Estudando o Espiritismo

Observe os links ao lado. Eles podem ter artigos com o mesmo tema que você está pesquisando.

sábado, 30 de abril de 2011

Estudos Espíritas: Existência de Deus.



  • A providência divina
IDÉIAS PRINCIPAIS
A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.(...)
(...) Para estender a sua solicitude a todas as criaturas, não precisa Deus lançar o olhar do Alto da imensidade. As nossas preces, para que Ele as ouça, não precisam transpor o espaço, nem ser ditas com voz retumbante, pois que, estando de contínuo ao nosso lado, os nossos pensamentos repercutem nele. Os nossos pensamentos são como os sons de um sino, que fazem vibrar as moléculas do ar ambiente.
A Providência Divina
Providência é, neste mundo, tudo o que se faz dispondo as coisas de modo que se realizem objetivos de ordem e harmonia, visando o bem e a felicidade das criaturas, com a plena satisfação das suas reais necessidades, sejam físicas ou espirituais.
Deus, em relação às suas criaturas, é a própria Providência, na sua mais alta expressão, infinitamente acima de todas as possibilidades humanas. Manifesta-se a Providência Divina em todas as coisas, está iminente no Universo e se exerce através de leis admiráveis e sábias. Tudo foi disposto pelo amor do Pai, soberanamente bom e justo, para o bem de seus filhos, desde as mais elementares providências para a manutenção da vida orgânica e a sua transmissão, garantindo a perpetuação da espécie, até a dispensam da faculdade superior do livre-arbítrio, que dá ao homem o mérito da conquista consciente da felicidade, pela prática voluntária do bem e a livre busca da verdade. Deus tudo fez e faz a bem de suas criaturas. Imprimiu-lhes na consciência as leis morais de trabalho, reprodução, conservação e destruição - esta não abusiva, mas equilibrada; como também a lei de sociedade, obedecendo à qual devem organizar-se em famílias ou em comunidades sociais, em cujo seio vão cumprir deveres, ligados todos àquelas leis morais e ainda às de progresso, igualdade e liberdade, em seu justo e mais elevado sentido e, sobretudo à lei de justiça, amor e caridade. Propicia Deus, assim, ao homem construir a própria felicidade pela livre observância dessas leis e o cumprimento dos correspondentes deveres, e ele só é infeliz quando os descumpre ou com elas se desarmoniza. Faz o homem tudo o que quer, utilizando-se do livre-arbítrio que a Divina Providência lhe oferece para construir ativa e meritoriamente o seu destino; mas é também plenamente responsável pelos atos praticados, devendo arcar com todas as conseqüências deles decorrentes, sejam estas felizes ou infelizes. Parece, então, que se opõem a Providência Divina e o livre-arbítrio humano. Mas não! Deus concede o livre-arbítrio ao homem para que ele acrescente à sua felicidade o mérito da iniciativa e espontaneidade, no trabalho, na busca do próprio bem, na livre escolha do caminho reto para conseguir. A tudo Deus realmente provê, mas não quer inativa a sua criatura, recebendo passivamente a graça divina, e sim que a busque por si mesma, conquistando através de perseverantes esforços a felicidade e o progresso. "(...) Pelo uso do seu livre-arbítrio, a alma fixa o próprio destino, prepara as suas alegrias ou dores. Jamais, porém, no curso de sua marcha - na provação amargurada ou no seio da luta ardente das paixões - , lhe será negado o socorro divino. Nunca deve esmorecer, pois, por mais indigna que se julgue; desde que em si desperta a vontade de voltar ao bom caminho, à estrada sagrada, a Providência dar-lhe-á auxilio e proteção.
A Providência é o espírito superior, é o anjo velando sobre o infortúnio, é o consolador invisível, cujas inspirações reaquecem o coração gelado pelo desespero, cujos fluidos vivificantes sustentam o viajor prostrado pela fadiga; é o farol acesso no meio da noite, para a salvação dos que erram sobre o mar tempestuoso da vida. A Providência é, ainda, principalmente, o amor divino derramando-se a flux sobre suas criaturas. Que solicitude, que previdência nesse amor! (...)"
A alma é criada para a felicidade, mas para poder apreciar essa felicidade, para conhecer-lhe o justo valor, deve conquistá-la por si própria e, para isso, precisa desenvolver as potências encerradas em seu íntimo. Sua liberdade de ação e sua responsabilidade aumentam com a própria elevação, porque, quanto mais se esclarece, mais pode e deve conformar o exercício de suas forças pessoais com as leis que regem o Universo.
A liberdade do ser se exerce, portanto, dentro de um círculo limitado: de um lado, pelas exigências da lei natural, que não pode sofrer alteração alguma e mesmo nenhum desarranjo na ordem do mundo; de outro, por seu próprio passado, cujas conseqüências lhes refluem através dos tempos, até à completa reparação. Em caso algum o exercício da liberdade humana pode obstar à execução dos planos divinos: do contrário, a ordem das coisas seria a cada instante perturbada. Acima de nossas percepções limitadas e variáveis, a ordem imutável do Universo persegue e mantém-se. Quase sempre julgamos um mal aquilo que para nós é o verdadeiro bem. Se a ordem natural das coisas tivesse de amoldar-se aos nossos desejos, que horríveis alterações daí não resultariam?
O primeiro uso que o homem fizesse da liberdade absoluta seria para afastar de si as causas de sofrimento e para se assegurar, desde logo, uma vida de felicidade. Ora, se há males que a inteligência humana tem o dever de conjurar, de destruir - por exemplo, os que são provenientes da condição terrestre - , outros há, inerentes à nossa natureza moral, que somente dor e compressão podem vencer; tais são os vícios. Nestes casos, torna-se a dor uma escola, ou, antes, um remédio indispensável: as provas sofridas não são mais que distribuição eqüitativa da justiça infalível.
Mas a Providência Divina, em relação à humanidade terrestre, ainda se manifestou quando Deus nos confiou a Jesus, como discípulos a um Mestre e como ovelhas a um pastor. Com que solicitude e paciência infinita Ele nos vem, desde então, ensinando e conduzindo, através se séculos e milênios! Não estamos em momento algum desamparados ou à nossa própria sorte abandonados.
Divina Providência, que nos acompanhas através de vidas sucessivas, objetivando o nosso progresso e a nossa ascensão, mesmo quando nos fazes sofrer - pois, se por nossa culpa e o mau exercício do livre-arbítrio, estivermos, de fato sofrendo, por força da Lei, as conseqüências dos nossos desmandos, pela própria Lei seremos devolvidos à paz e à felicidade, beneficiados pela dor redentora, enriquecidos de experiência e de sabedoria - , desde o momento em que te reconhecermos e nos conscientizarmos da tua imanência numa Lei sábia e soberana, que estabelece tudo para o nosso bem, louvamos Àquele de quem emanas, na imensidão da Sua Justiça e do Seu amor!
Bibliografia:  Estudos Sistematizados da Doutrina Espírita - FEB - Programa I - Edição 1996
XAVIER, Francisco Cândido. In: Fonte Viva. Ditado pelo Espírito Emmanuel.
20 ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1995, lição 139, p. 312.

