Estudando o Espiritismo

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sábado, 23 de janeiro de 2016

SUICÍDIO - Cornélio Pires (Espírito)

SUICÍDIO - Cornélio Pires (Espírito)


Suicídio, não pense nisso
Nem mesmo por brincadeira...
Um ato desses resulta...
Na dor de uma vida inteira.

Por paixão, Quim afogou-se
Num poço de Guararema.
Renasceu em provação
Atolado no enfisema.

Matou-se com tiro certo
A menina Dilermanda.
Voltou em corpo doente,
Não fala, não vê, nem anda.

Pôs fogo nas próprias vestes
Dona Cesária da Estiva...
Está de novo na Terra
Num corpo que é chaga viva.

Suicidou-se a formicida
Maricota da Trindade...
Voltou... Mas morreu de câncer
Aos quatro meses de idade.

Esforçou-se o Columbano
Para mostrar rebeldia...
De volta, trouxe a doença
Chamada paraplegia.

Queimou-se com gasolina
Dona Lília Dagele.
Noutro corpo sofre sarna
Lembrando fogo na pele.

Tolera com paciência
Qualquer problema ou pesar;
Não adianta morrer,
Adianta é se melhorar.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Gragório IX

https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Greg%C3%B3rio_IX

600 anos de SOMBRAS

Fonte - http://www.jornaldosespiritos.com/2008/alem(2).htm

600 anos de SOMBRAS

“Todo pedido de perdão é um grande começo”

PAULO ROBERTO VIOLA (PARA A REVISTA ESPÍRITA ALÉM DA VIDA)

O Santo Ofício da Inquisição, o Espiritismo perdoa? Os seis séculos de Inquisição, que tanto abalaram e enegreceram o Planeta, não podem, de sã consciência, ser considerados um libelo contra a prestigiosa instituição Igreja Católica Romana, pois os desvios históricos ocorridos, por mais terríveis que tenham sido, não devem comprometer toda uma organização, mas, sim, os seus efetivos responsáveis, seres humanos frágeis e pecadores, sempre capazes de façanhas inimagináveis... para o bem ou para o mal. Afinal, essa mesma Igreja Católica que viveu as barbaridades da Inquisição praticadas pela Corte indecorosa de Papas perdulários e delinqüentes, como o impiedoso Paulo IV, o anti-Papa Inocêncio 3º, o bon vivan Leão X e mais recentemente o  Papa Pio IX,  foi a mesma que no curso do Cristianismo acolheu notáveis como os Papas João XXIII e João Paulo 2º  e trouxe tantas  pegadas luminosas, como as  do virtuoso de Assis, do venerável Bento, do eremita Francisco de Paula, da madre Teresa de Calcutá, da carmelita descalça Joanna de Ângelis,  de Frei Luis, de Teresa D’Ávila e de tantos outros. Com efeito, não teria sido por outra razão que o ilustre escritor Hermínio Miranda, um dia, chegara a uma “agradável conclusão”: “a Igreja é uma respeitabilíssima Instituição, com tantos virtuosos históricos, que vem varando os séculos. Afinal,todos já integramos, alguma vez, essa grande família, seja na infância, seja em encarnações anteriores” (do livro "Francisco de Paula, o Eremita da Caridade").

O histórico resumido resumido da Inquisição

Como Nasceram as Sombras do “Santo Ofício”.

A legislação contra aqueles que não comungavam com os princípios ortodoxos da Igreja Católica foi se tornando cada vez mais radical através da História. Em 1184,  o Papa Lúcio 3º, formula um direito penal para punir indivíduos considerados “hereges” (pessoas que pensavam, ou agiam, de forma conflitante com o que a Igreja apregoava como verdade). Com base nesses postulados, autoridades e leigos, ficaram obrigados a denunciar os hereges sob pena de confisco de suas propriedades. Em 1199, o Papa Inocêncio 3º tipifica a heresia como crime de lesa majestade, ou seja, um  delito contra a autoridade do monarca. Durante o pontificado de Inocêncio 3º as trevas predominaram. Com um Exército de cerca de  trinta mil soldados, convocados por ele, dentre mercenários e vadios, o sul da França foi invadido, instalando-se ali uma guerra que duraria quatro décadas, morrendo um número inestimável de crianças e inocentes. Seu objetivo era reconhecidamente político e não o de preservar a fé. Considera-se que foi um dos Papas mais corruptos e voltados para os valores mundanos.
Posteriormente, em 1209, a História registra o assassinato de 7.000 pessoas que foram queimadas vivas dentro de uma igreja local, acusadas de heresia,  na cidade de Béziers,  na França.
Mais adiante, o Papa Gregório IX, o mesmo que canonizou Francisco de Assis, Santo Antonio de Pádua e São Domingos de Gusmão, criou, em 1233, o Santo Ofício da Inquisição, através da Bula Licet ad Capiendos, com o que pretendia reprimir as doutrinas heréticas, ou seja qualquer movimento pensante  que fosse considerado afronta à visão oficial  do Catolicismo. Mediante essa Bula, Gregório confere aos dominicanos a tarefa de erradicar a heresia. Do temido e sombrio documento, constou: “Onde quer que os ocorra pregar estais facultados, se os pecadores persistem em defender a heresia apesar das advertências, a privá-los para sempre de seus benefícios espirituais e proceder contra eles e todos os outros, sem apelação, solicitando, em caso necessário a ajuda das autoridades seculares e vencendo sua oposição, se isto for necessário, por meio de censuras eclesiásticas inapeláveis".
Nascia ali, de forma institucionalizada e escancarada, séculos de perseguição, interrogatórios e punições cruéis a quem divergisse do pensamento religioso dominante, a temida Inquisição. Nesse mesmo ano de 1233,  Roberto el Bougre, designado Inquisidor, promoveu saques e execuções em massa, e,  após dois anos, foi promovido a responsável pela Inquisição em toda a França. Em 1252, o Papa Inocêncio IV assinou a Bula "Ad Extirpanda", que consagrou definitivamente o temido Tribunal Eclesiástico da Inquisição, autorizando o uso da tortura e da barbárie. O Poder institucional do Estado era obrigado a colaborar com esse Tribunal da Igreja. Os inquisidores - pessoas encarregadas de investigar e denunciar os hereges – desfrutavam de padrão cultural de excelência, pois eram doutores em Teologia, Direito Canônico e Civil. Caso julgasse necessário, os inquisidores tinham o poder de exigir que as autoridades civis, sob juramento, defendessem a Igreja contra a maldade herética...
O padre Bernardo, jesuíta, foi um nome que muito se destacou nessa ação inquisitorial inicial, por ser, como Inquisidor, na Região francesa de Touluse, implacável com suas vítimas.
No início dos anos 1300, na pequenina aldeia de Montaillon, no sul da França, vivia um povo que se cansava de pagar pesados tributos e multas ao poder dominante da Igreja Católica. Por derradeiro, os padres mais se preocupavam com a colheita de impostos do que outra coisa. Nesse tempo a Igreja era considerada a guardiã da palavra de Deus. Em meio a esse contexto, brotou uma semente reformista de reação, chamada catarismo, ou seja um movimento religioso rebelde que foi imediatamente identificado pela Igreja como herético. (Sobre os Cátaros o escritor espírita Hermínio Miranda escreveu uma obra de grande sucesso editorial, denominado "Os Cátaros e a Igreja Católica" – Editora Lachâtre).
O catarismo se espalhou, a ponto de ameaçar o poder papal e nesse tempo qualquer afronta à Igreja era considerado um ataque ao Governo que, por sua vez,  protegia a segurança dos Papas. Em Montaillon ficou muito conhecido um padre que se tornou famoso na História por sua devassidão moral, pois escondia permanentes e múltiplos amores nos recantos sombrios de sua paróquia sacerdotal. Padre Pierre que vivia simpaticamente entre os Cátaros, um dia achou simplesmente, como confidenciaria mais tarde, que estava perdendo seu poder sacerdotal na Região e acabou traindo os habitantes da pequena aldeia, que tanto o estimavam,  pois serviu de elo de comunicação para que a impiedosa reação da Inquisição chegasse à Montaillon. Dezenas de famílias foram condenadas e obrigadas a usar a cruz amarela que tanto denegria o usuário condenado.

A ação sombria de Jaques Fournier na França

Em 1318, surge a figura sombria do padre Jacques Fournier, que fora bem educado na Universidade de Paris, onde recebeu doutorado em teologia, mas que, nem por isso, teria qualquer compaixão com quem interpretasse o catolicismo diferente dele. Fournier acabou descobrindo que Montaillon estava literalmente seduzida pelo pensamento herege e lá reabriu a Inquisição. Intimou homens e mulheres aos interrogatórios cruéis. Os escribas anotavam, com rigor, todos os depoimentos dos aldeões. A vida das pessoas era invadida sem qualquer parcimônia. Beatrice, amante do padre Pierre, ficou presa, à pão e água, na Torre da Aldeia.
E note-se que entre os Inquisidores de seu tempo, Fournier foi considerado um dos mais complacentes, pois somente queimou cinco hereges. Em 1327, esse Inquisidor se tornou Cardeal e, sete anos depois, foi eleito Papa, tomando o nome de Bento XII. Sua obra maior: o suntuoso Grand Palais.
Uma das vítimas de Fournier fora um coitado judeu viajante , preso durante a noite sob os berros dos inquisidores: “sejam batizados, ou mataremos imediatamente”. Claro, ele preferiu o batismo. Esse judeu, inteligente e culto,  fascinara Fournier, com ele debatendo durante quase dois meses e tudo fazendo para torná-lo cristão, mas o velho judeu preferiu permanecer como pensava. Fournier, então, deu o ultimato. Converter-se, ou morrer, uma terrível palavra de ordem que atravessou os séculos.
Em 1376,  o Inquisidor  Nicolau Eymerich, formulou o "Directorium Inquisitorum", que era o Manual dos Inquisidores, onde constavam regras inenarráveis sob o ponto de vista de crueldade. O Manual informava ao Inquisidor 50 artimanhas de que se valia o demônio para  impedir o ato sexual, provocar impotência ou ensejar praticas abortivas. De lá vieram inspirações as mais draconianas: "És capaz de lembrar da tua confissão ontem, ou anteontem, sob tortura? Então, agora, repete tudo com total liberdade". E a resposta era anotada. Se o acusado não ratificasse a afirmação, era submetido a novas sessões de tortura. As "bruxas", isto é, mulheres que não apresentavam boa aparência, eram costumeiramente acusadas por todos os males que açoitavam a Europa.
Em 1394, os padres já exigiam a conversão dos judeus. No século XV,  a comunidade judaica vivia em guetos. Quando “convertidos”, passavam a incomodar os antigos cristãos com seus prósperos negócios. Não havia quem entre os “convertidos” que não fosse tomado de medo, pois temia sofrer qualquer tipo de discriminação e violência.

O Santo Ofício na Espanha

Em 1478, os tempos já eram outros na Ibéria. A Inquisição e suas filhas cruéis, a tortura e a morte, eram uma realidade na Espanha, instituída por Bula do Papa Sixto IV.  O terror irradiava por todo canto e a tolerância desaparecera do cenário espanhol. Fernando de Aragão e Isabel haviam se casado e, com isso, reuniram os Reinos de Castella e Aragão. Eles não concordaram que a Inquisição espanhola fosse administrada por Roma, pois nesse País os nomes eram apenas aprovados pelo Papa, mas quem indicava era o monarca espanhol. Assim sendo, em 1483,  Sixto IV nomeou o monge dominicano Tomás de Torquemada para as funções de Inquisidor Mor de todos os territórios de Fernando e Isabel. Esse dominicano era de uma crueldade sem limites. Estima-se que ele torturou e condenou à fogueira aproximadamente dez mil pessoas. Torquemada é considerado um dos grandes genocidas da Humanidade. Segundo fontes históricas, o  Papa Alexandre VI,  pensou em destituí-lo de suas funções, mas teria desistido por exclusiva consideração à corte espanhola.

O calvário da judia Cinta Cacavi e o assassinato de um Inquisidor

A acusada, uma judia,  fora denunciada por sete testemunhas. Era considerada uma infiel. E, por isso, o inquisidor determinou sua tortura, que era admitida como forma de obter confissão, desde que prevista pelo Manual da Inquisição. Assim sendo, Cinta Cacavi foi queimada, com os pés amarrados, tendo os inquisidores o cuidado de cobrir o crucifixo para “não assistir” (ou “não ouvir”) os gritos de dor da sentenciada. A tortura foi tão cruel que a Corte acabou ouvindo o que queria: “sou cristã”.
O clima de denuncismo imperava, com parentes e vizinhos se acusando uns aos outros. Quando o fogo era aceso, tinha que arder até que os judeus presentes estivessem todos mortos e não existisse mais ninguém atacado pela “lepra da heresia”. Assim era o pensamento inquisitorial dominante.
Em 1485, o inquisidor Pedro Arbus morreu assassinado, justamente ele que fora declarado santo quatro séculos depois. Pelo assassinato Arbus, depois de buscas e inquéritos implacáveis,  mais de sessenta acusados foram condenados e atirados à fogueira.

