Estudando o Espiritismo

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sábado, 13 de maio de 2017

TRABALHO , SOLIDARIEDADE E TOLERÂNCIA


Palestra de Divaldo Pereira Franco, na Casa de Oração B.de Menezes, 08/05/98.
( Do Livreto Novos Rumos para o Centro Espírita ).
Os antigos latinos cunharam um pensamento que atravessou a história como símbolo da hegemonia do poder – Dividit et imperat (dividir para governar).
Toda vez que os romanos conquistavam um povo, criavam embaraços na política local, de forma que surgissem várias facções, naturalmente, como resultado dessa desunião, o invasor conseguia a dominação arbitrária, porquanto os adversários entre si encarregavam-se de gerar as maiores dificuldades à união do País, a conservação da democracia, ao restabelecimento da paz.Esse propósito até hoje é estabelecido como diretriz governamental em muitos povos ainda semibárbaros, autocratas e vítimas de ditaduras.
Jesus, com a Sua visão cósmica e transcendente, estabeleceu que os Seus discípulos deveriam ser unidos como um feixe de varas. Porque é muito fácil arrebentar-se uma vara ou duas; com um pouco de esforço, três ou cinco; mas é quase impossível quebrar com as mãos um feixe de varas, que constitui um bloco resistente, uma força de várias partes na conjuntura de uma unidade.
Allan Kardec, dando prosseguimento ao pensamento de Jesus, e fazendo uma panorâmica da futura divulgação da Doutrina Espírita, estabeleceu que o maior adversário à propagação do Espiritismo seria a dissenção, a desunião, convocando-nos para a preservação da tríade que ele estabeleceu como normativa de dignificação do movimento espírita: Trabalho, Solidariedade e Tolerância.
Essa admirável proposta de Allan Kardec, que serve de base para o desenvolvimento das atividades espíritas, em verdade não é de sua autoria total. Ele a auriu na escola de Yverdon, do exemplo de Pestolozzi, o admirável pai da Escola Nova, o homem que revolucionou a educação e pôde oferecer as bases para Froebel desenhar os alicerces dos Jardins de Infância.
Pestalozzi havia estabelecido que o êxito da educação é consequência de três elementos indissociáveis: o Trabalho, a Solidariedade e a Perseverança.
Através do trabalho é possível ao indivíduo administrar o conhecimento, aprofundá-lo, deixar-se penetrar por seu conteúdo libertador, que é resultado de um esforço laborioso.
A solidariedade é o passo que leva de imediato à união, porque aquele que é solitário não é solidário, mas, no momento que alcança a solidariedade deixa de ser solitário, tornando-se uma célula que vibra em consonância com o equilíbrio do organismo geral. Pestalozzi estabeleceu na perseverança a base sólida para o feliz resultado da educação, porque a educação é a formação de hábitos. No seu tempo a palavra educação tinha a característica fundamental de instrução sendo a substantivação do verbo instruir, e para instruir é necessário exercitar, repetir, volver sempre a mesma tese.
Pestalozzi abriu as perspectivas para a instrução educativa. Não apenas da informação, da transmissão dos conhecimentos, mas também daquela que é geradora de hábitos saudáveis.
A pessoa educada é aquela que possui hábitos socialmente considerados corretos, e que chega aos mesmos através do conhecimento.
Mais tarde, o Espírito de Verdade conclamaria a uma bela síntese, quando estabeleceu para os espíritas, como primeiro mandamento, que nos amemos, e logo depois, como consequência natural, que nos instruamos.
Trata-se de sábia colocação pedagógica. hoje eles diriam que nos eduquemos, que estabeleçamos diretrizes educacionais para que bem possamos viver em sociedade.
Dentro dessa colocação, Allan Kardec resolveu substituir a palavra perseverança por tolerância, já que o nosso Movimento seria o campo para limar arestas, no qual, as criaturas de variada formação cultural, de diferentes hábitos educacionais, com os seus atavismos, resultado das heranças ancestrais, teriam que conviver juntas.
