Estudando o Espiritismo

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domingo, 22 de abril de 2018

Desajuste Aparente - Emmanuel (Roteiro-31)


Há quem afirme que a Doutrina dos Espíritos é viveiro de crentes indisciplinados, pelo excesso das interpretações e pelo arraigado individualismo dos pontos de vista. Outros proclamam que a Nova Revelação desloca a vida mental daqueles que a esposam, compelindo-os à renunciação.

Tais enunciados, porém, não encontram guarida nos fundamentos da verdade.

O Espiritismo, naturalmente, amplia os horizontes do ser.

A visão mais clara do Universo e a mais alta concepção da justiça dilatam na mente a sede de libertação, para mais altos vôos do espírito, e a compreensão mais clara, aliando-se à mais viva noção de responsabilidade, estabelece sublimes sentimentos para a alma, renovando os centros de interesse para o campo íntimo, que se vê, de imediato, atraído para problemas que transcendem a experiência vulgar.

Realmente, para quem estima os padrões convencionalistas, com plena adaptação ao menor esforço, não será fácil manejar caracteres livres, nos domínios da fé, porque os desvairamentos da personalidade invariavelmente nos espreitam, tentando-nos a impor sobre outrem o tacão do nosso modo de ser.

Dentro da Nova Revelação, todavia, não há lugar para qualquer processo de cristalização dogmática ou de tirania intelectual.

A imortalidade desvendada convida o homem a afirmar-se e o centro espiritual do aprendiz desloca-se para interesses que transcendem a esfera comum.

As inteligências de todos os tipos, tanto quanto os mundos, gravitam em torno de núcleos de força, que as influenciam sustentam.

O panorama do infinito, descortinado ao homem pelo nossos ideal, atrai o cérebro e o coração para outros poderes, e a criatura encarnada, imperceptivelmente induzida a operar em serviços diferentes, parece desajustada e sedenta, à procura de valores efetivamente importantes para os seus destinos na vida eterna.

As escolas religiosas oficializadas ou organizadas, presas a imperativos de estabilidade econômicas, habitualmente gravitam em derredor da riqueza perecível ou da autoridade temporal da Terra e jazem magnetizadas pela idéia de domínio e influência que, no mundo, facilitam a solidariedade e a união, de vez que a maioria dos espíritos encarnados, ainda cegos para a divina luz, reúnem-se e obedecem alegremente, ao redor do ouro ou do comando sobre os mais fracos.

Mas no Espiritismo é difícil aglutinar caracteres libertados, sob o estandarte nivelador da convenção.

Assim como aconteceu nos trezentos anos que antecederam a escravização política do Evangelho redentor, o discípulo da nossa Doutrina Consoladora pretende encontrar um caminho de acesso à vida superior.

Aceita as facilidades humanas para dar com largueza e desprendimento da posse.

Disputa o contentamento de trabalhar para servir.

Busca a liberdade para submeter-se às obrigações que lhe cabem.

Adquire luz para ajudar na extinção das trevas.

“Está no mundo sem ser do mundo.”

É alguém que, em negando a si mesmo, busca o Mestre da Verdade, recebendo, de boa vontade, a cruz do próprio sacrifício para a jornada de ressurreição.

E demorando-se cada discípulo, em esfera variada de trabalho, observamos que eles todos, à maneira de viajores, peregrinando escada acima, cada qual contemplando a vida e a paisagem do degrau em que se encontra, oferecem o espetáculo de almas em desajuste e extremamente separadas entre si, porquanto os habitantes do vale ou da planície, acostumados aos mesmos quadros de cada dia, com a repetição das mesmas nuances de claridade solar, não conseguem esquecer, de improviso, as velhas atitudes de muito tempo em nem podem entender o roteiro dos que se desinteressam da ilusão, caminhando, em sentido contrário ao deles, ao encontro de outra luz.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

