver chegado ainda o momento propício. Com a informação da Queda primordial aqui apresentada, e tão bem esmiuçada nos livros do missionário da Úmbria, torna-se agora fácil aceitar a excelsitude dessas mensagens, das quais o nosso amor-próprio ocultou-nos o verdadeiro sentido. Somos nós os “ímprobos da Terra”, os “filhos pródigos”, os “pobres deserdados”, aqueles que “sucumbiram” e se acham mortos na matéria, detidos na “prisão da carne” e carentes de ressurgir na “vida eterna”, por haver-nos afastado da casa paterna.
Essa é uma das mais importantes afirmações de nosso tempo, a qual nos leva agora a reafirmar a verdade apregoada pelo cristianismo ao longo dos séculos: Jesus, o Salvador, veio reconduzir-nos ao seio da família divina, resgatando-nos das trevas onde nos achamos procumbidos. Estamos de fato distorcidos de nossa verdadeira natureza e muito distantes do reino de Deus. E não foi nosso Pai que nos retirou de lá para evoluirmos, em absoluto. O Seu amor infinito não tornaria isso possível. Nós mesmos nos apartamos para o livre exercício da rebeldia e do egoísmo. Agora sim, todos os corolários ofertados pela ciência espírita podem ser devidamente compreendidos e perfeitamente jungidos aos preceitos cristãos, nada mais podendo ser negado, sem que se fira a lógica da realidade em que estamos inseridos e os egrégios ensinos de Jesus.
Os exemplos espalhados pela vasta literatura espírita são muitos e deixamos aqui apenas aqueles que de imediato nos ocorreram. Certamente que o estudioso saberá agora identificá-los facilmente, uma vez que tenha compreendido o verdadeiro sentido da palavra dos Espíritos.
A doutrina espírita alberga ainda a visão da Queda primordial em outros trabalhos, embora contestados por muitos de seus seguidores, derivados da obra Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing. Compondo o que se convencionou designar de roustanguismo, trata-se de um extenso estudo de natureza mediúnica, produzido pela médium francesa Émilie Collignon, organizado por Jean-Baptiste Roustaing, um advogado de Bordeaux, e publicado na França em 1866, ou seja, três anos antes da partida de Allan Kardec. Editada no Brasil em quatro volumes, essa obra contou com o apoio de Bezerra de Menezes, quando ainda encarnado, e continua a ser patrocinada pelo órgão representativo do Espiritismo em nosso país, a Federação Espírita Brasileira (FEB). Fato que nos demonstra que a terceira revelação deu guarida à tese da falência espiritual, sem que isso significasse conflito algum com os postulados básicos lançados pelo codificador.
Não pretendemos trazer à tona a questão do corpo fluídico de Cristo, proposta apresentada no trabalho de Roustaing e bastante complexa para os nossos conhecimentos atuais. Ressaltamos, porém, que o tema fundamental desse estudo não é bem a organização biológica de que Jesus se serviu em sua romagem terrena, mas sim a Queda do Espírito. Essa temática, das mais importantes para a nossa evolução, terminou por ser eclipsada pelas polêmicas que a natureza do corpo de Jesus veementemente suscitou nos meios espíritas. A derrocada espiritual, entrementes, está muito bem caracterizada na obra, conferindo ao homem que evolui na Terra a imagem de um ser falido na criação divina, e ao Evangelho a pertinente interpretação de roteiro de redenção, destinado a restituí-lo à ordem perdida.
O escritor espírita Antônio Luiz Sayão produziu o livro Elucidações Evangélicas, publicado também pela FEB e considerado um resumo muito bem elaborado do extenso trabalho de Roustaing. Nessa rica exegese podemos ler, como exemplo da ideologia da Queda: “Saindo puro e inocente das mãos de Deus, o Espírito viveu no ‘paraíso’ até que, transviando-se, incorreu em faltas que só por meio de encarnações e reencarnações no mundo poderia remir, em tantas gerações quantas sejam necessárias à reparação das iniquidades. [...] Cometido o pecado, expirou a inocência de Adão, ou seja — na legião de Espíritos de que Adão é o símbolo, verificou-se a encarnação dos que se tornaram culpados, o sepultamento deles na carne. Daí vem o dizer-se que em Adão todos morremos. [...] Essa é a morte de que falava o divino Mestre. [...] Deu-se a morte de Adão, isto é, dos Espíritos de que ele é o símbolo, quando estes, por se haverem tornado pecaminosos, tiveram que mergulhar na carne, em forma humana, qual a de todos os que habitam este planeta, mundo atrasado, cárcere de criminosos, onde a vida decorre sujeita às contingências do trabalho árduo, das fadigas e das misérias sem conta que nos consomem”16.
Esse texto deixa claro que a encarnação não seria simples meio de edificação de almas recém-saídas do seio divino, como a princípio a interpretação kardecista nos induz a crer, porém um método de correção de seres que a priori optaram por uma revolta contra a ordem estabelecida pelo Criador.
Essa mesma explicação se encontra na obra Universo e Vida, do espírito Áureo, psicografada por Hernani T. Sant’Anna e também publicada pela FEB. Essa psicografia, referta de modernos conceitos científicos, deixa-nos claro que a necessidade fundamental da encarnação em corpo de matéria é consequência direta da Queda espiritual (pág. 65 da 7ª edição). Fato que nos esclarece a questão 86 de O Livro dos Espíritos, a qual nos afirma, deixando-nos intrigados, que o “mundo corporal poderia deixar de existir ou nunca ter existido”, sem que isso afetasse o mundo espiritual.