QUEM PERDOA LIBERTA – PARTE I - Por que o Perdão Liberta


Descobrir por que o perdão liberta.
O conceito do perdão como atitude de esquecer o mal que alguém nos fez ou como uma virtude de retomar o relacionamento com o ofensor da mesma maneira que antes da ofensa, são enfoques que necessitam ser reconsiderados, porque perdão não tem nada a  ver com amnésia das faltas ou negar a dor emocional para continuar a relação com alguém da mesma maneira. 
Por conta dessas duas formas de enxergar o perdão, muitos de nós passamos por problemas graves de exploração emocional por parte do ofensor. Não se utilizando da memória, alegando que esquecemos o fato gerador da mágoa, poderemos passar novamente pela mesma experiência e, negando a dor emocional para manter um relacionamento que nos interessa ou do qual não temos como romper instantaneamente, ficaremos com um peso emocional não transmutado e que poderá nos prejudicar de várias formas.
O perdão que o Evangelho propõe e que os Sábios Guias comentam na questão 886, de “O Livro dos Espíritos”, é o perdão das ofensas, antes mesmo do perdão aos ofensores. Há uma enorme diferença entre perdoar ofensas e ofensores. A ofensa é a dor que trazemos no peito em decorrência da atitude lesiva de outrem contra nós, e o ofensor é o sujeito que intencionalmente ou não foi agente ativo deste processo emocional. A ofensa é o conjunto de sentimentos que derivam do ato lesivo. Entre eles está a raiva, a sensação de injustiça, a dor da decepção e da frustração de sonhos e expectativas. Se não resolvemos conosco estes sentimentos, será infrutífero o ato de procurar o ofensor para o perdão. Concluímos, portanto, que perdoar é algo que começa em nós para depois se expressar na relação. Claro que isso tem variações. Casos, por exemplo, de marido e esposa, relações profissionais e outras tantas formas de conviver, nem sempre o distanciamento físico será possível, e assim a mágoa estará presente no dia a dia sem que tenhamos o tempo que seria desejável, para curar as ofensas e depois criar uma nova relação ou, até mesmo, romper definitivamente com o ofensor.
Nos ambientes religiosos o conceito de perdão como esquecimento automático das faltas tem levado muitas pessoas a viver uma vida emocionalmente miserável, repleta de culpa, raiva contida, tristeza, exploração afetiva e depressão. E o pior… depois que desencarna ainda vai ter que ser tratado no mundo espiritual como enfermo grave. O espírita, nesse aspecto, utiliza do carma para justificar suas dores, sendo que carma não tem nada a ver com fazer de conta que não estamos sentindo algo que necessita ser curado em nós. Ao contrário, o carma da mágoa é impulsionador, mobilizador. Vamos refletir neste prisma?
A mágoa é uma experiência muito dolorosa para não ter um sentido divino em nossas vidas. Quem é ofendido está sendo convocado a enxergar algo que não quer ver. Ser magoado significa ter que olhar a vida sobre uma perspectiva que não queríamos ou gostaríamos, significa ter que olhar de forma diferente para nós, para nossas relações ou para a nossa vida como um todo. 
Vamos dar um exemplo: uma pessoa confia demais na outra e confia-lhe um bem ou uma empresa. Depois de um tempo que pode ser curto ou muito longo, descobre que a pessoa que ela mais confiava a estava traindo ou destinando indevidamente aquele bem ou aquela empresa. Então, o ofendido se volta contra o ofensor que é a tendência mais comum. Entretanto, ele não percebe que o ocorrido tem a ver com ele também. Tem a ver, por exemplo, com sua acomodação, com sua preguiça de acompanhar ou gerenciar suas responsabilidades, tem a ver com o fato de não saber dizer “não”. Esse caso singelo pode ser percebido com muita freqüência nos relacionamentos. Pais com filhos, chefes com empregados, dirigentes com freqüentadores de Centros Espíritas, enfim, em qualquer nível de convivência. O assunto é muito amplo.
No livro “Quem Perdoa Liberta”, o autor José Mario, deixa bem claro que o Grupo X, um grupo espírita no qual é tecido o enredo da obra, faltou o perdão pela perspectiva da misericórdia. Isso levou o grupo às piores consequências de dor e separação. A misericórdia é a atitude de romper com os fios da mágoa através do movimento de focar a vida mental no melhor que o outro é. Quem consegue aplicar a misericórdia, além de proteger das ofensas contra si, enobrece sua atitude não criando elos com a dor emocional da ofensa e seus reflexos em nossas vidas, libertando-se para um estágio de vida rico de atitudes sadias e educativas, defensivas e fortalecedoras.
Impossível esgotar o tema. Fiquemos com essas considerações a título de debate. Nada conclusivo. A idéia é só mesmo a de abrir o tema para o estudo e a conversa. 

