Estudando o Espiritismo

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sábado, 17 de agosto de 2019

quatro pilares da educação moderna.

EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Programa II — Filosofia e Ciência Espíritas

Roteiro 5

Educação Espírita
Objetivos:

» Indicar as diferenças entre instrução e educação.

» Esclarecer a respeito dos quatro pilares da educação moderna.

» Correlacionar os quatro pilares da educação com ensinamentos do Evangelho e do Espiritismo.




IDEIAS PRINCIPAIS
Educar é disponibilizar condições para o pleno desenvolvimento do ser humano nos aspectos: biológico, intelectual, psíquico, psicológico, social, estético, ecológico e moral. Instruir é transmitir ou adquirir conhecimento.

Para o Codificador da Doutrina Espírita, educar […] consiste na arte de formar caracteres. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 685-a.

A educação deve envolver, necessariamente, aprendizado moral.

Os quatro pilares da educação moderna, definidos pelo Relatório Delors são: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

Os quatro pilares da educação podem ser correlacionados a estas máximas do Cristo:

Aprender a conhecer:     “Conhecereis a verdade e ela vos libertará” (Jo, 8.32)

Aprender a fazer:            “…Faze isso e viverás.” (Lc, 10.28)

Aprender a conviver:      “Fazei aos outros o que gostaríeis que eles vos fizessem.” (Mt, 7.12)

Aprender a ser:               “Sede perfeitos …” (Mt, 5.48)

Sandra Maria Borba Pereira: Reflexões pedagógicas à luz do Evangelho. Capítulo 2.




SUBSÍDIOS

1. EDUCAR E INSTRUIR


É importante estabelecer a diferença entre educar e instruir ou educação e instrução. Ambos os vocábulos se relacionam, mas não significam a mesma coisa. Um é amplo, abrangente, outro é restritivo, específico.

Educar é disponibilizar a alguém condições para o pleno desenvolvimento de sua personalidade. Trata-se, pois, de uma ação consciente que permite ao ser humano desenvolver as suas aptidões biológicas (físicas), intelectuais, morais, sociais, psicológicas, estéticas e ecológicas. Dessa forma, a educação é, ao mesmo tempo, processo e resultado que, em princípio, não deve desconsiderar o valor, inalienável, de o homem se transformar em criatura melhor — fundamento essencial da educação. Em síntese, educar é promover o desenvolvimento de faculdades físicas, morais e intelectuais.

Daí Allan Kardec considerar que a educação […] consiste na arte de formar caracteres […]. (1)

Instruir é transmitir/adquirir conhecimento, em geral viabilizado pelo ensino formal ou direto. Mas há outras formas de se adquirir instrução: pela observação, imitação, inspiração, intuição, repetição, etc. Assim, a instrução é sempre entendida como a capacidade de ministrar/assimilar conhecimentos e habilidades, direcionados para o aprendizado cognitivo e ou formação de talentos, genericamente destinados ao exercício profissional. Dessa forma, a instrução é necessária à vida profissional, mas só a educação apresenta condições para a formação de caracteres, por desenvolver no homem valores intelectuais e morais, que nele existem embrionários.

E preciso estar atentos a esses aspectos, pois é comum encontrarmos uma pessoa culta, instruída, mas pouco educada em termos de valores morais. Esta é a razão por que o conhecimento pode ser usado para a destruição. Assim, é ambiguidade empregar os termos educação e instrução como sinônimos, capazes de gerar outras ambiguidades, às vezes difíceis de serem controladas, como confundir processo educacional com processo docente.