O caso do Frei dissidente Baldo Lupertino e do Estudante de Pádua

A reação começava a se constituir espontaneamente. O monge alemão Martín Lutero lançaria, mais em seguida, a Reforma Protestante, desafiando o poder que emanava de Roma. O fascínio dos Papas pelos valores transitórios do mundo e pela bonança financeira, indignavam o monge alemão. O padre Baldo Lupertino, que era franciscano, também  já demonstrava idéias independentes, que se harmonizavam com os ideais de Lutero,  dizendo que o Papa era apenas o Pastor de sua própria Igreja. “Acredito na verdade contida nas Escrituras, mas não na autoridade do Papa, que é um ser humano como outro qualquer”.
Nesse tempo papas, cardeais e bispos viviam cercados de luxo, mais preocupados em questões políticas e financeiras do que nos verdadeiros valores espirituais.
Leão X assumira o seu Pontificado totalmente seduzido pelos prazeres do mundo. “Uma vez que Deus nos conferiu o nosso pontificado, vamos aproveitá-lo”, disse ele sem qualquer escrúpulo. Leão X (1513/1521) dedicava seu tempo às artes, às festas, à caça e ao teatro. Sua corte era abastecida por banquetes regados às melhores bebidas finas. As delícias do mundo anestesiavam incontrolavelmente o poder daquele Pontífice. Uma única preocupação marcaria seu reinado: a reforma da Catedral de São Pedro, o projeto mais ambicioso de Leão X, que levaria a Igreja ao fundo do poço. Para resolver a situação financeira difícil que criou, Leão X passou a vender indulgências (perdão comprado pelos católicos medievais, que ficavam isentos das penas temporais por pecados cometidos contra Deus).
A única providência desse Papa contra Lutero foi simplesmente excomungá-lo, em 1521. Mas toda a devassidão moral que imperava na Corte papal não era compartilhada pelo Bispo Giovanni Pietro Carafa, que fora embaixador do Vaticano na Espanha, onde observou a eficiência da Inquisição contra dissidentes, como Lutero. E passou,  em Roma, a sonhar com a mesma coisa. Assim sendo, Carafa passou a liderar um grupo de monges que se voltaria contra Lutero e os inimigos da então mais poderosa Religião da Terra.
Em 1529, a cidade de Veneza já estaria contaminada pela disseminação da heresia protestante. O padre franciscano Baldo Lupertino liderava a conspiração das idéias. Pregava para o público com independência, a reforma, afirmando que ninguém precisava do clero para falar com Deus, pois achava que esse contato deve ser direto. Sobre o sacramento da confissão, dizia: “somente Deus perdoa e sem uma confissão sincera e arrependida  a Ele, nenhuma confissão será válida, nem ao Papa”. Por isso, esse prelado dissidente tornou-se o alvo da vingança do Bispo Carafa. Por sua vez, outro reduto de hereges era a Universidade de Pádua, próximo a Veneza, famosa pela liberdade das idéias e por seu primor acadêmico.
Não demorou muito e um participante da comunidade denunciou Frei Lupertino em Roma. Nessa altura o Bispo Carafa já era Cardeal, com grande prestígio no Vaticano. Valendo-se dessa condição, fez a cabeça do Papa Paulo 3º, dizendo que era necessário exterminar a heresia protestante que crescia incontrolavelmente. E seu remédio para salvar Roma e a Península itálica não era outra: a Inquisição. E assim aconteceu com a construção de câmaras de interrogatório e celas de prisão próprias dos processo inquisitorial. Nem mesmo o pai de Carafa seria poupado, caso dele discordasse na fé: “se ele se tornasse um herege, eu armaria a fogueira para dizimá-lo”, dizia, sem escrúpulo, o impiedoso Cardeal. E a Inquisição tomava conta da Península.
Em Veneza, o dissidente Frade Lupertino seria  a primeira vítima do Cardeal Carafa. Preso, foi levado ao Tribunal da Inquisição, em 1542, onde manteve as idéias dissidentes que o fizeram réu. O enviado do Papa queria a execução exemplar do acusado, amarrando-o na Praça de San Marco e queimando-o para que suas cinzas fossem atiradas ao mar “pela honra e glória do Cristo”. Mas, para não ensejar repercussão nos negócios da cidade, preferiu-se o aprisionamento de Frei Lupertino por tempo indeterminado, permanecendo ele no cárcere por quatorze anos, até que o Papa Paulo IV -  nome que o Cardeal Carafa assumiu ao ser eleito Pontífice – requereu a execução pública do prelado, o que foi vetado pelas autoridades de Veneza, e, em conseqüência, o padre acabou sendo atirado ao mar, às escondidas, na calada da noite, com uma pedra amarrada ao pescoço.

Segundo confessou, “nem seu pai escaparia da fogueira, caso fosse herege”.

Em 1555, o Inquisidor cardeal Carafa é, como dito acima,  proclamado Papa, com o nome de Paulo IV. A Universidade de Pádua logo entrou na mira ensandecida do Pontífice, que determinou a expulsão de todos os hereges. Um estudante de Direito, de apenas 24 anos de idade, tornou-se também uma vítima derradeira, que bem ilustra essa investida ação papal.  Intimado, o estudante compareceu ao Tribunal, onde manifestou em sua defesa o direito de expressar livremente suas idéias, enquanto estudante universitário de Pádua. “A Igreja se desvia da Verdade”, acusou ele, recusando-se a abjurar. Foi condenado à prisão e, depois, executado publicamente na Piazza Navona, mergulhado num barril de óleo fervendo, piche e água raz, onde sobreviveu por quinze minutos sob sofrimento atroz.

As trevas da Inquisição em Portugal e no Brasil

A Inquisição foi instituída em Portugal no ano de 1536 e somente terminou em 1821. O primeiro auto-de-fé foi assinado em 20 de setembro de 1540 na capital, Lisboa. Aproximadamente 70 mil portugueses foram condenados pelo Tribunal do Santo Ofício. Destes, mais de trinta mil  foram "purificados pelo fogo". Os que não eram destinados à fogueira normalmente eram exportados para o  Brasil-colônia, onde cumpriam pena.
Informam os historiadores que os Tribunais da Inquisição nunca foram oficialmente instalados em terras brasileiras. Entretanto, afirma-se que o clero detinha poderes inquisitoriais. Os vigários fiscalizavam a população, informando para as autoridades eclesiásticas  comportamentos considerados suspeitos de heresia. Por sua vez, os bispos tinham autoridade para determinar prisões, confiscar bens e transferir  suspeitos de heresia para julgamento em Lisboa. Segundo a historiadora Anita Novinsky, numa entrevista que concedeu no Rio,  “tivemos um Tribunal do Santo Ofício, que atuou no Brasil durante 285 anos, sobre o qual não conhecemos nada”.

A Inquisição na cruel perseguição aos judeus

Durante a atuação impiedosa do ex-cardeal Carafa, depois Papa Paulo IV, considerava-se que “nenhum Tribunal trabalhava melhor pela obra de Deus”, do  que a Corte da Inquisição.
Mas o fato é que Paulo IV  também fora implacável com os judeus. A Bula papal  que esse Pontífice emitiu, em 1555,  instalou o desassossego e o pavor entre a comunidade judaica, que passou a ser confinada em guetos, somente podendo sair de lá com permissão especial. Milhares de manuscritos judaicos foram atirados à fogueira. Qualquer livro hebraico estaria proibido. O Talmude (compilação de leis judaicas) passou a ser considerado “livro perigoso”.
Mas como não há mal que não tenha fim, chegou o dia 18 de agosto de 1559. Paulo IV se encontrava em seus últimos momentos no Planeta. À meia-noite ele mandou chamar seus cardeais e a eles confiou o prosseguimento da Santa Inquisição “em nome de Jesus Cristo”. Não obstante, logo após seu último suspiro, a população de Roma invadiu eufórica as ruas da Cidade Eterna para comemorar o fim do martírio imposto por aquele implacável Pontífice. As prisões foram abertas e os condenados soltos.
Mas a sombra de Paulo IV ainda  permaneceria viva por muito tempo, pois deixara como seu legado uma lista de livros proibidos, que ficou conhecida como Index Librorum Prohibitorum, (índice dos livros proibidos) criado  “para evitar a corrupção dos fiéis”. E por causa disso, os livros somente poderiam ser editados na Itália com aprovação prévia. As idéias e informações eram restritas, mediante controle rígido do pensamento.
Em 1606, quase toda a população de Veneza chegou a ser excomungada pelo Papa, a evidenciar a expansão das doutrinas dissidentes.

Napoleão, o grande adversário da Inquisição

O Imperador francês Napoleão Bonaparte fora, com efeito, o grande adversário dos papados inquisitoriais. Ele era o maior defensor da separação entre a Igreja e o Estado. Ao conquistar o norte da Itália, em 1796, Napoleão baixou atos determinando que os guetos judaicos fossem imediatamente liberados e se tornassem livres. Em Madri, em 1808, Napoleão extinguiu a Inquisição. Libertou homens e mulheres que estavam acorrentadas, onde “só demônios poderiam gerar os instrumentos de tortura encontrados”, como afirmou uma testemunha da época. Os documentos que comprovavam os horrores da perseguição religiosa espanhola viriam a ser examinados e organizados pelo Secretario Geral da Inquisição de Madri, servindo de legítimo embasamento histórico.
Em 1810, os ideais de Napoleão no sentido de submeter o poder papal a degradante humilhação estava próximo de tornar-se realidade. Os documentos da Inquisição foram coletados, com ordem do Imperador de seguir para Paris. Cerca de 3.000 caixotes contendo arquivos, sentenças, pronunciamentos doutrinários e peças de interrogatório foram conduzidos para a capital da França. Tais documentos eram a prova de que necessitava Napoleão para desencantar os italianos diante da Igreja Católica e de seus Papados. Lá estava o julgamento de Galileu com seu argumento impecável: “E se amanhã for comprovado definitivamente que a Terra gira em torno do sol, como ficará a posição atual da Igreja ?”
Mas o fato é que após a derrota de Napoleão veio a reviravolta. Em 1814, na Espanha, quem acompanhou a França durante a ocupação seria executado e os hereges teriam a língua perfurada por uma barra quente de ferro, conforme anunciava a Corte. A vingança oficial grassava. Após a morte de Napoleão, os Estados papais ainda mantiveram os horrores da  Inquisição por mais quatro décadas.

O rumoroso caso do menino Edgardo Mortara que precipitou o fim da Inquisição

O garoto Edgardo Mortara pertencia a uma família judia e fora batizado secretamente por uma babá, à revelia dos pais. Os judeus ainda viviam nessa época -  a metade do século XIX -  em guetos e não lhes era permitido frequentar universidades, viajar, ou se relacionar com cristãos, tudo segundo as leis do Santo Ofício. Em 24 de agosto de 1858, a polícia do Papa sequestrou o pequeno Edgardo Mortara porque ele se tornara “propriedade da Igreja” visto que “uma norma papal fora descumprida”, segundo a justificativa do Oficial responsável. O menino foi arrebatado da mão dos pais, passando o Oficial condutor apenas um recibo, sem dizer para onde ele seria conduzido. Nessa época eram comuns os sequestros de crianças judiais pela polícia papal.
Depois de percorrer, em vão,  uma longa via crucis, o pai do menino Momolo Mortara  teve seu apelo desesperado atendido pelo Papa Pio IX e pode ver o filho, com restrições. Prometeram ao Sr. Mortara o direito de viver com o filho se ele se “convertesse”. Mas Mortara persistia em seu desespero. E não descansava, ganhando o caso espaço na imprensa eletrônica do mundo, que estava  chegando.
O momento era grave para a História da Igreja, pois o movimento pela unificação da Itália ganhava força. O Exercito austríaco, que garantira a segurança do impérios papais durante dois séculos e meio, viu-se obrigado a deixar a Itália. E a segurança de Pio IX e de sua Corte ficou literalmente entregue à própria sorte.
Em 1860, o sacerdote inquisidor, padre Feletti, que fora responsável pelo seqüestro do menino Edgardo Mortara, era preso pela antiga polícia papal, agora fiel ao novo Governo civil. Feletti foi processado por seu ato criminoso de sequestro, mas, nem assim, o garoto  foi devolvido. Pio IX, por sua vez, em carta que endereçara ao jovem, tempos depois, diria, segundo registros históricos: “Eu adquiri você em nome de Jesus Cristo, por um alto preço e ninguém demonstrou preocupação comigo, pai de todos os fiéis...”
Em 1870, o Exercito italiano pôs fim aos reinos papais, restringindo os domínios de Pio IX a 40 hectares de terra, onde estavam os prédios do Vaticano. Não teria sido, pois, em vão que a Santa Sé relutou, até 1929, para reconhecer a Itália como Estado soberano. E derradeiramente o menino Mortara nunca mais voltaria para a família. Ele tentara insistentemente convencer seu pai sobre “as verdades da Igreja”, tornando-se monge de uma abadia belga, onde se entregou durante o resto de sua vida à oração e à contemplação.
Se a Igreja Católica ganhara a batalha do menino que sequestrou das mãos dos pais, o mesmo não se poderia dizer a respeito da rígida Doutrina que impôs como única e verdadeira do mundo, durante aproximadamente quase 1000 anos. Os tempos novos chegaram e o mundo evoluiu, não mais admitindo reinados religiosos que sejam considerados indevidamente supremos donos da verdade.
E o fato é que o Santo Ofício da Inquisição,  que no ano de 1908 foi transformado pela Santa Sé em Congregação para a Doutrina da Fé, não mais ameaçaria a liberdade de crença no mundo, hoje garantida por quase todas as Constituições dos Estados modernos e livres. E, assim sendo, o ex-chefe desse Santo Ofício hoje transformado, como dito,  em Congregação da Fé -  o atual Papa Bento XVI - se comprometeu a lutar pela união de todos os credos terrestres através do Ecumenismo (união na convergência e respeito na divergência), um princípio sagrado inaugurado pelo saudoso Pontífice João XXIII, o Papa que trouxe  luzes sobre as trevas medievais.