O SINAL DE JONAS

O SINAL DE JONAS

A superioridade da natureza de Jesus, muitíssimo acima da humanidade terrestre, consoante conclui Allan Kardec, no livro A Gênese, evidencia-se nas inúmeras realizações que lhe são atribuídas, segundo os evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João.
Exercendo domínio absoluto sobre a matéria, Jesus andou sobre as águas, acalmou ventos e tempestades, multiplicou pães e peixes, transformou água em vinho, fez desintegrar o próprio corpo físico.
Conhecedor profundo das leis divinas realizou curas extraordinárias, devolvendo aos necessitados os sentidos da audição, visão e fala; refez tecidos e órgãos que a lepra houvera destruído, pelo simples toque, imposição das mãos, pelo pensamento ou pela palavra. Libertou vários doentes de processos obsessivos de grau acentuado, a ponto de ser identificado, em algumas circunstâncias, pelos espíritos obsessores, como no episódio do endemoniado de Gedara.
Todas as realizações de Jesus são sinais de sua majestade espiritual; no entanto, nem todos estavam em condições de compreendê-lo. Neste sentido, narra-nos os evangelhos de Lucas e Mateus que certa ocasião um grupo de fariseus se aproximou de Jesus pedindo-lhe um sinal para que pudessem se convencer definitivamente ser Ele o Messias esperado.
Jesus, então, lhes responde afirmando que outro sinal não lhes seria dado senão o sinal de Jonas, que passou três dias e três noites no ventre do grande peixe.
Trata-se de um texto que exige reflexões, porque o seu conteúdo espiritual não está aparente.
Ao leitor desatento a resposta de Jesus aos fariseus está perfeita. Os fariseus pedem a Jesus um sinal e o mestre lhes diz que o sinal será Sua ressurreição.
No entanto, aquele que se dispõe a aprender com Jesus, com o propósito de conhecer, sentir, meditar e viver as palavras do Cristo, está convencido de que o evangelho é um vasto caminho ascensional, como diz Alcione, no livro Renúncia. Para o aprendiz do evangelho a resposta de Jesus aponta para um conteúdo espiritual que deve ser meditado, mesmo porque Jesus não disse uma palavra que fosse destituída de um profundo ensinamento, como também não movimentou recurso algum para satisfazer a hipocrisia dos fariseus.
A questão é quem é Jonas? Porque Jesus nos aponta Jonas? O que esse personagem tem para nos ensinar?
A história está no Velho Testamento, no livro de Jonas. Trata-se de um livro curtíssimo, com apenas quatro capítulos, que narra uma história aparentemente infantil, mas que traz um conteúdo espiritual profundo.
Conta-se, no livro de Jonas, que Deus lhe atribui a missão de ir até a cidade pagã de Nínive, capital da Assíria, habitada por pessoas perversas e más, inimigas ferozes de Israel. A tarefa consistiria em pregar ao povo, advertindo-os que o Deus de Israel os destruiria, por conta de seu comportamento imoral.
Jonas, no entanto, foge da presença de Deus e seguindo direção contrária, desce ao porto de Jope, descendo ao primeiro navio pronto a zarpar. Segue para Tarsis.  Em certo momento,  já em alto mar, sobrevém uma tempestade que coloca o navio em risco de naufrágio. Os marinheiros, em desespero, atiram as cargas pesadas ao mar, para aliviar o peso do navio. Jonas, porém,  sem qualquer preocupação, desce ao porão do navio e cai em sono profundo. Os marinheiros, então, cada qual orando a seu deus, conclui que alguém deve estar atraindo a fúria divina para o navio e põem-se a lançar a sorte para saber quem era o culpado daquele fenômeno.  A sorte cai sobre Jonas e eles o questionam a respeito. Jonas conta-lhes toda sua história e eles acabam lançando Jonas ao mar. Eis que aparece um grande peixe, enviado por Deus, que engole Jonas e lá ele permanece três dias e três noites. Durante esse tempo, Jonas se sente no abismo, nas profundezas do inferno, e arrependendo-se profundamente de seu comportamento, implora a misericórdia de Deus. O peixe, então, vomita Jonas em terra firme. Deus aparece a Jonas novamente e lhe impõe a mesma tarefa, antes abandonada, mandando-o pregar em Nínive. Jonas, finalmente, segue para  Nínive e lá permanece por quarenta dias, pregando ao povo sobre a vontade de Deus. Os ninivitas impressionam-se com a história de Jonas e passam a crer no Deus de Israel e, definitivamente, se transformam. Consequentemente, Deus é misericordioso com os ninivitas e não os destroem. Jonas, no entanto, fica inconformado com o fato de Deus ser misericordioso com aquele povo, seus inimigos ferrenhos. Então, Jonas ora e pede que Deus lhe tire a vida, pois preferia morrer a ver a compaixão de Deus pelos seus inimigos.
