Estudando o Espiritismo

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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Amizade

Nilson adotou a humildade operosa como bússola para a sua vida

Por Rogério Coelho


Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a vida pelos seus amigos. Jesus (Jo. 15:13)

Preciosa conquista, a amizade é o pólen do amor, a medrar onde quer que as flores do sentimento desabrocham na árvore generosa da dignidade humana. [1]

Os sentimentos fraternos foram realçados pelo Apóstolo dos Gentios aos Tessalonicenses[2] como pré-condição aos trabalhos na Seara do Cristo ao afirmar: Quanto à caridade fraternal, não necessitaria lhes escrever, visto que estão todos instruídos por Deus de que devem amar-se uns aos outros.

Emmanuel[3] lança um questionamento direto: Que esperam os companheiros esclarecidos para serem efetivamente irmãos uns dos outros?

Ele mesmo, mui austeramente responde à própria indagação:  Muita gente se esquece de que a solidariedade legítima escasseia nos ambientes onde é reduzido o espírito de serviço e onde sobra a preocupação de criticar. Instituições notáveis são conduzidas à perturbação e ao extermínio, em vista da ausência do auxílio mútuo, no terreno da compreensão, do trabalho e da boa-vontade.

Falta de assistência? – Não!

Toda obra honesta e generosa repercute nos Planos Mais Altos conquistando cooperadores abnegados.

Quando se verifique a invasão da desarmonia nos Institutos do Bem, que os agentes humanos acusem a si mesmos pela defecção nos compromissos assumidos ou pela indiferença no ato de servir. E que ninguém peça ao Céu determinadas receitas de fraternidade, porque a fórmula sagrada imutável permanece conosco no sempiterno: “Amai-vos uns aos outros.”

Por tão bem compreender o valor desse postulado o Apóstolo Paulo escreveu[4]: Permaneça o amor fraternal.

Emmanuel[5], fiel discípulo do Doutor Tarsense, abrindo o leque de nosso entendimento, cavoucando as leiras evangélicas e extraindo de suas entranhas as gemas preciosas com o instrumental de sua irreprochável lucidez, esclarece: Este apelo evangélico de Paulo, reveste-se de imensa importância.

As afeições familiares, os laços consanguineos e, as simpatias naturais podem ser manifestações muito santas da Alma quando a criatura as eleva ao altar do sentimento superior, contudo, é razoável que o Espírito não venha a cair sob o peso das inclinações próprias.

Por demasia de cuidados, inúmeros pais prejudicam os filhos.

Por excesso de preocupações, muitos cônjuges descem às cavernas do desespero, defrontados pelos insaciáveis monstros do egoísmo e ciúme que lhes aniquilam a felicidade.

Em razão da invigilância, belas amizades terminam em abismos de sombras.

 O equilíbrio é a posição ideal.

 A fraternidade pura é o mais sublime dos sistemas de relações interpessoais.

O homem que se sente filho de Deus e sincero irmão das criaturas não é vítima dos fantasmas do despeito, da inveja, da ambição e da desconfiança. Os que se amam fraternalmente alegram-se com o júbilo dos companheiros; sentem-se felizes com a ventura que visita os semelhantes.

As afeições violentas, comumente conhecidas na Terra, passam, vulcânicas e inúteis.

 Na teia das reencarnações, os títulos afetivos modificam-se constantemente. É que o amor fraternal sublime e puro, representando o objetivo supremo do esforço de compreensão, é luz imperecível que sobreviverá no caminho eterno.

Pela Humanidade, Jesus fez tudo o que era possível em renúncia e dedicação… É impressionante a Sua imensa afeição pelas criaturas. Seu exemplo, seguido através dos séculos por abnegados discípulos, é sementeira de luz ensejando o vicejar da vera fraternidade.

Atentemos agora para o depoimento do médium fluminense J. Raul Teixeira, inserto no livro do Dr. Miguel de Jesus Sardano, intitulado: Nas Pegadas do Nazareno:

(…) a História registra, com observações curiosas e importantes, uma realidade que não se pode esquecer ou menosprezar. Todos aqueles que se destacaram, singrando mares bravios e ignotos, ou aqueles que desbravaram selvas, ou se tornaram heróis por vários motivos que os consagraram, e tantos que se santificaram no bem, não o lograram sem a participação de outra alma dedicada que os apoiou, sustentou, auxiliou…

Temos desde Sancho Panza, no famoso romance de Cervantes, personificando o bom-senso realista ao lado do extremo idealismo de Dom Quixote, até a excelente atuação de Anne Sullivan, mestra devotada da menina Hellen Keller que, aos dois anos de idade, ficara cega, surda e muda, transformando-se com a assistência de Sullivan, a “fazedora de milagre”, na expressão cinematográfica de Arthur Penn, numa mulher detentora de diversos títulos universitários, conhecida e festejada em todo o mundo.

Conhecemos dedicações como a de Frei Leão para com o “paizinho seráfico”, Francisco de Assis, até o reforço tranquilo e sem alarde de Amélie Boudet, a doce Gaby, ao gigantesco trabalho de seu esposo Allan Kardec.

Ao lado de Divaldo Pereira Franco, na condição de amigo, irmão, guardião e apoio, ergue-se uma figura que encanta pela simplicidade e amor ao trabalho, que sensibiliza por seu devotamento à Obra que, juntos, fundaram e por sua incansável versatilidade, atuando nos serviços de pedreiro ou gráfico, de carpinteiro ou eletricista, de mecânico de automóveis ou de pintor, unindo tudo isso à sua condição proeminente de pregador e doutrinador de largos recursos: Nilson de Souza Pereira.

Se não é fácil ser grande durante mais de meio século, diante de câmeras, de jornalistas, luzes, aplausos e pedradas públicos, igualmente não é simples o trabalho de firmar os alicerces, que ninguém vê, quando tantos anseiam por aparecer, por projetar-se na claridade dos outros. Não é simples, também, o empenho de aprender a ouvir atencioso, quando se sabe também falar; não é banal a grandeza de renunciar à prática mediúnica na condição de médium ostensivo, para dedicar-se ao diálogo instrutivo e emocionante com aqueles tidos como mortos, mas que cantam ou choram, bendizem ou blasfemam no Além. Pois bem, o nosso Nilson escolheu tal posição adotando a humildade operosa como bússola para a sua vida.

(…)ao levantarmos a voz para louvar a Deus pelos decênios em que Divaldo espalha luz pelas plagas distintas do mundo, não podemos silenciar quanto a esse Apóstolo silencioso que lhe prepara o suporte, mantendo na retaguarda o Grupo de trabalhadores em ação, em prece pelo amigo em contínuas viagens.

Quando conhecemos de perto a extensão e a importância da Obra de Divaldo em Salvador; quando percebemos o papel de Nilson no seu plano de atividades, já não conseguimos pensar nela sem os dois que, embora distintos, se completam, nesse compromisso fulgurante com Jesus, que se espraia por dezenas de anos, nas terras do Brasil, vitorioso e abençoado.