O livro Universo e Vida apresenta ainda um entusiástico ensaio unificador da revelação espírita em torno dos ensinos de Kardec, Roustaing e Ubaldi. Embora considerada polêmica por muitos estudiosos, essa obra detém o valor de nos demover da dogmatização que, por arraigado hábito humano, permanentemente ameaça macular a doutrina dos Espíritos. Ela nos atesta que os alicerces espiritistas não estão perfeitamente unificados, e que não podemos nos fixar neles como se fossem verdades inamovíveis, mas sim conhecimentos focados em diferenciados ângulos da verdade. Assim, a codificação kardequiana básica não deve ser encarada, como muito bem a caracterizou o seu fundador, como um repositório de verdades prontas e irredutíveis, porém informes progressivos que aguardam a nossa evolução para se fazer mais bem compreendidos.
Pode-se concluir dessa rápida exposição que o Espiritismo não constitui um corpo conceptual homogêneo, mas convive com importantes dilemas a permear a sua base filosófica. Dilemas que as instituições espíritas, atendendo ao bom senso, habitualmente evitam abordar, a fim de não semear dúvidas destrutivas nos neófitos que a elas recorrem em busca de verdades sólidas e inquestionáveis. Contudo a evolução do pensamento humano inevitavelmente terminará cobrando da nossa doutrina a mais perfeita equidade de seus fundamentos. Sem considerarmos que o roustainguismo representa, na atualidade, um apreciável seguimento do Espiritismo brasileiro, adotado pelo seu órgão diretor e que não pode continuar à deriva de seu corpo doutrinário principal.
Desse modo, podemos aferir importância capital ao estudo da Queda espiritual, nas suas variadas versões aproximativas da verdade, tornando-a indispensável a todo estudioso interessado em avançar na ciência do espírito. Estudo sobremodo útil não só para nos libertar de nossos costumeiros dogmas bem como encaminhar-nos para a validação de todas as correntes em jogo no âmbito da religião espírita. E assim guardamos a esperança de que em futuro próximo possamos urdir em um único corpo doutrinário as lições básicas da codificação kardequiana, as teorias de Roustaing e a revelação de Ubaldi, compreendendo-as como parcelas distintas de uma mesma e ampla realidade, cuja completude nossa razão atual ainda não pôde abarcar.
Pode-se então concluir que as revelações trazidas por Ubaldi não vêm romper a unidade doutrinária do Espiritismo, porém, muito pelo contrário, unir-se ao esforço de cingir as suas principais correntes filosóficas em um só contingente da verdade, sanando-se as suas aparentes divergências. Além do mais, como vimos, elas representam a chave que nos faltava para unificar o evoluído pensamento espírita à teologia cristã, conferindo-lhe legitimidade universal. E então passaremos a entender a relevância que aqui lhe foi dada.
Antevemos que estamos diante de uma nova revolução ideológica, a qual não só convulsionará a epistemologia moderna como também será a base para todo edifício conceptual a se erguer doravante no profícuo terreno do espírito, fazendo-se assim o sustentáculo da nova civilização do terceiro milênio. Os estudos psíquicos serão abastecidos com essa renovada compreensão dos panoramas da alma humana, consubstanciando significativamente uma nova psicologia e uma nova medicina na Terra, as quais nos disponibilizarão renovados e surpreendentes recursos terapêuticos. E, sobretudo, será o fator que aproximará o Evangelho do Cristo da ciência dos nossos dias, conferindo-lhe o aval de insofismável verdade científica. Eis então que não podemos deixar passar a oportunidade de meditar profundamente nessas lições, preparando-nos para as estradas do porvir.
Por tudo isso, estamos certos de que a premissa da Queda será, no futuro, comparada à descoberta de Copérnico, a qual nos retirou definitivamente do centro do universo, pois, uma vez compreendida, ela nos projetará em uma revolucionária e surpreendente visão da vida e de nós mesmos. Fato que não apenas modificará significativamente a face do planeta, como também, enfeixando o mais espetacular estímulo de reforma moral, ajudará a fixar em nós a imprescindível redenção crística.
Remetemos o leitor interessado em aprofundar a análise dos temas aqui apresentados às obras de Pietro Ubaldi, sobretudo Deus e Universo, O Sistema e Queda e Salvação17, onde encontrará o mais importante e detalhado estudo da grande queda do espírito já composto até os dias de hoje. Obras que não só nos esclarecem sobremaneira, mas representam o mais elevado compêndio de ciência do espírito ao nosso dispor na atualidade.
Belo Horizonte, outono de 2007
Gilson Freire
Notas
1 O Sistema, página 8 da 3ª edição – um dos livros de Pietro Ubaldi, traduzido e apresentado por Pastorino, publicado pelo Instituto Pietro Ubaldi.
2 FEB, capítulo I, item 55.
3 Editado pela FEB.
4 Os grifos em todas as citações são nossos.
5 FEB, 30ª edição, primeira parte, capítulo 1, página 13.
6 Editado pela FEB.
7 FEB, 13ª edição, segunda parte, capítulo II, página 202.
8 FEB, 27ª edição, capítulo 2, página 30.
9 FEB, 7ª edição, capítulo 33, páginas 213 e 214.
10 FEB, 6ª edição, capítulo 21, página 179.
11 FEB, 4ª edição, capítulo 2, página 24.
12 FEB, 4ª edição, capítulo 11, página 155.
13 FEB, 21ª edição, capítulo 18, página 227.
14 FEB, 21ª edição, capítulo 18, página 233.
15 FEB, 30ª edição, capítulo 11, página 63.
16 FEB, 7ª edição – Mateus I, 1-17; Lucas III, 23-28 – páginas 67 e 68.
17 Publicadas pelo Instituto Pietro Ubaldi.
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