Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 30 de março de 2017

Doação de órgãos deve ser voluntária e consciente

Doação de órgãos deve ser voluntária e consciente

Dr. Carlos Roberto de Souza O transplante de órgãos e tecidos, seja intervivos ou proveniente de cadáver, é uma das mais importantes conquistas científicas da atualidade. O ato de doar parte do corpo é um exemplo de desapego à matéria, expressando a sublimidade do amor incondicional em benefício do próximo.

São poucos os que deixam registrada a intenção de doar? E as famílias, também se sentem inseguras em relação ao procedimento? Por que pacientes morrem na fila dos transplantes? Essas e outras perguntas começaram a ser respondidas, em abril, em um novo quadro apresentado pelo médico Dráuzio Varella, no programa semanal Fantástico, da Rede Globo.
Mas, e quais as consequências espirituais dos transplantes? “Esta atitude, sendo voluntária e consciente, reveste-se de alto teor moral, o que gera inúmeros benefícios espirituais para aquele que doa, enriquecendo-o de bênçãos, bem como renova as esperanças de vida naquele que recebe, permitindo-lhe continuar na existência física, e passar a agir com segurança e respeito, a fim de corresponder à misericórdia divina. A Doutrina Espírita, fundamentada numa bioética do amor, amplia o debate e oferece relevante contribuição ao tema”, declara o médico anestesiologista Carlos Roberto de Souza, presidente da Associação Médico-Espírita de Campina Grande (PB). Na próxima edição do Mednesp, que acontece em junho, em Porto Alegre (RS), o especialista falará sobre o tema Aspectos Espirituais dos Transplantes.

Folha Espírita – Como pensar nos transplantes, sob o ponto de vista espírita?
Carlos Roberto de Souza – A doação deve ser voluntária e consciente. Para o doador, é uma atitude de desapego à matéria e de amor ao próximo, que lhe traz benefícios espirituais. Para o receptor, é um exemplo da misericórdia divina que permite, por moratória, a continuidade da existência física.

FE – Você considera seguras as avaliações clínicas da morte encefálica?
Souza – Sim, se forem realizadas de acordo com a Resolução CFM 1.408/97, que tem como base critérios científicos, os quais definem o que é parada total e irreversível das funções encefálicas, principalmente do tronco encefálico, cuja destruição leva à separação da alma do corpo físico.

FE – Como o coração ainda bate, haveria, de alguma forma, repercussão negativa sobre o doador, no momento do transplante? Se houver, há meios espirituais de contorná-la?
Souza – Sim, dependendo da situação evolutiva do ser espiritual e quando a retirada do órgão é feita contra a sua vontade. Nesses casos, os efeitos negativos podem ser atenuados, pelos benfeitores espirituais, por meio do magnetismo curativo, dos esclarecimentos do espírito a respeito dos benefícios do ato de doação e também pelas preces de agradecimento feitas pelos receptores dos órgãos.

FE – Você conhece casos da literatura mediúnica espírita que traz a descrição feita pelo espírito doador sobre o transplante efetuado?
Souza – Sim, uma mensagem de Roberto Igor Porto da Silva, sobre a doação do seu coração para transplante, e outra de Wladimir César Ranieri, referente à doação de suas córneas, ambas psicografadas por Chico Xavier e publicadas na Folha
Espírita de fevereiro de 1998. Eles relatam que, apesar de a doação ter sido involuntária, foram beneficiados com o ato e fariam tudo novamente.

FE – O doador deve ser anestesiado na cirurgia de retirada do coração ou de outro órgão?
Souza – É um tema delicado e depende de cada caso. Sob a visão espírita, após a morte orgânica, mesmo com diagnóstico correto de morte encefálica, a separação da alma não é brusca e a desencarnação depende das disposições psíquicas e emocionais do espírito, cujo tempo de desligamento do corpo físico é variável, diferindo em tempo, natureza e circunstância. Principalmente se a morte for violenta, modo no qual se enquadra a maioria dos doadores. Nesse caso, o doador deve ser anestesiado a fim de bloquear os efeitos da desagregação da matéria, que repercutiriam no espírito. Por outro lado, em situações de rápido desenlace, não há necessidade de anestesia, pois o espírito já partiu e a matéria sozinha nada sente. Sob a visão médica, recomenda-se a manutenção dos sinais vitais e, se for recomendada anestesia, é porque existem dúvidas quanto ao diagnóstico de morte encefálica e, portanto, não deveriam ser retirados os órgãos.

FE – Que existe de real quanto à repercussão dos hábitos do doador no transplantado?
Souza – Existem muitas teorias que tentam explicar o fenômeno da “memória celular” registrado nesses casos, o que necessita de mais estudos. Mesmo considerando que, inicialmente, os órgãos do doador estejam impregnados de sentimentos, uma vez que ele é transplantado, automaticamente, passa a receber a influência dos moldes perispirituais do receptor e a obedecer ao novo comando mental. Uma influência psicológica e comportamental do doador só é possível quando o receptor mantém sintonia mental na mesma faixa vibratória do doador, por diversas causas, e capta informações por meio de uma conexão não-local, podendo até
desenvolver um processo obsessivo.

FE – Qual o futuro dos transplantes?
Souza – Muito promissor, principalmente pelas descobertas de medicamentos (Bortezomib) e desenvolvimento de novas técnicas (como no transplante de traqueia), que diminuem ou eliminam a rejeição, reduzindo a necessidade do uso de imunossupressores. Também pelo maior esclarecimento da população, que vem aumentando a oferta de órgãos e possibilitando a dilatação da existência e a diminuição do sofrimento daqueles que merecerem continuar encarnados e souberem aproveitar, por meio da renovação moral, a nova oportunidade concedida pela bondade divina.
Maio de 2009 - Edição número 417

Transplante de Órgãos na Visão Espírita

Transplante de Órgãos na Visão Espírita
 



 Desde a mais remota Antigüidade o homem tenta substituir partes do corpo e até mesmo órgãos inteiros por similares retirados de doadores. As primeiras notícias que mostram esse procedimento datam do ano 800 a.C., quando, na Índia, efetuaram-se transplantes para reparar partes lesadas do nariz com a pele retirada da fronte de um doador.
Nos tempos modernos, contudo, o primeiro transplante de um órgão vital executado com relativo sucesso ocorreu na África do Sul, em 1967, graças à habilidade do cirurgião Christian Barnard em dominar as técnicas operatórias cardiovasculares já então desenvolvidas. Hoje, devido a uma maior compreensão dos mecanismos responsáveis pela rejeição de tecidos, os transplantes cardíacos, hepáticos e renais têm ocorrido de maneira por assim dizer rotineira, em alguns casos permitindo sobrevida que ultrapassa uma dezena de anos.
Consciente da realidade do Espírito imoral, é natural que a grande família espírita de nosso país se preocupe com o assunto ou lhe oponha alguns questionamentos, sobretudo a partir da promulgação da Lei nº 9434, de 4 de fevereiro de 1997, que “dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências”.
O cerne da questão é a denominada morte encefálica, na vigência da qual, órgãos ou partes do corpo humano são removidos para utilização imediata em enfermos deles necessitados. A dificuldade reside justamente em identificar, com precisão, se determinada criatura já preenche os requisitos exigidos para ser classificada nessa situação. Como imaginar que alguém possa ter morrido, se o seu coração ainda bate? E quem garante que a Medicina terá dado a sua última palavra ao afirmar que o agonizante em coma encontra-se em processo irreversível e inexorável em direção à morte? Afinal de contas, há tantos relatos verídicos de enfermos em tais condições que recuperaram parcial ou totalmente a saúde e se reintegraram ao convívio social... E se confundirmos o estado de morte encefálica, retirando órgãos vitais de pessoas ainda vivas? Qual a repercussão desse ato sobre o corpo físico do doente? Não estaríamos, nesta hipótese, cometendo um assassinato? E que dizer do perispírito, esse modelador plástico de importância tão significativa na elaboração do organismo em que vai habitar por algum tempo o Espírito imortal? Tais as questões sobre as quais importa nos fixemos na tentativa de esclarecer o assunto.
Vamos começar pela definição de morte encefálica. O conceito é baseado na constatação clínica de coma aperceptivo e ausência total de reflexos ou de movimentos supra-espinhais que não sejam provocados por hipotermia ou depressão medicamentosa, observados por um tempo mínimo de seis horas. Tal achado clínico deverá necessariamente respaldar-se em um exame subsidiário que demonstra de forma cabal e definitiva a ausência de atividade elétrica cerebral, de perfusão sangüínea cerebral ou de atividade metabólica. A primeira é evidenciada pelo eletroencefalograma e pelo estudo dos potenciais evocados; a segunda, pela arteriografia cerebral, pelo estudo radioisotópico, pela ultrasonografia transcraniana e pela monitorização da pressão intracraniana, enquanto a última poderá ser constatada pelo PET-SCAN e por métodos que medem a extração e o consumo de oxigênio (HC-FMUSP). Estar em morte encefálica, portanto, é estar em uma condição de parada definitiva e irreversível do encéfalo, incompatível com a vida e da qual ninguém jamais se recupera. Logo, os doentes considerados desenganados e em fase terminal que se recuperaram são aqueles que em verdade não preenchiam os critérios de morte encefálica, dela possuindo apenas a aparência, como certos estados comatosos que resultam da agressão de um ou de vários órgãos do corpo humano. Conseqüentemente, carece de argumentação científica o pretexto utilizado pelos espíritas para condenarem o transplante de órgãos: a eutanásia de modo algum se encaixaria nesses casos de morte encefálica comprovada.
Uma objeção por assim dizer ponderável que se faz no meio espírita em relação ao transplante de órgãos diz respeito às repercussões perispirituais que o Espírito possa vir a sentir. Diagnosticada a morte encefálica, experimentaria o Espírito algum tipo de dor no momento em que um órgão de seu corpo moribundo esteja sendo retirado pela equipe médica que intervém no processo? Os Espíritos reveladores informam que a separação da alma e do corpo não é dolorosa (“O Livro dos Espíritos”- questão 154), embora os relatos mediúnicos, sobretudo quando descrevem o sofrimento por que passam os suicidas, nos mostrem que alguns deles experimentam a sensação aterrorizadora da decomposição do corpo físico que já foi abandonado à sepultura! Ora, é a Doutrina Espírita também que nos esclarece que os laços perispirituais não se quebram, simplesmente se desatam. (Questão 155 - obra citada). Isso é facilmente entendido na chamada morte natural, aquela que sobrevém pelo esgotamento dos órgãos físicos, em conseqüência da idade ou de moléstia prolongada. Contudo, nos casos de morte violenta, em que a desencarnação não resultou da extinção gradual das forças vitais, sendo mais tenazes os laços que prendem o corpo ao perispírito, mais lento será o desprendimento completo do corpo espiritual. Ou seja, persistindo ainda alguns laços que prendem o perispírito ao corpo agonizante ou em estado de decomposição, conforme o tempo transcorrido é natural que, a alma experimente certa repercussão no corpo perispiritual provocada pela retirada dos órgãos que serão transplantados, sem que isso se traduza necessariamente por dor ou sofrimento.
No entanto, os Espíritos nos têm alertado sobre o cuidado que devemos observar diante da cremação de cadáveres. Segundo orientação transmitida pelos Imortais a Léon Denis, “a cremação provoca desprendimento mais rápido, mais brusco e violento, doloroso mesmo para a alma apegada à Terra por seus hábitos, gostos e paixões”. Emmanuel chega mesmo a recomendar que se procrastine a cremação por 72 horas, certamente em virtude dos ecos de sensibilidade existentes entre a alma e o corpo que será incinerado. Trazendo o problema para a órbita dos transplantes, poderíamos, da mesma forma, inferir que a retirada abrupta de tecidos ou órgãos de um corpo, cujos laços perispirituais ainda não se romperam completamente, possa levar a igual resultado, ou seja, provocará dor e sofrimento de gradação variada. É possível! Contudo, não nos esqueçamos de que o Espírito de um indivíduo que só viveu para a satisfação de seus instintos materiais e sensuais poderá experimentar também dores inenarráveis, em virtude do processo natural de decomposição do corpo que a morte colheu, ainda mesmo que tenha sido abençoado pela chamada morte natural e não haja sofrido o processo de cremação! Nele, o desprendimento do perispírito é bem mais lento, podendo durar dias, semanas ou meses. Recordemos, ainda, de situação que ocorre todos os dias nas grandes cidades: a prática da necrópsia, exigida por força da Lei, nos casos de morte violenta ou sem causa determinada: abre-se o cadáver, da região esternal até o baixo ventre, expondo-se-lhe as vísceras tóracoabdominais.
Muitas vezes a morte do corpo físico se verificou horas antes dessa intervenção, portanto, no período em que o desligamento dos laços perispirituais não se teria dado completamente, podendo o processo repercutir de forma dolorosa na alma que partiu! Muitos exemplos poderiam enumerar ainda para ilustrar outros casos que resultassem em idêntica conseqüência para o Espírito recém-chegado ao Plano Espiritual. Mas... sofreriam eles, realmente, em qualquer uma dessas situações? E a questão do mérito pessoal? Estaria o destino dos Espíritos desencarnados à mercê da decisão dos homens em retirar-lhes os órgãos para transplante, em cremar-lhes o corpo ou em retalhar-lhes as vísceras por ocasião da necrópsia?! O bom senso e a razão gritam que isso não é possível, porquanto seria admitir a justiça do acaso e o acaso não existe!
Jesus - Cristo marcou a sua passagem entre nós pelos exemplos de caridade de que se fez protagonista. A autoridade dos seus ensinamentos reside precisamente nos atos de nobreza com que dignificou o seu apostolado na Terra.
E quantas vezes Ele se serviu de imagens do cotidiano para ilustrar a Sua mensagem de paz e de boa vontade entre os homens! A parábola da ovelha e dos bodes, na alegoria do Juízo Final (Mateus 25:31-46), assim como a do Bom Samaritano (Lucas, 10:25-37) evidenciam o Seu empenho em nos apontar o verdadeiro caminho da felicidade eterna - a caridade, o amor na sua mais lídima expressão. As curas por Ele operadas em nome da fraternidade legítima, os exemplos numerosos de que deu testemunho ao vivenciar o entendimento, a tolerância, a humildade e o perdão sem fronteiras atestam de maneira eloqüente que o seu discurso estava perfeitamente alinhado com a conduta irrepreensível que dele fez o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo. (“O Livro dos Espíritos” - questão 625).
Paulo de Tarso, o vaso escolhido por Jesus para levar a mensagem libertadora do Evangelho muito além das acanhadas fronteiras de Israel é, também, um exemplo vivo de dedicação e de fidelidade à causa cristã. E ninguém melhor do que ele para compreender a exata dimensão do amor que se desprende das lições iluminadas da Boa-Nova: falar a língua dos homens e dos anjos; ter fé ao ponto de transportar montanhas; distribuir todos os bens, entre os pobres; e entregar o próprio corpo ara ser queimado, nada disso teria proveito se não fosse chancelado pelo amor. Amor paciente, benigno, que não arde em ciúmes, que não cuida dos seus interesses, que se regozija com a verdade, que sofre, que suporta tudo, que jamais acaba... (I Cor., 13:1-13).
A Doutrina Espírita, cumprimento da promessa de Jesus de permanecer eternamente conosco, resumiu todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com o Criador através da máxima ”FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO” (Allan Kardec - “O Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. 15, item 5). Seus missionários nada mais têm realizado do que observar fielmente esse preceito.
Ora, quando retiramos partes de um cadáver para transplantar em alguém não é o sentimento da mais pura caridade que nos impulsiona? Não estaremos animados daquele sentimento de solidariedade, de caridade pura e desinteressada a que o Evangelho se refere e nos convida a por em prática?
Sejamos pragmáticos. O Espiritismo não poderá jamais contestar interpretações que se afastem desse princípio, a pretexto de defender hipotéticas considerações doutrinárias, até mesmo a de que o transplante levaria à obsessão. A retirada de órgãos aproveitáveis de um cadáver para serem transplantados em alguém que deles necessite não afetará o Espírito que animava o corpo do doador, se este não merecer passar por esta prova. A Lei de Deus, além de justa, é eminentemente misericordiosa, representando o transplante de órgãos valiosa oportunidade dentre tantas outras colocadas à nossa disposição para o exercício da caridade. Estejamos, pois, certos de que “eventuais repercussões perispirituais ou ecos de sensibilidade que o Espírito possa vir a sentir são irrelevantes, diante de um Bem maior”. (Jornal Espírita - fev./98).
Finalmente, não nos esqueçamos jamais de orientar o receptor de transplantes acerca da aquisição e manutenção da saúde que realmente importa - a saúde do Espírito. Todas as criaturas que Jesus curou fisicamente experimentaram o fenômeno da morte do corpo físico, ascendendo às regiões inacessíveis ao sofrimento somente aquelas que foram reconhecidas por muito se amarem.
 