E o Papa João Paulo 2º pediu “perdão a Deus e desculpas ao mundo”

No ano de 2000, o falecido Papa João Paulo 2º, falando como soberano Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, pediu formalmente desculpas ao mundo  num evento penitencial solene e sincero. O Pontífice também pediu oficialmente perdão a Deus, “em nome da Santa Igreja”, diante dos pecados cometidos pela Instituição  desde a sua fundação há dois mil anos. E, mais adiante, João Paulo 2º pediria, também,  desculpas ao mundo pelos  “dramas relacionados com a Inquisição e pelas  feridas deixadas na memória”, referindo-se à reminiscência coletiva  registrada depois daquele funesto e longo  período histórico".
O gesto, sem precedentes na História da Igreja Católica, ocorreu  na Basílica de São Pedro, em Roma, durante a Missa do primeiro domingo da Quaresma. Segundo a imprensa da época, sete confissões de culpas foram formuladas por sete dignitários da Cúria Romana, seguidas de sete pedidos de perdão pelo próprio Papa. Também se registrou  uma confissão geral  pelas culpas do passado e um pedido formal de perdão pelos “erros cometidos a serviço da verdade por meio do uso de métodos que não têm relação com a palavra do Senhor"; pela separação dos cristãos; pelas perseguições impiedosas aos judeus; pelo desrespeito às  culturas e religiões de todos os povos; e, finalmente, um mea culpa pelas longas e reconhecidas violações dos direitos humanos..
"Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; 15 se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas".(Mateus 6:14-15)

A posição do Espiritismo diante do pedido de perdão do Papa

Entrevista com Jorge Andréa dos Santos: “Todo pedido de perdão é um perdão e um grande começo”. A Revista Além da Vida foi buscar no escritor, cientista e famoso expositor espírita, o médico psiquiatra Jorge Andréa dos Santos, (90 anos) -   uma das maiores autoridades morais e intelectuais  do Espiritismo -  a síntese do que pensa a Religião codificada por Allan Kardec sobre essa longa noite histórica de perseguição religiosa. E Jorge Andréa concedeu a seguinte entrevista:

Revista Além da Vida -  Sabemos que o Livro dos Espíritos, o primeiro do  chamado  pentateuco kardequiano, foi incluído no Index Librorum Prohibitorum”, (índice dos livros proibidos)  criado ao tempo da Inquisição, como “obra capaz de corromper os fiéis”. O Espiritismo aceita o pedido de perdão do Papa?

Jorge Andréa - Todo pedido de perdão é um perdão e um grande começo para o equilíbrio das mentes. Este caminho nós não podemos nos furtar e separar. Quem perdoa tem necessidade imensa de cobrir as dificuldades pretéritas. A Doutrina Espírita, pelo seu grande movimento holístico, não poderia deixar de apreciar esse pedido que faz parte da sua estrutura de desenvolvimento pessoal, uma estrutura para o equilíbrio das mentes, para o equilíbrio do homem, para o equilíbrio de uma sociedade.  A Doutrina Espírita, que não se posiciona contra qualquer fórmula religiosa, seja de que natureza for,  tem naturalmente uma posição de equilíbrio para sentir na comunidade de cada setor desses, de cada formulário religioso, de sentir os seus limites e, mais do que isso, uma necessidade para um grupo que ainda não atingiu o potencial holístico universal que a Doutrina Espírita professa.
“Não importa de onde veio o ser humano e qual as suas paragens. O que temos de considerar é o seu cabedal moral e intelectual”.

Revista Além da Vida - Considerando que os seres humanos são os mesmos em todas as religiões, o senhor acredita que se o Espiritismo tivesse ocupado o lugar da Igreja, há dois mil anos, como Instituição religiosa organizada, estaria isento de qualquer culpa dessa natureza?

Jorge Andréa -  É preciso considerar a evolução da sociedade nessas épocas. Conforme o tipo de evolução, o homem poderia ser mais universal, ou menos  universal e coibido pelo seu interior, pelas suas necessidades pessoais, que devemos levar em conta no contexto da espécie humana. Tanto isso é verdade, que existe uma multiplicidade de conceitos religiosos pelo mundo, porque o homem é diferente, ainda não atingiu um patamar daquilo que podemos dizer -  da estrutura da Doutrina Espírita -   de irmandade. Quando seremos irmãos realmente na Terra? Esses rótulos religiosos todos desaparecerão, inclusive o próprio rótulo Espírita, uma vez que, de futuro, teremos uma Religião – porque isso não pode deixar de existir -  e que se vai chamar Fraternidade.
"A Religião precisa da Ciência para se estabelecer com equilíbrio”.

Revista Além da Vida - Nossos maiores ídolos Espíritas foram católicos: Francisco de Assis, Vicente de Paulo, Joanna de Angelis, Teresa D'Ávila e por ai em diante. Como o senhor vê essa realidade?

Jorge Andréa – Tudo é uma questão de evolução.  Não importa de onde veio o ser humano e qual as suas paragens. O que temos de considerar é o seu cabedal moral e intelectual. Vamos falar de Joanna de Angelis... Ela foi, segundo  Hermínio Miranda, com sua grande visão,  a Rainha  Nefertiti, mulher de Amenofis IV, da 19ª dinastia egípcia. Depois com a vinda do Cristo, retornou como Joanna de Cusa, vivendo as dificuldades que os cristãos da época passaram. Mais tarde, ela reencarna junto com Francisco de Assis, que foi um dos apóstolos do Cristo (João evangelista). E ela volta como Clara. Ela e Francisco sofreram, por assim dizer, um rebuliço intelectual, religioso, afetivo, muito grande. Ela funda as Clarissas e ele a fraternidade dos franciscanos. Depois não tenho mais notícia dele, mas ela volta, agora como Joanna de Ângelis, que marcou presença na época de nossa Independência, na Bahia, quando os portugueses invadiram o seu Convento e ela foi sacrificada por um soldado. Reencarnou, ainda, como Juana de la Cruz, no México, que fez jornadas fantásticas no movimento intelectual.  Então, não importa de onde ela veio, assim como não importa de onde veio um Francisco de Assis. Importa que foi um Espírito que se formou não só no intelecto, mas na moral, no amor e no amor através de grandes compromissos dolorosos, com dores físicas. Clara e Francisco não recusaram a vida, mas ficaram distante do processo normal de vida de todo mundo. Na sua característica, na sua formação, vieram de degrau em degrau num processo altamente produtivo e evolutivo. E isso é o que interessa e não a Religião a que pertenceram...

Revista além da Vida - A seu ver, o preconceito religioso ainda prejudica a evolução da Ciência?

Jorge Andréa - Considero que sim, se bem que houve uma abertura muito grande com Einstein, quando disse que a Ciência precisava da religiosidade, ou da religião (ele falava de uma Religião Superior, não rotulada), assim como a religião precisa da ciência para se estabelecer com equilíbrio. E este casamento da ciência com a religião está se dando através da Doutrina Espírita.

Revista Além da Vida -  Disse certa vez um político, ironizando, que “a lógica é a pior forma de convencimento”. Na sua avaliação esse princípio se aplica, ainda que a contragosto, no contexto da concepção religiosa, já que  as provas científicas de fenômenos espíritas (reencarnação e comunicação) ainda não conquistam as massas mundiais?

Jorge Andréa – O Espiritismo tem apenas 150 anos. Não é nada. Somos a Nação mais Espírita do mundo. Porém, somos apenas 6 milhões, incluindo simpatizantes. Para onde vamos caminhar? Claro que será sempre num processo de evolução. No dia em que a ciência colocar o Espírito dentro das células, como fica isso? Os processos religiosos vão entrar  em ritmo de acomodação. Não estranharei se amanhã os grupamentos protestantes e católicos vierem a colocar o processo de reencarnação em substituição ao de ressurreição...

Revista Além da Vida - Qual o papel do Espiritismo no futuro das Religiões?

Jorge Andréa - É de totalidade. O Espiritismo vai dar uma abertura muito grande. Estará   presente 24 horas. Só se vai trabalhar para o bem. No mundo, só vai preponderar o amor. Os indivíduos se entenderão.  As guerras fratricidas vão desaparecer. Os movimentos telúricos se abrandarão. Quem sabe se esses movimentos telúricos de hoje não tem  correlação com a massa imensa de pensamentos negativos. Somos uma tônica vibratória do universo. Cada indivíduo tem sua faixa, mas a comunidade humana tem uma faixa geral de irradiação. 6 bilhões de indivíduos irradiando. 18 bilhões de Espíritos do lado de lá, presos na atmosfera terrestre, irradiando. Como fica isso? No dia em que o homem tiver a irmandade que ele precisa alcançar, tenho a impressão que a vida na Terra abrirá um conceito fantástico da ciência. O trabalho não será mais esta obsessão de hoje. Todo mundo vai trabalhar com calma, com horas de lazer, de música, de literatura. E dentro desse contexto o Espiritismo estará irradiando o tempo todo, em todas as direções religiosas. E nesse sentido dizemos que o Espiritismo não será a Religião do futuro, mas o futuro das Religiões.

RECORDAR PARA NÃO REPETIR NUNCA MAIS - A inquisição é um fato histórico, que deve ser considerado antes de seu aspecto religioso. E, por isso, pertence ao mundo, não podendo ser privilégio de arquivos secretos, ou de gavetas privativas, pois faz parte da própria história da humanidade, do homem e de seu aprendizado na  trajetória evolutiva do tempo. As páginas da história, se não servem para outra coisa, se bastam pelo que nos ensinam a não fazer e pelo que nos impelem a realizar em prol da construção do homem e do mundo. Recordar é, pois, refletir, para nunca mais repetir.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A Interpretação do Texto Bíblico

Fonte - http://www.portalser.org/publicacoes/podmais-01-%E2%80%93-a-interpretacao-do-texto-biblico/

