Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

"Problema de vigilância"

Elzio Ferreira de Souza

Livro: Ser e Existência (2011)

Editora: Circulus

Capítulo 16



Problema de vigilância


Não cultive pensamentos derrotistas. Esteja atento para não dar vazão a qualquer pensamento destrutivo, menos digno, ligado à natureza baixa da mente envolvida com o corpo. É sempre necessário prestar atenção nos movimentos da mente, pois quando esta se encontra desligada da vigilância ao relaxar, entra-se na permissividade e acaba-se por exprimir em palavras os pensamentos gerados pelas zonas mais baixas do ser, aquilo que o ser verte sem ter tentado eliminar dos arquivos. Não julgue que a mente apenas reserve em suas pastas fatos ocorridos. Não; a mente, ainda nas zonas mais baixas de atuação, apresenta-se criativa, de acordo com as forças provenientes da natureza mais baixa de encarnados ou desencarnados, pois o estado pouco importa quando se trata de ação da mente.

Lembre-se sempre: o homem é livre para pensar, mas inteiramente ligado às conseqüências do que pensa e plenamente por elas responsável. Estar vigilante não significa separar uma hora por dia para sentar-se ou andar, fazendo meditação. A verdadeira meditação não se limita aos momentos que dedicamos, em separado, à reflexão interior. Isto são apenas exercícios para treinamento. A meditação não ocorre somente em horas determinadas, ela faz parte do ser, em realidade é o estado natural do ser, voltada a face para o Divino. É a estabilidade da mente ante os fatos que intervêm na vida o que define o verdadeiro estado de um meditador. Se a mente ainda sofre as tempestades provocadas por acontecimentos externos ou internos, se reage discrepantemente conforme as pessoas, é porque ela não alcançou o estado de paz, a meditação real. Até lá, é preciso manter-se como uma sentinela na vigia de uma fortaleza: por mais calma que o ambiente pareça oferecer, não pode aquela adormecer, sob pena de ser essa tomada de surpresa. Quando isto ocorre, invariavelmente temos danos consideráveis, quando não falências totais do sistema de defesa, a acarretar a entrega ou a invasão, e tomada da fortaleza pelo inimigo.

Não aguarde o tumulto para manter-se vigilante; a existência deste demonstra que a cidadela mental está sendo atacada. É preciso construir defesas que atuem preventivamente, o que só se pode conseguir quando a mente se entrega ao Divino e põe-se a seu serviço, não preferentemente, mas integralmente. É preciso que toda a vida reflita a ação de Deus; sem esta conexão, haverá sempre terremotos, maremotos, naufrágios, etc. Não pense que tais fatos ocorram por falta de assistência espiritual. Tal afirmação é um engano racionalizador, justificativo, não condizente com a realidade. A Presença Divina é uma constante na vida do ser, e caso este se mantenha atento, identifica-la-á em toda parte. Se você tem tido dificuldade em fazê-lo, então deve cuidar-se porque está em perigo. A identificação é indispensável para que a ligação se faça constante e consciente. Mas lembre-se: isto não significa apenas a expressão de um desejo por mais alto que seja. A união com o Divino exige a presença da vontade, do querer, uma adesão, a outorga de poderes ao Divino para que Ele haja nos processos de transformação, porquanto na mente se encontram as raízes de múltiplas perturbações que inquietam as criaturas, seja o medo, o poder, a luxúria, a concupiscência, a prepotência, a vaidade, o orgulho, o egoísmo, etc. E só o poder divino poderá operar a transformação da natureza - a descida de um poder mais alto, capaz de realizar a mudança no indivíduo e na coletividade. Esta é a descida do Espírito, a obtenção da graça de que falam os núcleos religiosos, embora não se possa sempre tomar como tal aquilo que estes declaram ser. Quando se obtém uma cura, apenas se um indício da manifestação, não a descida real e definitiva. A cura espiritual apenas nos dá um reflexo e a idéia do que pode a força divina operar a partir do corpo, no entanto não é ainda a descida definitiva daquele Poder. Mas, ainda assim, mesmo em quantidades diminutas, o ser começa a transformar-se, e a sua natureza muda em seus aspectos e gostos. Uma modificação total equivale à “queima” da natureza inferior. Este processo é indispensável também do ponto de vista coletivo para que a humanidade possa alcançar um estágio mais alto de evolução, e esta é uma das finalidades da Doutrina. Não somente uma mudança individual, porém uma modificação de ordem coletiva, tornando a humanidade capaz de ambientar em seu seio o Espírito Divino. Até lá, cuide-se de que a mente é um tijolo da construção: é preciso que ele esteja bem conduzido para ajudar. O verbo vigiar merece ser conjugado com correção no presente, porque o passado é tempo que se foi, e futuro é tempo que se fará presente. Não viva entre lembranças e esperanças ou, em outras palavras, entre quedas e ilusões. O presente é o seu espaço de atuação. Conserve nele seu domínio. Permaneça vigilante.





Comentários:

Yogashririshnam repisa, nesta passagem, seu entendimento de que a meditação, antes de dizer respeito a técnicas e momentos específicos de viagem interior, se refere a um próprio estado do ser. De que a mente meditativa - aquela que se mantém atenta e isenta - deve ser cultivada em todos os momentos da vida, não apenas naqueles em que se recolhe ao silêncio interior.

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