Fonte: Revista Reformador – outubro/1998
Evandro Noleto Bezerra

Transplante de Órgãos - Richard Simonetti

1 –       Qual o ponto de vista espírita sobre transplante?
Ponto de vista espírita seria o que está na Codificação, envolvendo a obra de Allan Kardec. Como ele não abordou o assunto, podemos ter a opinião dos espíritas. A minha é favorável.


2 –       A retirada de seus órgãos não poderá ocasionar problemas para o Espírito?
A situação do Espírito, no trânsito para o Além, depende dele próprio, deseus patrimônios morais e culturais, não das circunstâncias que envolvem suamorte.

3 –       O paciente cujos órgãos foram aproveitados para transplante nãoterá repercussões em seu perispírito? Se lhe tiraram os olhos, não poderá,por exemplo, experimentar a cegueira no plano espiritual?
Se assim fosse, como ficaria alguém cujo corpo foi desintegrado numaexplosão? Nosso perispírito é afetado pelo que fazemos, não pelo que fazem ao nosso corpo.

4 –       Sendo indispensável retirar o órgão ainda vivo, a fim de viabilizaro transplante, a Medicina adotou o conceito de morte cerebral. O pacienteé declarado morto, embora o coração ainda esteja funcionando. Isso não éeutanásia?
Há apenas vida vegetativa, uma morte em vida sustentada por aparelhos. Quando forem desligados, ou mesmo antes disso, o paciente não tardará emexalar o último suspiro.

5 –       Alguns dias ou horas a mais no corpo não o preparariam melhorpara o desencarne?
Talvez, dependendo das pessoas que o cercam. Às vezes os familiaresenvolvem o paciente em tal onda de desespero e inconformação que lheimpõem mais atribulações do que as supostamente decorrentes dos procedimentos cirúrgicos para o aproveitamento de seus órgãos.

6 –       Se a retirada é feita à revelia do paciente terminal, não poderá eleconverter-se num obsessor da pessoa beneficiada pelo transplante?
Essa fantasia daria um belo filme de horror, mas não tem nada a ver com arealidade. O aproveitamento do órgão antecipa-se algumas horas ao banquetedos vermes, preservando-o. Motivo maior teria o Espírito de aborrecer-secom os nauseantes invasores que lhe devoram o corpo inteiro.

7 –       O coração é situado como a sede dos sentimentos. Isso não poderácausar embaraços à pessoa que receba o coração de alguém muitoatribulado, como um suicida, por exemplo?
O coração é uma bomba, cuja função primordial é fazer circular o sangue noorganismo. A sede dos sentimentos está na alma, não no corpo ou em algumórgão específico.

8 –       Aos cinquenta anos um homem está no fim da existência, com graveproblema cardíaco.  No entanto, recebe um coração “novo”, emtransplante, e vive mais 20 anos. Não estaria a ciência médica interferindonos desígnios de Deus?
A Medicina é instrumento de Deus. Suas conquistas fazem parte doplanejamento divino em favor da longevidade da espécie humana, programada biologicamente para viver perto de um século.

DOAÇÃO DE ORGÃOS SOB A VISÃO ESPÍRITA


(Apresentado ao público na Tribuna Jovem da Sociedade Espírita Círculo da Luz, em Porto Alegre/RS, em 31/10/ 2003)

1. Há nas Obras Básicas da Doutrina Espírita algum indicativo à doação de órgãos?
O que o Espiritismo diz quanto a doação de órgãos?
Na época de Allan Kardec, este assunto não era cogitado.

2. Qual a diferença entre morte e desencarnação?
A morte é biológica, a desencarnação é psíquica (apego à matéria).

3. Para que doar órgãos?
Para permitir que o nosso semelhante possa continuar vivendo no plano físico.

4. Que órgãos podem ser doados e quais os possíveis em vida?
Rim, parte do fígado e pulmão e medula óssea (em vida)
Rins, fígado, coração, pâncreas, pulmões, intestinos. Tecidos: Córneas e outros como pele, vasos sangüíneos, tendões e ossos . (após a morte)

5. Quando o corpo para de funcionar, já não precisamos de nossos órgãos?
Após a morte biológica não nos são mais úteis os órgãos.

6. Quanto tempo recomenda-se, após a morte, para retirar os órgãos do doador?
48 a 72 horas

7. Existe um momento certo para cremar um corpo?
Não, depende do grau de desprendimento do espírito. Por prevenção recomenda-se 72 horas de espera.

8. Quanto tempo demoramos para nos desligar completamente do corpo material (desencarnação)?
O tempo proporcional ao nosso apego material.

9, Mesmo depois da morte, sente-se dor quando é feita a retirada dos órgãos?
O Espírito desencarnado sofre com a extração dos órgãos, na autópsia ou na cremação?
Sim, quando não ocorreu a desencarnação.

10. Em que momento os médicos liberam os órgãos para a doação após a morte?
Após aplicado o teste de apnéia (10 minutos), e constatada a morte tronco-encefálica.

11 O estado de morte tronco-encefálica é um momento seguro para se fazer a retirada de órgãos para transplantes, sem perturbar o Espírito do doador?
No atual estágio da medicina humana ainda é o melhor método de avaliação clínica, porém no futuro será aperfeiçoada para garantir absoluta segurança ao doador.

12.Quando podemos saber se os órgãos de um familiar que está em coma podem ser doados?
Estado de coma não é estar morto, portanto não deve doar os órgãos imprescindíveis à vida, somente quando constatada a morte tronco-encefálica.

13.Num caso em que a família opta pela doação, mas seu ente querido, desinformado sobre a continuação da vida, nunca comentou com alguém sobre isso, como ele se sentiria no plano espiritual?
Num primeiro momento, uma sensação desagradável, porém a seguir compreenderia o bem que foi feito e felicidade pessoal.

14, A doação de órgãos pode causar obsessão?
Excepcionalmente quando o espírito (doador), for endurecido ou muito apegado à matéria.

16. As emoções e sentimentos, defeitos e qualidades influenciam o comportamento do receptor?
Há pessoas que mudam de comportamento ao receberem um órgão. Por que?
Impressão psicológica. Nada a ver com o órgão doado.

17.Existe algum tipo de assistência por parte do plano espiritual em conseqüência da doação?
Normalmente, sim.

18. Doar órgãos pode trazer alguma complicação para o Espírito após o desencarne?
Somente percepções psíquicas que desaparecem após auxílio e compreensão.

19.O que acontece com o nosso perispírito em caso da doação dos órgãos?
Permanece inalterado.



20. Segundo alguns, quando se doa órgãos, o perispírito é lesado e ainda causa influência na próxima encarnação. André Luiz, por exemplo, levou as impressões de câncer de intestino para o mundo espiritual. Se levamos os estigmas das doenças, também levaríamos a retirada dos órgãos e o Espírito sofreria horrores. Mesmo quando é constatada a morte cerebral, o espírito continua no corpo e sofre por isso?
Como já foi dito, o perispírito não sofre lesões com a doação de órgãos, assim como com cirurgias no plano físico. A má utilização do nosso organismo é que efetivamente lesiona nosso perispírito para futuras reencarnações. Após a morte do corpo físico, o espírito poderá ou não estar junto ao seu corpo, dependendo de seu apego à matéria

21. Havendo tanta controvérsia ao padrão da morte cerebral, o que nos coloca a questão da incerteza se o Espírito já se acha desligado da matéria, será que a doação de órgãos alcançará maiores resultados quando os médicos do futuro puderem trabalhar também no plano espiritual?
Certamente.

22. O que alteraria, em relação ao planejamento espiritual, na existência da pessoa que vai receber um órgão?
Maior tempo no plano físico para refletir sobre sua vida e uma nova oportunidade para cumprir sua programação evolutiva.

23. A pessoa que recebe a doação de um órgão fica com algum vínculo com o perispírito do doador?
Não, a não ser que seja impressionável e, nesse aspecto, apenas psicológica.

24. Por que alguns transplantes são rejeitados?
Quando ocorre a rejeição, isso pode ser relacionado ao fato do Espírito doador não estar preparado para isso?
A rejeição dos órgãos ocorre devido à incompatibilidade existente entre o fluido vital do doador e do receptor?
A rejeição está diretamente vinculada ao merecimento do doador e dos níveis vibratórios do doador/receptor.