Para que essa convivência pudesse ser aureolada de êxito, indispensável se tornaria a vigência de tolerância, porque, através dela, concedemos ao outros o direito de chegar a ser aquilo que consegue e não ao quanto gostaríamos que houvesse atingido, ao mesmo tempo propiciando-lhe a oportunidade de dar-nos o direito de ser como somos e não conforme ele gostaria que fôssemos.
Essa tolerância abre-nos o elenco admirável de compreensão fraternal: perceber que cada um vai até onde pode e nem sempre até onde gostaria.
Quantas vezes envidamos esforços para atingir uma meta e não a logramos?! Mas esse passo dado servirá de piloti para o outro. Degrau conquistado, meta próxima a conquistar.
Por isso mesmo, o Apóstolo Paulo se referia a que todas as coisas lhe são lícitas porém, nem todas as coisas lhe convêm. (*) Ademais, ele demonstrava que invariavelmente fazia o que não queria e deixava muitas vezes de fazer aquilo que anelava, demonstrando a relatividade do ser existencial, a fragilidade do homem e da mulher no invólucro carnal, o que de alguma forma diminui a potencialidade psíquica, impedindo os vôos mais altos na busca da realizada transpessoal.
(*) Paulo: I Coríntios – 6-12. (Nota de Divaldo Franco)
Na Casa Espírita, essa tríade kardequiana tem, naturalmente, o regime de urgência, porque aquele não é somente o lugar aonde vamos receber as luzes do conhecimento, mas uma Escola que nos equipa de informações para o encontro da plenitude; oficina de trabalho onde desenvolvemos aptidões, realizamos experiências, vivenciamos a aprendizagem para sairmos da teoria, da retórica bela e quase inútil, se não tem uma finalidade na prática para a ação. Além de ser a escola e a oficina onde trabalhamos, é, ao mesmo tempo, hospital de almas – almas enfermas que somos quase todos nós -, procurando a oportunidade de encontrar a terapia que nos liberte de nós mesmos, não das enfermidades, mas do estágio primarista no qual estão alojadas as matrizes da distonia que nos facultam a captação dos fenômenos externos, as infecções e manifestações bacteriológicas, os distúrbios da agressividade comportamental, as desarmonias psico-sociais, sócio-econômicas que nos atingem e, às vezes, nos esfacelam.
Então, esse é um lugar abençoado, o hospital onde estamos em terapia permanente e onde podemos ter recidivas, como ocorre com qualquer paciente que, no momento de ter alta, pode ser vítima de uma embolia cerebral, de uma parada cardíaca, apesar de o organismo estar aparentemente saudável; qual ocorre com qualquer máquina que pode apresentar uma falha, uma deficiência de funcionamento; mas é também o templo, o santuário, aquele lugar para a nossa elevação a Deus, onde emergimos do caos em que nos encontramos, para planarmos acima das vicissitudes, nas regiões abençoadas da harmonia, onde poderemos refazer as energias e voltar ao dia-a-dia das nossas lutas.
Naturalmente, a visão da Casa Espírita tem sido um tanto deformada, pela falta de contacto com os nossos deveres espirituais.
Um grande número de pessoas pensa que a Casa Espírita é o lugar no qual nos devemos sempre beneficiar; onde todos devem ser sorrisos, ajudar-nos, e, em cuja convivência seremos aqueles que nos beneficiaremos com a contribuição que a mesma deve dar.
Mas vale a pena considerar, que a casa, em realidade, é a construção de pedra, cimento, barro e areia de ferragem, de madeira, que o tempo vai derruir. A Casa Espírita, no entanto, é algo mais do que as suas paredes. Somos aqueles que nela mourejamos, somos a igreja viva a que se reportava o Apóstolo Paulo, somos o corpo espiritual de Jesus que ali está de uma maneira impregnadora, viva, para que todos que se acerquem do ambiente possam mimetizar-se da Sua presença, da Sua realidade transcendental.
Para que isso ocorra, é necessário que todos sejamos também partícipes, e não apenas frequentadores, beneficiários permanentes, sob a bengala psicológica da justificação injustificada – mas quem sou eu para colaborar?, eu tenho tantos problemas, tenho tantas necessidades; os meus problemas ainda não estão equacionados! – vestindo-nos de um egotismo perverso, porque sempre haverá ali alguém mais necessitado do que nós..