A Interpretação do Texto Bíblico

Exegese, hermenêutica, homilética… Palavras tão comuns no universo da teologia quanto distantes do cotidiano da maioria dos leitores do Evangelho. Dentro da proposta de uma compreensão profunda da Boa Nova, jugamos importante oferecer uma breve introdução ao tema. O que se encontra a seguir são, antes de tudo, referências básicas para aquele disposto a se apropriar de novas ferramentas, capazes de auxiliar nos propósitos de uma vivência espírita cristã.
Exegese
Em Handbook to exegesis of the New Testament , Stanley Porter e Ken Clarke explicam que “a palavra exegese em si é derivada do termo grego ἐξηγέομαι, que significava literalmente ‘conduzir para fora'”, numa referência à característica central da exegese, que é a de ser um processo por meio do qual o leitor contemporâneo habitue seu pensamento a identificar e extrair o significado primitivo, original do texto bíblico.
Nesse sentido, Gordon Fee acrescenta, em New Testament exegesis: a handbook for students and pastors: “a primeira preocupação da exegese é com a intencionalidade: o que o autor quis que seus leitores originais entendessem?”. Essa costuma ser considerada também a primeira preocupação que deve ter o estudioso das escrituras judaico-cristãs. Afinal, a disposição para estudar a Verdade exige esforço por apreender os sentidos mais precisos que a sua expressão escrita permite alcançar.
O trabalho exegético, afirma Fee, demanda que o interessado seja um bom questionador. “A chave para uma boa exegese está na habilidade de elaborar as perguntas corretas sobre o texto, com a finalidade de se chegar ao significado que o autor tinha em mente”. Para orientar a condução desse processo, o autor propõe 15 passos a serem seguidos pelo exegeta, que passam por pesquisa histórica, análise sintática, estudo dos gêneros literários e tradução adequada das passagens estudadas.
Hermenêutica
Contudo, pondera Douglas Stuart em Old Testament exegesis: a handbook for students and pastors, “a exegese é, patentemente, uma empreitada teológica, e uma teologia que não se aplica à vida do povo de Deus é estéril”. Por isso, para evitar os excessos da teorização pura e da discussão vazia, é que surge a importância da hermenêutica – “do grego ἑρμηνεύω, que significava traduzir, explicar, interpretar ou mesmo proclamar” – em seu sentido mais contemporâneo.
Anthony Thiselton, em The Two Horizons, nos põe a par da questão de forma sintética: “Tradicionamente, a hermenêutica consisitia na formulação de regras para a compreensão de um texto antigo (…). O intérprete era estimulado a começar com a linguagem do texto, incuindo sua gramática, seu vocabulário e seu estilo (…) Em outras palavras, a hermenêutica tradicional começava com o reconhecimento de que um texto era condicionado por um dado contexto histórico. Contudo, a hermenêutica no sentido mais recente do termo começa com o reconhecimento de que o condicionamento histórico tem duas faces: o intérprete moderno, não menos do que o texto, está em um dado contexto histórico, em dada tradição“.
Assim, cabe à hermenêutica, em sentido mais atual, oferecer ferramentas para que o estudioso traga a compreensão do texto em si para o seu contexto contemporâneo. A mensagem apreendida em seu sentido original deve oferecer uma contribuição real para o atendimento das necessidades e demandas espirituais daquele que a estuda hoje. Nessa perpectiva, Grant Orborne propõe, em The hermeneutical spiral: a comprehensive introduction to biblical:
“Estudiosos, desde a Nova Hermenêutica, têm se mostrado satisfeitos em descrever um “círculo hermenêutico” dentro do qual nossa interpretação do texto conduz à sua interpretação sobre nós. (…) Uma espiral é uma metáfora melhor, porque ela não é um círculo fechado, mas, antes de tudo, um movimento em aberto do horizonte do texto para o horizonte do leitor. Em vez de dar voltas e voltas em um círculo fechado, incapaz de detectar o verdadeiro significado, sigo em espiral, cada vez mais perto do significado pretendido pelo texto (…) A tarefa da hermenêutica deve começar com a exegese, mas não está completa até que se observe a contextualização daquele significado para hoje.”
Homilética
Uma vez compreendida a mensagem em seu sentido original e trazida para o contexto do estudioso, chega o momento da partilha. A esse momento, o de repartir o resultado da exegese e da hermenêutica com aqueles que nos acompanham na jornada, chama-se homilia, sendo a homilética o ramo de estudo dessa etapa do processo.
Em Pregação ao Alcance de Todos, Hans Ulrich Reifler explica que “o termo (homilética) deriva do substantivo grego ‘homilia’, que significa literalmente ‘associação’, ‘companhia’, e do verbo homileo,que significa ‘falar’, ‘conversar’. O Novo Testamento emprega o substantivo homilia em 1 Coríntios 15.33 … as más conversações corrompem os bons costumes”.
Já Grant Osborne arremata: “O sermão é um mecanismo de construção de pontes que reúne o mundo antigo do texto bíblico com o mundo moderno da congregação. A contextualização é a argamassa que vincula esses dois mundos, na medida em que o pregador procure ajudar a congregação a entender a relevância do texto para suas próprias vidas. O processo do sermão é um contínuo empreendimento de ligação no qual o pregador ajuda os ouvintes a reviverem o drama e o poder espiritual que o texto tinha para os seus ouvintes originais, de forma que as pessoas consigam entender como a mensagem original refere-se a situações similares em suas vidas”.
A contribuição espírita
Compreendidos esses conceitos, que formam as etapas tradicionais da prática teológica, é importante nos debruçarmos sobre a contribuição espírita para o tema. Em Parábolas de Jesus – Texto e Contexto, Haroldo Dutra Dias põe conhecimento científico e revelação espiritual em diálogo intensivo com o propósito de nos oferecer um olhar espírita consistente sobre a forma de compreender o texto bíblico.
Um dos pontos centrais dessa proposta é a importância do desenvolvimento de sensibilidades apropriadas para apreender nuances e sutilezas características dos Evangelhos: “A sensibilidade aos aspectos formais da lição do Cristo aguça a nossa percepção das questões textuais e literárias envolvidas na formação, estabilização e transmissão dos textos do Novo Testamento. Por sua vez, a sensibilidade aos aspectos materiais daqueles ensinos exigem um amplo mergulho na cultura hebraica, romana e grega da Palestina do primeiro século. Jesus compunha suas peças pedagógicas com elementos extraídos do cotidiano daquele tempo, não do nosso. A referência cultural não é aquela fornecida pela Sociedade ocidental contemporânea. É preciso viajar no tempo. Há dois mil anos… Por fim, urge desenvolver a sensibilidade ao conteúdo.”
O burilamento de tais habilidades passa pelo hábito de se permitir a experiência do Evangelho, tanto pela leitura regular quanto pela busca da aplicação de suas lições ao nosso cotidiano. Além disso, ao tratar da questão textual, o autor nos convida a transcender o olhar tradicional do texto como manifestação da intenção de um autor, que deve ser descoberta, para compreendê-lo como “um processo de produção e recepção comunicativa, analisando-o a partir de sua elaboração, de sua verbalização, de seu planejamento, até sua recepção, processamento e uso, enfim, como um complexo processo de interação”. Processo cujo sentido é “construído pelos sujeitos durante a interação, e não algo que preexista a essa interação”.
Por isso, a compreesão de toda a riqueza de sentidos e significados implícitos num texto escrito passa necessariamente pelo entendimento do contexto em que ele foi construído. “Estamos diante de outra importante sensibilidade, necessária ao estudo do Novo Testamento. Trata-se da convicção de que a linguagem, a interação através de textos, ocorre invariavelmente no interior de determinada cultura. Nesse sentido, é dever do intérprete responsável transportar o leitor ao cenário no qual Jesus viveu, agiu e ensinou, a fim de que escute suas palavras, seus ensinamentos como se fosse um morador daquela região. Ouvir a voz do Mestre Galileu em toda a sua originalidade, vigor, riqueza cultural, para compartilhar com ele a pureza genuína dos sentimentos espirituais superiores.”Dessa forma, ganha o leitor as ferramentas necessárias para extrair da letra que mata o Espírito que vivifica, nas palavras de Paulo, em sua segunda carta aos Coríntios.
Bibliografia:
DIAS, Haroldo Dutra. Parábolas de Jesus – Texto e Contexto. 1ª ed. Curitiba: Editora FEP, 2011.  http://www.fazendobem.com.br/
FEE, Gordon D. New Testament Exegesis: A Handbook for Students and Pastors. 3rd ed. Louisville: Westminster John Knox Press, 2002.http://tinyurl.com/3ftnftr
OSBORNE, Grant. The Hermeneutical Spiral. A Comprehensive Guide to Biblical Interpretion. 2nd Ed. Downers Grove: InterVarsity, 2006. http://tinyurl.com/3caq2bd
PORTER, Stanley E. (Ed.). A Handbook to the Exegesis to the New Testament. Leiden: Brill, 2002. http://tinyurl.com/3m4tfdn
REIFLER, Hans Ulrich. Pregação ao alcance de todos. São Paulo : Vida Nova. 1993.http://tinyurl.com/42v6d9c
STUART, Douglas K. Old Testament Exegesis. A Handbook forstudents ans Pastors. 3rd ed. Louisville: Westminster John Knox Press, 2001.http://tinyurl.com/43vstwe

Hermenêutica evangélica

JOSÉ CARLOS MONTEIRO DE MOURA
jcarlosmoura@terra.com.br
Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil)

Hermenêutica evangélica


O preâmbulo do PROJETO 1868 contém uma afirmativa de Kardec que, a um primeiro exame, parece conter uma contradição com a liberdade que sempre defendeu e pregou: “Se a doutrina do Cristo deu lugar a tantas controvérsias, se ainda agora tão mal compreendida se acha e tão diversamente praticada, é isso devido a que o Cristo se limitou a um ensinamento oral e a que seus próprios apóstolos apenas transmitiram princípios gerais, que cada um interpretou de acordo com suas idéias ou interesses” – (OBRAS PÓSTUMAS, Ed. FEB, Rio, 1993, p. 339).  

No entanto, a sua conduta, sempre marcada pela moderação, prudência, e imparcialidade quase positivista, infirma de modo categórico a aludida contradição, que não consegue transpor os limites da mera aparência.

É incontestável que Kardec era dotado da desconfiança natural de todos que se dedicaram – e ainda se dedicam – ao estudo do Evangelho, em face das incontáveis adulterações sofridas pelos seus textos no decurso dos séculos, e quase sempre motivadas por interesses de cunho material. À Igreja, com sua pretensão de se sobrepor a todos os povos e governos do mundo, postura que teve seu ápice no pontificado de Inocêncio III, cabe a grande responsabilidade por tais alterações. Prova inequívoca do alegado está na sovada fórmula “Fora da Igreja não há salvação”, que ele e os Espíritos Superiores desmentiram categoricamente. Era, pois, plenamente justificável e compreensível a sua apreensão com respeito aos hermeneutas evangélicos, sobretudo quanto aos que, fatalmente, haveriam de despontar no meio espírita.

Uma circunstância que não pode ser omitida, no particular aspecto da formação de seu pensamento, é aquela relativa à época em que viveu, indiscutivelmente uma das mais turbulentas da história da França e da Europa, marcadas pelas várias Revoluções que eclodiram em inúmeros países, principalmente em 1830 e 1848. A França ainda sofreu o golpe de estado de dezembro de 1851, quando Luís Napoleão, que, anteriormente, havia sido eleito presidente depois de uma contundente disputa com o General Cavaignac, reimplantou o absolutismo no país. Havia, por conseguinte, uma generalizada desconfiança em torno de tudo que se relacionava com o Poder, entre os quais se destacava, mais por erros do que por acertos, o Judiciário.

Essa atitude, comum a todos os grandes pensadores da época, alcançou um destaque maior quando, em meados do Sec. XVIII, Beccaria lançou, na Itália, em seu DOS DELITOS E DAS PENAS, um violento alerta contra os desmandos e crueldades da Justiça Penal, alicerçados em interpretações nebulosas e tendenciosas de leis de péssimo conteúdo.

Conquanto equivocada, mas justificável em virtude das circunstâncias, dominava na Europa, e em especial na Itália e na França, a tendência de se transformar o juiz numa espécie de autômato, a quem incumbia apenas aplicar a lei em seu sentido meramente literal, sem cogitar de seu verdadeiro sentido e finalidade, porquanto os resultados de trabalhos semelhantes foram responsáveis por indefensáveis absurdos éticos e jurídicos.

Tal entendimento extrapolou o campo do Direito e foi recepcionado em quase todas as áreas do conhecimento humano que implicavam ou exigiam alguma espécie de interpretação, fosse ela de textos legais, ou não.

Além disso, no tocante ao Direito, suas leis nem sempre eram claras e objetivas, além de se servirem muito mais à proteção dos setores dominantes da sociedade. Presos a essa realidade e preocupados em não desagradar aos poderosos, os magistrados enveredaram pelo caminho das confusas e contraditórias opiniões pessoais. Isso significava o pleno exercício do mais ilimitado arbítrio do julgador, e acarretou a mencionada reação.

A maioria dos pensadores da época, e entre eles se inclui Kardec, foi altamente influenciada por esse modo de ver, fato que permite a compreensão do seu ponto de vista externado na afirmativa em questão.

Quem conhece a sua obra sabe perfeitamente que os destinatários de sua restrição ou discordância são os que fazem da interpretação dos textos evangélicos instrumento capaz de justificar seus modos de agir, seus pontos de vistas, ou os interesses nem sempre confessáveis de grupos ou facções religiosas que se afirmam cristãs.  

Tais atitudes, muitas vezes afoitas ou eivadas de má-fé, foram as causas de interpretações absurdas, quando não, exóticas, que o Cristianismo consagrou ao longo de sua história. É o que se deduz de suas próprias palavras, quando, ao iniciar o trabalho da Codificação, reconheceu a necessidade de “andar com a maior circunspeção e não levianamente; ser positivista e não idealista, para não me deixar iludir”, conforme confessa expressamente em OBRAS PÓSTUMAS – Primeiras Participações.

Não fosse assim e O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO não conteria os diversos comentários, explicações e interpretações, cujo objetivo é, sem sombra de dúvida, facilitar o entendimento de sua extraordinária e inigualável mensagem ética.  

No entanto, os vícios de interpretação sempre existiram e existirão, como conseqüência inexorável da própria fragilidade humana. Eles independem da natureza do local em que eclodem e, costumeiramente, são sempre os mesmos, quer se cuide de um texto legal, quer se trate de uma norma de fundo ético ou religioso.

E, infelizmente, a preocupação de inovar, aliada ao velho hábito do exibicionismo cultural, tem contribuído para o surgimento, nos diferentes segmentos cristãos, de um hábito de se interpretar o Evangelho em função dos preciosismos lingüísticos, quase sempre restritos ao sentido literal ou gramatical do texto.  