WO

Espíritas fora do Padrão

É muito natural que uma comunidade tenha suas regras, seus conceitos e sua marca própria. Através destes ingredientes de linguagem a comunicação se estabelece mais facilmente. É assim que nasce o padrão, ou seja, um modelo que diga algo sobre a essência de um grupo. Na comunidade espírita não é diferente. Temos uma identidade construída historicamente e pela qual são identificados seus seguidores. Em nosso caso, como a Doutrina Espírita é a nossa essência inspiradora, o foco básico de nossos padrões converge principalmente para referências de conduta. O jeito de vestir, o tipo de alimentação, o modo de falar, de agir, de pensar e de viver se tornam os alvos de nossos padrões. Dependendo deles, criamos modelos pelos quais somos aceitos ou não no grupo chamado movimento espírita.
Todavia, os modelos em quaisquer áreas do desenvolvimento humano estão passando por rápidas e acentuadas modificações e aperfeiçoamentos. Façamos uma comparação para o objetivo desse artigo. O que faz o nosso corpo quando é atacado por um vírus agressor? Ele se organiza com todas as suas defesas no intuito de se preparar diante daquele ataque. Depois, quando aquele agressor já não é tão forte, o organismo já lhe absorve com menos esforço. Estamos vendo surgir aceleradamente uma geração de espíritas fora do padrão nos últimos 20 anos. Médiuns fora do padrão, palestristas fora do padrão, linguagem fora do padrão, comportamento fora do padrão. Como se fossem um corpo estranho, o organismo espírita reage às suas características e peculiaridades. Mas assim como o corpo físico que terá ensejo de provar sua saúde diante do inesperado, a comunidade espírita está aprimorando sua resistência, sua autenticidade e sua capacidade moralizante para entender e se adaptar  às mudanças que são inevitáveis.
Mais que nunca nossa comunidade passa por um testemunho de amor aos diferentes e suas diferenças. E o que está no cerne desse exame de atitude? Aferir se somos capazes de amar os que não pensam como nós. Eis um dos mais desafiadores ensinos de Jesus. Ele mesmo pronunciou, em Mateus, capítulo 5, versículos 45 e 46: “Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?” 
Diante da incontrolável tendência da diversidade que renova os costumes e as ideias na sociedade, torna-se muito oportuno examinar nossos referenciais e igualmente nossas ações: Será que nossos padrões guardam fidelidade ao que propõe nossa Doutrina? Será que os modelos  aceitos são coerentes com ponto capital do Espiritismo que diz respeito às conquistas interiores? Será que os padrões adotados pela comunidade estão legitimamente afinados com valores morais, a lei de amor e a paz na alma? Ou são apenas mais alguns códigos religiosos que nos incapacitam para a libertação da consciência como já aconteceu ao longo dos milênios? Que vale mais a pena: ser espírita de padrões ou ser espírita em harmonia com a Vida e com sua consciência? Será que o comportamento das gerações antecedentes vão atender às exigências das novas gerações?
Essas perguntas surgem porque temos observado uma valorização  exacerbada a ideias, crenças e condutas adotadas em nossos ambientes doutrinários nem sempre essenciais em se tratando de paz e equilíbrio pessoal. Muitos adeptos do Espiritismo adotam tais posturas como verdades inquestionáveis e abdicam da mais sadia proposta da Doutrina que é a construção de uma fé como resultado de raciocínios lúcidos. Entretanto, uma larga parcela de espíritas clama por referências novas. As necessidades das gerações atuais suplicam respostas. Diante desse quadro social, como avaliar as inovações, as novidades, as formas diferentes de realizar o bem à luz do Espiritismo? Como escandalosamente fora dos padrões?
Os padrões em muitos casos são ancoras de segurança para não avançarmos a limites que ainda não somos capazes de suportar, todavia, quando nos agarramos demasiadamente a eles furtamos de nós próprios a aquisição de habilidades para singrar os mares da vida em busca de novas perspectivas de viver e se realizar, aprender e crescer. Quando apegamos a modelos em excesso, inevitavelmente adoecemos. E essa doença chama-se julgamento. A fixação prolongada em conceitos que paralisam e que se transformam em preconceitos, e  esses se transformam em antifraternidade através de condutas que são incoerentes com aquilo que pregamos e acreditamos.
Quando estacionamos em paradigmas sem abertura para o progresso, atolamo-nos na zona de conforto que nos impedirá de perceber que, entre as ancoras de segurança e o mar alto da diversidade, existe um abismo de concepções e verdades que precisam ser conhecidas ou pelo menos aceitas. A ausência dessa coragem de avançar leva-nos a acreditar que tudo que saia dos limites de nossas boias seja profano, obsessivo e nocivo ao crescimento espiritual. 
Chega o momento de fazermos algumas perguntas: os padrões que adotamos estão realmente nos ajudando a sermos pessoas melhores? Somos mais autênticos ao adotá-los? Eles estão servindo para promover uma vida mais feliz ou apenas para camuflar nossos conflitos angustiosos? Será que nossos padrões não estão nos alienando da nossa realidade moral? 
Não guardo mais dúvida sobre a superficiliadade ou mesmo a toxidade de muitos desses padrões. Como seres humanos falíveis que somos, gestamos muitas referencias frágeis para consolidar a identidade espírita em nosso modo de pensar a vida e de vivê-la. E um dos subprodutos mais tóxicos desse quadro é exatamente a conduta enferma de exclusão dos diferentes. 
Enquanto isso, ficam outras questões: e os espíritas fora do padrão, estão sintonizados com algo melhor para o futuro de nossa causa e de seu bem pessoal? Seus novos padrões serão benéficos à grande questão essencial da nossa paz?
E assim lá vamos nós, de mudança em mudança avançando cada vez mais. Em meio ao turbilhão de transformações sobra somente uma certeza que pacífica um pouco a minha alma: eu tenho uma consciência e só vou responder por ela. Isso é muito bom de pensar e sentir. E você o que pensa desse tema?