Talvez, ao nosso lado, entre sorrisos, esteja uma pessoa com a máscara que a oculta, com dores muito lancinantes do que as nossas, necessitando de um amigo, de uma palavra gentil, de um aperto de mão, de um sorriso, ou simplesmente da nossa presença para que se sinta gente, membro do organismo social, já que as aflições lhe esfacelaram a alegria de viver.
Se considerarmos que as nossas possibilidades são mínimas, que nada temos a oferecer e que também somos ricos de necessidades, examinemos a posição do médico. Quantas vezes, enfermo, ele vai atender a alguém que apresenta uma problemática diferente, e seu conhecimento liberta a pessoa, mesmo estando ele necessitado de terapia?!
Quantos psicólogos ajudam-nos com a técnica a sair do emaranhado de problemas, embora eles estejam também no labirinto tentando libertar-se?!
Merece, portanto, considerar que, na Casa Espírita, não somos somente frequentadores, e que, diante do Espiritismo, a nossa postura de adeptos, de simpatizantes, de quem gosta da Doutrina, abra um espaço maior para sermos membros desse organismo vivo e pulsante, que objetiva a transformação da Humanidade mediante a transformação de cada um de nós.
É muito fácil anelar por um mundo melhor, aspirar por uma sociedade justa, esperando que isso venha ocorrer de fora para dentro, em nossa direção, sem lhe oferecermos o mínimo esforço, mas a sociedade justa começa em nós, pelo critério de equanimidade, a fim de que, mediante a nossa transformação moral a humanidade do futuro seja superior a essa em que estamos, porque ao terminarmos esse ciclo iniciaremos outro, nesta humanidade do futuro pela qual anelamos.
Na semana passada, dialogando com um cavalheiro muito distinto, das finanças de Portugal, Joanna de Ângelis me disse: “- Esse senhor é alguém que acrescenta algo ao que o mundo lhe deu”, porque nós estamos em uma atividade, na qual, todos tiramos da herança que recebemos daqueles que vieram antes de nós, e é necessário que cada um agora se conscientize para contribuir, para dar algo, para acrescentar, para favorecer com o progresso e não apenas para beneficiar-se, não para tirar a sua cota como quem aproveita da oportunidade feliz para açambarcar o melhor, e deixar para as hienas e os jaguares aquilo que os próprios animais rejeitam.
É necessário, portanto, que despertemos para uma nova trilogia.
Allan Kardec nos pede o trabalho, essa solidariedade do apoio, a tolerância para compreender o outro, e Joanna de Ângelis estabeleceu para a nossa Casa, no corrente Exercício, um triângulo equilátero de responsabilidades. No vértice ela colocou o verbo espiritizar (*). Tornar realmente espírita a pessoa que moureja na Instituição, que vem à Casa Espírita para que saia da postura de adepto, passe para à de militante e se torne membro, portanto, espírita, assim desenvolvendo a atividade que acha bela nos outros e de que se beneficia.
No vértice superior do triângulo equilátero está, portanto, o impositivo da espiritização, que a pessoa vai adquirir por intermédio do estudo, da reflexão, das conferências que ouve, das meditações, das atividades de ordem mediúnica, sempre procurando aplicar para si a recomendação dos Espíritos antes que para os outros, tornando-se indispensável reflexionar em torno desse conteúdo, trabalhando as arestas morais, procurando purificar-se na medida da sua relatividade, mas com o caráter de não ceder nunca espaço para o erro, porque ser espírita é empenhar-se para ser hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje; é encontrar-se nessa febricidade transformadora de não cessar o auto-aprimoramento, porque, da mesma forma que o poço da degradação não tem fundo, o último degrau da perfeição não está estabelecido.
A ascenção é uma viagem ininterrupta, através da qual podemos alcançar paisagens ainda não devassadas, horizontes visuais impenetrados, que iremos naturalmente percebendo e que nos irão fascinando lentamente. Daí, a espiritização ser de muita importância.
