Mat. 8:18 e 23-27
18. Ora, vendo Jesus a multidão em redor de si, mandou
passar para a outra margem (do lago).
. . . . . . . . . . . . . . . . .
23. E entrando ele no barco,
acompanharam-no seus
discípulos.
24. Surgiu então no mar tão
grande agitação que as ondas cobriam o barco; mas
Jesus dormia.
25. Aproximando-se, os discí-
pulos o acordaram dizendo: "Salva-nos Senhor, que
perecemos"!
26. Ele lhes disse: "Por que
temeis, homens de pequena
fé'? Então erguendo-se, repreendeu os ventos e o mar,
e fez-se grande calmaria.
27. E os homens se maravilharam, dizendo: “Quem é
esse, que até os ventos e o
mar lhe obedecem"?
Marc. 4:35-41
35. Naquele dia, ao cair da tarde, lhes disse: "Passemos
para o outro lado (do
lago)".
36. Deixando eles a multidão,
levaram-no assim como estava no barco; e estavam
com eles outros barcos.
37. E levantou-se grande turbilhão de vento e as ondas
caíram no barco, de modo
que já se enchia.
38. E ele estava dormindo na
popa sobre o travesseiro; e
eles o acordaram e lhe perguntaram: "Mestre, não te
importas que pereçamos"?
39. Tendo ele acordado, repreendeu o vento e disse ao
mar: "Cala-te! Fica amordaçado"! E cessou o vento e
houve grande calmaria.
40. Então lhes perguntou: Por
que sois tão medrosos?
Como ainda não tendes
confiança"?
41. E eles, cheios de medo, diziam uns aos outros:
"Quem é este, que até o
vento e o mar lhe obedecem"?
Luc. 8:22-25
22. E aconteceu que, num daqueles dias, entrou num
barco com seus discípulos e
disse-lhes: "Passemos para
o outro lado do lago". E
partiram.
23. Enquanto eles navegavam,
ele adormeceu. E desabou
um turbilhão de vento sobre o lago e o barco se encheu e estavam em perigo.
24. Aproximando-se, despertaram-no, dizendo: "Mestre,
Mestre, perecemos"! Tendo
ele acordado, repreendeu o
vento e a fúria da água, e
cessaram, e houve calmaria.
25. Então lhes perguntou:
"Onde está vossa confian-
ça"? Eles, aterrorizados,
admiraram-se, dizendo uns
aos outros: "Quem é este,
afinal, que manda aos ventos e à água e eles lhe obedecem"?
Ao cair da tarde, já tendo terminado o ensino, Jesus ordena que se passe “para o outro lado". A frase
era suficiente, num país como a Palestina, dividido ao meio de norte a sul pelo rio Jordão e seus lagos
(Mar Morto e Lago de Genesaré, o qual, no domínio romano, passara a denominar-se Mar de Tiberíades), formando a faixa ocidental (Cisjordânia) e a oriental (Transjordânia).
O evangelista anota o pormenor de que Jesus foi "assim como estava", ou seja, não desceu à terra para
apanhar o manto, recomendável numa travessia do lago durante o frio da noite, a 200 metros abaixo do
nível do mar, onde as variações climáticas são bruscas.
O lugar de honra situava-se na popa, perto do leme, e o passageiro sentava-se geralmente num tapete
velho, apoiando-se num travesseiro de couro. Recostando-se, cansado - embora a elevação espiritual
extraordinária, possuía um corpo físico, e portanto estava sujeito ao cansaço - adormeceu para refazer
as células fatigadas pelo trabalho exaustivo dos últimos dias, sobretudo pelo magnetismo gasto nas
curas. Note-se que esta é a única vez em que os Evangelhos nos apontam Jesus a dormir.
O barco seguia normalmente sua rota para a margem oriental, quer impelida pelos remos, quer, mais
possivelmente, pela vela que aliviava os braços dos discípulos.
A agitação violenta das águas do Tiberíades, provocada por correntes de ar que descem pelo vale do
Jordão, são, ainda hoje, tão repentinas, que é difícil prevê-las. Marcos e Lucas a chamam lailaps, isto
é, um "turbilhão de vento".
Os barcos aprumam-se na crista das vagas de até dois metros, abatendo-se a seguir nos sorvedouros,
enquanto os vagalhões passam por cima do barco, "cobrindo-o" literalmente e perigosamente adernando-o. Não é incomum, porém, terminar como começou: rapidamente. Pelas palavras dos três evangelistas, é disso que se trata, e não propriamente de "tempestade" com chuvas e trovoadas. Era, pois, um
vendaval mais violento que os comuns, de modo a assustar os pescadores, tão acostumados ao seu
lago, que lhes dava o sustento.