Observa-se, em face disso, no meio de alguns estudiosos do Evangelho, uma considerável perda de tempo em especulações a respeito, por exemplo, do tempo do verbo, do significado explícito ou implícito de uma palavra, da ordem direta ou indireta utilizada pelo autor, fato que, incontestavelmente, não leva a lugar nenhum, por configurar um autêntico círculo vicioso. Tomando-se como modelo o Sermão do Monte, vê-se que, nas 5ª e 9ª bem-aventuranças, são empregados indistintamente os termos brandos e mansos, pacíficos e pacificadores, respectivamente. Na edição protestante de João Ferreira de Almeida, lê-se “mansos e pacificadores”. Na católica, do Pe. Matos Soares, “mansos e pacíficos”. Em O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, editados pela FEB e pelo IDE, as palavras são “brandos e pacíficos”, ao contrário de outros que empregam “mansos e pacificadores”. Tais diferenças são inteiramente irrelevantes, não alteram o seu sentido final, a saber: a recriminação de toda forma de violência. Não obstante, há os que insistem em enfatizar as sutilíssimas distinções entre brando e manso, pacífico e pacificador. Sustentam que brando e pacificador possuem conotação ativa, e que manso e pacífico, conotação passiva. Por isso, não se diz vento manso, mas vento brando, porquanto se trata de uma ação positiva (ventar) ao contrário de manso, cuja passividade é manifesta, traduzindo a ausência de toda e qualquer forma de reação. O mesmo ocorre em relação a pacífico e pacificador. A este se atribui possuir uma característica ativa, e quem se enquadra nessa condição está, via de regra, empenhado em evitar e solucionar conflitos, enquanto que o pacífico tende mais a uma atitude de verdadeira omissão (sic).

São meras filigranas lingüísticas que não afetam em nada a mensagem de não-violência pregada e vivenciada por Jesus, e com a qual a humanidade, salvo raríssimas exceções, ainda não está habituada a conviver. O seu grande seguidor, nesta era tão agressiva e conflitante, foi alguém que nem cristão era: Mohandas Gandhi!  

Daí se conclui que a interpretação dos ensinamentos do Cristo, principalmente daqueles que constituem a moral evangélica, é importante e necessária na medida em que propicia a melhoria do homem, independentemente de sua filiação religiosa, mesmo porque tais ensinamentos pertencem, em linhas gerais, a todas as religiões e a todas filosofias de vida. O Mundo Espiritual jamais se esqueceu da Terra e seus enviados aqui sempre estiveram, divulgando e disseminando essas verdades. Coube, no entanto, a Jesus consolidá-las através de sua pregação, de sua vivência e de seu exemplo. Por isso, a hermenêutica evangélica é valida desde que se torne um instrumento para a reforma interior do ser humano. Quando se transforma em fator de desagregação, em estímulo para as vaidades, em motivos de polêmicas e de sectarismos extremados, deve ser evitada a todo custo.

Desse mal, infelizmente, o Cristianismo não esteve livre. É lícito esperar, contudo, que o seu segmento mais novo, o Espiritismo, consiga evitar-lhe o contágio e a contaminação!      

Hermenêutica, Exegese e Espiritismo


Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: “Irmãos! nada perece. Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade.” – O Espírito de Verdade. (Paris, 1860.) [1]

No Cristianismo e em outras religiões como o Budismo ou o Hinduísmo, há mais de uma vertente. Há, ainda, muitos ateus, seja por convicção, seja por desilusão com as religiões. Tanta heterogeneidade e divergência em uma parcela tão pequena do Universo que é a Terra... Por quê?

Toda compreensão que temos do mundo advém de uma pré-compreensão, baseada em coordenadas espaço-temporais, uma expressão da forma como estamos, por sermos Espíritos que já envergaram diversas personalidades ao longo dos séculos, e das lições aprendidas durante essas existências, tanto encarnados quanto na erraticidade (período entre encarnações). As diferentes histórias de evolução de vidas de cada um de nós implicam diferenças de visão, e daí uma série de entendimentos distintos sobre religião, tal como sobre política, sociedade, arte etc.

Necessitamos, assim, entender os campos de estudo da hermenêutica e da exegese e como essas ciências, ambas contempladas na Doutrina Espírita, nos ajudam a compreender tais diferenças. Segundo o dicionário Aurélio [2], temos:

Hermenêutica: Interpretação do sentido das palavras;
Exegese: Comentário ou dissertação para esclarecimento ou minuciosa interpretação de um texto ou de uma palavra.

Hans-Georg Gadamer é um autor decisivo no estudo da hermenêutica do século XX. Em seu livro “Verdade e Método” [3], lançado em 1960, Gadamer afirma:
“Quem quiser compreender um texto realiza sempre um projetar. Tão logo apareça um primeiro sentido no texto, o intérprete prelineia um sentido do todo. Naturalmente que o sentido somente se manifesta porque quem lê o texto, lê a partir de determinadas expectativas e na perspectiva de um sentido determinado. A compreensão do que está posto no texto consiste precisamente na elaboração desse projeto prévio, que, obviamente, tem que ir sendo constantemente revisado com base no que se dá conforme se avança na penetração do sentido.”

Allan Kardec, na obra “A Gênese” [4], lançada em 1868, ou 92 anos antes do livro supracitado de Gadamer, já trazia uma visão convergente com a que seria trazida pelo referido pensador do século XX:
“Neste século de emancipação intelectual e de liberdade de consciência, o direito de exame pertence a todos e as Escrituras não são mais a arca santa na qual ninguém se atreveria a tocar com a ponta do dedo, sem correr o risco de ser fulminado.
(...) Os homens só puderam explicar as Escrituras com o auxílio do que sabiam, das noções falsas ou incompletas que tinham sobre as leis da Natureza, mais tarde reveladas pela Ciência. Eis por que os próprios teólogos, de muito boa-fé, se enganaram sobre o sentido de certas palavras e fatos do Evangelho. Querendo a todo custo encontrar nele a confirmação de uma ideia preconcebida, giraram sempre no mesmo círculo, sem abandonar o seu ponto de vista, de modo que só viam o que queriam ver. Por muito instruídos que fossem, eles não podiam compreender causas dependentes de leis que lhes eram desconhecidas.
(...) Os homens, cada vez mais esclarecidos, à medida que novos fatos e novas leis se forem revelando, saberão separar da realidade os sistemas utópicos. Ora, as ciências tornam conhecidas algumas leis; o Espiritismo revela outras; todas são indispensáveis à inteligência dos Textos Sagrados de todas as religiões, desde Confúcio e Buda até o Cristianismo.”

Peguemos um pequeno exemplo, o da palavra grega “bapto”, citada à introdução da tradução do Novo Testamento, feita diretamente a partir do grego, lançada pelo Conselho Espírita Internacional [5]:
“Figuremos um exemplo singelo: o verbo grego ‘bapto’ (mergulhar, imergir, lavar), pelos processos de derivação das palavras, é responsável pela formação do substantivo ‘baptismo’ (mergulho, imersão, ato de lavar)”. Ao se traduzir esse substantivo por batismo, é impossível que o leitor moderno não associe o vocábulo aos temas teológicos ligados ao sacramento do batismo.
Todavia, urge reconhecer que essas teologias não existiam ao tempo em que os livros do Novo Testamento foram redigidos, ou melhor, não existiam nem mesmo igrejas nos moldes das atuais. Não possuímos sequer registros seguros de que os judeus, sistemática e institucionalmente, utilizavam a imersão em água como ritual para conversão de prosélitos.”

O Espiritismo busca a consistência das ideias pela chegada a conclusões convergentes, por meio de diversos estudos independentes, efetuados em locais e por grupos distintos. É um método científico, sem “ocultismo”. Kardec assim cita a respeito, no item II da Introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” [6]:
“Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares.
(...) Essa a base em que nos apoiamos, quando formulamos um princípio da doutrina. Não é porque esteja de acordo com as nossas ideias que o temos por verdadeiro. Não nos arvoramos, absolutamente, em árbitro supremo da verdade e a ninguém dizemos: ‘Crede em tal coisa, porque somos nós que vo-lo dizemos.’ A nossa opinião não passa, aos nossos próprios olhos, de uma opinião pessoal, que pode ser verdadeira ou falsa, visto não nos considerarmos mais infalível do que qualquer outro. Também não é porque um princípio nos foi ensinado que, para nós, ele exprime a verdade, mas porque recebeu a sanção da concordância.
Na posição em que nos encontramos, a receber comunicações de perto de mil centros espíritas sérios, disseminados pelos mais diversos pontos da Terra, achamo-nos em condições de observar sobre que princípio se estabelece a concordância. Essa observação é que nos tem guiado até hoje e é a que nos guiará em novos campos que o Espiritismo terá de explorar.”

Como a maioria da Humanidade terrestre é composta por seres em etapas mais básicas da evolução, ainda distantes dos Espíritos de maior alcance nos campos intelectual e moral, não se consegue a apreensão da essência dos fatos e ensinos. Apreendemos o que está fora de nós como um fragmento do real, uma faceta de uma dimensão, o que não significa que não haja outras facetas, outras dimensões, as quais podem ser apreendidas por outros e devem respeitadas inclusive por quem não as verificou ou mesmo com as quais não concorde. Respeitemos e valorizemos a divergência, o contraditório, desde que fundamentados em argumentos.


Todos nós apreendemos segundo nossos limites, nosso horizonte, o qual pode se ampliar, pelo aprendizado e estudo. Assim, o entendimento de um determinado texto implica uma ação de projetar sentidos, a partir do que o intérprete possui de compreensões prévias. O sistema, porém, se realimenta: ao mesmo tempo em que a ideia lida só tem como ser compreendida pelos entendimentos prévios do leitor, as novas informações recebidas auxiliam na modificação desse conjunto de compreensões prévias, as quais vão, portanto, se alterando.

Kardec também apontou esse caráter progressivo do entendimento da Doutrina Espírita, por exemplo, nos trechos a seguir apresentados, constantes dos itens 16 e 55 do primeiro capítulo da obra “A Gênese” [7]:
“O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente (...). Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar das condições mesmas em que ela se produz, é que, apoiando-se em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. Pela sua substância, alia-se à Ciência que, sendo a exposição das leis da Natureza, com relação a certa ordem de fatos, não pode ser contrária às leis de Deus, autor daquelas leis. (...) Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.”

Complementando a Hermenêutica com a interpretação das palavras, a Exegese vem estudar os significados moral e espiritual dos textos. O Codificador do Espiritismo preocupou-se com esses dois aspectos, apresentando-os à Introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” [8]:
“É certo que tratados já se hão escrito de moral evangélica; mas, o arranjo em moderno estilo literário lhe tira a primitiva simplicidade que, ao mesmo tempo, lhe constitui o encanto e a autenticidade. (...) Para obviar a esses inconvenientes, reunimos, nesta obra, os artigos que podem compor, a bem dizer, um código de moral universal, sem distinção de culto. (...) Esse, entretanto, seria um trabalho material que, por si só, apenas teria secundária utilidade. O essencial era pô-lo ao alcance de todos, mediante a explicação das passagens obscuras e o desdobramento de todas as consequências, tendo em vista a aplicação dos ensinos a todas as condições da vida. Foi o que tentamos fazer, com a ajuda dos bons Espíritos que nos assistem.”

Quanto mais estudarmos e apreendermos esses conhecimentos, aplicando-os efetivamente em nossa vida prática, mais eficientes nos tornamos na tarefa de fazer o Bem. Respeitemos os posicionamentos divergentes, pois todos têm sua história particular de evolução, da qual decorrem seus entendimentos; bem como o respeito à diferença também é uma demonstração de caridade.


Leia também, neste blog, as postagens “Os Opositores da Doutrina Espírita”, “Falsos Cristos, falsos profetas e seus seguidores”, “Não Vim Trazer a Paz, mas a Divisão”, “Tranquilidade no Retorno à Pátria Espiritual”, “A Reencarnação na Bíblia” e “Mediunidade na Bíblia”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:
[1] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. RIO DE JANEIRO, FEB: 1987. Capítulo VI, Item 5.
[2] HOLANDA, Aurélio Buarque de. “Novo Dicionário Eletrônico Aurélio”. Versão 5.0 de 2004. Positivo Informática. Palavras hermenêutica e exegese.
[3] GADAMER, Hans-Georg. “Verdade e Método”. 3.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. Segunda parte, item 2.
[4] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo I, item 29.
[5] Novo Testamento. Tradutor Haroldo Dutra Dias; revisor Cleber Varandas de Lima. Brasília, DF: Conselho Espírita Internacional, 2010. Introdução.
[6] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. RIO DE JANEIRO, FEB: 1987. Introdução, Item II.
[7] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo I, itens 16 e 55.
[8] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. RIO DE JANEIRO, FEB: 1987. Introdução, Item I.