Ouvimos pessoas dizerem: “- Bem, eu estou no Espiritismo faz dez anos, mas ainda não sou espírita. Eu sou neófito”. É uma atitude desculpista porque, para ser espírita, basta adotar os postulados da Doutrina Espírita: a crença em Deus, na imortalidade da alma, na comunicabilidade do Espírito, na reencarnação, na pluralidade dos mundos habitados, aceitar o Evangelho de Jesus – eis aí o código que define a criatura espírita. Poder-se-á dizer que não é um espírita perfeito, mas, sim, espírita, por estar esforçando-se para aplicar-se as suas lições. Outros se utilizam de ardis para escamotear o desinteresse pela transformação moral e pela realização de um mundo mais justo, dizendo sempre que são apenas espiritualistas. Mas é óbvio, que sendo espírita ele é espiritualista, mas sendo espiritualista, não é, necessariamente, espírita. Naturalmente pode ser católico, protestante, budista, islamita; pode estar vinculado a qualquer corrente religiosa que aceite a imortalidade da alma, mas se moureja numa Casa Espírita e adota-lhe o conteúdo, torna-se-lhe exigível a definição, porquanto, uma atitude de comodidade das mais reprocháveis é a indefinição, que permite ao indivíduo enganar-se, na suposição de que está enganando aos outros.
O Apóstolo Paulo, com veemência, dizia: Gelado ou ardente, não morno. Hoje se diz na linguagem política: De um lado ou do outro, não em cima do muro. Aquele que fica no meio é pusilânime, que sempre adere ao vencedor. É um indivíduo neutro, negativo. Não corre riscos, mas também não progride. Não desenvolve a escala de valores éticos. Por isso, o Espiritismo nos impõe compromissos. Esses compromissos são as responsabilidades perante a consciência. É a conscientização da responsabilidade pelo comportamento adotado.
É muito comum dizer-se: “- Bem, eu ainda sou imperfeito. Eu me permito isso, porque sou imperfeito”.
(*) Há tempos que, em seus artigos, o psicólogo Jacy Regis se vem utilizando com muita propriedade do verbo espiritizar. (Nota de Divaldo Franco)
Todos o somos, e quando erramos, não temos esse mecanismo de justificação. Simplesmente nos empenharemos para limar aquela aresta, para fechar aquela brecha e para não reincidir no mesmo erro. É o autoperdão, em nossa valorização de auto-estima, que não é uma forma de tolerância para com os erros, mas uma conscientização dos erros para deles nos libertarmos.
Joanna de Ângelis, com muita veemência, teve oportunidade de nos propor a espiritização de nossa Casa, porque, se o indivíduo vai ao templo budista ali estão as suras do pensamento de Sakya Muni, o grande príncipe Sidartha Gautama. Se vai a uma Entidade protestante, encontra a presença da Bíblia. Se vai a um culto católico, submete-se aos dogmas da Igreja. Aonde quer que vá-se com uma definição. Por que a Casa Espírita deverá ser o lugar de ninguém, o recinto no qual tudo é válido, como se fosse o tour de force, para que cada qual exiba aquilo que lhe aprouver, sob a justificativa de que também crê, mas não age?
É necessário que a Casa Espírita apresente o seu organograma definido, no qual não está em oposição a nada; está sim, a favor do Bem com as suas características específicas e que aquele que a frequenta adquira a consciência da sua responsabilidade por intermédio do trabalho de doação. Já que recebe, está na hora também de oferecer.
Joanna de Ângelis propõe nesse triângulo, no qual o vértice superior que se abre em um ângulo para o Infinito, é o da espiritização, graças à qual deveremos adquirir a consciência espírita, não nos permitindo aquilo que a Doutrina nos não recomenda, e, se por acaso, nos equivocarmos, reabilitarmo-nos, para não reincidirmos na mesma falha moral.
A segunda proposta de Joanna de Ângelis é a qualificação. Para que nos tornemos espiritistas, deveremos adotar a qualidade de uma pessoa de consciência. Cabe-nos pensar em parar, ler e acabar com os mecanismos desculpistas, como: “- Os obsessores não me deixam ler; toda vez que pego num livro, me dá sono.”