Ao analisar o assunto, esclarece Emmanuel: (2)


Reparamos, assim, a necessidade imprescritível da educação para todos os seres. Lembremo-nos de que o Eterno Benfeitor, em sua lição verbal, fixou na forma imperativa a advertência a que nos referimos: “Brilhe vossa luz.” (Mt) Isso quer dizer que o potencial de luz do nosso espírito deve fulgir em sua grandeza plena. E semelhante feito somente poderá ser atingido pela educação que nos propicie o justo burilamento. Mas a educação, com o cultivo da inteligência e com o aperfeiçoamento do campo íntimo, em exaltação de conhecimento e bondade, saber e virtude, não será conseguida tão só à força de instrução, que se imponha de fora para dentro, mas sim com a consciente adesão da vontade que, em se consagrando ao bem por si própria, sem constrangimento de qualquer natureza, pode libertar e polir o coração, nele plasmando a face cristalina da alma, capaz de refletir a Vida Gloriosa e transformar, consequentemente, o cérebro em preciosa usina de energia superior, projetando reflexos de beleza e sublimação.


2. FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO


Os filósofos, educadores e especialistas concordam que não é possível educar alguém colocando-o fora ou distante do mundo, da realidade da vida. É necessário que os envolvidos no processo educativo, no seio da família ou na escola, adquiram visão mais pragmática da realidade, atentando-se para o fato de que a educação é dinâmica e deve acompanhar de perto as características da época, do progresso e da cultura.

Da mesma forma, não se pode imaginar uma educação espírita que só priorize o conhecimento doutrinário, mas que não auxilia a pessoa a superar as más inclinações, e que não enfatize como a pessoa pode se transformar em criatura melhor. Entendemos, então, que


[…] Nenhum educador, nenhuma instituição educacional pode colocar-se à margem do mundo, encarapitando-se numa torre de marfim. A educação, de qualquer modo que a entendamos, sofrerá necessariamente o impacto dos problemas da realidade em que acontece, sob pena de não ser educação. Em função dos problemas existentes na realidade é que surgem os problemas educacionais, tanto mais complexos quanto mais incidem na educação todas as variáveis que determinam uma situação. Deste modo, a “Filosofia na educação” transforma-se em “Filosofia da Educação” enquanto reflexão rigorosa, radical e global ou de conjunto sobre os problemas educacionais. […] (3)


Neste sentido, o estudioso do assunto deve procurar conhecer propostas educacionais relevantes que favoreçam o desenvolvimento integral do ser. Apenas como ilustração, citamos alguns exemplos de estudiosos contemporâneos, pois o assunto é vasto.


2.1. A educação pragmática


Refere-se ao método educacional que prioriza a prática ou os efeitos, de grande influência no continente americano, inclusive no Brasil. O pragmatismo focaliza a instrução, é certo, mas como escola filosófica, destaca os aspectos éticos da prática profissional. Nasceu nos Estados Unidos da América como crença generalizada de que só a ação humana, movida pela inteligência e pela energia, pode alterar os limites da condição humana.

Os fundadores do pragmatismo foram os estadunidenses Charles Sanders Peirce (1839-1914),  †  matemático, filósofo e cientista, a partir da publicação do seu artigo “Como tornar claras as nossas ideias” (How to make our ideas clear), e William James (1842-1910),  †  filósofo e psicólogo de renome, para quem o pragmatismo indica que tudo está na utilidade ou no efeito prático que qualquer ato, objeto ou proposição possa ser capaz de gerar.


2.2. Educação progressiva ou instrumentalista


O filósofo e pedagogo estadunidense John Dewey (1859-1952)  †  apresenta um sistema educacional semelhante ao pragmatismo, porém denominado instrumentalismo, pois para ele as ideias só têm importância desde que sirvam de instrumento para a resolução de problemas reais. Nota-se que o enfoque ainda é a instrução, pois os princípios fundamentais do pensamento de John Dewey, sobre a educação, fundamentam-se no desenvolvimento da capacidade de raciocínio e do espírito crítico do aluno.

A Educação Progressiva considera, contudo, o crescimento constante da vida, na medida em que se amplia a experiência individual e coletiva. O filósofo esclarecia, neste contexto, que o aprendizado só ocorre, efetivamente, quando há compartilhamento de experiências. Nesta situação, compartilha-se não apenas conhecimentos e instruções, a bem dizer, mas também, comportamentos, atitudes, valores.