Ninguém tem maior amor do que este:  de dar alguém a vida pelos seus amigos.     


[1] – FRANCO, Divaldo Pereira.  Sublime Expiação. Rio [de Janeiro]: FEB, Livro 2º – cap. I.

[2] – I Tessalonicenses, 4:9.

[3] – XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso.  17.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1996, cap. 10.

[4] – Hebreus, 13:1.

[5] – XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso.  17.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1996, cap. 141.

A amizade

A amizade é o sentimento que imanta as almas unas às outras, gerando alegria e bem-estar.
A amizade é suave expressão do ser humano que necessita intercambiar as forças da emoção sob os estímulos do entendimento fraternal.
Inspiradora de coragem e de abnegação. a amizade enfloresce as almas, abençoando-as com resistências para as lutas.
Há, no mundo moderno, muita falta de amizade!
O egoísmo afasta as pessoas e as isola.
A amizade as aproxima e irmana.
O medo agride as almas e infelicita.
A amizade apazigua e alegra os indivíduos.
A desconfiança desarmoniza as vidas e a amizade equilibra as mentes, dulcificando os corações.
Na área dos amores de profundidade, a presença da amizade é fundamental.
Ela nasce de uma expressão de simpatia, e firma-se com as raízes do afeto seguro, fincadas nas terras da alma.
Quando outras emoções se estiolam no vaivém dos choques, a amizade perdura, companheira devotada dos homens que se estimam.
Se a amizade fugisse da Terra, a vida espiritual dos seres se esfacelaria.
Ela é meiga e paciente, vigilante e ativa.
Discreta, apaga-se, para que brilhe aquele a quem se afeiçoa.
Sustenta na fraqueza e liberta nos momentos de dor.
A amizade é fácil de ser vitalizada.
Cultivá-la, constitui um dever de todo aquele que pensa e aspira, porquanto, ninguém logra êxito, se avança com aridez na alam ou indiferente ao elevo da sua fluidez.
Quando os impulsos sexuais do amor, nos nubentes, passam, a amizade fica.
Quando a desilusão apaga o fogo dos desejos nos grandes romances, se existe amizade, não se rompem os liames da união.
A amizade de Jesus pelos discípulos e pelas multidões dá-nos, até hoje, a dimensão do que é o amor na sua essência mais pura, demonstrando que ela é o passo inicial para essa conquista superior que é meta de todas as vidas e mandamento maior da Lei Divina.

Joanna de Ângelis
Divaldo Pereira Franco

O valor de uma amizade

"Costuma-se dizer que ninguém pode escolher a família em que nasce. Mas é possível selecionar os amigos, que são como a extensão da vida. A amizade, um dos sentimentos mais nobres que existem, nasce de forma espontânea, pura e vai se desenvolvendo até chegar à maturidade. Caracteriza-se por uma afinidade muito grande com alguém, baseada no amor, no carinho, na ternura, no respeito, na compreensão, na troca e na ajuda. É um sentimento muito sincero, que não depende da idade, de dinheiro e de posição social.

O amigo é um dom precioso. A própria Bíblia diz que "quem encontrou um amigo encontrou um tesouro". A amizade é um sentimento limpo, verdadeiro e profundo. Instiga a pessoa ao apoio e ao incentivo, quando as coisas estão bem. E à correção, com muito jeito e carinho, quando estão erradas. Amigo é aquele que está sempre presente, que adivinha o pensamento do outro, sem melindrá-lo; que é sincero e faz da amizade um ponto positivo na vida.

No relacionamento diário, entra-se em contato com muitas pessoas. Mas o amigo torna-se alguém diferente, especial e único. E visto com outros olhos - uma pessoa por quem a gente torce, vibra e sofre. Está presente nos bons e nos maus momentos; é amado e tratado com muita sinceridade. Além da afinidade, a amizade sólida baseia-se no convívio, na compreensão e na manifestação desses sentimentos profundos. . Por essa razão, é um processo. Não nasce pronta. A relação deve ser construída e trabalhada dia a dia, por ambas as partes, porque exige reciprocidade. E como cultivar uma planta que, se não for regada com freqüência, morre.

A amizade, quando não cultivada, desfalece, esfria e acaba.

Quem gosta de outra pessoa não deve ter orgulho. Quando se é amigo, releva-se os defeitos e até o gênio difícil e a impaciência do outro. A compreensão é uma característica da amizade. Os sentimentos são livres e descontraídos, expressos sem cobranças. Numa grande amizade, as pessoas são fiéis. Ao amigo se fazem confidências, que, às vezes, não foram feitas a ninguém. Há uma entrega do que se é, pois não há traição nem mesquinharias. O amigo sempre está pronto para tudo e se pode contar com ele em qualquer momento ou situação de vida.

Mais que um irmão, o amigo é a oportunidade que Deus dá a cada um para encontrar sua metade. Com ele, a pessoa pode se revelar verdadeiramente: dizer não, sem medo de ferir; sim, sem medo de bajular; e as verdades, sem medo de ofender. Isso porque se acredita na amizade, por ela ser isenta de paixão. Num relacionamento assim, não existe inveja, orgulho, rancor ou grandes mágoas. A verdadeira amizade é eterna, como o amor.

Com o amigo, inexiste a censura e o medo de ser por ele conhecido a fundo. Nesse relacionamento, tudo vem à tona: as fraquezas, os limites, os defeitos, mas também as grandezas de alma e os aspectos positivos. Tudo é aceito, partilhado e vivenciado para o crescimento de ambos.

A amizade é uma ligação espiritual, que deixa a impressão de que sempre se conheceu o amigo. Isso ocorre porque ele preenche a outra metade da pessoa. Da mesma forma que se encontra o amor, encontra-se também o amigo. Trata-se de uma preferência de identificação, de carinho, de ternura e de vontades.

Atualmente, existem poucas pessoas que têm amigos e se fazem amigas. Há, também, as que vivem no seu próprio mundo, em que ninguém entra. Outras, por timidez, insegurança ou desconfiança, temem se arriscar, privando-se de uma das melhores coisas que Deus criou. Aqueles que são profundamente infelizes com certeza não conseguiram experimentar a alegria de uma verdadeira amizade. Não se abriram para o outro e morrerão sufocados pelo seu egoísmo.

A infelicidade existente no mundo resulta da incapacidade de as pessoas criarem vínculos de amizade e confiarem nas outras. Elas pensam só em si mesmas, revelando um egoísmo exacerbado. Não se dão ao trabalho de tentar construir uma amizade. Não se arriscam. Preferem ficar sozinhas. Há uma carência de sentimentos positivos relacionados às outras pessoas. Por que é tão difícil alguém encontrar o lado positivo do outro?

Quando os homens descobrirem o valor da amizade, a vida se tornará melhor, porque vale a pena sentir a felicidade de contar incondicionalmente com alguém."

Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/amizade/o-valor-de-uma-amizade/?PHPSESSID=1jgh1dgakppsv4geuci8k7cpf5#ixzz5GzPNt0xR

Amizade


 




A amizade nos estimula ao crescimento moral e espiritual? Existem diferentes tipos de amizades? Que hábitos podem ser desenvolvidos para a manutenção do relacionamento amigo? Quais as características da genuína amizade? Os verdadeiros amigos são aqueles que nos rodeiam pelo que temos ou pelo que somos?





“O ser humano é essencialmente sociável, encontrando, nos relacionamentos proporcionados pela amizade, estímulos para crescer moral e espiritualmente.



Sem dúvida, a amizade é portadora do calor necessário para fazer germinar os sentimentos que se encontram adormecidos no imo do ser, ao tempo em que se irradia com energias benéficas em favor daquele com o qual se relaciona.



A amizade independe dos interesses mesquinhos, do dar para receber, porquanto, o ato de estima sintetiza os dois fenômenos pelo produzir de satisfações confortadoras.



(...) A amizade é tão valiosa, que o som de uma voz amiga e conhecida produz o sorriso de alegria em quem o escuta.



A lembrança de um ato propiciado por um amigo gera satisfação e a perspectiva de um novo encontro desenvolve expectativa agradável.

Quando não se frui dessas satisfações, dificilmente encontra-se felicidade durante a existência terrena, sofrendo-se isolamento e angústia.



Estatísticas valiosas asseveram que as pessoas solitárias têm a probabilidade de desencarnar em muito menos tempo do que aquelas que experienciam convivências e relacionamentos afetivos.



(...) A amizade prolonga a existência física e embeleza as emoções.

(...) Amigos são bênçãos que devem ser cultivadas com carinho, respeito e consideração.” [1]







No capítulo 7, da segunda parte de O Livro dos Espíritos, intitulado “Lei de Sociedade”, Allan Kardec, por meio das respostas dos Espíritos às suas várias questões, discorre sobre a necessidade da vida social. Assim, Deus fez os seres humanos para viverem em sociedade, a fim de aprenderem o auxílio recíproco, sobretudo porque indivíduo algum possui todas as faculdades de maneira completa. Na questão 768, ao ponderar que a realização de uma pessoa, em determinada área, complementa a dificuldade de outra e vice-versa, o Codificador anota:



Pela união social, eles se completam uns pelos outros para assegurar seu bem-estar e progredir. Por isso, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados. [2]



Podemos afirmar que o cultivo da amizade [“sentimento de grande afeição, de simpatia (por alguém não necessariamente unido por parentesco ou relacionamento sexual)”] [3] atende plenamente aos dois objetivos elencados por Kardec, o bem-estar e o progresso individual, porque o convívio com pessoas amigas preenche nossa fatal necessidade de intercâmbio afetivo, bem como possibilita formas de crescimento pessoal que talvez não possam ser encontradas em outros tipos de relacionamento.



A falta de amigos não consegue ser preenchida pelo dinheiro, poder ou sucesso. Todos, indistintamente, necessitam da convivência com seus afins, os quais não são comprados, mas conquistados, cultivados. No mundo biológico, os animais se agrupam pela necessidade instintiva de sobrevivência. Na espécie humana, as amizades surgem por necessidades mais íntimas, como, por exemplo, a tentativa de superar a solidão.



Algumas das categorias de amizade são:



- amigos por conveniência – ocorre entre os indivíduos que, rotineiramente, trocam pequenos favores: vizinhos, colegas de trabalho, participantes de um grupo em comum;



- amigos de interesses pessoais – acontece entre aqueles que mantêm atividades semelhantes: companheiros do esporte, do estudo, do trabalho social;



- amigos históricos – refere-se a pessoas que desfrutaram de um relacionamento mais intenso na infância ou na adolescência. Os anos passaram, cada um seguiu o seu caminho, mas o contato, ainda que esporádico, permaneceu;



- amigos de gerações diferentes – quando o mais jovem dá ânimo ao mais velho, e este, por sua vez, orienta aquele com sua experiência de vida;



- amigos íntimos – entre aqueles que, emocional e fisicamente (encontrando-se, correspondendo-se, conversando ao telefone) cultivam uma relação de profunda intimidade, revelando, uns aos outros, muitos de seus mais secretos pensamentos e sentimentos, bem como dificuldades, desejos, temores...



Todavia, temos a tendência de alimentar uma percepção fantasiosa da amizade quando acreditamos, por exemplo, que amigos verdadeiros somente são aqueles em quem podemos depositar nossa absoluta confiança e que, por isso, jamais nos magoarão. Se esperamos, porém, conviver com alguém que tenha atingido tal superioridade no comportamento, poderemos ficar na solidão, porque, dificilmente, um indivíduo conseguirá corresponder a tão utópica expectativa. Será que uma possível dificuldade em conseguir amigos não tem por causa nosso perfeccionismo? Se nos sentimos, então, em condições de oferecer uma amizade tão isenta de percalços, idêntica a que exigimos dos outros, relevar as eventuais falhas alheias torna-se imprescindível, pois, até as mais puras amizades podem ser influenciadas por nossas imperfeições. Aquele que mais sabe deve ser o que mais ensina. Aliás, esta foi umas das lições de Jesus: “quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo.” (Mt 20:26-27) [4]



Quanto à importância de sabermos compreender um eventual mal momento alheio, Carlos Torres Pastorino aconselha:



Não se aborreça com seu amigo, só porque ele está mal humorado.

Saiba desculpar.

Quantas vezes também você está irritado, e responde mal a seus amigos... e  no entanto gosta que eles o desculpem.

Você não sabe o que lhe aconteceu, desconhece seus problemas íntimos... desculpe, então!

Não leve a mal, releve, e continue a querer-lhe bem.

É a melhor maneira de mostrar sua amizade e compreensão. [5]



O efeito do cultivo da amizade é a paz e a harmonia na convivência. Isso não significa a ausência de momentos de dificuldades e desprazer. O que ocorre é que, no verdadeiro relacionamento amigo, os momentos de desencontros sempre são superados pela grandeza de sentimentos e de propósitos que um indivíduo nutre em relação ao outro. Nesse sentido, o espírito Cairbar Schutel pondera sobre a importância de compreendermos no que consiste a amizade real, que, como tudo na vida, não nasce pronta; ao contrário, necessita de cuidados e atenções:



Ser amigo é uma arte. Saber ser amigo é um dom. Por que o homem não medita o quão amigo é, ou poderia ser, do seu semelhante? Entender o que é e o que significa amizade é um bom passo na solução dos problemas cotidianos que o cercam. [6]



****





Ah! Mistérios da alma! Mudam-se as roupagens terrenas, as experiências, as situações, as posições através das reencarnações, mas os corações sempre se reconhecem. [7]







Perante certas circunstâncias, um amigo é tudo o que mais precisamos, porque sua presença, seus conselhos e seu amparo auxiliam-nos na suavização dos obstáculos, no entendimento e enfrentamento dos percalços.  No entanto, muitas são as pessoas que querem ter amigos, mas não sabem como conquistá-los e nem como cultivá-los.