Faça-o de pé, leia de joelhos.. Quando eu era católico, passava toda quinta-feira santa maior defronte do altar do S. Sacramento, diante da lâmpada acesa, que representava a Eucaristia, de joelhos; quando cochilava, batia a cabeça no altar e acordava. Permanecia bem junto, para estar na vigília, porque eu acreditava que ali estava Jesus Cristo, em corpo e alma, conforme está nos Céus. Era uma questão de coerência. Na hora em que eu deixei de acreditar nessa ingênua informação, nunca mais me ajoelhei; libertei-me.
Deveremos buscar a qualificação espírita, e tentar saber, realmente, o que é Espiritismo.
Pessoas há que frequentam uma Casa Espírita a vida inteira, e se nós perguntarmos: “- E Allan Kardec, o que você pensa dele?” “- Eu até já ouvi falar esse nome” – responderão…
Não basta ter ouvido falar nesse nome; é claro que o nome próprio de Allan Kardec é bastante complicado para o nosso idioma: Hippolyte Léon Denizard Rivail, mas o nome Allan Kardec é tão simples! Ele teve a sabedoria de escolher uma antonomásia, um pseudônimo dos mais simples, aquele com o qual codificou o Espiritismo. Muitos dizem, o fundador e até na sua tumba, no cemitério em Paris, no Pére Lachaise, está fundateur, fundador do Espiritismo. Ele não fundou, mas sim Codificou, deu um código novo às idéias sempre conhecidas e esparsas, porque sempre houve o Espiritismo, isto é, a comunicação dos Espíritos, à qual ele deu dignidade moral, evangélica.
Deveremos qualificar-nos, esforçar-nos, para poder adquirir a consciência espírita, e claro, procurar melhorar as qualidades morais, sociais, familiares, as funcionais e as de trabalhador da Casa Espírita.
Faz muito anos, esteve em moda uma colocação, mediante a qual era muito importante a boa vontade, e durante muito tempo, dizíamos: “- Trata-se de uma pessoa de boa vontade”, referindo-nos a alguém… Eu me recordo que, naquela ocasião, os Espíritos me deram um ensinamento muito interessante, afirmando-me que Goethe, o célebre poeta alemão, escrevera que nada pior do que pessoa de boa vontade sem conhecimentos. Atrapalham muito mais do que ajudam.
Os senhores já imaginaram uma porção de pessoas de boa vontade na cozinha sem saber como cozinhar?! Cada um dando um palpite… ou o mesmo grupo em qualquer outra atividade!?
A boa vontade é um elemento básico, mas não é o fator indispensável. Esse é a qualificação de quem trabalha. Ele pode até não ter boa vontade, mas tendo capacidade produz melhor. A opinião de um técnico, apesar da sua má vontade, porém portador de alta qualificação evita desastres, e enquanto a colaboração da pessoa de boa vontade, desinformada ou sem qualificação, leva a prejuízos. A qualificação é muito importante. Saber o que fazer e como realizá-lo, para executar bem é indispensável.
Isso não quer dizer que a pessoa deva ser excessivamente instruída, exageradamente técnica, mas, pelo menos, preparada.
Aqui nós temos a Creche (*), e a pessoa diz que gostaria de colaborar com as crianças mas não tem filhos, não é professora, nem pedagoga, não gosta muito de crianças, porque é portadora de distúrbio emocional, mas quer fazer caridade, para que Deus lhe dê saúde… Ora, essa pessoa está negociando com Deus.
Poderá justificar-se, que deseja trabalhar para libertar-se da doença. Não, porém, numa Creche, sem a supervisão de um terapeuta. Essa pessoa que aparenta boa vontade, mas não tem qualificação, nem saúde, dará mais trabalho do que será útil.
A qualificação é de grande importância. É a base do triângulo. É o vértice da esquerda, porém o da direita é a humanização, porque se a pessoa se espiritiza, conscientiza-se da Doutrina, qualifica-se, mas não tem sentimento de humanidade, que é a caridade iluminando o humanitarismo e o humanismo; se não tem esse ideal de ajudar, de oferecer-se, de despersonalizar-se, no sentido de se libertar do ego dominador para poder dedicar-se, torna-se apenas uma parte do triângulo. Seria qual uma mesa trípode com um pé quebrado. Para que haja harmonia é necessário que essa espiritização seja qualificada e humanizada.
