José Reis Chaves
(de um conto meu)
Depois da prece inicial costumeira, o professor Giordano explicou que o assunto daquela noite: demônios, diabo, satanás, satã e lúcifer, era um dos mais importantes de todas as religiões, pois são comuns as interpretações erradas e supersticiosas sobre o assunto. Deus é visto como sendo, entre outras coisas, o princípio do bem. E já que no Universo tudo tem o seu pólo oposto, que não significa necessariamente inimigo, o ser humano logo imaginou que esse pólo oposto de Deus ou do bem tinha também que existir. Mas lhe deu o sentido de adversário ou de inimigo de Deus, denominando-o de mal. E como há espíritos maus, não deu outra. Foram eles identificados com o mal, o oposto de bem, de Deus. E, assim, surgiu a idéia de demônios, que de fato existem, mas não como a maioria das pessoas os vê.
O mal, em princípio, não existe como tal, pois, na verdade, é a ausência do bem, como o definiu Santo Agostinho. Por exemplo: a doença é um mal, ou seja, a ausência da saúde. Mas as pessoas deram tanto valor ao princípio do mal, que acabaram por endeusar os espíritos representantes do mal, chamando-os mesmo de deuses. E, se Deus propriamente dito é um só e único, criaram também em algumas culturas religiosas, como o Cristianismo, o chefe único dos espíritos do mal, ao qual foi dado o nome de Lúcifer e, às vezes, Belzebu (deus das moscas). Mas, na verdade, os espíritos maus nada mais são do que espíritos humanos atrasados, como os anjos, também, nada mais são do que espíritos humanos evoluídos. Destarte, aquela história de que uns anjos se rebelaram contra Deus é mitológica, pois um anjo é um espírito altamente iluminado, jamais, pois, se rebelaria contra Deus. Essa história é mais uma analogia que se criou com os espíritos do alegórico primeiro casal humano, representado por Adão e Eva, que se rebelaram também contra Deus. Segundo o grande sábio e biblista francês, padre François Brune, representante do Vaticano para Transcomunicação (contato com os mortos via eletrônica), no seu livro Os Mortos Nos Falam, Editora EDICEL, quando a Bíblia fala em anjos, ela está referindo-se a espíritos de luz de pessoas falecidas.
E é oportuno lembrarmo-nos aqui de que a própria Bíblia, ao referir-se aos espíritos humanos desencarnados, costuma chamá-los de deuses (1 Samuel 28,13). E os espíritos que se manifestavam fora da Bíblia eram chamados também por ela de deuses, ou mais precisamente, de deuses pagãos, por exemplo: Baal, que, na verdade, é também um espírito humano atrasado, como são, igualmente, espíritos humanos atrasados todos aqueles outros espíritos chamados de deuses pagãos. E é ainda oportuno lembrarmo-nos também do que disse santo Agostinho em seu livro De Cura Pro Mortuis (Tratado dos Mortos): Os espíritos iluminados de pessoas falecidas podem trazer conhecimentos para nós deles mesmos e de outros espíritos superiores a eles, e até de Deus. E, realmente, esse santo da Igreja deixou-nos um exemplo disso, pois, em seu livro Confissões, ele diz que se comunicou com santa Mônica, sua mãe, já desencarnada. Aliás, todos os santos da Igreja, com os quais os católicos se comunicam, implorando-lhes auxílio para a solução de seus problemas, são espíritos de pessoas falecidas, já que com os cadáveres dos santos é impossível qualquer tipo de comunicação.
Jussara, o pastor Barsanulfo e as cinco pessoas visitantes daquela noite estavam atentos a tudo o que dizia o professor Giordano. E o pastor, como sempre, parecia muito acabrunhado com tudo aquilo que ouvia. E quis fazer uma pergunta:
- Mas a Bíblia, professor, não explica isso do jeito que você está falando.
Ao que o professor Giordano respondeu:
- De fato, a Bíblia não explica isso. Mas ela não explica quase nada da cultura geral dos povos. E, inclusive, São João diz no fim de seu Evangelho que, se fosse falar tudo sobre as verdades da Doutrina de Cristo, nem os livros do mundo todo comportariam o que ele tinha para escrever.
E o professor Giordano voltou à sua fala afirmando que a palavra Lúcifer vinha do Grego eosforos (porta-luz) e do Latim lucis (luz) e ferre (transportar), portanto, significando também porta-luz, ou seja, figuradamente, a inteligência. Lúcifer significa, igualmente, de modo figurado, a aurora, que prenuncia o Sol nascente. E também serpente tem a conotação de inteligência. Daí a serpente que tentou Eva e Adão. E essa conotação de inteligência da palavra serpente está em todas as culturas, inclusive na Bíblia. Por isso Jesus disse: Sede vós prudentes como as serpentes e mansos como as pombas.
A psicóloga Jussara levantou a mão e disse:
- Muito interessante, professor, esse assunto. Confesso que estou adorando essa palestra de hoje, aliás, são muito interessantes todos os assuntos que você aborda aqui nesse nosso estudo.
Mas o professor Giordano ainda não terminara a sua explanação sobre demônios e diabos, e tomou novamente a palavra:
- O vocábulo demônio vem do Grego daimon e daimonion, com o plural daimones, cujo significado é alma (espírito). E a alma pode ser boa ou má. Mas, por influência do Zoroastrismo e do Maniqueísmo, a palavra demônio, usada mais no plural, demônios, passou a significar no Cristianismo somente espíritos maus ou impuros, como sendo o pólo oposto de Deus, o princípio único do bem. O texto bíblico em Grego, quando se refere a um espírito mau, usa a palavra akarthatos.
Já para designar um espírito bom ou santo, usa estas duas palavras: pneuma hagion (Espírito Santo). Observe-se que o princípio do mal é representado por espíritos, no plural, numa analogia com os espíritos pagãos, que eram considerados como sendo maus, mas que, como vimos, são também espíritos humanos. Isso nos leva a imaginar que eles pensavam que os espíritos humanos representassem o pólo oposto de Deus, o que é um absurdo. Diabo, satã, satanás, etc., têm origem no Grego diabolos, ou seja, adversário. Mas não são espíritos. São coisas internas de nós mesmos e que obstaculizam a nossa evolução espiritual. Exemplos: orgulho, avareza, inveja, ciúme, ressentimento, coisas que são contrárias ao nosso Eu Interior, ao nosso Cristo Interno ou Espírito Santo que habita em nós. Isso levou São Paulo a dizer que nós somos santuários (templos) do Espírito Santo. Na verdade, como está no original grego, nós devemos dizer "dum" e não "do" Espírito Santo, pois cada um de nós é um Espírito Santo encarnado. Vimos que diabo, satã, satanás, lúcifer (inteligência) e serpente (inteligência) são nossos adversários, mas reitero que não são espíritos, pois são coisas negativas de nós mesmos (adversárias) ou contrárias ao nosso crescimento espiritual e moral. Assim é que Jesus tirou demônios ou espíritos impuros das pessoas possessas. Mas nunca Jesus tirou de ninguém satanás, satã, diabo, lúcifer ou serpente.
Foi uma reunião muito especial essa, já que foi um verdadeiro banho do assunto sobre espíritos. Por isso todos retornaram muito felizes para as suas casas. E o professor Giordano estava mais feliz, ainda, pois se sentia muito gratificado com a alegria e a satisfação do pessoal do grupo de estudo.
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