Deus, em resposta as suas rogativas, não lhe tira a vida, mas faz crescer uma grande árvore sobre sua cabana, dando-lhe sombra refrescante. Jonas fica muito feliz. Em seguida e imediatamente, Deus manda um verme comer a arvore e Jonas volta a ficar sob o sol escaldante. Jonas se revolta e pede novamente a Deus lhe fosse retirada a vida.  No entanto, Deus lhe diz que como pode ele, Jonas, revoltar-se a ponto de querer morrer apenas porque uma árvore lhe foi retirada. Uma árvore que Jonas não plantou não viu crescer, que nasceu e morreu num único dia. Então, Deus lhe fez ver que se Jonas tinha compaixão por um  vegetal, quanto mais Ele, Deus,tinha compaixão pelo povo de Nínive, que era um povo que mal sabia conhecer a diferença entre suas mãos.
E assim termina a história de Jonas.
Alguns pontos da história merecem cuidadosa reflexão. Antes, porém, é preciso destacar que o final do texto, escrito por volta de V a VII anos antes de Cristo, revela atributos de Deus bem diferentes daqueles revelados por Moises. O texto aponta um Deus de amor, que tem paciência com todos nós, que não se cansa de nossa infantilidade, de nosso egoísmo, pouca vontade e orgulho. Um Deus que confere oportunidades de recomeçar e que não nos abandona jamais, mesmo que tenhamos nos lançados  às trevas em razão de nossa rebeldia.
O final do texto também aponta um padrão mental humano equivocado, egocêntrico e egoísta, que busca o amor de Deus somente para si, acreditando ser merecedor, diante do erro, de perdão e misericórdia, quando deseja, em silêncio, a punição de todos àqueles que lhe ofenderam. É comum ouvir-se expressões como: “Deus é justo, fulano que  fez aquilo comigo vai pagar, pois ninguém foge da justiça divina”.   Mas o texto nos revela um Deus de amor, que ama igualmente o bom filho e aquele outro que ainda encontra-se cego no crime e no mal. Ambos têm o mesmo carinho, a mesma oportunidade, pelo simples fato de que Deus nos ama pelo que somos e não como estamos.
Voltando ao início do texto, destaca-se a missão de Jonas, como ponto importante de reflexão e aprendizado com Jesus.
A Jonas fora conferida uma missão, como a todos os seres humanos Deus também confere uma missão. Todos recebem missões, as mais variadas, que estão de acordo com as necessidades evolutivas de cada um. No entanto, há duas missões que são comuns a todos os indivíduos. A missão da autotransformação, do enfrentamento da Nínive interior, que todos trazem dentro de si, exigindo educação e reforma. E a missão de transformar, pelo exemplo, aqueles que lhes compartilha a existência, os próximos mais próximos, os familiares.
 O êxito ou o fracasso dessas duas missões irá definir a condição espiritual de cada um após a morte, como irá estabelecer o programa da próxima experiência reencarnatória.
 No entanto, todos querem acertar. Portanto, para fazê-lo é preciso seguir um roteiro seguro, que não falhe. Jesus é o roteiro, o modelo e o guia, e nos ensinou que para desempenhar bem uma missão é preciso conjugar dois verbos: amar e servir. Foi exatamente isso que Jesus fez. Amou e serviu durante todo o tempo que esteve entre nós. Ainda, já na despedida, na última ceia,deixou bem claro a conjugação desses dois verbos. Os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem, disse-nos Jesus. O maior no reino do Pai é aquele que serve a todos, completou o Mestre.
É preciso considerar, todavia, que o exercício do amor exige a ferramenta do perdão constante. Ninguém consegue desenvolver a virtude do amor sem perdoar e pedir perdão de forma infinita e constante, a todo tempo.