Que comece pelo ardor, logo o amor, preparando-se pela qualificação para servir bem. Comece-se a sentir o problema do próximo, e a melhor maneira de senti-lo é colocar-se no seu lugar, fazendo por ele o que gostaria que lhe fosse feito. Com esse exercício nasce uma onda de ternura, um sentimento de solidariedade e, a partir daí, começa-se a dizer: “Meu Deus, eu sou gente, eu sou uma célula do organismo universal; a sociedade caminha na minha vida.” Uma grande mentalista Rosacruz, Elizabeth Laser, escreveu: “- Quanto alguém cai a humanidade cai com ele.”
Já tivemos oportunidade de referir-nos a esse, que é um pensamento muito bonito, mas que a mim me parece algo pessimista. Porque, se a humanidade cai quando alguém tomba, ela se levanta quando alguém se ergue. Toda vez que uma pessoa se alça aos cimos a sociedade ergue-se com essa pessoa.
Um grande oncologista americano, o Dr. Bernie Siegel, teve oportunidade de narrar, em um dos seus livros, que recebeu uma paciente muito original. Tratava-se de uma jovem senhora de 38 anos que teve um câncer de mama e logo uma metástase óssea. Quando chegou até ele, o tumor estava irradiado por todo o organismo. O médico não teve outra alternativa senão dizer-lhe: “- A senhora chegou um pouquinho tarde. Podemos tentar algo, mas o sofrimento que você vai ter não compensa o sacrifício, porque o tumor avançou muito.”
A paciente redarguiu: “- Qual a minha possibilidade? Eu teria uma em dez?”
Ele meneou a cabeça e informou que, em 100 seria apenas de 1%, mas do ponto de vista técnico não havia nenhuma.
Ela interrogou: “- Doutor, e em um milhão de doentes eu teria uma vez?
Bem – respondeu -, em um milhão você teria uma vez. Então, por favor, comece o tratamento. Eu sou esta pessoa do milhão.”
Ele atendeu-a e ela ficou boa. Era realmente a exceção.
Nós sempre achamos que o escolhido é o outro. Imagine-se em um milhão de pessoas! Claro que não sou eu – dirá o pessismista -. Mas se todos declaram não sou eu, claro que não será ninguém. Aparece lá alguém que diz sou eu o dono da perspectiva, então ele vai contribuir para tornar-se o exitoso, porque não tem ninguém elegido. A pessoa elege-se.
É necessário que nos elejamos a célula básica da humanidade.
Muitas vezes, uma certa euforia me invade e eu, a sós ou acompanhado, sinto uma alegria imensa, a de ser membro de uma nova sociedade, de ser uma célula, se não sadia, pelo menos reconquistando a saúde.
Assim, posso antever a humanidade do futuro, quando a Doutrina Espírita se irradiará por toda a Terra e as injustiças sociais cederão lugar à verdadeira fraternidade.
Mas isso somente será possível quando eu for justo, do ponto de vista social; quando eu for bom, para o meu empregado; quando eu veja nele, não apenas meu servidor, mas um irmão, momentaneamente em função de serviço, já que eu também sou servidor de outrem e que, por sua vez, é servidor de outrem mais, tornando-nos servidores da Vida.
O Espiritismo é a nossa Escola, a nossa oficina, é o nosso hospital, nosso santuário e também nosso lar. O lar da fraternidade universal, onde todos nos encontramos para demonstrar que é possível viver em sociedade, sem agressividade; que é possível viver-se fraternalmente, sem estarmos a ferir-nos uns aos outros, e, quando isso acontecer, a tolerância virá em nosso socorro, a humanização virá para auxiliar-nos, a qualificação nos dirá que não temos mais o direito de permitir-nos erros, e a espiritização nos alçará à condição de verdadeiros espíritas, mínimas qualidades do homem de Bem, precisamente definidas em O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Com esses requisitos eu devo ser bom, nobre, justo, paciente, gentil, e se eu tiver algumas dessas qualidades, já terei o suficiente para ser um homem de bem, embora outras tantas ainda me faltam, mas que eu poderei conquistar através dos tempos futuros.

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