2.3. A construção da inteligência


A despeito de Jean Piaget (1896-1980)  †  não ter sido educador (era biólogo) e a sua obra não tratar da educação, propriamente dita (está mais relacionada à psicologia), suas ideias conduzem a reflexões pedagógicas — aplicadas, sobretudo, à educação infantil — , pelos conceitos relacionados à construção da inteligência e do conhecimento (epistemologia).

Neste sentido, a contribuição de Jean Piaget é importante, sobretudo por explicar os estágios do desenvolvimento da inteligência e da aprendizagem humanas. Ensina, por exemplo, que a criança é concebida como um ser dinâmico que, a todo momento, interage com a realidade, operando ativamente com objetos e com pessoas. Essa interação permite que ela construa e desenvolva suas estruturas mentais e adquira maneiras (formas) de fazê-las funcionar. O eixo central da doutrina piagetiana é, portanto, a interação organismo-meio, ocorrida através de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas pelo organismo ao longo da vida.

Na prática educacional, porém, nem sempre os ensinos de Piaget foram bem utilizados, focalizando-se mais (ou só) a construção da inteligência lógico-matemática e da linguagem, não enfatizando outros recursos da capacidade humana, tão importantes quanto a cognição, como intuição, percepção extrassensorial, e no caso do ensino espírita, as ideias inatas, influências espirituais, entre outros.

Os currículos escolares, inclusive os do ensino espírita, focalizam os autores citados, entre outros, que revelam, entretanto, falhas consideráveis por não enfatizarem o aprendizado moral. Este tem sido o “calcanhar de Aquiles”  †  do processo educacional vigente no Mundo e nas casas espíritas. As consequências morais do aprendizado devem ser enfaticamente consideradas em qualquer processo de ensino-aprendizado, sobretudo numa época, como a atual, plena de conflitos de toda sorte.


3. EDUCAÇÃO MODERNA


3.1. Os quatro pilares da educação


Em 1996, Jacques Delors,  †  político e economista francês, assinou importante relatório, proveniente dos resultados obtidos nas reuniões da Comissão Internacional sobre educação para o século XXI, da UNESCO,  †  que ele presidia. O relatório, intitulado Educação, um tesouro a descobrir, causou grande impacto, cujos ecos continuam nos dias atuais. O Relatório Delors, como ficou conhecido, expõe e analisa os quatro pilares da educação moderna. Como esclarece a confreira Sandra Borba, trata-se de


[…] rico material para as reflexões tão necessárias em momentos tão graves como os que vivemos, em que se impõe a urgência de uma educação para todos, comprometida com o bem-estar sócio-moral de todos os habitantes da Terra. Temas importantes são tratados de modo objetivo e de fácil linguagem, como um exercício de espalhar luz, semear ideias e relatar fatos capazes de fundamentar propostas ali contidas, nos velhos ideais da igualdade e da solidariedade humanas. Educação continuada, cooperação internacional, desenvolvimento autossustentável, educar para o desenvolvimento humano são alguns temas ilustrados com depoimentos, relatos e estatísticas. (4)


É impossível escrever ou falar sobre educação, atualmente, sem fazer referência aos Quatro Pilares, que são: (5)

Aprender a conhecer. É a aprendizagem que visa não tanto a aquisição de um repertório de saberes codificados, mas antes o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento. É pilar que pode ser considerado, simultaneamente, meio e finalidade da vida humana. Meio, porque se pretende que cada um aprenda a compreender o mundo do qual faz parte, pelo menos na medida em que isso lhe é necessário para viver dignamente, para desenvolver as suas capacidades profissionais, para interagir. Finalidade, porque seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir. Trata-se de uma busca que […] exige libertação interior de pré-conceitos, o afastamento do ceticismo sistematizado que a tudo nega e do absolutismo epistemológico que tudo reduz e “engessa”. (6)

Só a abertura ao novo aliada a uma busca séria do conhecimento facultará ao ser humano em evolução a consciência crítica, a única capaz de situar-se no mundo e não diante / à parte / sobre / sob o mundo. Estar no mundo e com o mundo, significa identificar-se com a natureza e com os outros, “dialogar” com a Vida buscando-lhe os sentidos. (7)