A tarefa missionária que nos foi confiada começa com o exercício do perdão, para que a amor cresça em nosso mundo intimo. É preciso desenvolver o autoamor com o autoperdão. Quantos naufragam em tormentos íntimos constantes simplesmente porque não conseguem se perdoar?  Igualmente, é preciso exercitar o perdão dentro do lar, perdoar os familiares e todos os demais com os quais convivemos. Perdoar e pedir perdão; sobretudo pedir o perdão aos outros, pois ofendemos muito mais do que somos ofendidos. O exercício do perdão não admite que se examine o mérito da ofensa. Equivoca-se quem deixa de pedir perdão porque não reconhece o erro. O mérito de analisar uma situação que causou mágoa somente pertence a quem detém legitimidade para julgar. Somente Deus pode julgar. Jesus nos ensinou isso no episódio da mulher que seria apedrejada. Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra. Ninguém se habilitou a fazê-lo. Nós menos ainda poderemos. Resta-nos perdoar sempre, pois o perdão nos liberta da peçonha da mágoa e do desejo do mal ao outro.
O segundo verbo a ser conjugado, para o êxito de nossas tarefas no mundo, é o verbo servir. Servir exige sacrifício, renúncia, paciência, tolerância, esquecimento de si, negação de si, doação.
Diante de nosso mundo íntimo impõe-se rigor e disciplina na tarefa da renovação moral. Perante o próximo, no entanto, somente teremos êxito mediante o exemplo. Somente auxiliaremos os outros a serem melhores pelo nosso exemplo.
Embora difícil, trata-se de conjugações com força capaz de nos conduzir das trevas a que nos encontramos à luz, que nos aguarda.
Ocorre que podemos escolher outro caminho e outros verbos a conjugar. Nada nos é proibido. Temos o livre arbítrio.  Podemos escolher permanecer  o tempo que quisermos neste mundo de provas e expiações, sem problema algum. Deus não tem pressa. Cada um escolhe quanto tempo quer viver por essas paragens. Mas quando o despertar da consciência exigir que se busque a luz, o caminho que se apresentará ao percurso ainda será o mesmo, conjugar o verbo armar e servir.  A história de Jonas deixou bem evidente esse ponto.
Jonas decidiu não aceitar a missão. Fez uso equivocado do livre árbitro e se colocou em fuga; no entanto, ao se colocar em fuga, imediatamente iniciou uma trajetória de descida (quedas), revelando, com isso, uma lei divina e universal. Três são as descidas (quedas) de Jonas. Desde a Jope, desce ao navio e desce ao porão do navio, entregando-se a sono profundo, da inercia, da irresponsabilidade, do conformismo.
Quando fugimos da missão de nos autoenfrentar, de nos autoconhecer, quando nos recusamos a educar a nossa “Nínive” interna, egoísta, má, perversa, vaidosa, fugimos nos navios das máscaras. Apresentamo-nos aos outros e a nós mesmos com a máscara da bondade, da caridade, de boa mãe, de bom pai, etc... Máscaras que caem na primeira contrariedade, deixando os outros estupefatos. Nossa! Mas fulano disse isso, fulano fez aquilo! Quem diria....sempre dando uma de bonzinho, agora mostrou quem é de verdade.
Outras vezes fugimos da nossa missão dentro do lar, junto aqueles que estão ligados a nós pelos laços mais santos. Como é difícil perdoar e servir  a esposa ou o esposo complicado, o filho rebelde, o irmão ignorante, cheio de vícios, a sogra perturbada,  o genro orgulhoso, a nora cega de vaidade, etc. Passamos a fugir da missão pelas mais variadas formas de fuga, como permanecer por mais tempo fora do lar, em atividades variadas; outras vezes a fuga se dá pelas portas dos vícios; de outros relacionamentos e até mesmo pelas portas das doenças. Quantas enfermidades são verdadeiras fugas.....
Todas as nossas quedas morais são resultados do uso equivocado do livre arbítrio e que nos leva a percorrer um caminho de descida, de queda. Jesus nos advertiu para esse perigo quando do exercício do livre arbítrio. Na parábola do samaritano, há referência a essa queda, quando se analisa os simbolismos que revestem a cidade de Israel e a cidade de Jericó. Na parábola do filho pródigo, a queda, resultado do uso equivocado do livre arbítrio, fica evidente.
Por outro lado, Deus não nos abandona jamais. Outras oportunidades virão para aqueles que se equivocam e caem. E o recomeço situará o viajor no mesmo ponto que se recusou a seguir.  A mesma tarefa lhe será conferida. Foi isso que aconteceu com Jonas; ao se arrepender e rogar nova oportunidade, depois de um longo caminho de quedas, tormentas e escuridão, Deus lhe mandou novamente a Nínive.
Analisemos o perfil de Jonas e façamos uma reflexão bastante sincera, buscando identificar o que há de Jonas em nós, e tenhamos ânimo e coragem para fazer a reforma necessária enquanto o barco da nossa encarnação viaja sob o amparo do Cristo, a caminho da luz.