Segurando-se nos bancos, chegaram até Jesus e o despertaram do sono, bastante pesado, a ponto de
não ter sentido a ventania. Após pequena repreensão aos discípulos pela falta de confiança manifestada, usando um termo que era corrente entre os rabinos e no linguajar de Jesus (oligÛpistoi), Jesus ergue-se e comanda aos ventos, em primeiro lugar, por serem a causa; e em seguida ao mar; e imediatamente fez-se acalmaria (em grego foi usado o termo técnico, galÈnÈ).
As ordens, citadas só por Marcos, são curtas. Ao vento: cala-te; ao mar, fica amordaçado. É difícil traduzir exatamente o termo grego pephimÙso, que é o imperativo perfeito passivo de phimÙo, tempo que
não possuímos nas línguas românticas, nem mesmo havia em latim.
Mesmo habituados a uma bonança relativamente rápida, o inesperado da cena ataranta os discípulos;
embora familiarizados com as curas e as desobsessões (também praticadas em larga escala pelos essê-
nios-terapeutas), não sabem explicar o poder de uma criatura humana sobre os elementos desencadeados em fúria, amainando-os de súbito. E vem-lhes a dúvida: "quem será, afinal, esse carpinteiro? Era
bom e compassivo, dominava as enfermidades e os espíritos, mas ... comandar assim a natureza? Isso
superava-lhes a capacidade de compreensão.
As interpretaÁıes mais comuns do trecho vÍm da antiguidade (cfr. Agostinho, Serm„o 68, Patrol. Lat
o, vol. 38 col. 424), de que a cena simboliza:
a) a igreja crist„ que, mesmo na tempestade, tem Cristo ao leme e, embora este pareÁa dormir, na
hora oportuna despertar· e salvar·;
b) a alma humana que, mesmo agitada pelas provaÁıes, n„o sucumbir· se recorrer a Cristo que nela
se encontra, embora no silÍncio do sono.
Outras aplicaÁıes ainda poderiam ser feitas, para situaÁıes semelhantes, mas o sentido profundo do
fato È o segundo, dado por Agostinho.
O espÌrito est· viajando no barco do corpo, atravessando o lago deste mundo com seus veÌculos (discÌpulos) e com frequÍncia repentinamente se levantam turbilhıes de vento que ameaÁam o naufr·gio
total. O Eu Profundo jaz adormecido na popa, deitado no travesseiro no imo do coraÁ„o. Quando,
entretanto, as circunst‚ncias se tornam desesperadoras, os veÌculos recorrem aos gritos ao Cristo
Interno - embora, muitas vezes, por ignor‚ncia, se voltem para fora, a fim de recorrer ao "santo" externo. No entanto, DEUS EM N”S est· atento a nossas necessidades e "sabe melhor do que nÛs aquilo
de que necessitamos" (cfr. Mat. 6:8) e socorre-nos sempre a tempo. E com direito, ao presenciar nossa afliÁ„o, nos repreende docemente: "por que Ès medroso? como ainda n„o tens confianÁa"?
Mas qu„o dificilmente se corrige o homem, adquirindo a impassibilidade da confianÁa inabal·vel de
quem SABE que CRISTO est· conosco, est· DENTRO DE N”S, e que vivemos a prÛpria vida Dele e
que, portanto, nenhum furac„o externo poder· atingir-nos!
Outra liÁ„o aÌ vemos ainda. Quando nosso EspÌrito se vÍ envolvido pelo vendaval das paixıes, originadas em nossos veÌculos inferiores; quando percebe, por exemplo, que as violentas emoÁıes de uma
paix„o ilÛgica o envolvem, prestes a fazÍ-lo soÁobrar, nenhum auxÌlio melhor pode ser-nos trazido: o
recurso ao Pai que em nÛs habita È o ˙nico que consegue acalmar as ondas de desejo desenfreado,
trazendo bonanÁa aos veÌculos etÈrico, astral e intelectual. O ensino È de profundo alcance e mostranos o caminho certo: ligaÁ„o com o Cristo Interno, fazendo-O ìdespertar" em nÛs, para que Ele, com
Sua palavra autorit·ria, faÁa cessar os desordenados e perturbadores Ìmpetos do tuf„o borrascoso
que esses corpos provocam, arriscando matar espiritualmente nosso "espÌrito", por fazÍ-lo afogar-se
em terrÌveis convulsıes de longos e penosos carmas.
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