Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

A delicada questão do amor aos inimigos

A delicada questão do amor aos inimigos


Árvore: Jequitibá rosa com mais de 40 metros de altura e mais de 3000 anos de vida.

Foi no Sermão do Monte que Jesus tocou num ponto nevrálgico para os judeus: os inimigos.

“Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás ao teu inimigo. Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei bem ao que vos odeia e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos de vosso Pai, que está nos céus, o qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre justos e injustos.” 

Nos textos originais, em hebraico, a recomendação de Jesus é mais curta: “Amai os vossos inimigos e suplicai pelos que vos perseguem e caluniam.”

A questão dos inimigos era crítica para os judeus. Todos os não-judeus ou pagãos eram considerados como inimigos. Os judeus eram solidários apenas entre si e não estendiam os mesmos benefícios aos pagãos. Nos tempos de Jesus, o inimigo maior dos judeus eram os romanos, os quais eram odiados pelos judeus. Por sua vez, os romanos também não tinham melhores sentimentos para com os judeus. A hostilidade era recíproca propiciando um clima de revolta constante no ar.

- Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás ao teu inimigo.

Todos os ensinamentos de Moisés e dos antigos profetas foram passados, de geração a geração, através da palavra falada, pois a grande maioria não sabia ler nem escrever e os livros eram raros. Por esse motivo é que Jesus, muitas vezes, usa essa expressão ‘Tendes ouvido’.

- Mas eu vos digo...

Ao usar essas palavras Jesus mostrava aos que o ouviam que, naquele momento, eles iriam ouvir novos e maiores ensinamentos; que as orientações que Ele trazia suplantavam as dos antigos profetas. Jesus usa essas palavras em várias passagens nos Evangelhos.

- Amai os vossos inimigos...

Jesus nunca nos pediu o impossível. Ao recomendar o amor aos inimigos Ele quis mostrar a necessidade de substituirmos sentimentos carregados de ódio por sentimentos mais amenos, onde a hostilidade fosse, aos poucos, substituída pela amizade sincera. É claro que, de um momento para outro, é quase impossível sentir amor por aqueles a quem sentimos ódio. A troca de afeição e confiança entre amigos sinceros alimentam a alma enquanto a simples aproximação de desafetos nos causa sensações de desconforto íntimo. Mas, ao recomendar o sentimento de amor aos inimigos, Jesus quis mostrar que devemos abrir nosso coração a eles assim como temos o coração constantemente aberto aos amigos; que não devemos oferecer resistência quando surjam ocasiões de auxiliá-los, de alguma forma; que não alimentemos sentimentos de hostilidade, quando nos seja possível oferecer a amizade sincera.

- ... suplicai pelos que vos perseguem e caluniam...

Aqui surge algo realmente novo: orar em favor daqueles que nos querem mal, que nos prejudicam de alguma forma, suplicando a Deus por eles, de modo que os sentimentos de agressividade sejam amenizados ou aplacados, que diminua a antipatia entre eles e nós. Em nossas preces normalmente rogamos apenas por aqueles a quem amamos; nunca mesmo por aqueles que consideramos nossos inimigos. Se existe uma recomendação de Jesus que não seguimos, é esta, orar por aqueles nos prejudicam de alguma forma.

- para serdes filhos de vosso Pai, que está nos céus...

Jesus afirma que somente amando nossos inimigos é que conseguiremos atingir a condição de ‘filhos’ de Deus. Ser considerado como ‘filho’ é um avanço espiritual; o filho é aquele que conhece a vontade de seu pai, é herdeiro de seus bens. Ser considerado como verdadeiro filho de Deus é receber, espiritualmente falando, Sua herança maior: a felicidade eterna. Ao colocar um prêmio tão alto como esse, Jesus destacou o quanto o amor é nobre ao ponto de necessitar ser estendido até aos nossos inimigos e/ou desafetos.

- o qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre justos e injustos...

De forma poética Jesus mostra, aos que o ouviam, que Deus não faz distinção entre os homens. Que Deus cobre de oportunidades sublimes tanto os bons quanto os maus, tanto os justos como os injustos; mostra também que Deus tem, por aqueles que nos prejudicam, o mesmo amor e os mesmos cuidados que tem por nós. Nota-se também que Jesus não questiona se realmente somos as vítimas ou não, por quanto tempo nos sentimos prejudicados, se a razão está ou não do nosso lado. Ele apenas mostra o caminho correto a seguir se realmente desejamos alcançar a paz de consciência...

A Doutrina Espírita ampliou mais ainda esses ensinamentos de Jesus. Assim como o amor verdadeiro atravessa as fronteiras do túmulo, acontece o mesmo em relação ao ódio. Dessa forma, a hostilidade entre as pessoas pode permanecer no plano espiritual. O recurso utilizado para vencer essas situações é a reencarnação na qual aqueles que muito se odiaram renascem como parentes próximos, na tentativa de vencer a antiga animosidade. Muitos não conseguem vencer em tais circunstâncias, reincidindo nos mesmos erros e complicando ainda mais as antigas aversões.


Por isso é tão comum encontrarmos relacionamentos carregados de hostilidade entre pais e filhos, entre cônjuges, entre irmãos, colegas de trabalho, vizinhos, parentes próximos. Muitas pessoas dizem: ‘não me entendo com fulano desde quando éramos pequenos, ou desde quando nos conhecemos’. Isso significa que a animosidade já vem de outras existências e que a oportunidade da convivência atual foi dada com o objetivo de se harmonizarem.

Em relação à essa questão, o Espírito Fénelon nos deixou preciosa recomendação, que Kardec anotou em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no capítulo 12, item 10: “Não vos esqueçais, meus queridos filhos, de que o amor nos aproxima de Deus, e o ódio nos afasta d’Ele." E no capítulo 28, o qual contém uma coletânea de preces, há uma  belíssima prece dedicada aos nossos inimigos e aos que nos querem mal. Para conhecê-la clique aqui.

(Tema apresentado na reunião pública do dia 12 de setembro de 2011)

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