WO

Qual livro mediúnico é melhor? Meu testemunho como médium espírita



Há trinta anos, quando ingressei nas fileiras do Espiritismo, os livros que formaram minha orientação doutrinária foram as obras de Chico Xavier e de Allan Kardec. Aprendi muito com os livros de André Luiz, Emmanuell, Humberto de Campos.
Ao longo dos anos, fui observando que cresciam o número de livros mediúnicos e que as obras que me orientaram no início já não eram tão conhecidas. Em uma capital brasileira, ministrei um seminário no qual perguntei para centenas de pessoas presentes, quem conhecia “Pensamento e Vida” de Emmanuell, e para minha surpresa meia dúzia de mãos se levantaram.
Comecei a refletir no assunto e a me indagar se esse seria o rumo natural das coisas, e acabei me deparando com questões que gostaria de compartilhar com os amigos.
Há quem defenda e aplique com rigor alguns critérios para reconhecer um livro mediúnico afinado com a proposta básica da doutrina. Existe mesmo tanta rigidez no assunto que há boicote declarado e formalizado a livros que, no entendimento de alguns, prestam um desserviço à causa. Para esse grupo, as obras de Chico, Allan Kardec e mais alguns poucos médiuns merecem o aval e o reconhecimento como sendo espíritas. 
Entretanto, mesmo com essa inflexibilidade ninguém consegue mais deter o número de médiuns e livros que cada dia mais surge na comunidade espírita. Acontece com os livros mediúnicos e com o próprio Espiritismo um fenômeno mundial e irreversível chamadodiversidade. E nesse universo de diversidade, há livros para todos os gostos e necessidades, versando sobre os mais diversos temas e com uma farta variedade de estilos. 
Fico pensando, por exemplo, nos chamados romances “água com açúcar” de alguns médiuns, que vendem milhões de cópias. Quantos milhares ou milhões de pessoas não encontram neles a motivação para mudar ou mesmo um conforto para vencer uma provação. A utilidade de um livro mediúnico por mais singela que seja é indiscutivelmente benfazeja. Olhando por esse prisma, pode até ser verdadeiro que tais romances ou livros menos densos não cooperem para um conhecimento mais profundo do Espiritismo, mas ninguém pode negar o seu valor instrutivo, moralizante e consolador. Aliás, quantas não são as pessoas que hoje chegam ao Espiritismo através desses títulos e depois passam a livros com mais conteúdo?
Particularmente, vejo com bons olhos e acho muito sadio esse cenário. Apenas lamento, mas respeito, que as obras novas estejam sendo, em muitos casos, mais lidas que as de Chico e Allan Kardec. Nada contra as novidades, entretanto, quem conhece as bases sabe como podemos aprender com elas. Diante desse quadro a atitude de proibir ou denegrir não ajuda em nada. Por isso, aprendi que respeitar todas as produções mediúnicas é um bom caminho, uma boa atitude. O livro mediúnico, não importa sua densidade de conteúdo, está salvando vidas, iluminando decisões e auxiliando a sociedade que se encontra tão desorientada.
Por tudo isso, quando alguém me pergunta hoje o que acho de um livro mediúnico, eu replico com outra questão: você está aprendendo algo com livro? Ele está ajudando você a ser alguém melhor? Para mim, esse é o melhor critério para avaliar qual é o melhor livro mediúnico. 
Alguns diante dessa fala, indagam: Mas e o Espiritismo, como fica? Não são obras aprovadas ou recomendadas segundo a organização X ou o senhor dirigente Y. Eu confesso que entendo muito bem quem cultiva essas idéias, elas acreditam no que estão defendendo. O que eu ainda tenho certa dificuldade para assimilar é que ainda existam mentes que, em pleno século XXI, o século da quebra de todas as barreiras, que sigam cegamente o que organizações e lideranças impõem como verdade. 
Nesse momento de tanta liberdade de expressão e de avanço social, o maior valor humano que pode ser prezado e incentivado é a crença na competência humana para conquistar seu discernimento pessoal. É por essa razão que quando ouço alguém censurando um livro eu quero conhecê-lo, porque com certeza ele deve ter um diferencial. 
Fazer alguma recomendação de livro, incentivar o conhecimento da literatura basilar e falar do livro que foi importante para você é algo muito natural e cooperativo, mas daí a colocá-los como critério de verdade é no mínimo uma postura preconceituosa.
Mais a mais, nesse assunto do livro mediúnico, não guardo a menor dúvida, até que me prove o contrário, que a postura anti-fraterna e preconceituosa tem feito muito mais mal que o conteúdo supostamente duvidoso de algumas publicações. 

WO

Culpa, Depressão e Saúde Energética


“Até onde podemos discernir, o único propósito da existência humana é acender uma luz na escuridão do mero ser” 
“Memórias, sonhos e reflexões” - Jung, C.G. Nova Fronteira - Rio de Janeiro. 

Como qualquer doença, a depressão apresenta sérias alterações no quadro energético do doente. A rigor, o depressivo tem seu campo energético com bloqueios nocivos cujo efeito é todo um leque de reações físicas, psíquicas, emocionais e mentais.

A culpa tóxica, por exemplo, muito comum nos quadros graves de depressão, é uma das maiores produtoras de matéria adoecida. Chamo de culpa tóxica, aquela que é seguida de autopunição, de uma profunda sensação de mal estar consigo mesmo. Ela se acumula mais intensamente no corpo chamado duplo etérico. É mais comum percebê-la na região da cabeça e dos joelhos para baixo. Essa matéria mental bloqueia os pequenos canais e também os chacras, por onde deveria circular livremente os campos energéticos provenientes de dentro e de fora da criatura.

Os chacras frontal e esplênico são profundamente agredidos em suas funções pela energia da culpa. O esplênico é o núcleo de filtragem que fica com suas funções limitadas e o frontal é o responsável por gerar as mais variadas sensações experimentadas por um deprimido, tornando-se um gerente confuso das emoções e da vida racional. No campo emocional, essa pane energética pode ser sentida através da angústia, que é um sintoma claro da desorganização interior. Em nível físico, é evidente a desvitalização com todo um conjunto de conseqüências: fadiga, preguiça, indisposição para movimentar-se, prisão de ventre e problemas respiratórios são alguns dos sintomas.

O depressivo é  um doente que se incapacitou para fazer o intercâmbio sadio e refazente com as energias naturais. Seu campo energético não consegue se autorregular, ficando vulnerável às influências dos ambientes por onde transita. Seus corpos energéticos ficam vulneráveis mais facilmente, porque o sistema defensivo natural está sem reservas. Os chacras obstruídos são focos fáceis de sistemas larvários e diversos tipos de parasitismo microbiano astral. Por isso, o deprimido consome as reservas alheias e pode influir na saúde de outras pessoas. Por essas razões, conjugar o tratamento complementar energético aos recursos psiquiátricos e psicológicos é fundamental.

É necessário fazer o realinhamento dos corpos energéticos, a desosbstrução dos nadis e o asseio e correção de rotação das pás dos principais chacras.

Cada história de depressão  é um quadro diferente no que tange aos efeitos, mas, quase sempre, através de técnicas apropriadas, é possível interceder nesse processo com resultados que permitirão um alívio psíquico imediato ao paciente.

A recomposição energética é gradativa e dependerá também da reeducação da postura emocional do enfermo. Nesse sentido, minha proposta terapêutica, visa trabalhar a relação do paciente com sua culpa, deixando claro que ela é um sentimento importante para o crescimento e que sua toxicidade decorre de não saber lidar com suas camuflagens e objetivos.