25. Uma pessoa que se suicidou, mas deixa uma carta doando seus órgãos, é culpada ou inocente?
Continua sendo um suicida. Seu gesto amenizará o sofrimento.

26.Segundo o pesquisador e projeciologista Waldo Vieira, não seria aconselhável a recepção de órgãos de suicidas em um transplante, devido a graves prejuízos para o psiquismo do transplantado. O que pensar disso?
Se o receptor for equilibrado e esclarecido sobre o assunto e tiver merecimento suplantará esta influência psíquica.

27.Com relação às possíveis complicações de um doador suicida, a Espiritualidade amiga não poderia atuar de forma a harmonizar essas energias, para que esta pudesse se tornar compatível com o receptor, sem danos maiores?
Esta situação ocorre freqüentemente permitindo a compatibilidade.

28.É ético um casal optar por ter mais de um filho apenas em decorrência da necessidade de se encontrar um doador de medula para um outro filho com leucemia?
Permitir a reencarnação sempre é um ato nobre e valioso a um espírito.

29. A que conseqüência espiritual estaria sujeito um doador que vendesse um rim para um receptor necessitado?
A intenção do doador é que será avaliada.

30. Qual a posição de Chico Xavier em relação à doação de órgãos?
Chico Xavier optou por não ser um doador de órgãos.

31.Por que alguns espíritas recusam-se a autorizar, em vida, a doação de seus próprios órgãos após o desencarne?
Questão de foro íntimo.

32.Quem está e quem não está preparado para doar órgãos ao morrer?
As pessoas conscientes de sua decisão e com o firme propósito de auxiliar seus irmãos.

33.Como devo expressar meu interesse em ser doador?
Informe sua família sobre seu desejo de ser doador de órgãos. Não é necessário qualquer registro em nenhum documento. O mais importante é comunicar em vida sua vontade pela doação.

Mauro Pilla
Instrutor da Escola Básica de Espiritismo da SECL e Expositor Espírita

REFLEXÃO SOBRE A DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TRANSPLANTES

REFLEXÃO SOBRE A DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TRANSPLANTES


Cristiano Torchi

"De fato, doar órgãos é um gesto de amor e caridade no seu mais profundo sentido, desde que seja consciente, espontâneo. Ninguém deve sentir-se constrangido a doar seus órgãos, se a ideia não lhe agrada, se não está seguro de tal decisão."

"O transplante de tecidos, órgãos e partes do corpo humano é um procedimento terapêutico destinado a pacientes em situação de risco. Não se desconhece, por isso, a importância da doação desses elementos vitais. Segundo pesquisas mais ou menos recentes, a maioria da população é favorável à doação de órgãos com tais propósitos,1 entretanto, muitos têm receio de doar por uma série de razões, dentre elas: em caso de doação de órgãos, após a morte, pode o Espírito doador sentir incômodo ou dor, no momento da retirada desses órgãos?

O Espírito recém-desencarnado pode se sentir lesado, se lhe retirarem, sem a sua anuência, os órgãos do corpo físico que habitou?

Não existe o risco de erro médico, que poderia determinar a remoção dos órgãos antes da morte física?

Ou mesmo a provocação da morte, com fins ilícitos?

De fato, doar órgãos é um gesto de amor e caridade no seu mais profundo sentido, desde que seja consciente, espontâneo. Ninguém deve sentir-se constrangido a doar seus órgãos, se a ideia não lhe agrada, se não está seguro de tal decisão. Por isso, foi oportuna a Lei n. 10.211, de 23/3/2001, que alterou dispositivos da Lei n. 9.434/97, a qual dispensava a autorização da família, nos casos de doador-cadáver, uma vez que se tornava “doador presumido” ou “compulsório” quem deixasse de registrar expressamente, nos documentos pessoais, a sua condição de não doador.

O Espiritismo, tendo anunciado a lei do progresso, obviamente é a favor de todo avanço, seja de que área for, pugnando, entretanto, pela observação da ética. Logo, jamais poderia ser contra a doação de órgãos:

As descobertas que a Ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a Deus; unicamente destroem o que os homens edificaram sobre as falsas ideias que formaram de Deus.2

Se não houver disposição de última vontade da pessoa viva, a esse respeito, tal direito transmite-se, automaticamente, aos parentes do desencarnado. Todavia, se a família desconhecer a vontade do extinto, torna-se muito mais difícil tomar uma decisão desse porte. Por tudo isso, é de suma importância que comuniquemos aos familiares, desde já, nosso desejo quanto ao destino a ser dado aos órgãos, para que não haja, no futuro, perplexidade nem dúvidas quanto à nossa real pretensão.

Há muito se estuda a questão ética sobre se a criatura humana é ou não proprietária de seu organismo. No sentido ético-religioso, o homem não é dono absoluto de seu corpo, mas usufrutuário dele, como o é de todos os bens materiais existentes, motivo pelo qual pode, de acordo com o seu livre-arbítrio e sua consciência, colocá-lo a serviço do próximo e da Medicina, se as condições o permitirem.

O corpo físico é o primeiro empréstimo que Deus concede ao Espírito para o seu aprimoramento moral e intelectual.Por que não permitir que esse bem precioso, que não mais será utilizado por alguém que acaba de desencarnar, favoreça, por meio da doação de seus órgãos, a prorrogação da vida orgânica de outro Espírito encarnado, para que esse possa, em permanecendo mais tempo na esfera terrestre, aproveitar as oportunidades de crescimento e de progresso, numa espécie de moratória espiritual?

A tecnologia dos transplantes vem aperfeiçoando cada vez mais esse processo terapêutico, vencendo o tradicional inimigo (a rejeição dos órgãos) e inclusive aprimorando o diagnóstico da morte física, sem prejuízo nenhum para o cosmo celular, para o perispírito ou para o Espírito desencarnante, que sempre recebe a proteção do Alto, por sua intenção benemérita.

Se houver algum erro médico, malversação ou má utilização dos órgãos doados, bem assim rebeldia do Espírito doador involuntário, tais acontecimentos estarão situados na órbita da lei de causa e efeito.

O diagnóstico da morte encefálica, que não se confunde com o estado comatoso,3 é o critério científico válido, atualmente, para detectar a cessação da vida que, inclusive, é reconhecido pela benfeitora Joanna de Ângelis.4

A morte é um processo complexo, lento e gradual. A vida não pode ser entendida pela simples presença de sinais vitais isolados em órgãos e tecidos, mas sim de elementos vitais estruturados que, em conjunto, formam a concepção da pessoa. Uma vez morto o encéfalo, não há qualquer possibilidade de reanimar o indivíduo; os demais órgãos, como pulmão e coração, continuam a funcionar por certo tempo, para logo mais, assim como todos os demais órgãos, interromper-se o seu funcionamento.

Por isso, é fundamental que os órgãos sejam aproveitados para doação antes que cessem os batimentos cardíacos e a respiração, que podem ser mantidos temporariamente por meios artificiais, logo após a morte encefálica, aumentando o fator tempo para a preservação das células dos órgãos a serem transplantados, o que também facilita a tomada de providências, inclusive médicas, jurídicas e logísticas indispensáveis aos preparativos e ao êxito da cirurgia de remoção e transplante.

A possibilidade de erro de diagnóstico é remota, pois, no caso dos transplantes, a legislação exige a realização de vários exames clínicos especializados e diversos complementares, e inclusive repetitivos, sendo possível até o acompanhamento do médico da família, para checar se estão sendo tomados os procedimentos corretos.

O estudo do perispírito facilita a compreensão do fenômeno morte, sob o ponto de vista espiritual e mesmo sob o ponto de vista biológico.

A desencarnação assemelha-se ao processo invertido da encarnação, em que as moléculas do perispírito vão se desprendendo uma a uma dos componentes celulares.

Portanto, a ligação do Espírito com a matéria pode persistir, ainda que não exista vitalidade. Entretanto, na ausência de vida orgânica, o Espírito perde o veículo de transmissão e recepção de sensações e percepções, que persistem apenas na forma de lembranças na memória. Após a morte,mormente nos seres humanos de evolução mediana, o Espírito não tem consciência de si mesmo imediatamente depois de deixar o corpo, uma vez que passa algum tempo em estado de torpor, de perturbação, que “nada tem de penosa para o homem de bem”, que se conserva calmo, semelhante em tudo a quem acompanha as fases de um tranquilo despertar.5 Os sofrimentos de que padecem os Espíritos, conforme eles mesmos revelam, são as angústias morais, que os “torturam mais dolorosamente do que os sofrimentos físicos”.6

Portanto, se alguém tiver que sofrer por algum motivo, após a morte física, quer haja cremação ou retirada de órgãos para transplante, a dor será moral e não física e acontecerá independentemente de ser ou não cremado, de ser ou não doador, visto que ninguém sofre desnecessariamente perante as leis divinas.7 Pelo contrário, a intenção caridosa do doador de órgãos atrairá a atenção dos Espíritos bondosos, que lhe darão ampla assistência, conforme atestam diversas mensagens recebidas do plano espiritual, 8 inclusive no caso de aproveitamento de órgãos de suicidas9 e em outros casos.10 É lícito concluir, portanto, que o desligamento dos aparelhos, após o transplante ou se este vier a ser frustrado por algum motivo excepcional, não implica a prática da eutanásia, uma vez que já havia ocorrido a morte encefálica independentemente do conceito espírita da desencarnação, cujo momento é diferenciado para cada Espírito, dependendo do estágio de evolução.

Não há nenhuma contradição dessa afirmativa com o ensino dos Espíritos superiores, pois eles mesmos esclareceram que a alma independe do corpo,11 tanto que esse pode subsistir, ainda que temporariamente, sem aquela. Entretanto, desde que cessa a vida do corpo, a alma o abandona, ou seja, “a vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica”,12 caso em que “a separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica”.13

A vida é um dos bens mais preciosos que existem, mas todos, sem exceção, estamos fadados à morte física. Não há outro meio de aprender a conviver com ela, senão compreendendo a finalidade da própria vida e pautando o viver de acordo com as leis divinas.

No momento de uma decisão importante como essa, coloquemo-nos no lugar dos potenciais receptores de órgãos. Pensemos na mãe aflita que vê seu filho perecer por falta de doador compatível. Meditemos naqueles enfermos que, angustiados e sofridos, submetem-se, por exemplo, às máquinas de hemodiálise, à espera de um órgão.

Não nos esqueçamos de que o não doador, hoje, pode ser um receptor, amanhã.
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1 - FONTENELLE, André. Colaboração de Bianca Piragibe. Guia.Doação de órgãos: a vida de presente.Revista Veja, São Paulo, Editora Abril, ed. 1.924,p. 114 a 116, 28 set. 2005.
2 - KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 52. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. cap. 1, it. 55.
3 - TORCHI, Christiano. Espiritismo passo a passo com Kardec. 3. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. it. 7.4.7. Doação de órgãos e transplantes, p. 439.
4 - FRANCO, Divaldo P. Dias gloriosos. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 4. ed. Salvador: Leal, 1999. p. 97 e 98.
5 - KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. q. 163, 165 e comentário de Allan Kardec à q. 165.
6 - Idem, ibidem. q. 253 e 255.
7 - SANTOS, José Roberto Pereira (então presidente da Associação Médico-Espírita do Espírito Santo). Chico e a doação de órgãos – Uma réplica. Folha Espírita, São Paulo, p. 4, fev. 1999.
8 - FRANCO, Divaldo P. Elucidações espíritas. Fernando Hungria (Org.). 2. ed. Niterói (RJ): Seja, 1993. p. 109 e 110.
9 - XAVIER, Francisco C. Amor e saudade. Diversos Espíritos.Rubens Sílvio Germinhasi (Org.). Apud SIMONETTI, Richard. Quem tem medo da morte? 7. ed. Bauru (SP): Gráfica São João, 1988. p. 122 e 123; LISSO, Wlademir. Doação de órgãos e transplantes. São Paulo: Feesp, 1998. p. 101.
10 - SIGNATES, Luiz.Doação de órgãos.Você já fez sua opção? Revista espírita Allan Kardec, Goiânia, Gráfica e Editora Espírita Paulo de Tarso, ano 10, n. 38, p. 5 a 11, fev. 1998."
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(Texto/imagem: Portal FEB – Reformador – maio 2013 – acesso em: 02/maio/2013.)