Muita Paz!

Palestra proferida no Centro Espírita  Mansão do Caminho, em Quirinópolis-Goiás, no dia 23/10/2017, por Angela  (angela.a.giovanini@gmail.com)

O sinal de Jonas - Caibar

http://cursodeespiritismo.blogspot.com.br/2017/03/o-sinal-de-jonas_11.html

O SINAL DE JONAS

O SINAL DE JONAS

"Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado
outro sinal senão o sinal do profeta Jonas." - (Lucas, 11:29)

Niníve, capital da antiga Assíria, situada à margem do rio Tigre, era, na Antiguidade, uma cidade muito importante, com uma população superior a 120 mil habitantes. Como ocorria com apreciável parte das grandes cidades do passado, ela vivia mergulhada na corrupção, e entre os habitantes reinavam costumes dissolutos e numerosos desregramentos.

O profeta Jonas, devidamente instruído, via mediúnica, dirigiu-se àquela cidade e ali fez com que seus habitantes se compenetrassem do erro em que estava incorrendo. Durante 40 dias, o profeta fez as suas pregações; então, suas palavras foram acolhidas e, desde o próprio rei até o mais humilde servidor, todos se decidiram a levar a sério aquelas admoestações; assim, como forma de penitência, conforme o costume da época, todos cobriram-se com sacos e se assentaram sobre a cinza.

Com essa demonstração de arrependimento, a cidade foi poupada pela Justiça Divina, evitando-se a destruição que se avizinhava. Quando Jesus desempenhava o seu Messiado, foi procurado por um grupo de escribas, fariseus e saduceus, e dentre eles alguns estrangeiros, que lhe pediram um sinal dos Céus, para que vissem e acreditassem.

A resposta do Mestre foi peremptória: "Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado outro sinal senão o sinal de Jonas." Jesus Cristo proferiu estas palavras angustiado pela incompreensão e dureza dos corações humanos. Ele havia descido à Terra, para o cumprimento da promessa sobre o advento do Messias Redentor.

No desenvolvimento de sua transcendental missão, Ele havia propiciado os mais autênticos sinais: a leprosos, restaurando a vista de cegos, levantando paralíticos e, sobretudo, trazendo uma verdade nova que vinha iluminar a mente dos homens e os horizontes sombrios do mundo. Não obstante todas essas manifestações, ali estava o segmento de um povo que se considerava "eleito de Deus", que se mantinha profundamente empedernido, "duro de cerviz e incircunciso de coração.

Aquele grupo de pessoas foi pedir-lhe um sinal dos Céus, entretanto, os sinais estavam sendo dados diuturnamente; por isso, a sua resposta foi negativa. O sinal de Jonas deveria ser o suficiente para abalar as consciências endurecidas daqueles homens. Diante da personalidade de Jesus Cristo, Jonas não passava de um profeta de projeção relativamente pequena. No entanto, dirigindo-se à população de Nínive, apregoou que a cidade seria destruída por Deus se o seu povo não mudasse de comportamento. Todos receberam as palavras do profeta e, receosos da provável destruição, mudaram radicalmente o modo de vida.

Jesus Cristo, o maior Espírito dentre os que desceram fez persistente e profusa pregação entre os homens, mostrando-lhes como seus corações estavam endurecidos; desmascarou a hipocrisia dos escribas e dos fariseus, demonstrando a precariedade dos seus ensinos e a recalcitrância em obedecer às verdades que emanavam dos Céus, através dos profetas. Não obstante, suas palavras não foram aceitas por muitos e Ele foi condenado e crucificado. Em virtude dessa obstinação e da maldade reinante nos corações desses homens, "a Jerusalém que matava os seus profetas, que apedrejava todos aqueles que lhe eram enviados, foi destruída, dela não restando pedra sobre pedra". (Lucas, 13:34-35).

Quando o Mestre asseverou que nenhum sinal seria dado àquela geração adúltera, infiel, mas apenas o sinal do profeta Jonas, Ele pretendeu dizer que, se o povo fosse mais dócil, mais humilde, mais razoável, teria recebido as suas palavras, assim como o fez o povo de Nínive.