A culpa faz parte do grupo dos sentimentos mobilizadores, assim como a mágoa, a raiva, o medo e outros mais. Sua função é ser uma sentinela de nossos princípios de vida. Não existe nada dentro de nós que seja indigno ou de má qualidade, apenas não sabemos o que fazer com o que sentimos. Quando existe culpa, temos um “aviso” da nossa vida mental profunda acerca de algo que necessitamos mudar para o bem de nosso crescimento. Esse é realmente um dos muitos assuntos fundamentais para a paz humana, que estou tratando em meu livro sobre depressão (ainda sendo escrito) e também em meu consultório com meus pacientes.   

WO

Humanizar – Um Evento que Vale a Pena! -


A
 mensagem “Atitude de Amor”, contida no livro Seara Bendita, disponível gratuitamente no site www.ermance.com.br, é a fonte inspiradora do HUMANIZAR - Encontro de Espiritismo e Humanização. O evento HUMANIZAR, que neste ano de 2010 terá 14 edições espalhadas por várias partes do Brasil, tem por objetivo discutir e estudar técnicas, projetos e iniciativas que possam facilitar a relação humana nos grupos espíritas. Isso pode parecer uma contradição em se considerando que as casas espíritas são ambientes onde se fala tanto sobre a reforma íntima e o burilamento das nossas imperfeições. Entretanto, como em qualquer lugar com atividades e objetivos, a convivência em grupo resvala em constantes desafios na resolução de conflitos, e nem sempre é fácil manter a prevalência do afeto, da fraternidade e do respeito às diferenças.

Quem consultar o www.portalhumanizar.com.br encontrará disponíveis os sites dos Encontros deste ano, com sua programação, expositores e outras informações necessárias.
O HUMANIZAR, para quem já teve a oportunidade de participar, tem sido uma experiência inesquecível e muito enriquecedora. O grande diferencial do evento é sua própria proposta, ou seja, o contato com os próprios sentimentos para a humanização das relações. 
O espírito Maria Modesto Cravo escreveu pela mediunidade: “Humanizar é tornar humano, assumir nossa humanidade, entrar em contato com ela, retirar as máscaras da hipocrisia que por longo tempo têm nos mantido cativos de padrões e julgamentos. Humanizar é ser autêntico, saber interpretar a consciência e estudar a natureza das intenções que movem os propósitos da alma. Humanizar é ser quem somos trabalhando conscientemente para tornarmo-nos senhores de nossas vidas, donos de nossos destinos, desbravadores de nossa própria luz”. Diante deste conceito sábio, não resta dúvida alguma que, para nós espíritas, a palavra humanizar tem um sentido extremamente necessário e que não se restringe apenas ao relacionamento com o outro, mas também com nós mesmos. Aliás, a verdadeira compreensão das próprias questões íntimas nos permite estabelecer uma nova perspectiva sobre erro, acerto e aprendizagem, flexibilizando, inclusive, o julgamento e a crítica sobre outras pessoas e nas relações.
Humanizar, em outras palavras, é se fazer gente e sair do “salto alto” da suposta grandeza espiritual. É assumir-se com suas lutas e ter o direito de discuti-las, sem por isso se tornar menor. Ser gente é algo muito gostoso, muito bom de verdade! Não confundamos isso com ser irresponsável, pois ao espírita cabem sensatamente metas espirituais de melhoria contínua, o dever de ser alguém um tanto mais honesto, colaborativo e cuidadoso com o proceder. 
A educação religiosa milenar estruturou em nosso campo mental vícios muito profundos acerca da conduta. Vícios cuja dinâmica psicológica leva-nos a assumir uma identidade ilusória de conquistas que ainda não possuímos, um eu ideal. Todavia, a proposta do Espiritismo que nos orienta para a autenticidade, propõe-nos o eu real. Se faz urgente a discussão sobre como implementar metodologias e iniciativas complementares nos grupos espíritas, que nos auxiliem a usar além do pensamento e da razão, o desenvolvimento dos sentimentos e das emoções nos desafios reais e aplicados na nossa atual existência,  para sermos pessoas mais íntegras, mais felizes, mais condutoras do nosso próprio destino. 
A dificuldade em reconhecer as próprias dimensões emocionais pode trazer diversas consequências, entre elas, a contaminação por visões da vida carregadas de ameaças, penitências e outros instrumentos nada educativos da religião de superfície. Torna-se imprescindível entender os princípios espíritas como chaves para o amadurecimento pessoal e não como mecanismos milagrosos de cura sem transformação moral e libertação temporária.  
A mensagem “Atitude de Amor” que nos referimos acima, contida no livro Seara Bendita, descreve a proposta do doutor Bezerra de Menezes para a humanização das relações na comunidade espírita. A mensagem constitui, em essência, em um alerta contra as velhas artimanhas de nossa conduta ainda tão apegada a rótulos, padrões e dogmas que prejudicam a convivência através da supervalorização de regras institucionais em detrimento de relações fraternais. Segundo o benfeitor, o planejamento do Espiritismo na Terra obedeceu a três ciclos de amadurecimento e nos encontramos no alvorecer do terceiro ciclo. Nessa etapa, o grande diferencial que caracteriza a maturidade espírita é marcada pela construção de uma convivência afetiva consigo mesmo e com os outros, mais madura e autêntica, próprio de pessoas e grupos que seguem evoluindo rumo à regeneração.  
O evento HUMANIZAR de Belo Horizonte, que acontecerá no próximo mês de agosto de 2010, tem como tema central o “Auto-Amor e Perdão para Humanizar”. Nosso objetivo ao enfocar esses temas é aproximar pessoas que desejam a vivência real do perdão e do auto-amor em suas vidas, apesar de ainda não conseguirem sentir e agir como gostariam. Pessoas que pensam, falam, estudam sobre esses temas, mas ainda não conseguem perdoar e amar em plenitude, conforme o conhecimento adquirido. Se não conseguimos, precisamos juntos nos ajudar, descobrir facetas pouco conhecidas de nós mesmos que podem nos impulsionar para novos passos evolutivos. A proposta é essa. Não existe humanização sem perdão, e se pudermos, através da compreensão e do não julgamento, nem ter que perdoar, uma vez que mudamos a perspectiva da nossa mágoa e do erro alheio, melhor e mais humana ainda será nossa convivência. Não existe humanização sem auto-amor, uma vez que o evangelho nos ensina que só é possível amar ao próximo como a si - mesmo.  Tudo isso dito assim, pode parecer um ensino tão óbvio e tão repetitivo, todavia, se humanizar é também retirar as máscaras da hipocrisia, como assevera Maria Modesto Cravo no trecho acima, será que não temos adotado o auto- engano ao dizer que esquecemos as faltas alheias? Será que sabemos que um dos conceitos de hipocrisia é a negação, por exemplo, do que sentimos acerca da ofensa alheia?
Essas e muitas outras abordagens serão alvo de nossas dinâmicas, estudos e palestras em um ambiente que favorece a paz através do contato com a natureza. http://www.cantodasiriema.com.br/hotel.php.
Venha participar conosco e colaborar com este abençoado ideal pela nossa melhoria e humanização.  Consulte www..portalhumanizar.com.br e procure pelo evento de Belo Horizonte.