CREMAÇÃO – DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TRANSPLANTES SEGUNDO O ESPIRITISMO

CREMAÇÃO – DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TRANSPLANTES SEGUNDO O ESPIRITISMO


Uma vez ocorrida a morte, que destino dar ao corpo que já não pode entreter a vida? Enterrá-lo ou cremá-lo, são as alternativas mais comuns.
Hoje está em evidência a questão da doação e transplantes de órgãos, que ajudam a prolongar a vida daqueles que dependem desse gesto para sua sobrevivência. Pode-se, até mesmo, pensar na doação de todo o corpo para estudos científicos, mais comumente nos cursos de Medicina.
Remontando aos fatos históricos, percebemos diversas formas de tratar os mortos. Diz-se que os gauleses abandonavam os corpos de seus soldados mortos no campo de batalha, para espanto dos povos com que travavam confrontos, visto que só se importavam com a alma. O costume no Ocidente, porém, é de sepultar o corpo, no processo também chamado de inumação (do latim in- em e húmus – terra, chão). Trata-se, na verdade, de um hábito muito antigo que remonta à pré-história, há cerca de 30.000 anos, quando criou-se todo um ritual de sepultamento, o que demonstra que o homem daquele período, de alguma forma, já pensava na vida de além-túmulo.
A cremação é um costume antigo do homem. Segundo estudos arqueológicos, foi no Período Neolítico (a Idade da Pedra Polida), por volta 12.000 a 4.000 a.C, que o homem começou a incinerar os corpos de seus mortos, em uma ou outra comunidade. Na Idade dos Metais (de 6,5 mil anos a 5,5 mil anos atrás), passou-se à disseminação mais ampla desse costume.
Hábito mais comum em povos do Oriente, principalmente na Índia e no Japão, no Ocidente, porém, a cremação é adotada mais como uma opção, por falta de espaço nos cemitérios ou pela crescente conscientização ecológica.
Segundo o posicionamento da doutrina espírita, a cremação nada tem de prejudicial ao Espírito, visto que apenas o corpo é consumido pelo fogo, depois de observados todos os trâmites legais para o ato e o tempo de espera, que varia de 24h a 72 horas, em média. O processo de desligamento do Espírito, em relação ao corpo biológico, tem início, como revelam os Espíritos a Kardec, algum tempo antes do suspiro final e se faz gradualmente. Nunca é uma separação brusca, pois acontece como na ocasião da união do Espírito ao corpo, no momento da encarnação, se operando célula a célula.
O que pesa na escolha da cremação é levar o apego do indivíduo à matéria, sua formação cultural e religiosa, isto é, a maneira como encara a morte. Na verdade, o corpo sem vida orgânica não transmite nenhuma sensação física ao Espírito e qualquer reflexo que esse sinta, em razão da cremação, será de ordem moral e não material. É certo que alguns Espíritos ficam mais tempo “ligados” ao corpo que deixaram, muitas vezes acompanhando até mesmo o processo de sua decomposição. Contudo, essa ligação é apenas mental.
Se o indivíduo valoriza mais a vida material que a espiritual, mesmo que for enterrado, muitas vezes, se acreditará ainda encarnado, experimentando as sensações do esgotamento das forças vitais. Assim, torna-se fundamental a preparação para a morte, como faziam os antigos egípcios, desde o nascimento do ser. É necessário um esforço de autorenovação, assim como a prática desinteressada do bem. Além disso, o decidido desapego, ainda em vida, das ligações materiais, será essencial para a opção da cremação, não deixando dúvidas quanto ao que se deve fazer do corpo após a morte.
Os relatos a respeito dos transplantes também são antigos, apesar de serem creditados a lendas e tradições sem registro científico. Na Bíblia (Gênesis, 2:21-22) Adão aparece como o primeiro doador. Outro relato conhecido é o dos irmãos gêmeos Cosme e Damião. Conta-se que, por volta de 300 d.C, transplantaram a perna de um soldado negro recém-morto em um idoso branco que havia perdido a perna no mesmo dia. Passaram à história como mártires e posteriormente foram considerados santos pela Igreja – por nada cobrarem de seus pacientes, além de combaterem os deuses pagãos, foram perseguidos, julgados e executados pelo imperador romano Diocleciano. 1
Na atual legislação brasileira é a Lei n° 9.434, de 04.02.97, que dispõe sobre a doação de órgãos e transplantes. Essa lei foi posteriormente alterada pela Lei nº 10.211, que determinava que a manifestação do desejo de doação constasse na Carteira de Identidade Civil e na Carteira Nacional de Habilitação. Tal modificação perdeu sua validade em 22.12.2000 – portanto, hoje, a doação pós morte só pode ser realizada com a autorização familiar.
Os transplantes começaram a ganhar importância, nos tempos atuais, com o primeiro transplante de coração realizado pelo Dr. Cristian Barnard, na Cidade do Cabo (África do Sul), em dezembro de 1967, surgindo daí a discussão dos aspectos científico, ético e moral que envolvem a questão. Enfrentou-se, em primeiro lugar, o problema da rejeição do organismo do receptor em relação ao órgão transplantado. A ciência desde então desenvolveu novas técnicas e drogas antirejeição, bem sucedidas na maioria dos casos.
Hoje, porém, as preocupações da sociedade concentram-se mais nos aspectos éticos da questão, principalmente no que diz respeito ao diagnóstico de morte. Do ponto de vista científico, é a morte encefálica que define o quadro de irreversibilidade de uma enfermidade, levando o indivíduo em pouco tempo à
falência múltipla dos órgãos. Nesse caso, não há qualquer esperança de retomo à vida. E a possibilidade de erro de diagnóstico é remotíssima, em face do progresso da ciência médica, que tem por meta aplicar todos os meios ao seu alcance para dilatar a vida.
A Doutrina Espírita define a causa da morte como “a exaustão dos órgãos” (L.E, questão 68). E a morte, propriamente dita, bem definida por Allan Kardec, “é apenas a destruição do corpo” (L.E, questão 155-a). Contudo, enquanto o corpo puder servir aos fins para os quais foi criado, são sempre louváveis a doação e o transplante, até porque não acarreta nenhum dano ao perispírito do doador, que passa para o mundo espiritual íntegro. Aliás, a doação só traz benefícios ao doador, pela alegria e gratidão do receptor e de seus familiares, em relação ao prolongamento de sua vida e pelo fim de seus sofrimentos orgânicos. Trata-se de um ato de caridade: um gesto de amor ao próximo, acima de tudo. Kardec lembra que “as descobertas da ciência glorificam Deus, em lugar de rebaixá-Lo; elas não destroem senão o que os homens construíram sobre as falsas ideias que eles fizeram de Deus “(A Gênese,Cap.l, Item 55).
A ciência busca continuamente a melhoria da vida do homem na Terra e os transplantes de órgãos são um exemplo disso. Ademais, sabemos que nada é obra do acaso; em tudo temos as Leis Naturais que regulam o funcionamento do Universo. Assim é que nos cabe fazer a nossa parte no auxílio ao próximo, à luz do Evangelho de nosso Divino Mestre Jesus.

EXTRAÍDO DO LIVRO “O QUE É O ESPIRITISMO” DA FEESP, REFERENTE O CURSO DE MESMO NOME

TRANSPLANTE E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS NA VISÃO ESPÍRITA

TRANSPLANTE E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS NA VISÃO ESPÍRITA


Alguns espíritas recusam-se a autorizar, em vida, a doação de seusAdicionar imagem próprios órgãos após o desencarne, alegando que Chico Xavier não era favorável aos transplantes. Isso não é verdade! É preciso esclarecer que Chico Xavier quando afirmou "a minha mediunidade, a minha vida, dediquei à minha família, aos meus amigos, ao povo. A minha morte é minha. Eu tenho este direito. Ninguém pode mexer em meu corpo; ele deve ir para a mãe Terra", fez porque quando ainda encarnado Chico recebeu várias propostas (inoportunas) para que seu cérebro fosse estudado após sua desencarnação. Daí o compreensível receio de que seu corpo fosse profanado nesse sentido; depois pela sua idade, Chico não poderia doar seus órgãos; e se pudesse, o receptor dos órgãos, talvez fosse idolatrado.
Em entrevista à TV Tupi em agosto de 1964, Francisco Cândido Xavier comenta que o transplante de órgãos, na opinião dos Espíritos sábios é um problema da ciência muito legítimo, muito natural e deve ser levado adiante. Os Espíritos, segundo Chico Xavier - não acreditam que o transplante de órgãos seja contrário às leis naturais. Pois é muito natural que, ao nos desvencilharmos do corpo físico, venhamos a doar os órgãos prestantes a companheiros necessitados deles, que possam utilizá-los com proveito.
A doação de órgãos para transplantes é perfeitamente legítima. Divaldo Franco certifica: “se a misericórdia divina nos confere uma organização física sadia, é justo e válido, depois de nos havermos utilizado desse patrimônio, oferecê-lo, graças as conquistas valiosas da ciência e da tecnologia, aos que vieram em carência a fim de continuarem a jornada. Não há, também, reflexos traumatizantes ou inibidores no corpo espiritual, em contrapartida à mutilação do corpo físico. O doador de olhos não retornará cego ao Além. Se assim fosse, que seria daqueles que têm o corpo consumido pelo fogo ou desintegrado numa explosão?”
COMO SABER SE UMA PESSOA ESTÁ REALMENTE MORTA PARA PODER RETIRAR O CORAÇÃO? Marlene Nobre, médica espírita explica: “há diferença entre morte cerebral e morte encefálica. Na morte cerebral, ainda há uma estrutura cerebral funcionando, como o tronco cerebral ou tronco encefálico. Neste caso, o eletroencefalograma confirma este funcionamento. Então, este é o estado em que ficam as pessoas que estão em coma vegetativo, quer dizer, ainda não estão mortas. Na morte encefálica, porém, nenhuma estrutura do cérebro está em funcionamento. A morte encefálica é a morte dos hemisférios cerebrais e do tronco encefálico onde se localizam os centros vitais do ser humano. O médico precisa esperar a morte encefálica para fazer o transplante. Nela o coração ainda bate, mas há completo silêncio do encéfalo. Nenhuma estrutura do sistema nervoso dá sinal de vida. O eletroencefalograma está plano, isoelétrico. Uma observação: Para que ocorra o transplante de coração, este precisa estar batendo. Se ele parar não volta o funcionamento, e não servirá para transplante. Já no transplante de rim, fígado e outros isso não é necessário.”

E OS PROFISSIONAIS QUE ANTECIPAM A MORTE DO DOADOR? Se existem, estes estão plantando, e os que doam estão aproveitando a ocasião para diminuir débitos, caso não se revolte e queira vingar-se do assassino.
POR QUE EM ALGUNS CASOS HÁ REJEIÇÃO? Talvez ainda não fosse o momento azado e sua prova ainda não tivesse acabado. Mas André Luiz considera a rejeição como um problema claramente compreensível, pois o órgão do corpo espiritual (perispírito) do doador está presente no receptor. O órgão perispiritual provoca os elementos da defensiva do corpo, que os recursos imunológicos em futuro próximo, naturalmente, vão suster ou coibir. André Luiz explica que quando a célula é retirada da sua estrutura formadora, no corpo humano, indo laboratorialmente para outro ambiente energético, ela perde o comando mental que a orientava e passa, dessa forma, a individualizar-se; ao ser implantada em outro organismo (por transplante, por exemplo), tenderá a adaptar-se ao novo comando (espiritual) que a revitalizará e a seguir coordenará sua trajetória.
O TRANSPLANTE NÃO AFETA O ESPÍRITO DO DOADOR? Os Espíritos afirmaram a Kardec que o desligamento do corpo físico é um processo altamente especializado e que pode demorar minutos, horas, dias, meses. Embora com a morte física não haja mais qualquer vitalidade no corpo, ainda assim há casos em que o Espírito, cuja vida foi toda material, sensual, fica jungido aos despojos, pela afinidade dada por ele à matéria. Todavia, recordemos de situação que ocorre todos os dias nas grandes cidades: a prática da necrópsia, exigida por força da Lei, nos casos de morte violenta ou sem causa determinada: abre-se o cadáver, da região external até o baixo ventre, expondo-se-lhe as vísceras tóracoabdominais. Não se pode perder de vista a questão do mérito individual. Estaria o destino dos Espíritos desencarnados à mercê da decisão dos homens em retirar-lhes os órgãos para transplante, em cremar-lhes o corpo ou em retalhar-lhes as vísceras por ocasião da necrópsia?! O bom senso e a razão gritam que isso não é possível, porquanto seria admitir a justiça do acaso e o acaso não existe! Resumindo: a doação de órgãos para transplantes não afetará o espírito do doador, exceto se acreditarmos ser injusta a Lei de Deus e estarmos no Orbe à deriva da Sua Vontade. Lembremos que nos Estatutos do Pai não há espaço para a injustiça e o transplante de órgãos (façanha da ciência humana) é valiosa oportunidade dentre tantas outras colocadas à nossa disposição para o exercício da amor. Mas, só devemos doar se sentirmos preparados para isso. Não podemos esquecer que se hoje somos potenciais doadores, amanhã, poderemos ser ou nossos familiares e amigos potenciais receptores.