Na realidade, o sinal de Jonas era do conhecimento de todos, pois os escribas liam para o povo o livro do profeta Jonas, e, obviamente, a atitude do povo da capital da Assíria, acatando as suas admoestação e arrependendo-se de suas faltas, era notória para todos. Amargurado diante da incompreensão do seu povo, proclamou Jesus Cristo: "A rainha do sul se levantará no dia do juízo contra os homens desta geração, e os condenará, pois dos confins da Terra ela veio para ouvir a sabedoria de Salomão; eis aqui está quem é maior do que Salomão.

Os homens de Nínive se levantarão no dia do juízo contra esta geração e a condenarão, pois se converteram com a pregação de Jonas; e aqui está quem é maior do que Jonas." (Lucas, 11:31-32)

O apego dos escribas e fariseus aos preceitos das leis antigas era apenas aparente. Eles não aceitavam o sinal de Jonas e muito menos o de Jesus. Não se preocupavam com os sinais dados pelos antigos profetas, o que levou o Mestre a exclamar muito judiciosamente: "Não cuidadeis que sou eu que vos hei de acusar diante de meu Pai. Há um que vos acusa: Moisés, em que vós esperais.

Porque, se vós crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim, pois de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?" (João, 5:45 a 47). A pregação de Jesus Cristo foi feita num clima de brandura, de persuasão. Dizia Ele: "já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe a vontade do seu senhor. Mas tenho vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer." (João, 15:15) Não obstante tudo isso, Ele não era aceito, nem na aparência, nem na realidade, pelos mentores do povo de Israel.

A corroboração desta assertiva encontramo-la em (João, 12:37-38): "E ainda que Ele tendo feito tantos milagres diante deles, não criam nele, para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, quando disse: "Senhor, quem acreditou em vossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?"

Da mesma forma como os Espíritos dos homens são submetidos a penosos resgates individuais, quando malbaratam o legado precioso que Deus lhes concedeu, as cidades também experimentam quedas e dores, quando não dão guarida aos ensinos que, de um modo ou de outro, são proporcionados à sua população pelos mensageiros dos Céus.

As cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas em consequência de seus inúmeros desregramentos; no entanto, segundo a própria expressão de Jesus Cristo, menos rigor haverá para elas, no julgamento divino, do que para Corozaim, Betsaída, Cafarnaum e Jerusalém, onde autênticos sinais foram produzidos pela interferência do Mestre, sem que houvesse acontecido o devido aproveitamento.

Paulo A. de Godoy

O sinal do profeta Jonas

Nínive, capital da antiga Assíria, situada à margem rio Tigre, era uma cidade muito importante, na qual vivia mais de 120 mil habitantes.

No livro do Profeta Jonas é descrita como uma cidade excessivamente grande. Era uma junção importante para as rotas comerciais que cruzavam o rio Tigre. Ocupando uma posição central na grande estrada entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Índico, assim unindo o oriente e o ocidente, recebia a riqueza que fluía de várias fontes, tornando-se logo uma das maiores cidades da região àquela época.

Társis foi uma cidade cuja localização não é bem determinada. É provável que se situasse numa região do sul da Espanha e que se tratasse de um porto fenício avançado.

O Livro de Jonas é um pequeno livro do Antigo Testamento, onde o profeta narra sua própria história. É um livro simbólico, mas de grande profundidade pelos ensinamentos que traz.

Neste livro, Jonas recebe do Pai a missão de tomar um navio e ir a Nínive converter todo o seu povo que se encontrava perdido, cheio de injustiças e totalmente descrente. Se esquivando da incumbência, Jonas toma um caminho contrário e opta por ir a Társis.

Durante a viagem de navio a Társis, ocorre grande tempestade no mar enquanto o profeta escolhe ir dormir no porão da embarcação. Em meio à fúria das águas, o capitão pede que todos orem a seus deuses e vai ao encontro de Jonas sacudindo-o e se indignando, com sua atitude omissa. Ordena que o profeta se levante e responda a vários questionamentos como: quem é?  qual sua profissão?  qual a sua gente?  Ao que Jonas responde ser judeu (de passagem, peregrino), e estar fugindo da presença do Senhor. Todos entendem que Jonas deve ser lançado ao mar para aplacar a ira divina, assim sendo feito. O mesmo é engolido por um peixe bem grande, ficando em seu ventre por três dias e três noites, quando na solidão, dirige a Deus belíssima oração de fé, esperança e louvor, sendo depois vomitado pelo peixe em terra firme, próximo a Nínive, onde consegue cumprir sua missão.