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Hermenêutica e Espiritismo

Fonte - http://www.sbee.org.br/portal/hermeneutica/doutrina-dos-espiritos/textos-de-apoio/hermeneutica

Hermenêutica

À medida que evoluímos individualmente, e como sociedade, aumenta a nossa necessidade de fazer leituras críticas  e ressignificação do mundo. Estas demandas do pensamento são sustentadas pela capacidade que temos de fazer novos questionamentos e interpretações. O movimento que se segue a esse processo passa por uma "desconstrução de camadas sedimentadas de conceitos" (Hans-Georg Gadamer). A contínua necessidade que temos de interpretar o mundo é o que aproxima a hermenêutica da Doutrina Espírita.

O exercício mediúnico deve continuamente estimular a reflexão em torno de temas relevantes e emergentes. Por ser um sistema aberto, o sistema de idéias espírita deve promover questionamentos e discussões com o propósito de criar novas metáforas, novos entendimentos e recontextualizações. Assim, os instrumentos e as instruções ligados à Doutrina Espírita estarão em constante evolução com impactos nas dimensões individual, alternativa, especialista e universal.

A parte da filosofia que trata da "interpretação" tem o nome de hermenêutica. Os objetos de estudo podem ser quaisquer questões, desde textos e poemas até comportamentos sociais. A palavra grega hermeneuein significa traduzir ou interpretar; hermeneia é interpretação. Aqui cabe um ponto relevante: interpretar é diferente de explicar! Explicar é dar a causa ou a razão. Explicar um fenômeno físico, por exemplo. Interpretar é, por sua vez, procurar ou revelar o sentido de algo. Interpretar um signo, uma obra ou um acontecimento.

O trabalho do filósofo Martin Heidegger (1889- 1976) trouxe uma grande contribuição para a evolução dos conceitos ligados à hermenêutica. Ele não foi o primeiro a trabalhar esta linha filosófica, mas seu trabalho traz uma nova hermenêutica do ser humano e do cotidiano (dasein). Heidegger foi um questionador da tradição e da lógica que ainda se achava na base do idealismo alemão na sua época e lutou pelo resgate da capacidade humana de questionar e reinterpretar, assim, propôs que se trouxesse a filosofia para um sentido de realidade ligada ao mundo. Isto é, a necessidade de se aprender a pensar a vida em todas as suas muitas direções. Em uma cultura que atualmente está profundamente marcada pela ciência, é preciso "conquistar um novo equilíbrio de modo que o nosso pensamento não se esgote apenas no domínio e exploração da natureza, mas também através da disponibilização de tudo- nós mesmos, inclusive", diz Gadamer. O Ser aqui e agora!

Revisitar, desconstruir e ressignificar pode ser uma descrição sintética de um processo que requer uma “atitude hermenêutica” e que ao mesmo tempo atende à proposta de uma Doutrina Espírita dinâmica na forma de reinterpretar o mundo. O sistema aberto proposto pela Doutrina permite, e requer, interpretações para que o espírito evolua no caminho da construção individual e social.

Assim, à medida que concebemos, percebemos e nos conscientizamos das infinitas possibilidades que os contextos nos oferecem no mundo cultural, estamos fazendo ressignificação e criando solo fértil para novas perguntas e novas respostas que possam efetivamente atender às necessidades do pensamento. O pensamento é do espírito, a linguagem é da cultura. A cultura dá uma roupagem (símbolo) ao pensamento (significado) criado pelo espírito. A linguagem pode modular o pensamento, tanto potencializando como limitando a sua expressão. A linguagem é o veículo do pensamento!

Nós, colaboradores da Doutrina Espírita, podemos estimular a aplicação da hermenêutica, por exemplo, no estudo das obras básicas, dos produtos mediúnicos, ou de qualquer produto cultural, promovendo reflexões críticas sobre os temas de interesse e ao mesmo tempo buscando sempre um novo olhar e um entendimento mais completo.

VITOR RONALDO COSTA



VITOR RONALDO COSTA RETORNA À PÁTRIA ESPIRITUAL - Revista Internacional de Espiritismo - Edição de Jan/2016 - Casa Editora O Clarim
Vitor Ronaldo Costa, escritor espírita com várias obras publicadas, além de palestrante e articulista doutrinário, retornou para a pátria espiritual em 21 de novembro de 2015, com 72 anos, em Brasília, devido a um câncer de pâncreas.
Em 19 de setembro de 1943, na cidade do sol, Natal - Rio Grande do Norte, nasceu Vitor Ronaldo Costa, o primogênito de cinco irmãos. Nascido em família espírita, sempre vivenciou a doutrina dentro de casa e desde cedo participava de reuniões mediúnicas.
Sempre mostrou inclinação pelo inexplicável aos olhos da matéria. A mãe contava que, ainda pequeno, gostava de sentar-se à mesa, com papel e caneta na mão, dizendo que ia psicografar. Em posição bem compenetrada, escrevia: “Jesus é amor”, a mãe achava graça, abraçava-o e dizia: “Muito bem! Excelente a sua mensagem!” E ele saia satisfeito por ter cumprido sua tarefa espiritual do dia.
Aos 14 anos, deparou-se com a primeira grande perda física da sua vida, a morte de seu pai. Soube, desde então, que se tornaria o “homem” da casa. A vida modesta e a necessidade de ajudar nas despesas da família fizeram com que ele começasse a trabalhar muito cedo. Sua mãe, mulher forte e generosa, foi a grande responsável pelo cultivo do espiritismo em seu ser. Na luta do cotidiano de criar seus filhos e viver as diretrizes da doutrina espírita, foi acometida por um câncer de mama, que acolheu com resignação e serenidade. Mesmo com tratamentos precários, resistiu bravamente durante vários anos e veio a falecer no dia da sua colação de grau em medicina.
Esteve casado por 45 anos com Janete, companheira que sempre lhe apoiou nos trabalhos espirituais. Era ela quem oferecia o primeiro acolhimento daqueles os quais procuravam consolo por meio dos tratamentos espirituais. Pai de três filhas e um filho e avô de cinco netos.
Na medicina, especializou-se em Medicina de Aviação, Clínica Médica e Homeopatia. E, na medicina da alma, por meio dos seus trabalhos mediúnicos, buscava oferecer a oportunidade de aliviar o sofrimento de encarnados e desencarnados.
Como médico da aeronáutica, foi morar em Porto Alegre e, posteriormente, radicou-se definitivamente em Brasília. Em Porto Alegre, buscava resposta para a necessidade de aprimorar os resultados das terapias desobsessivas dos doentes psiquiátricos do Hospital Espírita. Foi quando conheceu o Dr. José Lacerda de Azevedo e tornou-se o fiel companheiro dele, o mestre que o introduziu na desobsessão amorosa em casos complexos e o ensinou como exercê-la, utilizando-se da Apometria. Do Dr. Lacerda recebeu acolhimento, amizade, reforço à retidão e os manuscritos da grande obra dele. Este escreveu dois livros sobre o tema.
Em Brasília, labutou em trabalhos desobsessivos como dirigente mediúnico em várias casas espíritas. Finalizou sua tarefa corpórea das atividades mediúnicas no Grêmio Espírita Atualpa, casa que o acolheu com grande generosidade. Foi doutrinador, com mais de 40 anos de prática, no esclarecimento, conforto e despertamento dos espíritos sofredores. Foram milhares de assistidos, encarnados e desencarnados, atendidos sem qualquer tipo de cobrança, condição ou diferenciação por credo ou classe social.
Disciplinado, era um estudante incansável do espiritismo. Escreveu os seguintes livros: Mediunidade e Medicina; Apometria – Novos horizontes da medicina espiritual; Gerenciando as emoções à luz da sabedoria Crística; Enfermidades da alma; O visitador da saúde; Desobsessão e Apometria; e Mentomagnetismo e Espiritismo. E os seguintes livretos: Minuto mediúnico; Otimismo em verso e prosa; e Allan Kardec: Vida e Obra (espiritismo em versos). Foi um exímio palestrante, que atuava em várias casas espíritas, dentro e fora de Brasília.
Sistematizou, conjuntamente com seu sobrinho Gustavo Henrique de Lucena, as informações trazidas pelos espíritos sobre o Mentomagnetismo, com elucidações sobre o uso mental do magnetismo como auxílio fundamental para os trabalhos de desobsessão e de cura espiritual. Seu último livro publicado abordava esse assunto.
Um homem que soube viver e morrer. Tinha convicção na continuação da vida e no amparo dos bons espíritos. Ao receber o diagnóstico, afirmou sem titubear: “- Estou pronto!” Por conseguinte, não sucumbiu à revolta, à negação, à depressão quando colocado diante da doença fatal. Abdicou-se de murmurar queixas. Dizia estar tudo bem e minimizava os incômodos dos catéteres, drenos e intensa icterícia. Diante da cirurgia mutilante, só manifestava confiança e gratidão aos médicos, enfermeiras e nutricionistas. Sabia que ia desencarnar, mas minimizou a situação para que a família não sofresse. Para quem o conheceu ficou a saudade física da sua presença, mas a certeza de que Vitor Ronaldo Costa foi um homem bom. Nesse momento, no plano espiritual, reencontra seus entes queridos e todos aqueles que ele pode auxiliar durante mais de quatro décadas de trabalhos espirituais realizados com base no amor e na caridade.