Compilação de Rudymara

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS - Emmanuel

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

Pergunta: O que a Doutrina Espírita pode falar a respeito de doação de órgãos, sabendo-se que o desligamento total do espírito pode às vezes ocorrer em até 24 horas e que, para a medicina, o tempo é muito importante para a eficácia dos transplantes? O Espiritismo é contra ou a favor dos transplantes?

Emmanuel - O benefício daqueles que necessitam consiste numa das maiores recompensas para o espírito. Desse modo, a Doutrina Espírita vê com bons olhos a doação de órgãos.
Mesmo que a separação entre o espírito e o corpo não se tenha completado, a Espiritualidade dispõe de recursos para impedir impressões penosas e sofrimentos aos doadores. A doação de órgãos não é contrária às Leis da Natureza, porque beneficia, além disso, é uma oportunidade para que se desenvolvam os conhecimentos científicos, colocando-os a serviço de vários necessitados.

Doação de órgãos e transplantes - links

http://www.verdadeluz.com.br/doacao-de-orgaos-sob-a-visao-espirita-2/

http://bvespirita.com/Doacao%20de%20Orgaos%20e%20Transplantes%20(Euripedes%20Kuhl).pdf


Transplantes na concepção espírita

JORGE HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)

Transplantes na concepção
 espírita

Nas práticas médicas de todas as especialidades , o transplante de órgãos é a que demonstra com maior clareza a estreita relação entre a morte e a nova vida, o renascimento das cinzas como Fênix: o mitológico pássaro símbolo da renovação do tempo e da vida após a morte.(1)

A temática "doação de órgãos e transplantes" é bastante coetâneo no cenário terreno. Sobre o assunto as informações instrutivas dos Benfeitores Espirituais não são abundantes. O projeto genoma, as investigações sobre células-tronco embrionárias e outras sinalizam o alcance da ciência humana. Os transplantes , em épocas recuadas repletas de casos de rejeição, tornaram-se práticas hodiernas de recomposição orgânica. O esmero "in-vivo" de experiências visando regeneração de células e a perspectiva de melhoria de vida caminham adiante , em que pese às pesquisas ensaiarem, ainda, as iniciantes marchas. Isso torna auspiciosa a expectativa da ciência contemporânea. Contudo, o receio do desconhecido paira no imaginário de muitos.

Alguns espíritas recusam-se a autorizar, em vida, a doação de seus próprios órgãos após o desencarne, alegando que Chico Xavier não era favorável aos transplantes. Isso não é verdade! Mister esclarecer que Chico Xavier quando afirmou "a minha mediunidade, a minha vida, dediquei à minha família, aos meus amigos,ao povo. A minha morte é minha. Eu tenho este direito. Ninguém pode mexer em meu corpo; ele deve ir para a mãe Terra", fê-lo porque quando ainda encarnado Chico recebeu várias propostas [inoportunas] para que seu cérebro fosse estudado após sua desencarnação. Daí o compreensível receio de que seu corpo fosse profanado nesse sentido.

Não podemos esquecer que se hoje somos potenciais doadores, amanhã, poderemos ser ou nossos familiares e amigos potenciais receptores. "Para a maioria das pessoas, a questão da doação é tão remota e distante quanto à morte. Mas para quem está esperando um órgão para transplante, ela significa a única possibilidade de vida!"(2) Joanna de Angelis sabendo dessa importância ressalta "(...) Verdadeira bênção, o transplante de órgãos concede oportunidade de prosseguimento da existência física, na condição de moratória, através da qual o Espírito continua o périplo orgânico. Afinal, a vida no corpo é meio para a plenitude - que é a vida em si mesma, estuante e real" (3)

Em entrevista à TV Tupi em agosto de 1964, Francisco Cândido Xavier comenta que o transplante de órgãos, na opinião dos Espíritos sábios, é um problema da ciência muito legítimo, muito natural e deve ser levado adiante. Os Espíritos, segundo Chico Xavier, não acreditam que o transplante de órgãos seja contrário às leis naturais. Pois é muito natural que, ao nos desvencilharmos do corpo físico, venhamos a doar os órgãos prestantes a companheiros necessitados deles, que possam utilizá-los com proveito. (4)

A doação de órgãos para transplantes é perfeitamente legítima. Divaldo Franco certifica: se a misericórdia divina nos confere uma organização física sadia, é justo e válido, depois de nos havermos utilizado desse patrimônio, oferecê-lo, graças as conquistas valiosas da ciência e da tecnologia, aos que vieram em carência a fim de continuarem a jornada(5)

Não há, também, reflexos traumatizantes ou inibidores no corpo espiritual, em contrapartida à mutilação do corpo físico. O doador de olhos não retornará cego ao Além. Se assim fosse, que seria daqueles que têm o corpo consumido pelo fogo ou desintegrado numa explosão?(6)

Quando se pode precisar que uma pessoa esteja realmente morta? conforme a American Society of Neuroradiology morte encefálica é o estado irreversível de cessação de todo o encéfalo e funções neurais, resultante de edema e maciça destruição dos tecidos encefálicos apesar da atividade cardiopulmonar poder ser mantida por avançados sistemas de suporte vital e mecanismo e ventilação".(7)

A grande celeuma do assunto é a morte encefálica, na vigência da qual órgãos ou partes do corpo humano são removidos para utilização imediata em enfermos deles necessitados. Estar em morte encefálica é estar em uma condição de parada definitiva e irreversível do encéfalo, incompatível com a vida e da qual ninguém jamais se recupera.(8)  Havendo morte cerebral, verificada por exames convencionais e também apoiada em recursos de moderna tecnologia, apenas aparelhos podem manter a vida vegetativa, por vezes por tempo indeterminado. É nesse estado que se verifica a possibilidade do doador de órgãos "morrer" e só então seus órgãos podem ser aproveitados - já que órgãos sem irrigação sangüínea não servem para transplantes. Seria a eutanásia? Evidentemente que caracterizar o fato como tal carece de argumentação científica (...) para condenarem o transplante de órgãos: a eutanásia de modo algum se encaixaria nesses casos de morte encefálica comprovada.(8)

A medicina, no mundo todo, tem como certeza que a morte encefálica, que inclui a morte do tronco cerebral(10), só terá constatação através de dois exames neurológicos, com intervalo de seis horas, e um complementar. Assim, quando for constatada cessação irreversível da função neural, esse paciente estará morto, para a unanimidade da literatura médica.

Questão que também amiudemente é levantada é a rejeição do organismo após a cirurgia. Chico Xavier nos vem ao auxílio, explicando: André Luiz considera a rejeição como um problema claramente compreensível, pois o órgão do corpo espiritual está presente no receptor. O órgão perispiritual provoca os elementos da defensiva do corpo, que os recursos imunológicos em futuro próximo, naturalmente, vão suster ou coibir.(11) Especialistas, a partir de 1967, desenvolveram várias drogas imunossupressoras (ciclosporina, azatiaprina e corticóides), para reduzir a possibilidade de rejeição, passando então os receptores de órgãos a terem uma maior sobrevida.(12) Estatisticamente, o que há é que a taxa de prolongamento de vida dos transplantes é extremamente elevada. Isso graças não só às técnicas médicas, sempre se aperfeiçoando, mas também pelos esquemas imunossupressores que se desenvolveram e se ampliaram consideravelmente, existindo atualmente esquemas que levam a zero por cento (0%) a rejeição celular aguda na fase inicial do transplante, que é quando ocorrem.(13)

André Luiz explica que quando a célula é retirada da sua estrutura formadora, no corpo humano, indo laboratorialmente para outro ambiente energético, ela perde o comando mental que a orientava e passa, dessa forma, a individualizar-se; ao ser implantada em outro organismo [por transplante, por exemplo], tenderá a adaptar-se ao novo comando [espiritual] que a revitalizará e a seguir coordenará sua trajetória.(14) Condição essa corroborada por Joanna de Angelis quando expõe: (...) transferido o órgão para outro corpo, automaticamente o perispírito do encarnado passa a influenciá-lo, moldando-o às suas necessidades, o que exigirá do paciente beneficiado a urgente transformação moral para melhor, a fim de que o seu mapa de provações seja também modificado pela sua renovação interior, gerando novas causas desencadeadoras para a felicidade que busca e talvez ainda não mereça.(15)

Os Espíritos afirmaram a Kardec que o desligamento do corpo físico é um processo altamente especializado e que pode demorar minutos, horas, dias, meses.(16) Embora com a morte física não haja mais qualquer vitalidade no corpo, ainda assim há casos em que o Espírito, cuja vida foi toda material, sensual, fica jungido aos despojos, pela afinidade dada por ele à matéria. (17) Todavia, recordemos de situação que ocorre todos os dias nas grandes cidades: a prática da necropsia, exigida por força da Lei, nos casos de morte violenta ou sem causa determinada: abre-se o cadáver, da região esternal até o baixo ventre, expondo-se-lhe as vísceras toracoabdominais.(18) Não se pode perder de vista a questão do mérito individual. Estaria o destino dos Espíritos desencarnados à mercê da decisão dos homens em retirar-lhes os órgãos para transplante, em cremar-lhes o corpo ou em retalhar-lhes as vísceras por ocasião da necropsia?! O bom senso e a razão gritam que isso não é possível, porquanto seria admitir a justiça do acaso e o acaso não existe!(19)

Em síntese, a doação de órgãos para transplantes não afetará o espírito do doador, exceto se acreditarmos ser injusta a Lei de Deus e estarmos no Orbe à deriva da Sua Vontade. Lembremos que nos Estatutos do Pai não há espaço para a injustiça e o transplante de órgãos (façanha da ciência humana) é valiosa oportunidade dentre tantas outras colocadas à nossa disposição para o exercício da amor.

FONTES:

1- Mário Abbud Filho Ex-Presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos. Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São José do Rio Preto.Membro da American Society Transplant Physician. Membro da International Transplantation Society, disponível acesso em 12/04/2005
2- In Doação de Órgãos e Transplantes de Wlademir Lisso / Cleusa M. Cardoso de Paiva, disponível acesso em 15/04/2004
3- Franco, Divaldo Pereira. Dias Gloriosos, Ditado pelo Espírito Joanna de Angelis. Salvador/Ba: Ed. LEAL, 1999, Cf. Cap. Transplantes de Órgãos
4- Publicada na Revista Espírita Allan Kardec, ano X, n°38
5- Franco, Divaldo Pereira. Seara de Luz, Salvador: Editora LEAL [o livro apresenta uma série de entrevistas ocorridas com Divaldo entre 1971 e 1990.]-
6- Simonetti, Richard. Quem tem medo da morte? - São Paulo /SP: Editora Lumini ,2001
7- In: "Dos transplantes de Órgãos à Clonagem", de Rita Maria P.Santos, Ed. Forense, Rio/RJ, 2000, p. 41
8- Bezerra, Evandro Noleto. Transplante de Órgãos na Visão Espírita, publicado na Revista Reformador- outubro/1998
9- Idem
10- O tronco cerebral, e não o coração, é reconhecido como o organizador e "comandante" de todos os processos vitais. Nele está alojada a capacidade neural para a respiração e batimentos cardíacos espontâneos; sem tronco ninguém respira por si só.
11- Cf. Revista Espírita, Allan Kardec, ano X, n°38
12- Folha de S.Paulo, A3, "Opinião", 15.Maio.2001
13- Entrevista com o Prof. Dr. Flávio Jota de Paula Médico da Unidade de Transplante Renal do HC/FMUSP. 1º Secretário da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Diretor da I Mini Maratona de Transplantados de Órgãos do Brasil. Publicado em Prática Hospitalar ano IV n º 24 nov-dez/2002
14- Xavier, Francisco Cândido. Evolução em dois Mundos - Ditado pelo Espírito André Luiz. 5ª Ed. Rio de Janeiro, RJ: Ed FEB, 1972, cap. "Células e Corpo Espiritual"
15- Franco, Divaldo Pereira. Dias Gloriosos, Ditado pelo Espírito Joana de Angelis. Salvador: Ed. LEAL, 1999
16- Kardec, Allan,. O Livros dos Espíritos, RJ: Ed FEB/2003, questão n° 155, Cap. XI.
17- Kühl Eurípedes DOAÇÃO DE ÓRGÃOS TRANSPLANTES Entrevista Virtual disponível acesso em 24/04/2005
18- Cf. Bezerra, Evandro Noleto. Transplante de Órgãos na Visão Espírita, publicado na Revista Reformador- outubro/1998
19- Bezerra, Evandro Noleto. Transplante de Órgãos na Visão Espírita, publicado na Revista Reformador- outubro/1998

quarta-feira, 15 de março de 2017

UM ENSAIO EMOCIONAL SOBRE A COMUNIDADE ESPÍRITA.