O nome Jonas vem de Iona, que significa pomba das asas aparadas, e representa toda a humanidade coberta de seres que sabem voar, mas ficam a ciscar no chão.  É o arquétipo do que renasce com uma missão e escolhe errado.  Nem sempre a tarefa do Senhor é um passeio e um deleite em festas e ações que não exigem esforço.  O navio é nossa travessia e só os ratos ficam em seu porão. Jonas era uma consciência adormecida nos porões do navio, até que o capitão (cabeça; consciência) o acorda.

No momento da tomada de consciência perguntamos quem somos nós?  a que viemos?  e entramos em crise existencial. Todos somos peregrinos e estamos de passagem nesta Terra, mas a sacudida da consciência nos lança às consequências da falta de nosso comprometimento e a mergulhar na barriga de um grande peixe, num mar profundo (nosso mergulho dentro de nós mesmos), onde na solidão e na escuridão nos conectamos ao Criador, oramos e pedimos misericórdia.  Neste momento perdemos os mapas de nossas vidas, mas não a bússola, que é a centelha de Deus em todos nós.

A alegoria de Jonas é um convite especial para este momento planetário e, sendo os discípulos mais jovens de Jesus, não devemos fugir de nossas missões e deixarmos lacunas no Universo.

É assim que Jesus, quando procurado por um grupo de fariseus, que lhe pediram um sinal dos céus, para que vissem e acreditassem, enfaticamente responde: “Maligna é esta geração; ela pede um sinal e não lhe será dado outro sinal senão o de Jonas”. E, peremptoriamente, diz: “Nenhum sinal será dado a esta geração maligna e infiel”.

O Mestre assim os responde em face da incompreensão e da dureza dos corações humanos, que simplesmente ignoravam todos os sinais que Ele já houvera dado. Afinal, curara Ele os leprosos, restaurara a visão dos cegos, levantara os paralíticos e anunciara a boa nova.

Quando asseverou que nenhum sinal seria dado àquela geração adúltera senão o sinal de Jonas, Ele queria dizer que, se o povo fosse mais dócil, mais humilde, mais razoável, teria recebido e acatado as suas advertências, assim como fizera o povo de Nínive.

O fato é que os fariseus não aceitavam os sinais de Jonas e tampouco os de Jesus, conforme se depreende no Evangelho de João: “E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele; Para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?”.

O pedido dos fariseus para que Jesus lhes desse um sinal miraculoso dos céus, desprezando todos os demais que Ele já os havia dado, representa o desejo de permanecermos em nossa zona de conforto, adiando, sempre que possível e com argumentos inconsistentes, o mergulho em nós mesmos para processarmos a reforma íntima necessária e fazer prevalecer as verdades espirituais sobre a matéria.

Jesus, nos leva a melhor compreender a misericórdia divina. O Pai está sempre à espera de nossa tomada de consciência, quando decidimos trocar nossos equívocos por acertos, optando pela porta estreita ao abraçarmos com coragem e persistência nossas missões e arcarmos com as consequências de nossos erros.

Acreditemos, pois, nos sinais e ensinamentos transmitidos por Jesus, o Divino Mestre e Amigo.

O sinal do profeta Jonas, por José Márcio de Almeida. Publicado no n.º 54 (pág. 10) do Jornal Sal da Terra.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Casas ou Grupos? - Ermance

Do livro Laços de Afeto - Editora Dufaux

“Nos agregados pouco numerosos, todos se conhecem melhor e a  mais segurança quanto à  eficácia dos  elementos que para  eles entram. O silêncio e o recolhimento são mais fáceis e tudo se passa como em família.  As  grandes  assembléias  excluem  a  intimidade,  pela  variedade  dos  elementos de que se compõe; exigem sedes especiais, recursos pecuniários e  um aparelho administrativo desnecessários nos pequenos grupos.”  O LIVRO DOS MÉDIUNS — capítulo 29 