WO

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O OBSIDIADO DE GERASA - Pastorino

Em primeiro lugar, Gerasa, Gadara ou Gergesa? Em Mateus há "Terra dos gadarenos" (que, em 233
A.D. Orígenes - Patrol. Graeca, vol. 14, col. 270/271- corrigiu para gergesenos", apoiado na tradição -
Gên. 10:16 - e nas ruínas locais que ainda encontrou).C. TORRES PASTORINO
Página 44 de 153
Em Lucas há "Terra dos gerasenos".
Em Marcos há três variantes: Gerasa (Aleph, B,D, antigas versões latinas, Vulgata, versão copta saídica); Gadara (em A, C, pi, sigma, phi, vários manuscritos e versões siríacas: peschitt‚ e filexoniense) e
Gergesa (em L, V, delta, minúsculas do grupo Ferrar: 28, 33, 604, 1071 e versões siríacas: sinaítica,
armênia e etiópica).
Os melhores comentaristas (Tischendorf, Wescott-Hort, Nestle,  Hetzenauer, von Soden, Merk, Lagrange, Swete, Jouon, Huby, Pirot, etc) aceitam Gerasa como a melhor lição. Realmente, vejamos rapidamente.
O território de Gadara, na Transjordánia, e sua capital Gadara (cfr. Josefo, Ant. Jud. 17, 11, 4; Bell.
Jud. 2, 6, 3) estava a sudeste do lago, ao sul de Yarmouk; entre Gadara e o Tiberíades corria o rio Hieromax (Scheriat el-Menadireh, que os porcos não podiam atravessar a nado sem afogar-se antes de
chegar ao lago.
A modificação de Orígenes baseia-se na tradição antiga; mas Gergesa ficava na Cisjordânia (margem
ocidental) e os Evangelhos falam claramente na margem oriental (per·n).
A cidade de Gerasa (hoje Djerach) não pode ser a referida, pois dista 30 milhas do lago. Mas no território dessa cidade havia a aldeia de Gamala, (hoje Qala' at el Hosn) e, um pouco ao sul, a 2 km, está o
local Moqa' edlÙ, distante do lago cerca de 30 metros (e há dois mil anos podia ser ainda menor a distância) e com um declive a pique, pois logo a seguir está pequena montanha, cheia de grutas, que bem
podiam ter servido de túmulos. O local parece coincidir com a descrição: a 2 km apenas uma cidade,
(aonde correram para dar notícia do ocorrido) que hoje tem o nome de Koursi (em grego, transcrição
do aramaico,  chorsia) que pode ser corruptela de Gerasa. Daí justificar-se, como melhor lição, "no
território de Gerasa" (cfr. Abel, Koursi, no "The Journal of Palestine Oriental Society, 1927, pág. 112 a
121).
A iniciativa da ação pertence ao obsidiado, que Mateus, que tanto aprecia o número par, diz terem sido
dois. Realmente, podiam ter sido dois, embora um  fosse o famoso louco violento, e o outro apenas
uma sombra que o acompanhava e, como pessoa apagada, não tenha chamado a atenção, não sendo
computado pelos outros evangelistas.
Marcos, como sempre, apresenta mais pormenores, descrevendo circunstanciadamente, segundo ouvira
da pregação de Pedro, a cena; compraz-se em anotar que ele era tão forte, que até rompia cadeias (nas
mãos) e grilhões (nos pés) e atacava os transeuntes.
Ao vê-lo vir a si, Jesus ordena categoricamente o abandono da presa, chamando-o "espírito nãopurificado" (pneuma ak·tharton), ou seja, inferior, involuído. O obsessor reclama a intervenção, embora reconhecendo, talvez pelo esplendor da aura e pela luminosidade própria, que ali estava um "filho
do Deus Altíssimo" (expressão muito usada pelos israelitas, para distinguir o deus deles, YHWH, dos
outros adorados pelos pagãos). Na realidade, ali estava o próprio YHWH encarnado (cfr. vol. 1). Segundo Marcos, o obsessor a Ele se dirige chamando-O pelo nome. Pergunta, então, que importa aos
dois o sofrimento do obsidiado (quanto ao sentido da pergunta, ver vol. 1). Indaga "por que o atormenta antes do prazo", talvez referindo-se ao resgaste do carma. Mas que saberia o obsessor mais do
que Jesus?
O Mestre pergunta-lhe o nome, ao que o espírito responde "legião", que corresponde ao que hoje chamamos uma falange de espíritos. Não significa essa resposta que eles eram exatamente do mesmo nú-
mero que uma legião do exército romano, como pretendem alguns comentadores; mas apenas, como o
explica o próprio obsessor, então incorporado, "porque somos muitos". O nome, pois, é um símbolo,
que se exagera para valorizar. Tão comum é, por exemplo, ao referirmo-nos a um grupo de pessoas:
"veio um batalh„o para almoçar em nossa casa", e no entanto trata-se de 5 ou 10 pessoas.
Ainda segundo Marcos, o obsessor pede que não seja mandada a falange para fora do "território", e,
segundo Lucas, que não a mande "para o abismo". E solicita lhes dê autorização para "passar" para
uma vara de porcos que fossava na encosta do morro. Há suposições várias manifestadas pelos comentaristas, sempre do ponto de vista teológico-romano. Parece-nos todavia, que para aqueles queSABEDORIA DO EVANGELHO
Página 45 de 153
lidam praticamente com os fenômenos obsessivos e conhecem os trabalhos espiritistas, a explicação
não é difícil. Essas falanges de espíritos inferiores, involuídos, sobretudo os que habitam os cemitérios
(como é expressamente o caso desse obsidiado) dedicam-se ao vampirismo, sugando a vitalidade da
vítima. Ora, sabiam eles que jamais lhes seria permitido por Jesus que passassem para outras criaturas
humanas, e encontram uma oportunidade na vara de porcos (que Marcos diz ser constituída de 2.000
animais) e solicitam insistentemente que lhes permita continuar o vampirismo pelo menos nos porcos.
A expressão "entrar neles" de Marcos pode ser efeito da ignorância desses fenômenos por parte do
obsessor, coisa que ainda hoje persiste inclusive nos meios espíritas, quando se fala em "incorpora-