Aprender a fazer. Na verdade, aprender a conhecer e aprender a fazer são princípios indissociáveis. Esse pilar, aprender a fazer, está mais estreitamente relacionado à questão da formação profissional: como ensinar o aluno a pôr em prática os seus conhecimentos e, também, como adaptar a educação ao trabalho futuro quando não se pode prever qual será a sua evolução. Aprender a fazer não pode, e não deve, no mundo atual, restringir-se ao simples significado de preparar alguém para uma tarefa material específica, bem delineada, para fazê-lo participar, por exemplo, do fabrico de algo. Tal pilar determina, ao contrário, que os aprendizados devem evoluir em outra dimensão, a que se coloca fora do esquema reducionista da simples transmissão de práticas mais ou menos rotineiras, embora estas continuem a ter um valor formativo que não é de se desprezar. Para tanto, é preciso inovar, liberar a criatividade. É preciso ter […] coragem de executar, de correr riscos, de errar na busca de acertar. É um convite permanente à descoberta de métodos e instrumentos mais integradores, que respeitem os saberes e fazeres das outros e auxiliem na superação do mero tecnicismo. (7)

Aprender a conviver. Sem dúvida, esta aprendizagem representa, hoje em dia, um dos maiores desafios da educação. O mundo atual carece de boa convivência, a fraterna, pois estamos inseridos dentro de uma realidade em que a violência dita normas, que se opõe à esperança posta, às realizações nobres e superiores. Não se ignora que a história humana sempre foi conflituosa, mas há elementos novos que acentuam o perigo e, especialmente, o extraordinário potencial de autodestruição criado no decorrer do século XX. Poderemos, então, conceber uma educação capaz de evitar os conflitos, ou de resolvê-los de maneira pacífica, desenvolvendo o conhecimento dos outros, das suas culturas, da sua espiritualidade? É possível, sim. Especialmente quando se prioriza a educação moral. E isto se aprende pelo ensino, mas sobretudo pelo exemplo: […] Implica em construir uma identidade própria e cultural, situar-se com os outros seres compartilhando experiências e desenvolvendo responsabilidades sociais. […] As experiências sociais nos facultam acesso ao saber, ao fazer, ao viver em conjunto, ao crescer em todas as nossas possibilidades. (8)

Essas experiências geram responsabilidades que reclamam a busca da integração com a Natureza, o compromisso com a Humanidade e a necessária superação dos egoísmos coletivos ou individuais de cor, raça, gênero, credo ou condições sociais e de localização geográfica. Para o desenvolvimento desse princípio há algo fundamental: a busca de intercessões capazes de oportunizar conhecer o outro, suas ideias, saberes e fazeres, costumes, valores, tradições e espiritualidade. Isto só é possível pelo compartilhamento, pela comunhão, pelo diálogo, pela convivência. (8)

Aprender a ser: A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa — espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentidos estético e ecológico, responsabilidade pessoal, espiritualização. Todo ser humano deve ser preparado pela educação para elaborar pensamentos autônomos e críticos, mas com respeito ao outro, para formular os próprios juízos de valor, de modo a aprender a decidir sobre como conduzir a própria existência e como agir, eticamente, nas diferentes circunstâncias da vida: “[…] Sem qualquer sombra de dúvida é o mais importante entre todos os princípios. Ressalta a necessidade de superação das visões dualísticas sobre os homens, das visões fragmentadas acerca da educação, fruto das limitações, dos preconceitos, das más paixões, da ignorância e do orgulho que são próprios. Contempla uma concepção integral do ser humano […].” (9)

Aprender a ser — enquanto compromisso — significa também a superação da superficialidade com que se tem tratado, no campo educacional, o ser humano, reduzido muitas vezes a uma cabeça que deve receber conceitos, normas e todo um conteúdo comportamental sem questionamento ou possibilidade de transformação. […] Descobrir-se enquanto ser integral — biopsicossocial e espiritual; penetrar na essência de sua humanidade, entrar na posse de sua herança divina e conscientizar-se de sua condição de ser imortal são ações próprias do aprender a ser na perspectiva cristã. (10)