Não tem como sair pelo mundo à procura de amizade, pois ela é algo que acontece naturalmente. Mas, o exercício de bons hábitos ajuda, consideravelmente, na superação de algumas dificuldades nessa área, porque fazer e manter amigos trata-se de uma importante aptidão do ponto de vista do crescimento espiritual.

Algumas dessas práticas são:





– Saber ouvir para melhor compreender



Ressaltando o quanto um diálogo com os amigos pode nos ajudar no alívio da sensação de solidão ou desamparo, o espírito Joanna de Angelis argumenta:



A vida solitária constitui terrível carga para o organismo físico, emocional e mental, gerando desconforto e estresse, em razão dos conflitos que se estabelecem no íntimo e da impossibilidade de reparti-los com outrem em conversações edificantes. Não se trata de transferi-los ao próximo, porém, de realizar-se uma catarse positiva, trabalhando as faces nebulosas do sofrimento e encontrando caminhos ocultos para a sua liberação.



Quando se confia em alguém, torna-se mais fácil enfrentar dificuldades, confiando que sempre terá companhia e refúgio emocional na amizade, quando os problemas se tornarem mais graves ou mesmo sem eles.



Tendo-se com quem conversar, discutir problemas, comentar desafios e dores, embora permaneçam não resolvidos, outras são as condições emocionais para os solucionar, em face do aquecimento moral que vem do outro.  [1]



Saber que alguém nos conhece profundamente e que, por isso, melhor nos compreende, nos traz a certeza de que não estamos sozinhos. E o que mais desejamos de um amigo, sobretudo perante certas situações, é que nos ouça com generosidade e que seja empático com os nossos sentimentos.



Dessa forma, ser amigo implica, na respeitosa capacidade de ouvir, na generosa compreensão dos sentimentos alheios e na disposição de compartilhar da dor do outro, ajudando-o a suportá-la, quando preciso. Adenáuer Novaes ressalta a importância da empatia, assim argumentando:



Para ampliarmos nossas relações é preciso que aprendamos a ouvir com empatia, legitimando os sentimentos das pessoas. Na medida do possível ajudando-as a encontrar as palavras para identificar e verbalizar a emoção que estão sentindo.

(...) É preciso agir com empatia, o que traz uma compreensão melhor a respeito dos sentimentos dos outros, pois ela é a base da liderança competente; lidar com pessoas exige: capacidade de ouvir, vontade de ver as coisas pela ótica do outro e generosidade. Para melhor nos sociabilizarmos devemos aprender a dar valor aos sentimentos que estão por trás dos comportamentos, possibilitando uma maior facilidade de fazer amigos. [8]





– Respeito às diferenças



Para se viver uma amizade real, não é preciso que os envolvidos tenham os mesmos interesses, objetivos, convicções, modo de entender a vida... Ao contrário, o amigo aprende a conviver com as peculiaridades do outro, respeitando-o pelo o que ele é.



Ser amigo não é elogiar sem propósito, pois na amizade não é preciso comprar afeição. Mas, se um tiver de se contrapor ao outro, saberá fazê-lo de forma afetuosa e sincera, porque certos desenganos e dificuldades devem ser pontuados com o intuito de auxiliar o crescimento pessoal do companheiro e do próprio relacionamento. Obviamente que ninguém se colocará como melhor ou mais importante do que o outro, pois tal postura, quando adotada, provoca o enfraquecimento de qualquer relacionamento saudável.



Amigos alargam nossos horizontes. Servem como novos modelos com os quais podemos nos identificar. Permitem que sejamos nós mesmos – e nos aceitam como somos. Intensificam nossa autoestima, porque acham que somos “legais”, porque somos importantes para eles. E porque são importantes para nós – por várias razões, em vários níveis de intensidade – enriquecem nossa vida emocional. [9]



Augusto Cury, ao abordar sobre a incondicionalidade da verdadeira amizade, cita como exemplo o comportamento de Jesus:



Nas sociedades modernas, fazer amigo está virando artigo de luxo. O ser humano perdeu o apreço por uma relação horizontal equidistante. Ele gosta de anular o outro e de que o mundo fique aos seus pés. Mas Cristo, nos últimos dias da sua trajetória nesta terra, expressou que queria muito mais do que admiradores, queria amigos. Não há relação mais nobre do que ser e ter amigos. Os amigos se mesclam, confiam mutuamente, desfrutam do prazer juntos, segredam coisas íntimas, torcem uns pelos outros. Os amigos não anulam um ao outro, mas se completam.

(...) Certa vez, Cristo disse que muitos o honravam com a boca, mas tinham o coração longe dele (Mt 15:8). Parecia dizer que toda aquela forma distante de honrá-lo, de adorá-lo e supervalorizá-lo não o agradava, pois não era íntima e aberta.

(...) João, o discípulo, foi um amigo íntimo do Cristo. Ele teve o prazer e o aconchego de sua amizade. O desejo do mestre o marcou tanto que, mesmo quando velho, ele não esqueceu de registrar em seu Evangelho os três momentos em que Cristo chama seus discípulos de amigos (Jo 15:13, 15:14, 15:15). Muitos dos que o seguiram ao longo das gerações não enxergaram essa característica. Eles não compreenderam que Cristo procurava mais do que servos, mais do que admiradores, mais do que homens prostrados aos seus pés, mas amigos que amassem a vida e se relacionam intimamente com ele. [10]





– Desapego nas atitudes



Amigos se relacionam de maneira natural. Mas, se passarem a alimentar mútuas expectativas, obviamente que a naturalidade deixará de existir entre eles, porque cada um esperará que o outro atenda a muitos de seus desejos e necessidades. Entretanto, ninguém é capaz de gratificar todos os anseios de outra pessoa. E quando cobramos esse atendimento, estamos, em essência, tentando controlar o comportamento do outro para chegarmos aos resultados desejados.



Para que o relacionamento não seja caracterizado pela possessividade, como espíritas, precisamos estudar-nos no sentido de perceber até que ponto nossa amizade interfere nos direitos alheios. Não podemos nos permitir uma convivência desrespeitosa; não temos o direito de exigir a estima de pessoa alguma. Ademais, a amizade sem apego é a melhor condição de aprendermos a amar sem exigências.



Na realidade, a genuína amizade caracteriza-se pelo desinteresse pessoal e pela livre iniciativa, porque o verdadeiro amigo, na sua sinceridade e solidariedade, está sempre disposto a trabalhar em favor do companheiro sem esperar por compensações ou recompensas.



