Estudando o Espiritismo

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domingo, 2 de outubro de 2016

A Parábola do Bom Samaritano


" Certa vez, estando Jesus a ensinar, eis que se levantou um doutor da  lei e lhe disse, para o experimentar: -  Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: -  Que está escrito na lei? Como é  que lês? Tornou aquele: -  ‘Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma,  com todas as tuas forças e de toda a tua mente; e a teu próximo como a  ti mesmo.’ -  Respondeste bem, disse-lhe Jesus. Faze isto, e viverás. Mas ele, querendo justificar-se, perguntou ainda:  -  E quem é  o meu próximo?     Ao que Jesus tomou a palavra e disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó e caiu nas mãos dos ladrões que logo o despojaram do que levava;  e depois de o terem maltratado com muitas feridas, retiraram-se, deixando-o meio morto.      Casualmente, descia um sacerdote pelo mesmo caminho; viu-o e passou para o outro lado; Igualmente, chegou ao lugar um levita; viu-o e também passou de largo. Mas, um samaritano, que ia  seu caminho, chegou perto dele e, quando o viu, se moveu a compaixão.  Aproximou-se, deitou-lhe óleo e vinho nas chagas e ligou-as; em seguida,  fe-lo montar em sua cavalgadura, conduziu-o a uma hospedaria e teve  cuidado dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os  ao hospedeiro, dizendo: Toma cuidado dele, e o que gastares a mais  pagar-to-ei na volta.    Qual desses três  se houve como próximo daquele  que caíra nas mãos dos ladrões?    Respondeu logo o doutor:
-  Aquele que usou com o tal de misericórdia.  Então lhe disse Jesus: -  Pois vai, e faze tu o mesmo"  (Lucas 10:25-37)
  O samaritano, considerado desprezível pelos judeus ortodoxos, mas cumpridor dos seus deveres humanos, não se limitou a condoer-se do moribundo. Chegou-se a ele e o socorreu da melhor forma possível, levando-o em seguida a um lugar de repouso onde o assistiu melhor, recomendando-o ao hospedeiro e prontificando-se a ressarcir todos os gastos quando da sua volta.
  A caridade foi ali dispensada a um desconhecido, e quem a praticou não objetivou recompensa, o que não é muito comum na Terra, onde todos aqueles que praticam atos caridosos, logo pensam nas recompensas futuras, na retribuição na  vida espiritual.
Os samaritanos eram dissidentes do sistema religioso implantado na Judéia - eram os protestantes da época. Com o fito de demonstrar a precariedade dos ensinamentos da religião oficial, Jesus Cristo figurava os samaritanos como sendo aqueles que melhormente haviam assimilado os seus ensinos, concretizando em atos tudo aquilo que aprendiam através das palavras.
  Além de nos ensinar o feito generoso do samaritano da parábola, o Mestre também os tomou como paradigmas em outras circunstâncias, para ilustração reportemos-nos ao majestoso ensino sobre a Mulher Samaritana (João, 4:5-30) e o da cura de dez leprosos, dentre os quais apenas um que era samaritano lembrou-se de voltar para render graças a Deus pela cura obtida (Lucas, 17:11-19).
  Diante da pergunta: "Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?", Jesus não disse, absolutamente, que havia uma "salvação pela graça, mediante a fé" nem tão pouco indicou como processo salvacionista a filiação a esta ou aquela igreja; assim como não cogitou de saber qual a idéia que o outro fazia dele, se o considerava Deus ou não.  Ante a citação feita pelo doutor da lei, daqueles dois mandamentos áureos que sintetizam todos os deveres religiosos, disse-lhe apenas:    ‘faze isso, e viverás’, o que equivale a dizer: aplica as tuas forças morais, intelectuais e efetivas na produção do bem, em favor  de ti  mesmo e do próximo, e ganharás a vida eterna!”
  O tal porém, nem sequer sabia quem era o próximo! Como, pois, poderia amá-lo como a si mesmo, a fim de se tornar digno do Reino?
  Jesus, então, extraordinário pedagogo  que era, serenamente , sem  impacientar-se, conta-lhe a parábola do "bom samaritano", através da  qual  elucida o assunto, fazendo o compreender que ser próximo de alguém é  assisti-lo em suas aflições, é  socorrê-lo em suas necessidades, sem indagar de sua crença ou nacionalidade. E após argüi-lo, vendo que ele entendera a lição, conclui, apontando-lhe o caminho do céu, em meia dúzia de palavras:
-  ‘Pois vai, e faze o mesmo!’