UM ENSAIO EMOCIONAL SOBRE A COMUNIDADE ESPÍRITA.
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Pessoas que não constroem uma relação de afeto sadia consigo próprias projetam sua insatisfação interna em líderes, médiuns, oradores e pessoas influentes da comunidade espírita.
Essa projeção leva à idolatria, isto é, uma veneração, um olhar exagerado sobre as qualidades desses trabalhadores da seara.
Há uma linha divisória muito fina entre o carinho e o respeito que merecem esses tarefeiros e a doença emocional da baixa autoestima.
Quando alguém joga muita purpurina em alguém, destacando supostas qualidades espirituais e grandeza de alma, convém pensar na possibilidade de que algo não vai bem em quem joga a purpurina da vaidade, e também em quem a aceita. Existem também muitos ícones influentes na nossa comunidade viciados em aplausos e reverência, bancando a pesada prova de comunicar uma santidade que ainda não possuem.
É lamentável, mas é verdade. Por conta dessa expressiva projeção sombria em supostos "grandes santos", a comunidade espírita, com raras e meritórias exceções, se mostra uma comunidade triste e com profunda escassez de autoestima, com profundo temor ao autoamor e à formação de uma massa critica com pensamento próprio e autonomia de ação.
O equilíbrio e o bom senso no assunto poderiam tornar a nossa comunidade espírita uma das mais poderosas fontes sociais de alegria genuína e estima pessoal.

Wanderley Oliveira - Facebook

sábado, 11 de março de 2017

O Complexo de Jonas

O evangelista Mateus narra, no capítulo vinte e cinco de seu evangelho, a parábola dos talentos pronunciada pelo Senhor Jesus, descrevendo um homem, que de partida de sua terra distribuiu seus bens a três de seus servos. A um deu cinco talentos, ao outro dois talentos e ao terceiro um talento, a cada um segundo a sua capacidade.
Passado muito tempo aquele homem retorna e chama os servos para prestação de contas. O primeiro, que recebeu cinco talentos, devolveu-os e mais cinco que conquistou trabalhando com o que lhe fora confiado. O segundo, da mesma forma que o primeiro, devolveu em dobro o que recebeu. O terceiro, dizendo que sabia o quanto aquele homem era duro de coração, disse que por medo de perder o talento recebido enterrou-o e agora o estava devolvendo. O proprietário daquela terra chamou-o de servo de mau, negligente e inútil, dizendo que seria lançado em trevas onde haveria choro e ranger de dentes.
A interpretação da parábola traz interessantes ensinamentos, uma vez que o Senhor está se referindo ao que cada um dos filhos de Deus recebe para aplicar no mundo onde reencarna. Em primeiro lugar, os talentos são distribuídos conforme a capacidade pessoal de cada servo, o que podemos entender que são dados de acordo com nossas possibilidades e necessidades, que são formulados quando do planejamento reencarnatório.
Da mesma forma que na parábola, todos haveremos de prestar contas do recebido, e o próprio Senhor Jesus enfatizou isso ao dizer que “muito será pedido de quem muito recebeu”.
Para os dois que dobraram os talentos foi destinado vivenciarem a alegria do senhor da terra, o que significa vivenciarem um estado de “céu” provocado pela consciência tranquila.
Para o terceiro, que por medo de perder o talento não o usou, a reprimenda e a destinação são referentes à cobrança da própria consciência, que em desalinho, intranquiliza-se e produz sofrimento moral.
No livro Nosso Lar, ditado a Francisco Cândido Xavier por André Luiz, encontramos no capítulo quarenta e dois, interessante revelação de Narcisa para André Luiz sobre o medo:

“ – Talvez estranhe, como acontece a muita gente, a elevada porcentagem de existências humanas estranguladas simplesmente pelas vibrações destrutivas do terror, que é tão contagioso como qualquer moléstia de perigosa propagação.
Classificamos o medo como dos piores inimigos da criatura, por alojar-se na cidadela da alma, atacando as forças mais profundas.” (Grifo nosso)

Estas passagens fazem-nos lembrar de Jonas. Aquele Jonas que o Senhor Jesus se referiu dizendo que não haveria outro sinal a não ser o sinal de Jonas.
O Livro de Jonas faz parte do Velho Testamento e conta a história dele, Jonas, que tendo recebido uma ordem de Deus para pregar em Nínive, se nega e foge pegando carona em um navio para a Espanha. Uma grande tempestade envolve o navio, e ele, por ser visto como o causador da tempestade por ter desobedecido ao programa divino, é lançado ao mar e uma baleia o engole, mantendo-o no seu ventre por três dias e três noites. Por fim, em prece, louva a Deus e a baleia o vomita em uma praia.
Resolve Jonas cumprir com sua missão pessoal e prega em Nínive, convertendo seu rei e toda a população, que acabam por escapar do castigo divino. Jonas, não entendendo o plano de Deus para com todos os seus filhos, revolta-se com a mudança de planos e Deus mostra-lhe o quanto todos são importantes para Ele.
Também podemos tirar ensinamentos do Livro de Jonas, em paralelo à Parábola dos Talentos. Se Deus deu um encargo para Jonas é porque ele tinha condições de se desincumbir da tarefa executando-a, mas a fuga das responsabilidades cria uma tempestade consciencial e o comportamento pessoal reflete no ambiente em que se vive, envolvendo a todos os que respiram ao redor. É o mal que resulta do bem que não se faz.
Em prece e arrependido Jonas pediu nova oportunidade e a misericórdia divina assim concedeu.
São as oportunidades que recebemos para renovação espiritual que trazem os benefícios que poderíamos usufruir, desde longa data, se fôssemos mais determinados na execução de nossos planejamentos reencarnatórios.
O comportamento que se estabelece na fuga aos compromissos é identificado pela Psicologia Humanista como “Complexo de Jonas”, e, dessa forma, podemos nos perguntar: quanto nós poderíamos realizar em benefício do próximo, mas por esse ou aquele motivo não o fazemos? O que temos feito dos talentos que recebemos para esta reencarnação?
Se formos honestos em nossas reflexões, facilmente, identificaremos o quanto estamos impregnados do “Complexo de Jonas”.

Pensemos nisso.

Antônio Carlos Navarro

O SINAL DE JONAS

O SINAL DE JONAS

"Como afluíssem as multidões, começou a dizer: Esta é uma geração perversa; pede um sinal, e nenhum sinal se lhe dará, senão o de Jonas. Pois assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também o Filho do Homem o será para esta geração. A rainha do Sul se levantará no juízo, juntamente com os desta geração, e os condenará; pois veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. Os ninivitas se levantarão no juízo juntamente com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas e aqui está quem é maior do que Jonas. " (Lucas, xi, 29-32)

"Chegaram os fariseus e saduceus e pediram um sinal do Céu a Jesus, para o experimentar. Mas ele respondeu: A tarde dizeis: teremos bom tempo porque o céu está avermelhado; e pela manhã: hoje teremos tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal se lhe dará, senão o de Jonas. E deixando-os se retirou. " (Mateus, xvi, 1-4)

"Saíram os fariseus e começaram a discutir com ele, procurando obter dele um sinal do Céu, para o experimentarem. Ele, dando um profundo suspiro, em espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração nenhum sinal será dado. E deixando-os, tornou a embarcar e foi para o outro lado. " (Marcos, VIII, 11-13) "Eles lhe perguntaram: O que devemos fazer para praticar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta, que creiais naquele que Ele enviou. Perguntaram-lhe, pois: Que milagres operas tu para que o vejamos e te creiamos? Que fazes tu? Nossos pais comeram o maná do deserto, como está escrito: deu-lhe a comer o pão do céu.
Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão do Céu, mas meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do Céu; porque o pão de Deus é o que desce do Céu e dá vida ao mundo. Disseram-lhe então: Senhor, dá-nos sempre desse pão. Declarou-lhes Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim de modo nenhum terá fome; e o que crê em mim nunca, jamais, terá sede. Mas eu vos disse que vós me tendes visto e não credes. Todo o que meu Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora; porque eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade Daquele que me enviou. A vontade Daquele que me enviou é esta: que eu nada perca de tudo o que Ele me tem dado, mas que eu o ressuscite no último dia. Porque esta é a vontade de meu Pai, que todo o que vê o Filho do Homem e nele crê, tenha a vida eterna, e eu o ressuscite no último dia.

"Os judeus, pois, murmuravam dele porque dissera. Eu sou o pão que desci do Céu, e perguntaram: Este não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz agora: desci do Céu? Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: e serão todos ensinados por Deus; todo aquele que do Pai tem ouvido e aprendido, vem a mim. Não que alguém tenha visto o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: quem crê, tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do Céu, para que o homem coma dele e não morra. Eu sou o pão vivo que desci do Céu; se alguém comer deste pão viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este homem dar-nos a comer sua carne?
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue não tendes a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o meu Pai que vive, me enviou, eu também vivo pelo meu Pai; assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como o pão de vossos pais, que comeram e morreram; quem come este pão, viverá eternamente. Estas coisas disse ele quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum.
Muitos dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso, quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que seus discípulos, murmuravam das suas palavras, disse-lhes: Isto vos escandaliza? Que seria se vós vísseis o Filho do Homem subir aonde estava antes? O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e vida. " (João, vi, 29-63) A estória de Jonas acha-se contida no Antigo Testamento, no livro deste profeta, constante de quatro pequenos capítulos. Resumamo-la: Depois da morte de Elizeu, os dons proféticos explodiram em Jonas, e foi ele enviado pelo Espírito chefe de Israel a Nínive, onde o povo vivia em grande dissolução, a fim de fazer que aquela gente se arrependesse e mudasse sua norma de proceder.

Nínive, capital do Império da Assíria, vivia, de fato, mergulhada, como se observa hoje em nosso país, na impiedade e na idolatria. Jonas tinha conhecimento de tudo, e desejava mesmo, segundo se depreende do seu livro, ver Nínive arrasada. O profeta não se conformou, primeiramente, com as ordens que recebera do Alto; muito aborrecido da missão de que fora revestido, saiu de sua cidade para Tarshih, comprou passagem e embarcou. Em alto-mar fez-se um grande vento e caiu uma tempestade. Todos atribuíam aquele fenômeno a uma ação superior que tinha por motivo algum dos tripulantes ou passageiros, do barco. Lançaram sortes para ver quem era o causador daquele mal e a sorte indicou Jonas. Este, arrependido de haver contrariado as ordens que recebera, disse que desejava ser lançado ao mar. A ordem foi executada e a tempestade cessou, como por encanto. Três dias depois Jonas era atirado às praias de Nínive.

Não se sabe como, mas o profeta dizia que viera no ventre de um grande peixe; quem sabe algum bote o levou à praia? Jonas rende, então, uma sentida ação de graças pelo seu salvamento, faz uma prece muito tocante, e, novamente, ouve a voz que lhe ordena entrar em Nínive, que da praia ainda distava três dias de viagem. Novamente Jonas quer recusar obediência à Voz que lhe fala, mas a Voz é imperiosa e afinal o profeta cede, percorrendo as ruas e batendo em todas as portas clamando: "Arrependei-vos e fazei penitência porque daqui a 40 dias Nínive será arrasada; cada um deixe os seus maus caminhos; quem sabe se o Senhor não nos perdoará ainda e não nos salvará da morte?" O povo, como era costume daquele tempo, cobriu-se de cinza, cingiu-se de cilícios e retrocedeu do caminho mau em que ia. Até o rei estremeceu, fez penitência e lançou um édito para que o povo deixasse os maus caminhos.