Há muitos amigos que nos estimam, e quando desaparecem da nossa presença, talvez não seja por ingratidão ou indiferença, mas a distância deve-se a dificuldades que desconhecemos, a compromissos novos ou porque encontram-se enfermos. Diante disso, devemos nos informar sobre a situação deles, quando lhes notamos a ausência, ao invés de nos envolvermos em sentimentos de menosprezo ou solidão.



A amizade, no enfoque espírita, não consiste tão-somente numa afeição autêntica, mas também numa síntese da caridade, conforme o espírito Emmanuel:



Caridade é, sobretudo, amizade.

Para o triste – é a palavra consoladora.

Para o mau – é a paciência com que nos compete ajudá-lo.

Para o desesperado – é o auxílio do coração.

Para o ignorante – é o ensino despretensioso.

Para o ingrato – é o esquecimento.

Para o enfermo – é a visita pessoal.

Para o estudante – é o concurso do aprendizado.

Para a criança – é a proteção construtiva.

Para o velho – é o braço irmão.

Para o inimigo – é o silêncio.

Para o amigo – é o estímulo.

Para o transviado – é o entendimento.

Para o colérico – é a calma.

Para o impulsivo – é a serenidade.

Para o leviano – é a tolerância.

Para o maledicente – é o comentário bondoso.

Para o deserdado da Terra – é a expressão de carinho. [11]



A partir desse entendimento, temos na amizade um sentido superior, calcado na mais pura solidariedade, de tal modo que o amigo representa aquela pessoa com a qual se pode contar como mão amiga nos momentos difíceis, sem qualquer risco de desconfiança ou de interesses outros. Amigo é o companheiro de jornada evolutiva (encarnado ou desencarnado) capaz de contribuir, desinteressadamente, para a felicidade do outro, obviamente no que diz respeito aos valores reais, não aos transitórios. Segundo Jesus, “ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15:13) [4]



Helen Keller (1880-1968), escritora, conferencista e ativista social americana, que ficou cega e surda desde tenra idade, provando, porém, que deficiências sensoriais não impedem a obtenção de sucesso, teria assim se expressado: “Meus amigos fizeram a história de minha vida. De mil maneiras transformaram minhas limitações em formosos privilégios e me permitiram caminhar serena e feliz na penumbra de minha privação.”





– Lealdade



Por nos inspirarem grande confiança e segurança, determinadas pessoas nos tocam de uma maneira muito especial. Possuem características em seu caráter que admiramos e que desejamos acrescentar à nossa vida. Se quisermos, portanto, mantê-las junto de nós, imprescindível, de nossa parte, a irrestrita honestidade em nossos pensamentos, palavras e atitudes.



O rompimento de uma amizade pode ser um dos eventos mais dolorosos, mas, frequentemente, muitas delas terminam pelo fato de um dos amigos ter traído a confiança do outro. Mas quando somos amigos de verdade, não falseamos nossos sentimentos, não deixamos de ser éticos principalmente para quem nos tem em tão alta conta. Joanna de Ângelis alerta:



Em qualquer relacionamento em que te encontres, cuida de ser leal e honesto, não te utilizando de recursos desprezíveis, mesmo que objetivem resultados que supões serem construtivos. O erro, a intenção malévola não podem contribuir de maneira saudável, por que as suas são estruturas deficientes e enfermiças. O mal jamais operará em favor do bem, porque a sua é uma contribuição destrutiva. [1]





– Saber apreciar os momentos felizes do outro



O indivíduo amigo sabe se alegrar com a felicidade alheia, mesmo que não obtenha vantagens na situação. Desse modo, o teste mais difícil da amizade consiste em ficar, sincera e completamente, ao lado dos companheiros em seus momentos de êxito, porque, em virtude de nosso grau evolutivo, ainda podemos alimentar, mesmo que inconscientemente, eventuais sentimentos de inveja e de competição em relação a eles. Segundo Judith Viorst, “amor e competição, amor e inveja podem coexistir entre os melhores amigos”. [9]



Os verdadeiros amigos não são aqueles que nos rodeiam pelo que temos, mas os que nos valorizam pelo que somos. Imprescindível, portanto, atentarmos para as nossas reações perante os momentos felizes de nossos afins, de modo a exercitarmos os melhores votos pelo seu sucesso e ventura.







O Amor pergunta à Amizade:

– Para que tu Serves?

E a Amizade responde:

– Sirvo para enxugar as lágrimas que tu deixas cair.” [12]









Perante os amigos



O amigo é uma bênção que nos cabe cultivar no clima da gratidão.



Quem diz que ama e não procura compreender e nem auxiliar, nem amparar e nem servir, não saiu de si mesmo ao encontro do amor em alguém.



A amizade verdadeira não é cega, mas se enxerga defeitos nos corações amigos, sabe amá-los e entendê-los mesmo assim.



Teremos vencido o egoísmo em nós nos decidirmos a ajudar aos entes amados a realizarem a felicidade própria, tal qual entendem eles deva ser a felicidade que procuram, sem cogitar de nossa própria felicidade.



Em geral, pensamos que os nossos amigos pensam como pensamos, no entanto, precisamos reconhecer que os pensamentos deles são criações originais deles próprios.



A ventura real da amizade é o bem dos entes queridos.



Assim como espero que os amigos me aceitem como sou, devo, de minha parte, aceitá-los como são.



Toda vez que buscamos desacreditar esse ou aquele amigo, depois de havermos trocado convivência e intimidade, estaremos desmoralizando a nós mesmos.



Em qualquer dificuldade com as relações afetivas é preciso lembrar que toda criatura humana é um ser inteligente em transformação incessante, e, por vezes, a mudança das pessoas que amamos não se verifica na direção de nossas próprias escolhas.



Quanto mais amizade você der, mais amizade receberá.



Se Jesus nos recomendou amar os inimigos, imaginemos com que imenso amor nos compete amar aqueles que nos oferecem o coração. [13]







Silvia Helena Visnadi Pessenda

sivipessenda@uol.com.br 





REFERÊNCIAS



[1] ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). Jesus e vida. Salvador, BA: Livr. Espírita Alvorada, 2007. Cap. “Amizadeterapia”.



[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 100. ed. Araras, SP: IDE, 1996.



[3] Grande Dicionário Houaiss Beta da língua portuguesa. Disponível em: <http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=amizade>. Acesso em: 11.02.2013.



[4] BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.



[5] PASTORINO, Carlos Torres. Minutos de sabedoria. 41. ed. Petrópolis: Editora Vozes. Mensagem 228.



[6] SCHUTEL, Cairbar (espírito); GLASER, Abel (psicografado por). Fundamentos da reforma íntima. 3. ed. Matão: Casa Editora O Clarim, 2000. Cap. 12.



[7] ANDRÉ (espírito); Wetzstein, Mauren R. M. (psicografado por). Nos campos da França. 2. ed. Matão, SP: Casa Editora O Clarim, 2003. Cap. 1. p. 21.