ção", dando quase a idéia de que o espírito "entra no corpo do médium". E muito médium julga que é
isso mesmo que se dá ... Em Mateus e Lucas aparece uma palavra melhor: "passar para", que exprime
uma transferência de operação vampiresca.
A expressão "sair do território" talvez exprimisse  uma facilidade maior de encontrar presas entre os
pagãos, do que entre os israelitas; ou talvez "território" fosse apenas um eufemismo para designar o
corpo do obsidiado, por eles explorado. Quando pedem que os não mande "para o abismo", referem-se
à zona de trevas em baixo do umbral, onde sofreriam horrores sem o alimento da vitalidade a que estavam habituados. O com que não contavam, era com o desfecho, causado pelo pânico da invasão de
entidades grosseiras e muito materializadas nos animais, fazendo-os despenhar-se ladeira abaixo em
desabalada carreira, tão violenta que não conseguiram parar, e caíram no lago, afogando-se.
Pergunta-se a razão de ser de tantos porcos, animal considerado "impuro" e proibido entre os israelitas.
Entretanto, estamos em território não-judeu, onde o comércio de carne suína devia ser bastante rendoso.
Também se pergunte se a permissão dada por Jesus, com o consequente afogamento dos porcos, não
constituiu uma "perversidade" contra os pobres  animais, que nada tinham que ver com o caso. Em
primeiro lugar, como podemos ignorantes ainda, querer julgar atos que fogem à nossa alçada? Além
disso, um bem maior pode justificar, por vezes, um mal menor, sobretudo se é obtido um bem espiritual através de uma perda material. A maioria dos homens acha normal e natural que se mate e coma
um porco apenas para satisfação do paladar, mas se insurge contra a morte do animal para libertar um
obsidiado ... Além do mais, consideremos que apenas ocorreu aos porcos uma destruição do corpo
físico, fenômeno que teria fatalmente que ocorrer mais dia menos dia, e nada mais, pois seus princípios
vitais (nephesh) voltariam a reencarnar logo de imediato. Supõem, ainda, alguns comentaristas que se
teria tratado de uma "lição" aos proprietários, já que, sendo um comércio ilícito o da carne de porco,
não era sequer lícito criá-los com esse intuito. Realmente assim seria se se tratasse de criadores israelitas, mas não podemos saber se era essa a realidade. O fato é que os evangelistas não se preocuparam
em justificar o modo de agir de Jesus.
Pergunta-se por que os porcos "se suicidaram", ou por que a falange se precipitou no lago. De fato, não
ocorreu nem uma coisa nem outra: simplesmente os porcos, ao se sentirem atacados de inopino (e os
animais possuem percepção do astral inferior, que é o plano deles) entraram em pânico e correram para
fugir. Evidentemente, o caminho mais fácil é a descida, e não a subida. O próprio impulso da fuga levou-os a descer automaticamente, às carreiras. Também os obsessores não deviam ter imaginado esse
fim, decepcionante sobretudo para eles.
A observação que se nos apresenta de imediato é que Jesus não se preocupou em "doutrinar" essa falange (como aliás nenhum dos outros obsessores que foram por Ele afastados), quer porque entidades
do plano astral se encarregavam disso, quer porque eram eles tão involuídos ainda, que não adiantava
doutrinação, mas apenas se devia aguardar um pouco mais de evolução para que pudessem compreender a necessidade de corrigir-se.
Os obsessores deste caso estavam naquele estágio em que se satisfazer com modificação de situações
materiais, para abandonar sua presa. Esse processo de oferecer coisas materiais para conseguir a libertação do obsidiado usado neste caso por Jesus, é ainda hoje bastante usual nos terreiros de Umbanda.
Após o acontecimento, trágico para os guarda-porcos responsáveis pela vara, estes correm à cidade,
que ficava a cerca de 2 km, para contar aos proprietário o que havia ocorrido sem culpa deles. Os mo-C. TORRES PASTORINO
Página 46 de 153
radores se alvoroçaram e a notícia corria célere, não muito acreditada, até que, por proposta de um
mais incrédulo, a massa se movimentou para fora da cidade, chegando em cerca de vinte minutos ao
local em que se achava Jesus com seus discípulos. Os cadáveres dos suínos juncavam a praia do lago,
alguns ainda nas contrações finais e, sentado aos pés de Jesus, vestido, risonho, feliz, perfeito em seu
juízo, aquele homem que tanto pânico vivia a causar na região e que por todos era muito bem conhecido. A prova da veracidade da narrativa dos guarda-porcos evidenciava-se, tudo coincidia plenamente.
Mas, enquanto o louco apenas se limitava a assustar os transeuntes ou a atacar os incautos que se
aventuravam naquelas regiões, a cura dele lhes causara sérios prejuízos, destruindo-lhes a riqueza. Havia curado um homem, o que nenhum lucro lhes trazia, mas doutro lado lhes matara a enorme vara de
porcos, o que representava substancial perda econômica. Não havia alternativa: melhor o homem, embora louco, do que Jesus. Então, afoitamente vão a Ele e pedem que se vá dali, que "se afaste do território deles" - o que representava o pedido oposto ao que lhe fizera o obsessor: que Ele não o afastasse
daquele território. Os habitantes da região concordavam com o obsessor, com ele sintonizavam, preferiam-no: como se libertariam dele?
Jesus nada retruca, não se defende, não protesta, não argumenta, não procura demonstrar os benefícios
que proviriam de Sua permanência alguns dias entre eles, por levar-lhes saúde física e espiritual: calado, volta-se para reembarcar, e entra no barco.