Os apologistas cristãos dizem que Jesus apenas ensinou como amar o próximo e a parábola nada fala sobre "salvação". Como não fala, se a pergunta inicial foi sobre o que fazer para ter a Vida Eterna?    Se crer que Jesus é Deus cujo sangue salva o mundo fosse o mais importante, ele não teria colocado justamente um samaritano como exemplo. E por que justamente um samaritano, que pelo povo era tido como "herege" e aqui foi colocado como exemplo de bem-aventurança por amar ao seu próximo?   Não estava o Cristo lançando solene admoestação ao preconceito ? Não estava o Mestre Amigo dizendo que a Justiça do Pai não incide sobre ritos e dogmas, mas sobre relações de humanidade ? Afinal, resumiu o Senhor toda a lei e os profetas a quê? Vejamos: "(...) tudo o que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles; esta é a lei e os profetas" (Mateus 16:27). Logo,  quanto aos critérios do Pai do Céu, no exercício de sua Justiça, nada falou o Mestre a respeito de rótulos ou ritos, apenas de atitudes, de relações de humanidade. Eram os fariseus, tão combatidos pelo Cristo, que achavam mais importante o apego as escrituras do que o amor desinteressado a Deus e ao seu próximo.
Argumentam, por fim, dizendo que Jesus não havia ainda sido crucificado e que, a partir de sua morte e ressurreição, isso mudaria e a salvação se daria somente através da crença em Jesus como Deus que se sacrificou por nós. Mas vamos analisar a situação. O que significa isso? Que Jesus deu uma bela lição contra preconceito e intolerância, mas que a partir de sua ressurreição, seria ele próprio intolerante e preconceituoso, mandando para o fogo eterno homens como aquele samaritano só por não o idolatrarem como o Deus que se fez carne, morreu e ressuscitou? Eu não acredito, por uma simples questão de lógica e, ainda, fé na bondade e amor do nosso Criador. Não acredito em um Deus egoísta assim e pronto. Aliás, os versículos abaixo foram escritos após a ressurreição do Cristo:
"pois para com Deus não há acepção de pessoas. Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. Pois não são justos diante de Deus os que só ouvem a lei; mas serão justificados os que praticam a lei " (Romanos 2:11-13)
"Deus não faz acepção de pessoas, mas é agradável a todo aquele que em qualquer nação o teme e obra o que é justo". (Atos 10:34-25)
Está claro pra mim que,  independentemente da crença pessoal de cada um, a prática das leis de Deus agrada a Deus - o mesmo pensamento da parábola do bom samaritano.
Outro absurdo: o samaritano antes de Jesus estaria salvo, pois bastou demonstrar amor com seu próximo. Chico Xavier, Gandhi, Dalai Lama e tantos outros que não seguem esse dogma absurdo estão condenados, de acordo com o que pensam os católicos e evangélicos. Mas antes de Jesus seriam justificados apenas pelas obras. Então, pergunto: Jesus veio para salvar ou, como um Deus egoísta e cruel que exige uma adoração de tal e tal forma predeterminada(Deus que se fez homem para tirar o pecado do mundo simplesmente morrendo na cruz), CONDENAR a maior parte da Humanidade? Além do problema do tempo, de antes e depois de Jesus, há o problema do espaço: a maior parte da Humanidade não vive no mundo considerado "cristão". Assim, budistas,os selvagens, todos estariam condenados eternamente.
Jesus disse "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros. " (João 13:35)
Isso que importa e não crenças pessoais.
Diz a Confissão de Fé de Westminster"(item XVII), órgão máximo do presbiterianismo, que "boas obras são somente aquelas que Deus recomendou em sua santa palavra, e não as que sem esta garantia são inventadas por homens por um zelo cego ou sob o pretexto de qualquer boa intenção. Obras feitas por homens não regenerados - embora em si mesmas possam ser matérias que Deus ordena - são pecaminosas e não podem agradar a Deus" (grifo meu)
Entenderam? Se um cristão não pertencer à Igreja, nem tente praticar  boas obras, porque estará é... pecando! Esse primor de intolerância, embora redigido há mais de 300 anos, continua como fundamento da teologia atual. É certo que alguns teólogos mais evoluídos têm procurado conciliar os velhos dogmas com as percepções científicas modernas, mas são logo rechaçados pelos "fundamentalistas".
    Ou seja,   o samaritano, tido como herege, é colocado como exemplo pelo Cristo. Hoje, se um "herege" praticar uma boa ação, segundo a Confissão de Fé de Westminster", estará pecando.
    E os católicos não ficam atrás. O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, anatematiza a doutrina da salvação somente pelas obras:
"811. Cân. 1. Se alguém disser que o homem pode ser justificado perante Deus pelas suas obras, feitas ou segundo as forças da natureza, ou segundo a doutrina da Lei, sem a graça divina [merecida] por Jesus Cristo — seja excomungado."
Para os cristãos de hoje, não há diferença entre Chico Xavier, Hitler, Gandhi e Fernandinho Beira-Mar. São todos "hereges" e vão pro inferno. Mas Jesus Cristo não pensava assim.

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