[8] NOVAES, Adenáuer. Psicologia do Evangelho. 2. ed. Salvador, BA: Fundação Lar Harmonia, 2001. Cap. “Inteligência emocional”.



[9] VIORST, Judith. Perdas Necessárias. 28. ed. São Paulo: Editora Melhoramentos Ltda,  2004. Cap. 12. (literatura não-espírita)



[10] CURY, Augusto Jorge. O Mestre dos Mestres: análise da inteligência de Cristo. 55. ed. São Paulo: Academia de Inteligência, 1999. Cap. 10. (literatura não-espírita)



[11] TAVARES, Clóvis. Amor e sabedoria de Emmanuel. 10. ed. Araras, SP: IDE, 1996. Cap. 11, da segunda parte.



[12] DELFOS: Revista Literária Espírita. Catanduva, SP: Boa Nova Editora. Ano VII. Edição 3. nº 27. p. 7.



[13] ANDRÉ LUIZ (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Sinal verde. 37. ed. Uberaba, MG: Comunhão espírita cristã, 1995. Cap. 12.

AMIZADE, ELIXIR DOS RELACIONAMENTOS


"As grandes assembléias excluem a intimidade, pela variedade dos elementos de que se compõem (...)" O Livro dos Médiuns - cap. 29 - item 335

Encontra-se cada vez mais escassa, embora seja cada vez mais procurada.

Quase todos a querem receber, poucos a desejam dar.

Muitos querem que alguém seja seu amigo, poucos oferecem-se como amigos.

Amizade: a alma dos relacionamentos, o elixir da convivência saudável e produtiva.

Em muitos lances da experiência relacional, a amizade tem sido o campo de esperanças no começo de muitos encontros, quase sempre, vindo a constituir-se, com o tempo, como a zona da convivência na qual despejamos limitações e necessidades, convertendo os melhores elos em extenso campo de conflitos a administrar.

Basta uma leve decepção e o encanto do primeiro instante desfaz-se, convertendo-se em antipatia ou mesmo aversão. Por isso, a amizade pede cuidados para ter sua finalidade útil e edificante ao aprendizado espiritual.

Como manter-lhe então a longevidade? Como superar a rotina que costuma tomar conta das amizades? O que tem faltado para que os amigos consigam continuar atraídos na permuta?

Respondamos tais questões definindo inicialmente o que fazem duas criaturas afinadas entre si. Amigos compartilham. Eis uma expressão que sintetiza sua relação: um elo de compartilhamento.

Compartilhar é participar, ter parte em algo do outro, mas não tomar conta ou exigir esse algo do outro, o que nos faz penetrar no âmbito da ética da liberdade.

Amigos compartilham coisas, valores, vibrações, momentos, prazer, trabalho, dever, diversão, o saber, a experiência, as tarefas espíritas, o aprendizado evangélico, necessidades...

Variados relacionamentos nomeados como amizade têm compartilhado, via de regra, problemas, dificuldades, invalidando o motivo central que faz com que duas pessoas se busquem para tecer momentos de convívio, que seria o preenchimento, a satisfação, a compensação, a busca do crescimento pessoal.

A verdadeira amizade, para prolongar-se e vencer a rotina, tem que estar assegurada por um ideal que absorva os amigos ao tempo que enrijeça a relação.

Na casa espírita, por exemplo, onde inúmeras vezes as pessoas recorrem em busca de apoio e de quem as compreenda, carregando extensa dificuldade para expor suas dificuldades, o ponto de partida da amizade é a atitude de disponibilidade para o sagrado ato de ouvir. Em seguida vem a confiança - fio afetivo condutor das amizades - e então estabelece-se um elã de profundidade que, regado pelo ideal de servir e aprender, mantém muitos corações longamente unidos no tempo.

Fraternidade e trabalho pelo próximo são os adubos da amizade espírita.

Mas precisamos estudar com mais atenção e debater os porquês de nossas agremiações estarem tão pouco afeitas à formação de grupos de amigos, transformando em muitas ocasiões a casa de amor em locais "sacralizados" de encontro com Deus, evitando o encontro entre humanos, guardando uma aura mística e sacra nas posturas, fazendo-nos recordar os templos de outrora nos quais nos encontrávamos para orar e, findo o ritual, cada qual retornava a seu caminho sem se conhecerem, sem se encontrarem para o diálogo, a troca. Outras vezes esse encontro toma maus rumos, graças a não terem seus componentes sido envolvidos pelo "Espírito evangélico", escasso ou mesmo ausente no ambiente onde se deram tais encontros.

Eis um tema oportuno a nossas discussões debatedoras.

Por que está escassa essa amizade em boa parte de nossas agremiações que cultuam o amor? Por que núcleos que laboram com a moral da fraternidade deixam uma lacuna ante os elos de seus membros? O que as agremiações doutrinárias podem empreender em favor da extensão de relações mais agradáveis?

Essa ausência de ternura entre os membros de um mesmo núcleo, guardando distanciamento, é empobrecedor para nossas realizações. Quando os componentes se amam, se conhecem, quando se estabelecem relações de confiança e respeito, as atividades ganham viço, estímulo, produtividade.

Os grandes grupos, nesse prisma, desfavorecem ainda mais por perderem a intimidade.

Grupos menores ensejam esse conhecimento mútuo e uma aproximação afetiva entre seus membros.

Ressaltemos aqui que, se a falta de proximidade pode constituir um obstáculo a nossas lides, o excesso dela também pode gerar outras tantas lutas. Intimidade nos relacionamentos é a zona delicada da convivência que apela para a virtude e o caráter, a fim de saber fazer dela o que se deve, e não o que se quer. Amigos que desejem a longevidade da relação cultivam limites, sem os quais a intimidade pode tornar-se um problema.

Amigos verdadeiros mantém-se na área dos vínculos afetivos, longe da possessão afetiva. O vínculo é uma relação que une sem fusão, sem subtração da individualidade, sem direitos especiais sobre o outro. Daí o motivo pelo qual a amizade autêntica é semelhante a um belo jardim, a exigir cuidados e mais cuidados na manutenção das flores da virtude e na fertilidade da terra do caráter, tornando os verdadeiros amigos cultores da arte do amor, na sua acepção de respeito ao outro, sem os infortúnios causados pela possessividade perturbadora.

Pessoas existem que fazem dos amigos um objeto de desejo e preenchimento de carências, quando então a relação marcha para o fracasso. Esperam tudo do outro e nada fazem, enquanto ser amigo é doar-se e interessar-se pelo outro.

Por isso ocupamo-nos em definir a amizade espírita nos limites da fraternidade e do trabalho nutridos pelo idealismo superior, porque elos com excessiva intimidade, costumeiramente, o temos na família, no ambiente profissional, na vizinhança e, quase sempre, debandam para a licenciosidade, a intromissão, a permissividade, o desrespeito, a perda da integridade moral e o mais lamentável: subtraem o caráter educativo que devem possuir os vínculos da autêntica amizade.