sábado, 9 de janeiro de 2016

ANTUZA FERREIRA MARTINS


Uma das páginas mais luminescentes da Doutrina Espírita em Uberaba e também em toda a vasta região do Triângulo Mineiro, chamava-se Antuza Ferreira Martins.
Filha de Manoel Ferreira Martins e D. Júlia Maria do Espírito Santo, nasceu em uma fazenda nos arredores de Uberaba, no dia 09 de setembro de 1902.
Aos 4 anos, acometida de meningite, foi desenganada por muitos médicos, tendo, em conseqüência, ficado surda e perdido o sentido da fala. Posteriormente, mudou-se com a família para Uberaba.
Antuza, segundo Erenice sua irmã a quem carinhosamente chamávamos de Nice, desde pequena via os espíritos. Cresceu dentro de um clima psíquico que não compreendia, nem mesmo os familiares, posto que ninguém na família era espírita.
Quando completou 15 anos, em 1917, a família transferiu-se para Sacramento, cidade que, desde 1904, se transformara em ponto central do Espiritismo em todo o Brasil, pelo trabalho que vinha desempenhando o inesquecível Eurípedes Barsanulfo.
Em lá chegando Antuza foi levada pela mãe à presença de Eurípedes, o qual, ao vê-la, foi logo dízendo da tarefa que deveria desempenhar no campo da mediunidade.
Tornaram-se, a partir daí, espíritas.
Durante alguns meses, quase dois anos, Antuza trabalhou lado a lado com Eurípedes Barsanulfo, ora ajudando na limpeza da farmácia, ora auxiliando na manipulação dos medicamentos homeopáticos. Com esse "estágio espiritual" junto ao grande Missionário da Caridade, Antuza equilibrou-se, aprendeu a viver dentro de suas limitações,a comunicar-se por meio de sinais e as suas faculdades psíquicas ampliaram-se dando-lhe extraordinária lucidez.
Quando Eurípedes desencarnou, em 1918, ela e a família mudaram-se definitivamente para Uberaba. Mas, antes disso, ainda em Sacramento, Antuza encontrava-se desconsolada com a partida do Benfeitor para o Plano Espiritual e chorava muito. Através da mímica e de algumas poucas palavras que com o tempo aprendeu a articular, conta-nos ela que, certo dia, quando, em prantos, ouviu uma voz a chamar-lhe: - “Antuza, Antuza!..” Ela, assustada, ao voltar-se, percebeu Eurípedes pairando no ar a dizer-lhe ainda: - "Não chore. Você precisa trabalhar muito! . . ."
Quando ainda morava em fazenda, uma criança foi levada pela mãe até Antuza para ser “benzida”. A criança estava muito mal, com o abdome muito dilatado. Antuza conversou com os espíritos (via-se que ela estava ouvindo e respondia, com gestos e com balbucios a alguém invisível), estendeu as mãos com as palmas para cima e da espiritualidade desceu uma quantidade grande de fluido esverdeado e luminoso (a irmã mais velha de Antuza era médium e viu essa massa fluídica). Antuza modelou essa massa com as mãos e colocou sobre o abdome da criança, massageando de leve. O abdome da criança foi diminuindo e em poucos dias ela estava saudável.
Quando a família se instalou em Uberaba, contava ela 17 anos e começou a freqüentar o tradicional Ponto "Bezerra de Menezes", em casa de Da Maria Modesto Cravo. Numa das reuniões do Ponto Antuza recebeu instruções sobre a sua missão do espírito de Santo Agostinho que seria, durante toda a sua vida, seu protetor. Note-se que através da psicofonia de Da Maria Modesto todos os presentes ouviram a comunicação, inclusive Antuza que, apesar de surda, ouvia os espíritos.
Por essa época, Antuza começou a transmitir passes, cuja mediunidade curadora, coadjuvada pela vidência, audição, desdobramento e efeitos físicos, foi empregada para ajuda aos necessitados com raro discernimento evangélico.
Antes de passar a atender em sua própria casa, num galpão construído nos fundos, trabalhou como médium no C. E. Uberabense, Sanatório Espírita e na Comunhão Espírita Cristã, logo que Chico Xavier se transferiu para Uberaba.
A seu respeito, o nosso estimado Chico já se pronunciou em diversas ocasiões, tendo, inclusive, afirmado trazer Antuza "o remédio nas mãos". Quando homenageado na Capital do Estado, Chico disse que existia em Uberaba uma senhora que, no anonimato de seu trabalho em favor dos que sofrem, deveria ali estar sendo alvo das homenagens prestadas a ele, que reconhecia não as merecer, de forma alguma, e citou o nome de Antuza Ferreira Martins!
Em sua própria casa e depois no “Barracão”, recebia extensa fila de pessoas, entre crianças e adultos. Quantas vezes, após exaustiva concentração, Antuza nos descrevia o problema orgânico, ou espiritual, de quem lhe buscava o concurso carinhoso e abnegado!
Uma senhor obsedada foi trazida amarrada para a casa onde morava Antuza. Era necessário, mesmo assim que várias pessoas a segurassem, ela se debatia e retorcia constantemente. Antuza entrou em prece e daí a pouco uma médium vidente presente viu uma luz vinda de muito alto descer e tomar a forma de Eurípedes Barsanulfo. Este incorporado na médium disse “boa noite, irmãos” e os espíritos que subjugavam aquela senhora afastaram-se imediatamente. Aí Eurípedes pediu que desamarrassem e soltassem a mulher. Ela se tornou imediatamente lúcida e curada daquela obsessão.
Um moça vinda do estado de Mato Grosso chegou até a casa da Antuza andando de “quatro”, isto é como um quadrúpede, sem falar e sem consciência de si mesmo. A família já havia procurado inúmeros médicos sem resultados. Antuza “conversou” com o espírito que a obsedava, fez gestos indicando a ele que se retirasse, fosse embora e em alguns minutos a moça se levantou e perguntou ao pai que a acompanhava: onde estamos? O que estamos fazendo aqui? Na sessão de desobsessão que ocorria à noite no Barracão, dois espíritos vingadores da moça foram doutrinados: haviam sido torturados e mortos por ordem dela quando eram seus escravos e a perseguiam desde então. Faziam-na ficar como um animal e montavam sobre ela, fazendo-a conduzi-los no “lombo”, entre outras coisas.
Além das atividades mediúnicas Antuza ajudava nas tarefas da casa, ao lado de sua irmã Erenice, irmãos e de seus sobrinhos que vieram morar com eles. Fazia tapete de crochê usando cordões cortados de malhas; esses tapetes eram vendidos e o dinheiro era usado para comprar algumas coisas para seu uso pessoal, presentes, brinquedos e outras necessidades.
Conta-nos Nice (intérprete de Antuza para os que não se familiarizam com a sua maneira de "falar" com as pessoas) que, certa vez. uma mulher, chorando muito e extremamente desesperada, ao receber o passe, é indagada pela médium se tinha bebido alguma coisa corrosiva, pois o interior dela estava parecendo "velho". Ainda em lágrimas, a infeliz irmã lhe diz que, tempos atrás, havia ingerido soda cáustica (!) e ainda sentia fortes dores, encontrando dificuldade de alimentar-se normalmente.
Para que tenhamos uma idéia da presença dos espíritos na vida de Antuza, vejamos o que ocorreu quando ainda era criança. Ela e a mãe, morando na fazenda foram até a horta colher legumes e sua mãe deixou-a; um pouco para trás; nisto, surge uma cobra prestes a picar a menina. Ela ficou como que hipnotizada e, como não falava, não tinha como gritar por socorro. Eis quando, ao seu lado, um espírito, com aspecto de padre, a pega pelos braços e lhe dá um violento impulso, distanciando-a, assim, do peçonhento réptil. Antuza começa a chorar e sua mãe, correndo, chama alguns lavradores, os quais dão cabo da enorme serpente.
Dr. Henrique Krüger, médico uberabense, Agostinho, Eurípedes Barsanulfo e muitos outros a quem não conhece pelo nome, são os espíritos que lhe assistem o trabalho cristão ao qual devotou a própria vida.
Por volta de 1979, Antuza que ainda enxergava, porém surda e muda, vivia em Uberaba na companhia dos irmãos Euphranor e Erenice; e, aos domingos, como de costume, almoçava na casa do sobrinho Antônio Carlos, o qual possuía um piano francês.
Antuza era capaz de ver dentro do corpo das pessoas, a doença que tinha ou não tinha; fazia curas à distância, especialmente à noite.
Após a refeição, Antuza se dirigia para a sala onde se encontrava o piano, e acomodando-se em uma poltrona, permanecia imóvel por mais de uma hora. Depois, levantando-se, vinha dizer em seu modo característico (gestos e fala precária) que Frederico, um rapaz muito bonito, estava tocando piano para ela; e que sua música era maravilhosa. Tai fato se repetiu por anos, e era de conhecimento de toda a família. Certa vez, em visita a outro sobrinho: Euphranor Jr., que era professor de História e possui uma bela biblioteca em sua casa; este entregou à Antuza um belo exemplar de um livro sobre os maiores compositores da musica clássica (nota-se que tal livro continha fotografias de todos compositores, os quais, já haviam desencarnado). Enquanto Antuza folheava o livro, Euphranor Jr. ia lhe perguntando se ela conhecia as pessoas das fotos, o que lhe era negado: “Não...,não..., não!” Em dado momento, diante da foto do grande músico Frederico Chopin ela se manifestou por gestos: "- Éele! Frederico, o moço que toca piano para mim”.
Como Eurípedes, Antuza igualmente "casou-se com os mais pobres", doando-se inteiramente ao serviço cristão, na edificação do Reino de Deus no coração das criaturas.
Em seus lábios, a palavra "trabalhar" (uma das poucas que conseguia articular com certa nitidez) soava de maneira diferente: é imperiosa e definitiva!
Por mais de 70 anos ela exerceu seu legítimo "mandato mediúnico". E não são poucos os que, através de suas abençoadas mãos, receberam o amparo do Mais Alto.
Em seu humilde recanto de trabalho, sobre tosca mesa de madeira, cujos pés estão fincados no piso, um único livro: "O Evangelho Segundo o Espiritismo", o qual, de quando em quando, solicitava a um dos colaboradores ler uma página.
Nos últimos seis anos de existência física, Antuza ficou cega, agravando as suas limitações físicas e no dia 30 de julho de 1996, aos 94 anos incompletos, desencarnou em Uberaba, em decorrência de complicações naturais da idade avançada.
Antuza, uma "baixinha" de um metro e alguns quebrados de altura, mas um espírito gigante na seara evangélica foi, sem dúvida alguma, uma das mais legítimas representantes da mediunidade com Jesus!
Um exemplo a ser seguido pelos espíritas de hoje e de amanhã!...

(texto baseado no livro “O Espiritismo em Uberaba” , no “Anuário Espírita” de 1997, em um “Boletim Informativo” da AME Uberaba e em informações pessoais de parentes)


Vídeo com Antuza

sábado, 2 de janeiro de 2016

Mundos transitórios e espíritos errantes

Todos nós sabemos que somos Espíritos vivendo temporariamente em um corpo Material e que ao desencarnarmos passaremos por um outro estágio... Continuaremos nossa jornada como Espíritos em Estado Errante, ou seja, Espírito desligado do envoltório material e esperando uma nova encarnação.

Espíritos errantes são todos os Espíritos desencarnados em diversos graus de evolução. O único Grau de Espíritos que não mais se encontram na erraticidade são os Esp. Puros ou perfeitos, pois não mais precisam reencarnar. (somente como missionários).

Lembrando que Espírito tem uma determinada Ordem, estipulada por Allan Kardec com a ajuda dos Espíritos para facilitar nosso entendimento:

3ª. Espíritos Imperfeitos – Predominância da Matéria sob Espírito.
2ª. Espíritos Bons – Predominância do Espírito sob a Matéria, podendo sofrer influência da matéria.
1ª. Espíritos Puros – Não sofrem nenhuma influência da matéria e têm grande superioridade Moral e Intelectual.

Nós do Planeta Terra ainda estamos na terceira ordem dos Espíritos, pois ainda sofremos muita influência da Matéria sob o Espírito.

Quando a alma desencarna?

Quando desencarnamos, como ainda não somos espíritos perfeitos, passamos a viver na erraticidade.
É sabido que haveremos de encarnar novamente, mas não podemos precisar o tempo que ficaremos no mundo espiritual.
Os Espíritos nos afirmam que muitas vezes, dado ao nosso livre-arbítrio, nós próprios pedimos para reencarnar ou ficar um pouco mais no plano espiritual com finalidades evolutivas.
Outros casos os Espíritos são obrigados a reencarnar, mesmo não querendo, mas isto não é castigo e sim um bem porque para todo mal um bom remédio. (...)

Nossos amigos espirituais evoluídos sabem que somente através da reencarnação é que poderemos alavancar nossa evolução e, muitas vezes, o espírito recalcitrante neste ou naquele erro precisa expiar para evoluir.

Embora muitos acreditem que estar na erraticidade é sinal de inferioridade...
Precisamos entender que, há diversos graus de espíritos, portanto há espíritos errantes de todos os graus.

Como Espíritos Evoluem?

Como Espíritos não paramos nunca de evoluir, como Espíritos Desencarnados, estudamos nosso passado e procuramos corrigir as nossas falhas. Participamos de Estudos, Palestras e Trabalhamos para conseguirmos atingir um bom estágio.

Ex.: Nosso Lar – André Luiz / Chico Xavier

André Luiz – Iniciou os trabalhos nas Câmaras de Retificação (...)

André Luiz – Procurava buscar conhecimentos e para isto tinha ajuda de Lísias. (...)

Como eu encarnado serei como Espírito Desencarnado?

Não podemos achar que ao deixarmos o envoltório material adquiriremos “asas de anjos” ou mesmo evoluiremos ao “toque dos sinos” – isto não existe.

Como já nos avisou Jesus “A cada qual segundo as suas próprias obras”, portanto seremos nós mesmos, como Espíritos, com nossas mazelas, virtudes e todos os conhecimentos que angariamos quando aqui no planeta por isso a importância de procurarmos sempre o bem maior a semelhança de Cristo que foi e é nosso melhor exemplo.

Lembrando que aqui na Terra eu posso colocar várias máscaras e passar despercebido, mas diante da espiritualidade nada passa e todos os véus serão tirados e o “eu verdadeiro” tomará seu lugar.

Ex.: Voltei - Irmão Jacob / Chico Xavier

O espírito Irmão Jacob narra no livro Voltei as dificuldades que encontrou quando desencarnou, pois ele, quando encarnado, era um Militante Espírita muito conhecido e atuante, mas quando desencarnou descobriu-se sem luz, pois seu íntimo era repleto de mazelas que eram mascaradas por sua grande atuação dentro da Doutrina Espírita.

Neste livro Jacob alerta-nos quanto à necessidade de nos libertarmos de todo e qualquer tipo de vaidade que é bem próprio de pessoas que se destacam neste ou naquele grupo religioso ou não.

Logo no início deste livro Irmão Jacob narra que havia uma senhora desencarnada no mesmo grupo que ele estava e ela mantinha-se totalmente iluminada (ela havia sido uma professora muito dedicada) e isto he causou muito constrangimento, pois ele não emitia luz alguma.

Eu desencarnado

Ainda comentando do Livro de Jacob podemos entender que somos e seremos aquilo que fizermos de nós mesmos. Parece filosofia...

Verdadeiramente eu preciso e devo-me auto-melhorar pouco a pouco; Como já dizia Sócrates: “Conheça-te a ti mesmo”.

Todos nós precisamos conhecer o nosso ser mais íntimo para que a evolução se faça presente e efetiva para que ao desencarnar eu tenha a certeza de que fiz o meu melhor.

Não existem fórmulas mágicas que libertará o Espírito deste ou daquele estado mais ou menos feliz. O Espírito será feliz ou infeliz de acordo com seu grau de evolução.

“Há muitas moradas na Casa de meu pai” – Jesus

Quando avançamos nossos estudos evangélicos logo observamos que todas as parábolas de Cristo tinham fundamental importância para nossas vidas e nossa evolução.
E ainda com o advento do Espiritismo em Abril de 1857, na primeira Edição do Livro dos Espíritos pudemos tirar dúvidas que há tanto tempo homens se confundiam.

No E.S.E. temos no Cap. III “Há muitas Moradas na Casa de Meu Pai” com explicações relevantes para que entendamos o princípio da Criação Efetiva de Nosso Divino Criador.

Olhar Universal

É impossível achar que Deus haveria apenas de criar nosso planeta quando o Universo é tudo aquilo que nossos olhos podem enxergar e muito mais... Muito mais...

Quem acessa a internet, ou mesmo lê jornais ou revistas já deve ter visto o Hubble, um telescópio gigantesco que o homem colocou em órbita no dia 24 de abril de 1990 e que têm descoberto novos planetas a cada ínfimo segundo...
Incrível isto!