Ao verificar que seu benfeitor vai partir, o ex-obsidiado - talvez chocada por vê-Lo a3sim maltratado e
enxotado - resolve solicitar-Lhe um lugar de discípulo, para acompanhá-Lo sempre. Sem dar os motivos, Jesus recusa mantê-lo a Seu lado, mas nem por isso deixa de confiar-lhe tarefa de alta responsabilidade: a pregação, sobretudo pelo exemplo, do que recebera da Divindade. Humildemente o exobsidiado aceita a tarefa, e os evangelistas testam  que realmente ele passou a perlustrar a região da
Decápole, falando dos maravilhosos poderes de Jesus.
Do fato material podemos deduzir interessante liÁ„o: a da dificuldade que encontram os "filhos do
homem" ao "chegar ‡ outra margem" (‡ Terra), onde deparam espÌritos humanos na loucura da delinquÍncia, preferindo os porcos ao Cristo e suplicando que Este se afaste deles, para que n„o sofram
os prejuÌzos materiais da perda dos porcos.
A atuaÁ„o È descrita com pormenores. A humanidade atrasada n„o consegue tranquilizar-se nem ter
paz, embora se tente disciplin·-la: rompe todos os laÁos e sÛ se compraz "entre os t˙mulos", junto ‡s
criaturas cadaverizadas no mal e no materialismo mais grosseiro. Ao deparar com um Mission·rio do
Plano Superior, n„o compreendem o benefÌcio que possam usufruir e ainda pedem satisfaÁıes: "que te
importa nosso estado"? Rebeldes atÈ o fim,  n„o aceitam nenhum jugo, quebrando todos os grilhıes
que pretendam disciplin·-los e elev·-los. N„o se trata de um sÛ indivÌduo, tomado como sÌmbolo, mas
de uma îlegi„o", da maioria, da massa involuÌda ainda.
N„o obstante, levado pela forÁa sobre-humana do Manifestante Divino, prostra-se a Seus pÈs, e recebe ordem taxativa de evoluir: "EspÌrito inferior (tÛ pneuma tÛ ak·tharton, com o artigo definido antes
do substantivo e repetido antes do adjetivo, isto È, "espÌrito n„o-purificado" ou seja, "que n„o fez sua
catarse"), sai desse homem", para dar lugar ao "homem novo". A ordem do Mestre era dirigida ao
"espÌrito" (‡ personalidade) ainda atrasado, para que "se afastasse", deixando que o EspÌrito (a individualidade) assumisse o comando. Mas a rebeldia dos atrasados È enorme, por causa da ignor‚ncia:
pedem que "n„o os atormente" e preferem continuar a rebolcar-se entre os suÌnos, a subir um degrau
evolutivo, abandonando os vÌcios. Ent„o o Avatar deixa-os ‡ prÛpria sorte, n„o os forÁa, e espera atÈ
que tenham capacidade para compreender a necessidade de progredir, saindo da lama dos chiqueiros
(n„o vemos, ainda hoje, populaÁıes  miser·veis que recusam sair  das favelas, dos mocambos, dos
"alagados", para habitar em conjuntos residenciais limpos? N„o se trata de carma, mas de involuÁ„o;
eles se comprazem na sujeira em que vivem; e mesmo quando s„o transportados ‡ forÁa, levam consigo sua sujeira, e em menos de um mÍs o pequeno apartamento novo j· se tornou a mesma pocilga em
que estavam habituados a viver). Acontece que eles "solicitam com insistÍncia" que os mande para os
porcos e isso lhes È permitido. Eles v„o. E o resultado n„o se faz esperar: quem quer permanecer noSABEDORIA DO EVANGELHO
Página 47 de 153
por„o da humanidade, comprazendo-se na animalidade que j· deveria ter sido superada, sÛ pode ter o
destino de "afogar-se", j· que a descida pelo declive dos vÌcios È f·cil, mas leva ‡ morte.
No entanto, alguns se dispıem a  realizar a faÁanha, e a primeira  vantagem que experimentam È a
conquista da liberaÁ„o com a paz consequente. LÛgico que, ao sentir-se liberado das terrÌveis forÁas
negativas, seu primeiro impulso, ampliado pelo sentimento de gratid„o, È ligar-se ao Avatar, dedicando-se totalmente a Seu serviÁo. Mas apesar da boa-vontade e das boas-intenÁıes, ele n„o se acha maduro para esse passo: È ent„o aconselhado a realizar seu apostolado entre os de sua evoluÁ„o (seus
parentes e conterr‚neos), e para isso existem tantas seitas e religiıes, tantos sistemas de espiritualismo que exatamente servem para conservar em seus ambientes aqueles que j· desejam progredir, mas
que n„o podem dar saltos, por falta de vivÍncia anterior. Nesses agrupamentos, v„o eles plasmando as
experiÍncias necess·rias, atÈ que um dia possam alÁar vÙo.
Vem a seguir a reaÁ„o daqueles que assistem ao fenÙmeno. Ao verificarem a transformaÁ„o das personalidades (que eles conheciam desequilibradas nos vÌcios) tornando-se pacÌficas e ordeiras, eles
"tÍm medo"! ... Medo dos bons! Medo dos calmos! Eles que o n„o tinham dos viciados, porque lhes
eram iguais. E chegam ‡ conclus„o de que tal mudanÁa n„o lhes È ˙til nem vantajosa: mil vezes melhor permanecer no materialismo grosseiro e animal! Resolvem, ent„o, solicitar ao Mensageiro "que
se retire deles", que abandone o planeta visitado. O  exemplo de Jesus, nessa  circunst‚ncia, foi atÈ
suave pois, na realidade, eles n„o costumam "pedir" que se afaste: eles o expulsam, quase sempre de
modo rude e violento (decapitaÁ„o, enforcamento, fogueira, crucificaÁ„o, etc.).
Nesta compreens„o mais lÛgica e profunda, fica totalmente explicado que n„o se trata em absoluto de
"espÌritos" desencarnados que "incorporem" em  porcos, nem tampouco de castigo para os pobres
animais. Se o fato se realizou, como È relatado e possÌvel, foi apenas para que dele pudÈssemos extrair
uma liÁ„o preciosa e oportuna para nossa prÛpria evoluÁ„o.
Em todos os atos e palavras, os Manifestantes Divinos trazem ensinamentos que s„o apreendidos e
vividos por aqueles que os conseguem compreender: "quem tem ouvidos, ouÁa". . "quem puder compreender, compreenda ...