4. A EDUCAÇÃO DO FUTURO


Edgar Morin (pseudônimo de Edgar Nahoum),  †  reconhecido filósofo, sociólogo e pesquisador francês, considerado um dos maiores pensadores da modernidade, nascido em Paris em 1921, é o principal representante da escola filosófica denominada Complexidade, muito referenciada nos dias atuais. Trata-se de uma linha de pensamento educacional que define a Humanidade como um todo indissociável e que propõe uma abordagem multidisciplinar e multirreferencial para a construção do conhecimento. Entre as mais de 39 obras publicadas, encontra-se o livro Os sete saberes necessários à educação do futuro, obra muito apreciada pelos educadores.

Os sete saberes apresentam os seguintes eixos de estudo: (11)

As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão — indica que a educação deve mostrar por que não há conhecimento que não esteja, em algum grau, ameaçado pelo erro e pela ilusão.

Os princípios do conhecimento pertinente — refere-se à organização e sistematização do conhecimento, o que é pertinente ao homem, para que este não fique fora do processo.

Ensinar a condição humana — torna-se necessário que se questione e contextualize objetos do conhecimento do homem como: “quem somos”, “onde estamos”, “de onde viemos”, “para onde vamos”.

Ensinar a identidade terrena — é preciso que os cidadãos do novo milênio compreendam tanto a condição humana no mundo em que vivem, desenvolvendo sentimento ecológico de preservação das espécies e da Natureza, como um todo.

Enfrentar as incertezas — trata-se da capacidade de enfrentar os desafios da existência, tendo em vista que o que se produz no presente tende a ser questionado no futuro, em razão dos atos anteriormente praticados, nem sempre justos ou sábios. Assim, as ideias e teorias por não refletirem, necessariamente, a realidade, são transmitidas (ensinadas) de forma errônea.

Ensinar a compreensão — este eixo do saber indica que a compreensão humana é a missão propriamente espiritual da educação: ensinar a compreensão entre as pessoas como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da Humanidade. O problema da compreensão é duplamente polarizado. Um polo é o da compreensão geral, definido nas relações sociais, culturais e entre os povos. O outro polo é o individual, específico, voltado para as relações particulares entre pessoas próximas. Há duas formas de compreensão: a compreensão intelectual ou objetiva e a compreensão humana intersubjetiva, a qual perpassa, naturalmente, pelo grau de moralidade do indivíduo.

A ética do gênero humano — a educação deve conduzir à “antropo-ética”, levando em conta o caráter da condição humana, que é ser ao mesmo tempo indivíduo/sociedade/espécie. Desta forma, a ética indivíduo / espécie necessita do controle mútuo da sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade. A ética não poderia ser ensinada por meio de meras lições de moral. Deve formar-se nas mentes com base na consciência de que o humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie. E, segundo o Espiritismo, um Espírito imortal, que antecede a atual experiência física e sobrevive à morte do corpo. Daí surgem duas grandes finalidades ético-políticas do novo milênio: estabelecer uma relação de controle mútuo entre a sociedade e os indivíduos pela democracia, e conceber a Humanidade como comunidade planetária.

O texto de Edgar Morin tem o mérito de introduzir uma nova e criativa reflexão nas discussões que acontecem sobre a educação no atual século. Aborda temas fundamentais, por vezes ignorados ou deixados à margem dos debates sobre a política educacional. Sua leitura conduz à reflexão das práticas pedagógicas da atualidade, demonstrando a necessidade de situar a importância da educação integral (corpo-mente e espírito) na totalidade dos desafios e incertezas dos tempos atuais.