De fato, em vista da nova atitude dos ninivitas, nada aconteceu. Jonas, que havia apregoado o arrasamento da cidade, julgando ter sido vitima de um Espírito mentiroso, ficou muito triste, saiu da cidade e ficou sob uma palhoça que levantou, e clamava pedindo a morte. Nesse ínterim, nasceu uma aboboreira, da noite para o dia, com ramaria já extensa e cheia de folhas, mas um bicho ataca-a e ela morre imediatamente! A situação melancólica de Jonas se agrava porque aquela aboboreira era a sua jóia, digamos mais, o produto de seus dons mediúnicos de materialização, pois uma aboboreira em uma só noite não nasce e lança folhas a ponto de ultrapassar a altura de um homem; Jonas irrita-se, blasfema, e a voz lhe responde: "Farás bem em te apaixonares por causa da aboboreira que não trataste e na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer, e que nasceu numa noite, e numa noite pereceu? " "E eu não havia de ter compaixão de Nínive, na qual se acham mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão esquerda e a mão direita, e ainda onde há muitos animais?" (Jonas, iv, 9-11)

Feita esta exposição, digam os leitores: Qual é o sinal de Jonas? Haverá alguém que afirme lembrar ou representar ele algum dogma ou sacramento do Romanismo ou do Protestantismo? Não está peremptoriamente esclarecido ser a Pregação da Fé, para mudança de vida, para regeneração, o abandono da idolatria e dos pagodes que embriagam os sentidos e afastam os homens dos seus deveres religiosos? Não representará, também, o sinal de Jonas o mesmo sinal que Jesus deu de Vida Eterna, de Ressurreição, aparecendo depois de sua morte corporal e prosseguindo em sua missão de ensinar, como Jonas, após três dias de naufrágio, apareceu aos ninivitas para levar-lhes a salvação? Estude-se bem esse capítulo e procure-se tirar uma conclusão do que Jesus afirmou: "A esta geração adúltera não se dará outro sinal senão o do profeta Jonas."

Prossigamos na elucidação dos demais versículos que precedem à pregação de Jonas, citados por Lucas. Referindo-se à rainha do Sul, que outra não era senão a Rainha de Sabá, pois foi esta que saiu dos confins da Terra para ouvir a sabedoria de Salomão, Jesus deu a entender que o Espírito dessa mulher voltaria a encarnar-se no mundo por ocasião do julgamento daquela geração que lhe pedia sinais, e, juntamente com os espíritos dos ninivitas, condenaria tal geração. Realizar-se-ia já esta profecia? Quem seria essa mulher? Quais seriam os ninivitas? Mas não entremos nessas indagações, pois que somente nos compete realçar o Espírito do Cristianismo.

O inegável é que os condenados não podem deixar de ser outros, senão os que, pelas suas idéias e normas de proceder, não estão de acordo com os ensinamentos de Jesus, os que substituíram a glória de Deus pela glória dos homens, os que amam mais a criatura do que o Criador, os que puseram outro fundamento na religião, excluindo dela Jesus Cristo. Lendo-se com atenção e analisando-se oração por oração o capítulo VI, de João, versículos 29 a 64, fica-se inteirado do pensamento íntimo do Mestre, cuja idéia mater é a "Ressurreição e a Vida Eterna", princípio, base e fim da sua inigualável Doutrina, sendo os meios de alcançar esse objetivo, a crença em Jesus e a obediência aos seus preceitos.

No versículo 39, lê-se: "A vontade Daquele que me enviou é esta: que eu nada perca de tudo o que Ele me tem dado, mas que eu o ressuscite no último dia. No versículo 40, diz: "Porque esta é a vontade de meu Pai, que todo o que vê o Filho do Homem e nele crê, tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia". No versículo 44, diz: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou, o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia." No versículo 47, repete: "Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê em mim, tem a vida eterna." No versículo 54: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia." No versículo 58: "Quem come este pão, viverá eternamente".
A questão da Imortalidade e da Outra Vida é base principal da Doutrina de Jesus. Os seus discípulos haviam de ter absoluta certeza da Imortalidade, porque o Mestre, como aliás aconteceu, não deixaria de dar-lhes todas as provas de que eles necessitassem para que tivessem uma fé científica comprovada pelos fatos, de que a Imortalidade, a Vida Eterna, não era um dogma que ele impunha, mas sim um testemunho de que a sua Doutrina era de Deus, era o Pão que havia de dar às almas o alimento da crença na Vida Eterna, na Imortalidade. Bastava que cressem na sua palavra e o seguissem para observarem todos os fenômenos, todos os fatos que se desdobravam com a sua presença, fatos transcendentais, metapsíquicos, independentes de fatores físicos e que poderiam ter explicação com a aceitação da "Teoria da Vida Eterna", da "Teoria da Imortalidade", lógica e claramente proclamada por Ele em todos os seus discursos, em todas as suas manifestações espirituais, e cimentada ainda com uma vida de abnegação e sacrifícios, para que a sua Palavra de Vida Eterna não perecesse sob os dogmas farisaicos que ensombravam a religião.

As suas aparições depois da morte, constatadas por todos os Evangelistas, são letras vivas, solenes reproduções desses versículos 39, 40, 44, 47, 54, 58, que transcrevemos e não podem ter outra interpretação além da que expomos com a maior clareza e concisão. Essas figuras de que Jesus usou, como por exemplo: "quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a Vida Eterna; porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida" não podem ser tomadas à letra. E isto o próprio Jesus disse a seus discípulos que acharam duro o discurso e impossível de compreender. "Isto vos escandaliza? Que seria se vós vísseis o Filho do Homem subir aonde estava antes? O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita. As palavras que eu vos tenho dito são Espírito e vida. (João vi, 62-63)

Quem não vê nessas palavras do Filho de Deus a Doutrina pela qual Ele derramou seu próprio sangue? Quem não vê que essa carne e esse sangue não são mais do que símbolos do Verbo de Deus, que se fez carne e habitou entre nós! Quem não vê que o Corpo, representado por carne e sangue, de que Jesus falou, constitui o Corpo, o conjunto da sua Doutrina, dos seus ensinos, finalmente - o Cristianismo! Então o Critianismo não é o Corpo do Cristo? O Cristo não é o Espírito do Cristianismo? E o Verbo não é a Palavra de Deus que o Espírito de Cristo assimilou e, para que fosse compreendida na Terra, constituiu um Corpo de Doutrina, verdadeira, imaculada, inatacável pela sua pureza e pela verdade que encerra? Responda quem for capaz, mas responda com fatos, com critério, com lógica, com a razão, com o bom senso.

O que quer dizer aquela expressão do Mestre: "O espírito é que vivifica; as palavras que eu vos tenho dito são Espírito e Vida"? É consentâneo com a razão fazer dessas palavras de Jesus preceitos dogmáticos e fórmulas sacramentais, desvirtuando o pensamento do Senhor e materializando, ao mesmo tempo, "o que é Espírito", a ponto de transformá-lo numa obreia de trigo, como fazem os padres romanos, ou num pedaço de pão como fazem os pastores protestantes? E que regras gramaticais usam esses exegetas para assim analisar o Evangelho, submetendo-o a injunções arbitrárias, estreitando-o à sua teologia infantil!

Uma coisa é ver o Evangelho na sua pureza "pagã", outra é observá-lo com as "águas lustrais dos batismos sacerdotais"! O Evangelho não precisa ser "sacramentado" para viver no coração da Humanidade; por si só ele se impõe, independente de influências científicas e doutorais. Se os "filólogos" quisessem prestar-lhe um serviço, ele aceitaria antes o obséquio de serem obedecidos os seus ditames de Imortalidade e Vida Eterna, os seus parágrafos de caridade, humildade, benevolência, tolerância e amor ao próximo, porque fora desses preceitos não há salvação. Outra expressão digna de nota, nas referidas sentenças de Jesus, é a que o Mestre repete com singular insistência "Eu o ressuscitarei no último dia."
Essa promessa feita em todos esses versículos, a todos os que Nele crerem, deve ter uma significação formal de realização categórica.
O estudante do Evangelho não pode pôr à margem essas palavras, que representam a realização de um fato que tem como começo a necessidade da crença nas palavras de quem as pronunciou. O último dia da vida terrena é o dia da morte, logo, a ressurreição no último dia não pode deixar de significar o reaparecimento daquele que morreu e sua consequente posse da Vida Eterna. O texto da Vulgata diz claramente Ego resuscitabo e um "in novíssimo die", do verbo resuscitare, que quer dizer: fazer voltar à vida, tornar a aparecer, restabelecer, fazer reviver.

Não foi outro o sentido que os Evangelistas deram a essas palavras. A expressão ressurreição está intimamente ligada às aparições de Jesus, como se depara muito bem no capítulo XX de João, versículo 9: "porque não compreendiam a Escritura, que era necessário ressuscitar Ele dentre os mortos." A palavra ressurreição não tem mesmo outra significação evangélica, que voltar à vida, tornar a aparecer, restabelecer-se, reviver. Indo as santas mulheres ao sepulcro, diz Lucas, XXIV, 5, ficaram perplexas por não terem encontrado o corpo de Jesus e por aparecerem dois varões com vestes resplandecentes, que lhes disseram: "Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas RESSUSCITOU - sed surrexit".

Em Marcos, capítulo XVI, 8-11, diz-se: "Surgens autem mane, prima sabbati, aparuit primo Mariae Magdalenae, de qua ejecerat septem daemonia. "- "Havendo Ele ressuscitado de manhã cedo, no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual havia expelido sete demônios." E acrescenta: "Ela foi noticiá-lo aos que haviam andado com Ele, os quais estavam em lamento e choro; estes, ouvindo dizer que Jesus estava vivo e que tinha sido visto por ela, não acreditaram." O trecho de Mateus não é menos categórico e claro. É assim que diz o Evangelista no capítulo XXVIII, 5: "O anjo disse às mulheres: Não temais vós, porque sei que procurais a Jesus, que foi crucificado; Ele não está aqui; porque ressuscitou, como disse; vinde e vede o lugar onde jazia. Ide depressa dizer aos seus discípulos que Ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galiléia, e lá o vereis."

- "Et cito euntes, dicite discipulis, ejus quia surrexit et ecce proecedit vos in Galilaeam, ibi eum videbitis, ecce praedixi vobis." Paulo na I Epístola aos Coríntios, capítulo XV, é bem explícito sobre a ressurreição de Cristo e a ressurreição dos mortos, e diz claramente, para quem tiver olhos de ver, que o Evangelho por ele anunciado, Evangelho da salvação que ele recebeu e anunciou, é justamente este: "Que Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e que apareceu a Cefas e então aos doze; depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos; e por último de todos, apareceu a mim também como a um abortivo."

Depois diz ele: "Se se prega que Cristo é ressuscitado dentre os mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? Se não há ressurreição de mortos, nem Cristo é ressuscitado, é logo vã a nossa pregação e também a nossa fé." Tão importante julga Paulo a ressurreição dos mortos, a aparição dos mortos, que chega a dizer que não se crendo nela, é vã a pregação e a fé; não tem efeito, não tem valor nenhum a fé, nem a pregação. E em todo o resto desse capítulo o Apóstolo não faz outra coisa senão demonstrar a veracidade da ressurreição, ou seja da aparição dos mortos, explicando até com que CORPOS eles aparecem, ressuscitam e vivem.
Diz que o homem não traz só a imagem do corpo terreno, mas também a imagem do corpo celestial (versículos 48-49); e é com este que aparece, que ressuscita, que revive. Conclui-se, de tudo isso, que o sinal de Jonas é a pregação do Evangelho no espírito que vivifica, e não na letra que mata. Conclui-se mais, que a Ressurreição, a Aparição, ou antes, as Aparições de Jesus, também são sinal de Jonas. Pois, assim como Jonas apareceu em Nínive depois do naufrágio, Jesus também apareceu aos discípulos e a muita gente, depois da morte. Conclui-se ainda mais que crer em Jesus não é só proferir a palavra - creio. É acompanhá-lo, segui-lo no seu Evangelho, estudar e meditar os seus ensinos.