A amizade espírita é uma proposta de amizade voltada para a libertação e crescimento mútuo. Além de todos os ingredientes agradáveis do compartilhamento de amigos comuns, ela terá o objetivo de tornar-se um relacionamento de conscientização e desenvolvimento de valores.

Tecida pelo fio condutor da confiança, a amizade deverá manter-se nesse limite de segurança pelas vias da lealdade, do afeto, da lucidez e dos costumes para ter a garantia de longevidade e enobrecimento espiritual.

A primeira condição de longevidade dos relacionamentos é o dever da atitude responsável, inclusive nas amizades. Guardar a intimidade no patamar do equilíbrio ético. Compartilhar com vigilância, sempre atento à visão imortalista que deve inflamar os vínculos entre os que desfrutam da felicidade de saber que tal longevidade pode perdurar até no além-túmulo, só dependendo de nós aplicar-lhe o elixir do amor.

Ermance Dufaux

domingo, 20 de maio de 2018

Contrastes

Contrastes

Autor: André Luiz (espírito)

Existem contrastes exprimindo desigualdades.
Muitas criaturas encarnadas querem fugir da vida humana; contudo, as filas da reencarnação congregam milhares de candidatos ansiosos pelo renascimento...
Legiões de trabalhadores se esquivam do trabalho; no entanto, sempre há multidões de desempregados...
Numerosos alunos negligenciam os estudos; todavia, inúmeros jovens não têm qualquer oportunidade de acesso às casas de instrução, embora o desejem ardentemente...

Existem contrastes tecendo contradições...
Tudo prova a presença do Criador no Universo; todavia, mentes recheadas de conhecimento não creem na Realidade Divina...
Todos podemos dar algo em favor do próximo; no entanto, muitos possuem em abundância e nada oferecem a ninguém...
Temos a apologia da paz onipresente; contudo, extensa maioria forja a guerra dentro de si mesmo...

Existem contrastes gravando ensinamentos.
Há direitos idênticos e deveres semelhantes; contudo, há vontades diferentes, experiências diversas e méritos desiguais...
A caridade mais oculta aos homens é, no entanto, a mais conhecida por Deus...
A vida humana constitui cópia imperfeita da Vida Espiritual; todavia, a perfeição das Grandes Almas Desencarnadas na Terra foi adquirida no solo rude do Planeta...

Psicografia de Chico Xavier.
Livro: O Espírito da Verdade

quinta-feira, 3 de maio de 2018

CAPÍTULO 33 - CALABOUÇO DOS SENTIMENTOS - Laços de Afeto da Dufaux


"Nos agregados pouco numerosos, todos se conhecem melhor e há mais segurança quanto à eficácia dos elementos que para eles entram. O silêncio e o recolhimento são mais fáceis e tudo se passa como em família" O livro dos Médiuns - cap. 29 - item

Contava-se na Idade Média, em determinada região européia, que um suserano odiento tinha por vício separar homens apaixonados de suas mulheres amorosas, e deixá-los morrer em um calabouço, à mingua de água, pão e luz, para que pudesse amparar suas pobres viúvas solitárias e torná-las suas vassalas preferidas. Dizia-se que ele fez centenas de prisões, destruiu várias famílias e vivia refestalando-se na sexualidade e cortesias insaciáveis de suas companhias femininas.

Certo dia, no entanto, quando foi descoberta a trama, as mulheres revoltadas, informadas de que o suserano era o criminoso de seus esposos, em inteligente armadilha, trancafiaram também o senhor no calabouço. Entretanto, a partir daí passaram a viver de insatisfações e tristeza até a morte, porque sentiram-se presas de um passado infeliz que jamais lhes saía da memória, vivendo por entre o ódio, a insegurança e a saudade.

Conquanto dramática, é bem essa a história de quase todos nós em assuntos da vida sentimental: o narcisismo, a volúpia sexual, o egoísmo e o prazer gerando medo e frustração, culpa e mágoas, dilacerando corações e arruinando lares e sonhos.

Por completa insanidade da razão, em crises de paixão e libidinagem, bastas vezes espezinhamos o amor alheio em impiedosas atitudes de desrespeito, separando homens honrados de mulheres fiéis, em tramas passionais, desleais e injustas, para depois, bem depois, caindo em si no despertamento consciencial, verificarmos os registros desditosos que instalamos no imo de nós próprios, em lances de sede de domínio e satisfação pessoal.

O suserano íntimo, no papel do egoísmo destruidor, é o condutor inconsciente e mantenedor dos calabouços de sofrimento, com o qual ferimos centenas ou milhares de almas nos desdobramentos das vidas sucessivas.

Por isso hoje muitos de nós purgamos a solidão reeducativa nos temas do amor, ainda que enleados em uniões esponsalicias ou afetivas.

Temos um "calabouço do sentimento" como aquisição consciencial de nossas decisões malsinadas em forma de graves lesões afetivas.

Sedentos por novas experiências nas vivências da afeição, renascemos presos aos calabouços provacionais da emoção, sem liberdade novamente para fazer o papel do suserano enlouquecido, conquanto ele ainda esteja, de alguma forma, mesmo aprisionado nas provas da inibição afetiva, querendo espezinhar e ferir, com extrema rebeldia aos novos quadros do hoje. A sua principal manifestação nesses casos é a doentia inveja e o profundo sentimento de abandono, inutilidade e insatisfação por que passam os que se encontram em tal teste corretivo, debandando para a depressão, a suscetibilidade, as neuroses de vários matizes, adiando ainda mais a edificação da felicidade pessoal pela fuga da auto-educação.

Eis bem o retrato dessa expiação dolorosa: a prisão subterrânea do medo e da insegurança encarcerando os sentimentos de amor e esperança, penalizando a criatura com a sede de afeto não correspondido e com a tristeza de viver sempre à espera de alguém que não sabe se existe ou dormita em algum lugar, à sua espera também, assim como ocorreu aos homens trancafiados pelo suserano. Doutras vezes são as vivências da sexualidade embaladas pela luxúria, dissociada da satisfação que, geralmente, termina em revolta, golpes de revide e autodesvalorização.

Os sonhos amorosos, as fantasias da união afetiva, o desejo do lar feliz estão por trás das grades limitadoras da paixão que não se consegue expressar, tornando-se "estranho amor emudecido". Nessa prova as criaturas permanecem acorrentadas à inibição, baixa auto-estima, insatisfação com a vida, afiveladas a profundos e dolorosos sentimentos, tais como medo de amar, dúvidas e receios sobre suas emoções, descrença na felicidade, desmerecimento a seus ideais de amor e no sucesso afetivo. Pelos "odores psíquicos" que emanam, atraem assim outras criaturas perturbadas ou perturbadoras, em ambos os planos de vida, com as quais tecem elos de frustração e mágoas, dilatando sua solidão e exaurindo-se energeticamente em obsessões "cumulativas" ou mesmo abrindo portas mentais para "vinganças cruentas" de credores de outras épocas.