5. EDUCAÇÃO ESPÍRITA


Kardec enfatizou a importância da educação como condição para o processo evolutivo humano, entendido nos seus aspectos intelectuais e morais. “[…] Kardec via a educação como um remédio eficaz para o combate ao mal em geral e às más tendências que o Espírito manifesta desde cedo e que devem ser observadas pelos pais. Estes são os primeiros educadores da criança.” (12) Afirmou, ainda, o que só “[…] a educação poderá reformar os homens […].” (13)

Neste contexto, escreveu no seu livro Plano proposto para a melhoria da educação pública, quando ainda se encontrava investido da personalidade Hippolyte Léon Denizard Rivail (22): (14)


Todos falam da importância da educação, mas esta palavra é, para a maioria, de um significado excessivamente impreciso […]. Em geral, nós a vemos somente no sistema de estudos, e este equívoco é uma das principais causas do pouco progresso que ela obteve. Uma outra causa desse atraso prende-se a um preconceito, geralmente admitido, contra tudo o que se une a essa profissão, dela afastando uma infinidade de homens que, por seu mérito, poderiam contribuir para o seu adiantamento. A educação a arte de formar homens, isto é, a arte de neles fazer surgir os germes das virtudes e reprimir os do vício; de desenvolver sua inteligência e dar-lhes instrução adequada às necessidades […]. Em uma palavra, o objetivo da educação consiste no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais. (14)


A educação espírita valoriza todas as conquistas no campo da inteligência humana, mas prioriza a melhoria moral, porque, enquanto o conhecimento intelectual tem como base a instrução, o conhecimento moral atende ao propósito de educar o ser imortal. Daí o Codificador afirmar que a educação é fundamental até para os problemas econômicos: “[…] Há um elemento a que não se tem dado o devido valor e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a educação moral. […]” (1)

Em relação à questão moral, considerada como pilar da educação espírita, temos a dizer que a


[…] melhoria moral do Espírito, que é a questão essencial, nem sempre é considerada com a seriedade que merece, sendo relegada à Filosofia ou à Religião. A formação moral do indivíduo continua sendo estrategicamente abafada pelos recursos tecnológicos ou por métodos e processos pedagógicos, teóricos e reducionistas, que camuflam a realidade porque não querem ou não sabem enxergar o indivíduo como um ser integral, que antecede e sobrevive à morte do corpo físico. (15)


Sem a educação moral, ou com uma educação moral de superfície, dificilmente os indivíduos se transformam em pessoas de bem. Daí o Codificador considerar com a lucidez que lhe era característica:


Quando se pensa na grande quantidade de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de admirar as consequências desastrosas que daí resultam? Quando essa arte [educação moral] for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar com menos dificuldade os dias ruins que não pode evitar. (1)


Na condição de primeiros educadores, os pais devem ser conscientizados do seu papel primordial, pois o “[…] período infantil é o mais sério e o mais propício à assimilação dos princípios educativos”, (16) assevera Emmanuel que, em seguida acrescenta:


Até aos sete anos, o Espírito ainda se encontra em fase de adaptação para a nova existência que lhe compete no mundo. Nessa idade, ainda não existe uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica. Suas recordações do plano espiritual são, por isso, mais vivas, tornando-se mais suscetível de renovar o caráter e estabelecer novo caminho, na consolidação de princípios de responsabilidade, se encontrar nos pais legítimos representantes do colégio familiar. Por isso o lar é tão importante para a edificação do homem, e por que tão profunda é a missão da mulher perante as leis de Deus. (17)


Retomando as ideias de Rivail, ele nos faz ver que não é suficiente, em educação, “[…] conhecer o objetivo que se quer alcançar, é preciso ainda conhecer perfeitamente a estrada que se deve percorrer. […].” (18) Sendo assim, conclui:


A origem das qualidades morais encontra-se nas impressões que a criança recebe desde o seu nascimento, talvez mesmo antes, e que podem atuar com mais ou menos energia sobre seu espírito, no bem ou no mal. Tudo o que a criança vê, tudo O que ouve, causa-lhe impressões. Ora, do mesmo modo que a educação intelectual é constituída pela soma das ideias adquiridas, a educação moral é o resultado de todas as impressões recebidas. (19)