Paulo seguia a Jesus em espírito, pois no seu tempo Jesus já se havia passado para a Vida Eterna. Entretanto não há quem conteste que a Doutrina de Paulo é a inspiração de Jesus, que não abandonava a Paulo, porque Paulo o seguia. E tão firme estava o Apóstolo da luz na sua fé de que Jesus o assistia, que afirmava peremptoriamente: "Já não sou mais eu quem vive, mas Jesus que vive em mim e faz todas as obras." Conclui-se, finalmente, que o Espiritismo é o Espírito do Cristianismo, Espírito esse encarregado por Jesus para vivificar a sua Doutrina, dar-lhe ampla expansão, explicá-la e até trazer-lhe o complemento indispensável, de acordo com o progresso dos povos, segundo disse o próprio Jesus:

"Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Paracleto (Consolador, Advogado, Defensor), a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós " (João, xiv, 15-17). Notem bem a expressão "habita convosco e estará em vós"- quiad apud vos manebit, et in vobs erit.
O Espiritismo não é, como pensam alguns, uma coleção de livros que ornamentam as bibliotecas e circulam pelo mundo. Muito mais do que isso, é o IDEAL grandioso que paira sobre nós como um corpo flutuante dos Sagrados Ensinos, sustentados pelos mais poderosos sábios e santos Espíritos de Deus. Fica, pois, prevalecendo o Sinal de Jonas, como o único milagre capaz de converter a Humanidade e estabelecer no mundo a Paz e a Fraternidade.
Cairbar Schutel
Livro: O Espírito do Cristianismo

O Sinal de Jonas (segundo Mateus)

O Sinal de Jonas (segundo Mateus)



O Sinal de Jonas

  12,38  Então, alguns escribas e fariseus tomaram a palavra: - Mestre, quiséramos  ver-Te  fazer  um  milagre.
12,39 Respondeu-lhe Jesus: “ -Esta geração adúltera e perversa pede um sinal; mas não será dado outro sinal do que aquele do profeta Jonas.
12,40  Do mesmo modo que Jonas esteve três dias e três noites no ventre do peixe, assim o filho ficará três dias e três noites no seio da terra.
12,41  No dia do juízo, os ninivitas se levantarão com esta geração, e a condenarão, porque eles se converteram pela  pregação de Jonas. E há, aqui, mais do que Jonas.
12,42 No dia do juízo, a rainha do sul se levantará com esta raça e a condenará, porque veio das extremidades da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E há, aqui, mais do que Salomão.
12,43 Quando o espírito impuro sai de um homem, vagueia por lugares áridos à procura  de  um  repouso  que  não  encontra.
12,44 Diz ele então: Voltarei para a casa de onde saí. e, voltando, encontra-a vazia, limpa e enfeitada.  
12,45 Vai, então, buscar sete outros espíritos piores que ele e entram nessa casa e se estabelecem aí; e o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro. Assim acontecerá com esta geração criminosa.

            Para  Mt  (12,38-45) -O Sinal de Jonas, lemos, em “Elucidações Evangélicas”, de Antônio Luiz Sayão:

            “Jonas constituíra para os Ninivitas um prodígio, um milagre, porque acreditaram, sem sombra de dúvida, que ele fora engolido por um peixe, em cujas entranhas permanecera três dias, submerso no fundo do mar.

            Do mesmo modo Jesus, que, até para os discípulos, era um homem igual aos outros, pela sua ressurreição e ascensão viria a constituir, para a geração de sua época, um prodígio, um milagre, visto que, para essa geração, tais fatos não podiam ser mais compreensíveis nem menos miraculosos, do que, para os Ninivitas, o reaparecimento de Jonas, após três dias de permanência no ventre de um peixe.

            Dar-se-á, porém, que aqueles fatos, que ontem não podiam ser explicados, nem compreendidos, que tiveram, portanto, de ser impostos como milagrosos, devam hoje ser aceitos, com o mesmo caráter, para glória de Deus, quando a Nova Revelação, que veio para substituir a fé cega pela fé raciocinada, no-los explica plena e satisfatoriamente?

            Certo que não.

            Com efeito, na ressurreição e na ascensão do Cristo, nós espíritas podemos e devemos crer, sem de nenhum modo aceitarmos, no que quer que seja, o milagre, desde que aquela Revelação nos mostra e prova, com os textos evangélicos, compreendidos em seu espírito, que Jesus só aparentemente era homem, que Ele desempenhou a sua missão como Espírito, Espírito livre, de pureza perfeita e imaculada, portanto, isento da lei da encarnação, apenas revestido de um corpo fluídico, de um perispírito tornado visível e tangível, com o qual possível e fácil lhe foi sair do sepulcro, conservando-se este fechado e selado.

            Igualmente, com relação a Jonas, ela nos faz saber que ele apenas esteve durante três dias preso a ferros a bordo de um navio, em que viajava, donde um marinheiro devotado, condoído da sua sorte, o transportara às escondidas num bote até a praia, aí deixando-o.

            A tendência que tem o homem para dar a tudo o cunho do maravilhoso e a atração que este sobre ele exerce criaram a lenda de Jonas engolido e vomitado por um peixe. Semelhante maravilha logo se impôs à imaginação humana como um “milagre” e como “milagre” foi tido e crido.

            Os Ninivitas que, aproveitando da pregação de Jonas, entraram e permaneceram nas vias do Senhor e a rainha do Meio-dia que reconheceu a grandeza de Deus e a sabedoria daquele a quem Deus fizera rei, para reinar com equidade e distribuir justiça, eram a condenação dos Judeus, que resistiam a todos os esforços de Jesus para os reconduzir ao bom caminho. Foi o que o divino Mestre acentuou, dizendo: “E há, aqui, mais do que Jonas; e há, aqui, mais do que Salomão.”

            Jonas e Salomão eram espíritos em missão, porém de ordem inferior. Citando-os, de modo algum pensou Jesus em se lhes equiparar, sendo, como era, o Cristo de Deus e, como representante do Pai, o Mestre, o Rei do nosso planeta e da humanidade terrena. Ao contrário, o que fez, lembrando os exemplos de Jonas e Salomão, foi chamar a atenção dos homens para a superioridade da sua missão, superioridade que a Nova Revelação patenteia aos nossos olhos, e chamar-lhes também a atenção para a culpabilidade dos que se rebelavam contra seus ensinos.

            Daí o dizer: “Assim como Jonas foi o sinal para os de Nínive, assim também o filho será um prodígio para esta nação.”

            Para  Mt (12,43-45) -Dever de resistir aos maus instintos - seguimos com o mesmo autor e obra:

            “Jesus, por essa forma, advertia os homens de que estivessem precavidos sempre contra as más paixões e tendências que, repelidas, a princípio, facilmente podem voltar depois mais intensas e tenazes, como acontece com as enfermidades, relativamente às quais se verifica que as recaídas são sempre mais perigosas.

            Os espíritos imundos que influenciam para o mal o homem são atraídos pelos seus maus sentimentos. Ora se o homem limpar sua alma de todas as impurezas e a adornar das virtudes opostas a tais sentimentos ocupá-la-á o seu anjo de guarda, tornando impossível àqueles espíritos fazerem morada, como antes.

            Ornemos, pois, de virtudes as nossas almas, a fim de que o Senhor as possa considerar habitações dignas dos seus mensageiros, os espíritos bons, de cuja inspiração e assistência gozaremos, então, eternamente.”  

O SINAL DE JONAS


O SINAL DE JONAS

"Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado
outro sinal senão o sinal do profeta Jonas." - (Lucas, 11:29)

Niníve, capital da antiga Assíria, situada à margem do rio Tigre, era, na Antiguidade, uma cidade muito importante, com uma população superior a 120 mil habitantes. Como ocorria com apreciável parte das grandes cidades do passado, ela vivia mergulhada na corrupção, e entre os habitantes reinavam costumes dissolutos e numerosos desregramentos.

O profeta Jonas, devidamente instruído, via mediúnica, dirigiu-se àquela cidade e ali fez com que seus habitantes se compenetrassem do erro em que estava incorrendo. Durante 40 dias, o profeta fez as suas pregações; então, suas palavras foram acolhidas e, desde o próprio rei até o mais humilde servidor, todos se decidiram a levar a sério aquelas admoestações; assim, como forma de penitência, conforme o costume da época, todos cobriram-se com sacos e se assentaram sobre a cinza.

Com essa demonstração de arrependimento, a cidade foi poupada pela Justiça Divina, evitando-se a destruição que se avizinhava. Quando Jesus desempenhava o seu Messiado, foi procurado por um grupo de escribas, fariseus e saduceus, e dentre eles alguns estrangeiros, que lhe pediram um sinal dos Céus, para que vissem e acreditassem.

A resposta do Mestre foi peremptória: "Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado outro sinal senão o sinal de Jonas." Jesus Cristo proferiu estas palavras angustiado pela incompreensão e dureza dos corações humanos. Ele havia descido à Terra, para o cumprimento da promessa sobre o advento do Messias Redentor.

No desenvolvimento de sua transcendental missão, Ele havia propiciado os mais autênticos sinais: a leprosos, restaurando a vista de cegos, levantando paralíticos e, sobretudo, trazendo uma verdade nova que vinha iluminar a mente dos homens e os horizontes sombrios do mundo. Não obstante todas essas manifestações, ali estava o segmento de um povo que se considerava "eleito de Deus", que se mantinha profundamente empedernido, "duro de cerviz e incircunciso de coração.

Aquele grupo de pessoas foi pedir-lhe um sinal dos Céus, entretanto, os sinais estavam sendo dados diuturnamente; por isso, a sua resposta foi negativa. O sinal de Jonas deveria ser o suficiente para abalar as consciências endurecidas daqueles homens. Diante da personalidade de Jesus Cristo, Jonas não passava de um profeta de projeção relativamente pequena. No entanto, dirigindo-se à população de Nínive, apregoou que a cidade seria destruída por Deus se o seu povo não mudasse de comportamento. Todos receberam as palavras do profeta e, receosos da provável destruição, mudaram radicalmente o modo de vida.

Jesus Cristo, o maior Espírito dentre os que desceram fez persistente e profusa pregação entre os homens, mostrando-lhes como seus corações estavam endurecidos; desmascarou a hipocrisia dos escribas e dos fariseus, demonstrando a precariedade dos seus ensinos e a recalcitrância em obedecer às verdades que emanavam dos Céus, através dos profetas. Não obstante, suas palavras não foram aceitas por muitos e Ele foi condenado e crucificado. Em virtude dessa obstinação e da maldade reinante nos corações desses homens, "a Jerusalém que matava os seus profetas, que apedrejava todos aqueles que lhe eram enviados, foi destruída, dela não restando pedra sobre pedra". (Lucas, 13:34-35).

Quando o Mestre asseverou que nenhum sinal seria dado àquela geração adúltera, infiel, mas apenas o sinal do profeta Jonas, Ele pretendeu dizer que, se o povo fosse mais dócil, mais humilde, mais razoável, teria recebido as suas palavras, assim como o fez o povo de Nínive.

Na realidade, o sinal de Jonas era do conhecimento de todos, pois os escribas liam para o povo o livro do profeta Jonas, e, obviamente, a atitude do povo da capital da Assíria, acatando as suas admoestação e arrependendo-se de suas faltas, era notória para todos. Amargurado diante da incompreensão do seu povo, proclamou Jesus Cristo: "A rainha do sul se levantará no dia do juízo contra os homens desta geração, e os condenará, pois dos confins da Terra ela veio para ouvir a sabedoria de Salomão; eis aqui está quem é maior do que Salomão.

Os homens de Nínive se levantarão no dia do juízo contra esta geração e a condenarão, pois se converteram com a pregação de Jonas; e aqui está quem é maior do que Jonas." (Lucas, 11:31-32)

O apego dos escribas e fariseus aos preceitos das leis antigas era apenas aparente. Eles não aceitavam o sinal de Jonas e muito menos o de Jesus. Não se preocupavam com os sinais dados pelos antigos profetas, o que levou o Mestre a exclamar muito judiciosamente: "Não cuidadeis que sou eu que vos hei de acusar diante de meu Pai. Há um que vos acusa: Moisés, em que vós esperais.

Porque, se vós crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim, pois de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?" (João, 5:45 a 47). A pregação de Jesus Cristo foi feita num clima de brandura, de persuasão. Dizia Ele: "já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe a vontade do seu senhor. Mas tenho vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer." (João, 15:15) Não obstante tudo isso, Ele não era aceito, nem na aparência, nem na realidade, pelos mentores do povo de Israel.

A corroboração desta assertiva encontramo-la em (João, 12:37-38): "E ainda que Ele tendo feito tantos milagres diante deles, não criam nele, para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, quando disse: "Senhor, quem acreditou em vossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?"

Da mesma forma como os Espíritos dos homens são submetidos a penosos resgates individuais, quando malbaratam o legado precioso que Deus lhes concedeu, as cidades também experimentam quedas e dores, quando não dão guarida aos ensinos que, de um modo ou de outro, são proporcionados à sua população pelos mensageiros dos Céus.

As cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas em consequência de seus inúmeros desregramentos; no entanto, segundo a própria expressão de Jesus Cristo, menos rigor haverá para elas, no julgamento divino, do que para Corozaim, Betsaída, Cafarnaum e Jerusalém, onde autênticos sinais foram produzidos pela interferência do Mestre, sem que houvesse acontecido o devido aproveitamento.

Paulo A. de Godoy