A origem de semelhante aferição reeducativa, portanto, está no menosprezo e indiferença de outrora recheados dos requintes de falsas promessas aos corações que permitiram confiar em nossos votos de fidelidade e carinho, que foram completamente desonrados.

O afeto não correspondido e o receio de amar no hoje são amargas doses de medicação preventiva ante as feridas emocionais acrisoladas no "centro de força" cardíaco do corpo espiritual, junto às sensíveis "engrenagens" da vida afetiva - verdadeira cirurgia de extirpação nos domínios da vida sentimental em razão das matrizes pré-existênciais e reminiscências de outras reencarnações.

Enclausurado em tal quadro, a criatura passa a viver por entre a desmotivação e a instabilidade nos deveres da rotina, carpindo uma "revolta muda" contra tudo e todos, estabelecendo constantes complicações nos relacionamentos e nas amizades, e, em chegando aos píncaros da resistência, se não se armou da profilaxia adequada, tomba nas neuroses fóbicas, nas alterações cíclicas de humor ou em psicoses graves.

Para a psiquiatria humana são esquizofrênicos irreversíveis, para a medicina do Espírito são doentes que precisam sair de si mesmos e aprender a dar sem ter, amar mesmo sem serem amados. Não logrando, poderão estar iniciando um ciclo provacional de longa duração.

Alma constrangida a sanções, será sempre muito suscetível de rancor com pequenas falhas alheias e com grande dificuldade ao perdão e ao auto-perdão, necessitando de muito apoio e carinho para suportar o peso de seu próprio narcisismo e da dor que carregará até reeducar-se nos temas do Amor e do sexo.

*****

Amigos nas privações cármicas da afetividade: O calabouço provacional de hoje quando bafejado pela luz do Espiritismo faculta ao "prisioneiro" o pão da misericórdia e a água da restauração, com os quais poderão as penas serem amenizadas e terem novas dimensões.

Se hoje te encontras nas lutas da solidão reeducativa, não fujas de tua oportunidade.

Ainda que entre dores e problemas, assume ma prova e liquida teu débito.

Aceita o amargo remédio da solidão e da abstinência no aprendizado da "saturação emocional".

Não obtendo apoio familiar e social ante as imposições de tuas "penas reencarnatórias", procura no grupo doutrinário a integração com a família espiritual que te será arrimo e suporte para os instantes mais difíceis.

Aprende as lições do respeito e do dever nos assuntos do Amor, porque também na casa das orações e estudos espirituais depararás inúmeras vezes com corações que ser-te-ão "príncipes de encanto" aos teus sonhos de afeto, podendo converter-se em "suseranos da ilusão", mas cuída-te para não decepcionares a outros e a ti mesmo.

Confidencia a quem tenha condições de amparar-te, isso trará alívio e será o embrião de uma relação valorosa no teu recomeço; estarás assim confiando em alguém, e confiar em alguém é refazer os caminhos da libertação de ti próprio.

Não esqueça nunca da prece na qual buscarás o acréscimo de forças que te falte.

Apoia-te nessa família pelos laços do coração e vai "compensando" teus afetos com o esforço de amar, independentemente de ser amado. Muitas vezes terás tendência a exigir essa correspondência, contudo, vigia teu suserano que ainda teima em reinar e dilapidar, tenha siso e lucidez, e analisa o mal que te faz essa postura.

Caminha, chora, desabafa e prossegue sem desistires nunca. Se hoje está difícil, amanhã, se decidires por enfrentar corajosamente, poderá ser menos penoso intimamente, mesmo que não tenha teus anseios atendidos como gostarias. Talvez nada fique como queiras, entretanto, nem sempre terá que ser sofrido, ou infeliz a tua experiência renovadora. Deus espera-nos para a alegria e o Amor e pode promover infinitas formas de conduzir-nos a isso pelas sendas de Sua Inesgotável Misericórdia.

Misericórdia, porém, não é dispensada apenas por pura bondade Paternal, porque a Justiça Divina conta com as conquistas de seus filhos nos rumos do auto-aperfeiçoamento.

*****

Condutores e integrantes dos grupamentos espíritas: Estejamos todos atentos a semelhantes géneros provacionais como os que assinalamos.

Mesmo com a dramaticidade das palavras por nós escolhidas, ansiamos, sobretudo, em alertar sobre que tipos de assistência estamos sendo chamados no que tange à vida íntima de quantos têm batido às portas do centro espírita, compondo, muita vez, o quadro dos trabalhadores de nossos conjuntos de labor.

Em várias ocasiões temos ao nosso lado na faina doutrinária tais corações em semelhante sofrimento "purgatorial", e carecemos de concepções mais intuitivas e de instrução mais lapidada para amealhar condições de orientação e apoio.

Jamais descuremos do amparo especializado da medicina humana, quando se fizer necessário.

Os avanços da psicoterapia com foco transpessoal, tomando por base o Espírito, é indicação para muitos deles.

Os serviços de promoção social e solidariedade são exercícios inevitáveis a esses "andarilhos emocionais" em busca de afeto e gratificação.

Providencia a desobsessão como medida extensiva de amparo aos vitimados na expiação além túmulo, jamais esquecendo que são eles os prisioneiros de outra época, trancafiados nos calabouços da decepção pelo doente encarnado que hoje pede socorro em tuas reuniões, amándo-os muito como vítimas, e não verdugos inconsequentes.

Chama sempre a atenção do reeducando quanto à vivência das lições evangélicas, das virtudes, e agrega-o aos esclarecimentos libertadores da Boa Nova.

Acima de tudo construa essa relação de confiança e respeitabilidade com teu assistido de agora, concedendo-lhe, como maior bênção nesse tipo de testes, a crença de que alguém o ama e o quer bem, a despeito de sua autodesvalorização.

Essa relação promissora é a revitalização da esperança e o estímulo para a continuidade que carece o prisioneiro dos calabouços afetivos.

Dá-lhe tudo que tens, assim como fez a viúva pobre do Evangelho, depositando nesse coração que esmola carinho e piedade a honra das atitudes nobres, ensejando-lhe uma mensagem, pelo exemplo, de que se pode amar sem possuir novos, íntegros moralmente.

Sê-lhes íntimo, mas ensina-lhes o limite. Sê-lhes afetuoso, mas ensina-lhes o amor fraternal.

Na condição de condutor de grupo ou integrante do mesmo, faze-te um irmão muito disposto a aceitar, compreender e incentivar.

É tudo que eles precisam para continuar sua prova redentora em busca da quitação consciencial e de um pouco de paz e crença em um futuro menos sombrio ante suas perspectivas, quase sempre, comprometidas pelas tenazes da amargura e do descrédito.

Ama-os, ama-os sempre e ensina-lhes a amar como devem, e permita-lhes sentir novamente, depois de séculos de secura no coração, a importância de uma família espiritual e dos laços de confiança.

Ermance Dufaux