Mais adiante, nesse admirável livro, o professor Hippolyte Rivail analisa não só as influências diretas dos pais e dos professores, mas outras, menos sutis que, aparentemente poderiam não fazer intromissão no processo educativo. Ledo engano. Sigamos os seus esclarecimentos:


Quero, principalmente, falar daquelas impressões que a criança recebe diretamente nas suas relações com as pessoas que a rodeiam, as quais, sem dar à criança maus exemplos ou maus conselhos, muitas vezes, no entanto, dão origem a vícios muito graves, como os pais por sua indulgência exagerada e os mestres por uma severidade mal compreendida, ou pelo pouco cuidado que se tem ao adequar a nossa maneira de agir ao caráter da criança: quando, por exemplo, cede-se às suas solicitações importunas, quando se tolera os seus erros sob pretextos ilusórios, quando se obedece aos seus caprichos, quando se deixa a criança perceber que é vitima das astúcias […], frequentemente, toma-se as imperfeições ou germes de vício por qualidades, o que acontece muitas vezes aos pais […]. (20)


A formação científica e humanista de Allan Kardec lhe permitiu encarar os fatos espíritas com lucidez, sem negá-los ou aceitá-los, de imediato, só opinando a respeito após criteriosa análise racional. Aplicou a combinação de quatro critérios na tentativa de julgá-los com acerto, mantendo cuidadosa postura antes de emitir conclusões ou fazer publicações. Os critérios foram:

Humanismo: pesava sempre os valores éticos e as consequências morais das novas ideias.

Racionalismo: utilizou, com sabedoria, os seguintes instrumentos do método experimental, que lhe forneciam a visão do todo e das partes: observação; análise crítica e criteriosa dos fenômenos; conclusões lógicas.

Intuição: agiu com bom senso, equilíbrio intelectual e sem fanatismo, sempre que não encontrava resposta racional para um fato.

Universalismo: impôs controle universal dos ensinos dos Espíritos, pela aplicação da metodologia científica. Conjugou, então, razão e sentimento, bom senso e lógica, só aceitando como verdade aquilo que fora submetido à análise racional, pela consulta a outros Espíritos, cujas respostas vinham de diferentes médiuns, da França e de outros países.

Na condição de espírita, Kardec apresenta alguns princípios para elaboração de um plano pedagógico de educação, à luz do Espiritismo, que deve ser utilizado em nossas casas espíritas com êxito, desde que se analise e conheça, efetivamente, o significado dado pelo Codificador.


5.1. Princípios Orientadores do Ensino, por Allan Kardec (21)

1° Cultivar o espírito natural de observação das crianças, dirigindo-lhes a atenção para os objetos que as cercam.

2° Cultivar a inteligência, observando um comportamento que habilite o aluno a descobrir por si mesmo as regras.

3° Proceder sempre do conhecido para o desconhecido, do simples para o composto.

4° Evitar toda atitude mecânica (mécanisme), levando o aluno a conhecer o fim e a razão de tudo o que faz.

5° Conduzi-lo a apalpar com os dedos e com os olhos todas as verdades. Este princípio forma, de algum modo, a base material deste curso de aritmética.

6° Só confiar à memória aquilo que já tenha sido apreendido pela inteligência.


INSTRUÇÕES AO MONITOR


OBSERVAÇÃO: sugerimos que o conteúdo seja desenvolvido em duas reuniões, para melhor aproveitamento do assunto.


Primeira reunião:

1. Fazer breve apresentação das ideias gerais, desenvolvidas neste Roteiro de Estudo.

2. Em seguida dividir a turma em grupos, cabendo a cada um ler e trocar ideias a respeito dos itens destacados nos subsídios, com exceção do item Educação Espírita, a ser desenvolvido no próximo encontro.

3. Os grupos escolhem relatores que apresentam uma síntese do que foi estudado. O monitor complementa informações, se necessário.

4. O monitor faz o fechamento do estudo, destacando os fundamentos da educação do futuro.


Segunda reunião:

1. Tendo como referência o estudo realizado na reunião anterior o monitor apresenta as principais características da educação espírita, favorecendo a participação da turma.