Feliz e inspirada a fala do educador excelente e magno codificador do Espiritismo, Allan Kardec. 
Casas ou  grupos? O que atende melhor aos anseios de crescimento e desenvolvimento das potencialidades para “ser”?
As Casas pedem regulamentos, paredes e esforço físico. Os grupos são criados por relações, vivências e esforço moral. As Casas abrigam-nos das intempéries materiais, enquanto os grupos são  recantos de estímulos contra as investidas dos reveses da alma. 
As Casas formalizam os movimentos para fora, enquanto os grupos consolidam elos essenciais voltados para os valores íntimos. 
As Casas têm chefes, os grupos têm líderes. 
As Casas são estáticas; os grupos, dinâmicos. 
As Casas são “dependências”; os grupos, autonomia. 
As Casas são o corpo; os grupos, sua alma. 
Casas priorizam a instituição; grupos laboram por mentalidades e ideias. 
Casas são submissas a normas; grupos são expressões de criatividade e responsabilidade, harmonia e cooperação. 
As Casas pedem hierarquia; os grupos apelam para a participação promocional. 
As Casas podem servir de troféus à vaidade pessoal, enquanto os grupos são fontes inesgotáveis de serviço coletivo contra as artimanhas do personalismo. 
As Casas reúnem pessoas, os grupos unem as pessoas. 
Nas Casas as pessoas encontram-se, nos grupos elas convivem. 
Nas Casas onde não encontramos grupos que se amam e respeitam pode­-se desenvolver os ambientes de frieza afetiva e menor valor à individualidade, conquanto possam prestar relevantes serviços à sociedade. 
O centro espírita, enquanto Casa, precisa reciclar seus paradigmas, contextualizar seus métodos, renovar sua forma de agir  e decidir, agilizar suas atividades para atendimento dos inumeráveis e surpreendentes desafios que ora solapam as vidas humanas com dores acerbas.
A renovação dessa mentalidade deve iniciar­se pela formação de equipes, os
grupos. 
Relembremos a origem da palavra grupo que vem de “gruppo”, do italiano, que significa “nó”. No caso, um nó entre seus membros. 
Entretanto, formar e manter os serviços de equipes é iniciativa que demanda preparo dos dirigentes. Estamos num momento de ausência de horizontes, de respostas, de soluções. Notam-­se os problemas, relacionam­-se os obstáculos, estudam­-se as causas de dificuldades, poucos, porém, conseguem trilhar  os caminhos na operacionalização de melhora e driblar os empeços. 
Precisamos ajudar os dirigentes a pensar, a encontrar essas respostas e soluções, ampliando­-lhes horizontes, auxiliando­lhes em assessoria mental e afetiva pela promoção de intercâmbios salutares e bem planejados para empreendermos uma “nova” atividade na Seara, visando o fortalecimento pela formação de uma “rede de apoios’, de “oficinas de ideias’. O conhecimento que capacita o homem para transformações nasce da reflexão. Aprendamos a pensar pelo estudo  vencendo o dogmatismo e a preguiça mental. Aprendamos a reinventar as informações que adquirimos transformando­-as em saber operante, dinamizador das mudanças necessárias em direção ao crescimento individual e grupal. 
O que faz uma oficina? Reparos, consertos, trocas de peças, regulagens, revisões. Nos dicionários humanos a palavra oficina significa: “Lugar onde se verificam grandes transformações”. Esse é o sentido que melhor se ajusta a nossos conceitos. Oficinas permanentes de ideias e intercâmbio tornam­se imprescindíveis nessa hora que passa, arregimentando “laboratórios de troca e reinvenção do agir”, fortalecendo as bases, estimulando os caminheiros, propondo metas, vencendo o marasmo em parcela considerável das Casas. 
Como formar uma equipe? Como mantê­la? Como superar suas lutas? Quais as prioridades da casa espírita? Como trabalhar o afeto no Centro? Como elaborar  e executar um planejamento? Como fazer uma avaliação? Podemos mudar tudo no Centro? Quais as macro­tendências atuais para os centros espíritas? Como motivar grupos? Quais tarefas cada grupamento tem condição de realizar? Como reestruturar um trabalho para a aquisição da qualidade? Por onde começar tudo?
Assim como mencionamos, na Parte 1ª dessa obra, que o Centro Espírita tem
importante papel social no desenvolvimento do afeto, não podemos deixar de frisar que muitos Centros não passam de Casas; em razão disso, precisam transmudar­-se em grupos para desempenhar semelhante missão. 
Daí insistirmos com veemência pela criação de laços afetivos entre os membros das organizações espíritas, entendendo que nessa medida teremos a salvaguarda para os demais investimentos. 
Mas então persiste a pergunta: Como trabalhar o afeto nas Casas?
Oficinas permanentes de ideias! Meditem!