2. Analisa Os Princípios Orientadores do Ensino, de Allan Kardec.

3. Em seguida, pede à turma que se organize em quatro grupos para fazer correlação dos quatro pilares da educação com os ensinos de Jesus, inseridos no seu Evangelho. Para tanto, seguir roteiro de tarefas que se segue, e buscar apoio doutrinário nos textos inseridos em anexo.


Roteiro de tarefas:


Pilar do Grupo 1: Aprender a conhecer | Máxima do Evangelho “Conhecereis a verdade e ela vos libertará” (Jo, 8.32)

Pilar do Grupo 2: Aprender a fazer | Máxima do Evangelho “…Faze isso e viverás.” (Lc, 10.28)

Pilar do Grupo 3: Aprender a conviver | Máxima do Evangelho “Fazei aos outros o que gostaríeis que eles vos fizessem.” (Mt, 7.12)

Pilar do Grupo 4: Aprender a ser | Máxima do Evangelho “Sede perfeitos …” (Mt, 5.48)


4. Pedir aos relatores dos grupos que apresentem as conclusões das tarefas.

5. Destacar pontos significativos das correlações realizadas, retornando aos princípios orientadores do ensino, de Allan Kardec, para fechamento do estudo.


ANEXO — TEXTOS PARA SUBSIDIAR O TRABALHO EM GRUPO

Grupo 1. Aprender a conhecer

Ante a luz da verdade (Emmanuel)


Grupo 2. Aprender a fazer

Faze isso e viverás (Emmanuel)


Grupo 3. Aprender a conviver

Amar o próximo como a si mesmo (Allan Kardec)


Grupo 4. Aprender a ser

Características da perfeição (Allan Kardec)


REFERÊNCIAS

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, questão 685-a. Comentário, p. 431.

2. XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Capítulo 5, p. 27-28.

3. Origem: http://educalara.vilabol.uol.com.br/lara2.htm

4. PEREIRA, Sandra Maria Borba. Reflexões pedagógicas à luz do Evangelho. Curitiba: Federação Espírita do Paraná, 2009. Capítulo 2, p. 39-40.

5. Origem: http://educalara.vilabol.uol.com.br/pilares.htm

6. PEREIRA, Sandra Maria Borba. Op. Cit., p. 40.

7. Idem ibidem - p. 41.

8. Idem ibidem - p. 43.

9. Idem ibidem - p. 44.

10. Idem ibidem - p. 45.

11. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro - Google Books. Tradução de Catarina Eleonora E da Silva e Jeanne Sawaya. 10. ed. São Paulo, Cortez; Brasília: UNESCO, 2005, p. 13-18.

12. PORTASIO, Manuel. Fora da educação não há salvação. São Paulo: DPL, p. 25.

13. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Op. Cit., questão 796, p. 484.

14. RIVAIL, Hippolyte Léon Denizard: Plano proposto para a melhoria da educação pública. Tradução de Albertina Escudeiro Seco. 1ª ed. Rio de Janeiro: Edições Léon Denis, 2005, p. 11-12.

15. MOURA, Marta Antunes. A educação em um mundo de transição. In: Reformador. Rio de Janeiro: FEB, julho de 2007. Ano 125. Nº 2. 140, p. 27.

16. XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, questão 109, p. 229-230.

17. Idem ibidem - p. 230.

18.  RIVAIL, Hippolyte Léon Denizard: Plano proposto para a melhoria da educação pública. Op. Cit., p. 12.

19. Idem ibidem - p. 13.

20. Idem ibidem - p. 16-17.

21. WANTUIL, Zêus e THIESEN, Francisco. Allan Kardec. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Volume I, Capítulo 15, p. 98.

22. (Nota da Organizadora) O professor Hippolyte L. D. Rivail só iria tomar conhecimento das ideias espíritas 26 anos depois da publicação do Plano proposto para a melhoria da educação pública, cuja primeira edição foi em 1828. Somente em 7854 teria os primeiros contatos com os fenômenos espíritas. Acreditamos que a frase “talvez mesmo antes” faz referência ao período gestacional.

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