Vem provar não somente o que Jesus nos disse, mas que Deus é uma força criadora constante.

Allan Kardec no E.S.E. classificou os mundos habitados, com a ajuda dos Espíritos em cinco classes:

1- Mundos Primitivos = habitados por espíritos extremamente materialistas, o mal está presente em quase tudo. (Ex. Homem das cavernas)
2- Mundos de Expiação e Provas = habitados por espíritos onde ainda há ainda a predominância do mal sob o bem. (Ex. Terra)
3- Mundos Regenerados = Onde há a prevalecência do bem sob o mal.
4- Mundos Felizes = Onde o bem sobrepõe o mal em todos os seus graus.
5- Celestes ou Divinos = Onde vivem os espíritos puros ou perfeitos que não pensam mais no mal, somente no bem.

Onde se coloca então os Mundos Transitórios?

São Mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos onde eles podem habitar por um tempo. Seria como um acampamento onde eles descansariam.

Os espíritos que habitam estes mundos podem deixá-los para seguir o seu destino. Tipo de aves de arribação que descansam em uma ilha qualquer para recuperarem forças e seguir adiante.

Há progresso nos mundos transitórios?

Não há nada de inútil na natureza, pois tudo que é criado por Deus tem uma natureza progressista.
Nestes mundos transitórios os espíritos progridem, muitas vezes reúnem-se aos seus afins para juntos aprenderem e evoluírem.

Nestes mundos não há nada corpóreo, ou seja, nada de material. Sua superfície é estéril. Os que os habitam não precisam de nada deste mundo, por isto, é mesmo só para o descanso temporário.
Os Espíritos têm possibilidade de ir e vir

Todos os Espíritos, encarnados ou desencarnados, possuem o livre-arbítrio, mas é mais ou menos limitado de acordo com o grau de evolução de cada espírito.

Espíritos Perfeitos podem ir para regiões Umbralinas, mas Espíritos Imperfeitos não conseguem atingir as altas regiões dado ao seu estado denso ainda, maio ou menos como uma bola pesada que ao cair na água afunda imediatamente...

Ex.: Livro Libertação – André Luiz/Chico Xavier

No livro Libertação tem uma importante narrativa de André quando ele descreve que foram em missão para Zonas Umbralinas e precisaram “baixar o padrão vibratório” para não serem vistos...
...tal a luminosidade do grupo em questão.

As obras de André são ricas em exemplos que elucidam os estudos da Doutrina Espírita.

Revista Espírita em maio de 1859

Nesta Revista há uma narrativa de Allan Kardec com os Espíritos Chopin e Mozart:

A.K. – Como considerais as vossas produções musicais onde estás?
C – Eu as prezo muito, aqui dispomos de mais recursos.
A.K. – Quem são os executantes?
C – Sob nossas ordens temos legiões que tocam nossas composições em mil vezes mais arte.
A.K. – Sois errantes?
C – Sim, não pertenço com exclusividade a nenhum planeta.
Mozart – Poderíeis explicar-nos o que acaba de dizer Chopan? Não compreendemos estas execuções por Esp.Errantes. (...)
C – Compreendo vossa surpresa; entretanto, já vos dissemos que há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que lhes podem servir de habitação temporária.
Allan Kardec, após receber esta resposta que encontra-se no L.E. evoca Sto.Agostinho e faz outras perguntas no referente á mundos transitórios.
Então, podemos entender que as muitas “moradas” que Jesus ditou vão muito além de um simples espaço circunscrito.

Como entender céu, inferno, purgatório segundo o espiritismo

Muitos espíritas classificam o céu como sendo os mundos divinos ou celestes, inferno como sendo criações mentais e purgatório como as Zonas Umbralinas.

Mas o que precisamos e devemos compreender é que cada ser, cada espírito é uma individualidade assim como existem um grande número de classificação de espíritos e mundos.

Allan Kardec, com a ajuda dos espíritos, fez esta ou aquela classificação apenas para que pudéssemos alçar vôo a um entendimento que se fará mais completo a medida de nossa evolução.

Nós, aqui no planeta Terra, ainda estamos lutando para entender o princípio do Amor Universal, que se fará presente mais à frente...

...mas o que é imprescindível é que compreendamos que para que nosso lindo planeta azul alavanque de um Planeta de Expiação e Provas para um Mundo Regenerado que eu faça a minha parte.
Lute para me auto-melhorar

Como disse o Espírito Bezerra de Menezes:
“Jesus está no Leme...!”

Que eu observe o que Jesus queria de mim e faça o meu melhor hoje, agora e sempre!

Paz e Luz!

Da Vida Espírita - Espíritos Errantes

Da Vida Espírita - Espíritos Errantes

"O Livro dos Espíritos" - Questões 223 a 232

Estudo Espírita
Promovido pelo IRC-Espiritismo
http://www.irc-espiritismo.org.br
Centro Espírita Léon Denis
http://www.celd.org.br

Expositor: Deise Bianchini
Estudo conjunto do dirigente da noite e usuários
14/10/2000

Dirigente do Estudo da Noite:

Deise Bianchini - Naema

Oração Inicial:

<Naema> Querido Jesus
esperamos nesta noite maravilhosa
termos a companhia dos amigos espirituais que possam nos orientar, nos amparar e nos aconselhar em todos nossos momentos
aqui nos estudos
em nossa vida
que possamos sempre sentir esse amparo e proteção dando também de nossa parte
nossos esforços em melhorarmos
em produzirmos nossa reforma íntima
para que sejamos homens e mulheres
que possam produzir um mundo novo
e que possamos colaborar na sua transformação para um mundo de regeneração
Assim Seja !

Mensagem Introdutória:

Diante de Mundos Novos

Em matéria de mundos a conquistar, não nos esqueçamos de que todos, individualmente, respiramos no mundo que nos é próprio. Peçamos aos anões docos para que interpretem, de improviso, o pensamento musical de Beethoven; insistamos com os esquimós para que exprimam, sem delonga, a conceituação que possam alinhar sobre o direito romano ou roguemos aos nossos xavantes amigos para que assimilem, de imediato, alguma definição de Spinosa, e, decerto, não exerceríamos senão violência sobre o campo mental em que estagiam, esperando que o tempo lhes ofereça a necessária maturação. Não nos vale fantasiar incursões demasiado profundas no espaço infinito, sem a justa preparação perante a vida que nos espera. Sem dúvida, é natural que a ciência cogite da indagação a novos domínios da natureza, construindo no presente os alicerces dos grandes cometimentos com que fulgirá no futuro. Todavia, se quisermos galgar os degraus da Vida Maior, ingressando em círculos mais vastos e mais elevados do amor e da inteligência, é preciso saibamos partir da consciência egoística a que ainda nos ajustamos, ao preço de estudo e abnegação, trabalho e acrisolamento, no rumo das Esferas Superiores, a refletir a luz da Vida Cósmica, que somente à custa de educação e bondade nos acolherá em seu infinito esplendor. Emmanuel
Do Livro: Nascer e Renascer
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
Editora: GEEM

Exposição:

<Naema> Vamos então procurar estudar juntas o assunto, de maneira informal, que é Vida Espírita, Espíritos Errantes

<_Dulce_> Vamos sim :)

<Naema> O Livro dos Espíritos nos diz que a alma algumas vezes reencarna imediatamente; porém o mais comum é que tenha intervalos mais ou menos longos entre as encarnações. Nos mundos superiores a reencarnação é quase sempre imediata No intervalo das encarnações a alma se torna espírito errante q aspira a seu novo destino Esse intervalo, entre uma encarnação e outra pode ser de algumas horas a alguns milhares de séculos Não há um limite assinalado para o estado errante, mas ele nunca é perpétuo Cedo ou tarde o espírito encontra a oportunidade de recomeçar uma nova existência, que sirva de purificação às anteriores

<DulceEstudos> O que quer dizer exatamente o termo "errante"?

<Naema> Quer dizer que o Espírito não está encarnado

<DulceEstudos> entre uma encarnação e outra? é isso Naema?

<Naema> sim, isso mesmo :))

<DulceEstudos> e o termo Vida Espírita? é a mesma coisa?

<Jordana> Espíritos errantes referem-se a todos os espíritos que estão no "intervalo" de uma nova reencarnação?

<Naema> sim Jordana e Dulce

<Naema> E precisamos considerar que há espíritos errante de todos os graus

<Jordana> Quando um espírito estaria preparado para não mais ser errante? Quando atingir a categoria de evolução maior?

<Naema> A encarnação é um estado transitório, no seu estado normal o espírito está liberto da matéria

<DulceEstudos> então, a verdadeira vida é a vida espírita...

<Naema> Os espíritos puros, que alcançaram a perfeição, não são errantes, seu estado é definitivo

<DulceEstudos> isto é...mesmo quando não há mais necessidade de encarnação, e portanto o espírito não é mais errante, a vida espírita continua.

<Naema> isto é, Jordana, não necessitam mais reencarnar, mas o podem fazer em missões

<Naema> Sim Dulce, sabemos que a encarnação é para nós uma escola onde temos oportunidade de evoluir e resgatar alguns débitos, porém o Espírito também pode melhorar-se no estado errante, segundo a sua vontade mas é na existência corporal q põe em prática as idéias q adquiriu Os espíritos errantes serão felizes ou infelizes de acordo com seus méritos

<Naema> Bem, alguém gostaria de fazer mais algum comentário?

<Naema> Vemos do falado acima que o estado errante é um estado normal para o espírito, isto é, será um intervalo entre as encarnações, momentos em que ele pode progredir, principalmente observando seus erros, sem véus que cubram os diversos passados

<DulceEstudos> o estado de encarnado é que é passageiro...o da vida espírita é o permanente...

<Naema> A duração da erraticidade não tem um tempo pré-determinado

<Naema> sim Dulce, e o mais importante, é o momento em que poremos em prática as lições aprendidas, pois estaremos entregues ao nosso livre arbítrio, com o esquecimento do passado sem a visão geral dos diversos compromissos assumidos

<DulceEstudos> sim, Naema

<Naema> O que devemos sempre lembrar, é que não importa nosso atual estado,

<Naema> encarnado ou errante, sempre teremos ao nosso lado àqueles espíritos que nos amam a nos amparar e querer o nosso adiantamento Mesmo na erraticidade, quando estamos em aprendizagem, eles estarão lá, os antigos e espero que vários e vários novos amigos :))) Vemos isso nos livros de André Luiz

<Naema> onde ele conta o contato com instrutores que procuram esclarecer sobre a vida no plano espiritual

<DulceEstudos> isso é extremamente consolador, Naema :))

<Naema> E se formos comparar os livros dele, vemos que ele foi evoluindo no nível de informações que nos fornecia primeiro em Nosso Lar, o mais básico, o despertamento no mundo espiritual, o reconhecimento de atividades e situações e nos demais livros , a cada um deles, um nível maior de conhecimentos, de aprofundamento É o que ocorrerá com todos nós e o tempo mais ou menos longo dependerá de nós mesmos, pois os amigos estarão lá, da mesma que estão aqui, só depende de nós termos ouvidos de ouvir :)))

<Naema> Amigas, estamos abertos a comentários adicionais

<Naema> hoje foi uma noite diferente, principalmente devido aos problemas da rede, mas considerei muito proveitosa :))

<DulceEstudos> com certeza, foi, amiga :)) Eu tava aqui pensando quanta diferença faz saber disso...da vida espírita...de que somos ainda errantes...da reencarnação...isso muda tudo em nossas vidas....diante das dores, olhamos com outros olhos...é muito consolador... sabemos que a vida aqui é só um instante...e que a verdadeira vida é a espiritual...então, quando perdemos um ente querido, por exemplo, podemos dizer que ele apenas voltou para casa...e que logo, logo, o reencontraremos :)

<Naema> sim, que ele voltou para casa , mas que também não está inacessível, sempre poderemos manter contato, mesmo que nossos reencontros sejam através dos sonhos :))

<DulceEstudos> exato :)

<Naema> Se ninguém mais tiver comentários, acho que podemos encerrar nossos estudos

<Naema> Possamos nós estarmos novamente aqui reunidos na semana que vem. Que a Paz do Mestre Jesus acompanhe a todos durante toda a semana.

Oração Final:

<DulceEmPrece> Jesus amigo,
nesses momentos em que vamos finalizando mais esse encontro de estudos e meditações em torno dos ensinamentos dos Espíritos Amigos, nos elevamos o nosso pensamento e o nosso coração a Ti, em gratidão por tantas luzes que nos chegam. Luzes que esclarecem as nossas mentes,
Luzes que consolam nosso coração,
Luzes que animam nossas mãos e nosso pés, na direção do outro...do Bem.
Que possamos estar aqui na próxima semana, juntos, unidos em pensamento e coração,
para aprofundarmos os nossos conhecimentos, o nosso entendimento acerca da Verdade, que nos libertará, como Tu nos ensinaste. Que as tuas Luzes possam alcançar todos os corações que não conseguiram aqui chegar. Que todos sejam beneficiados pelo Teu Amor, pelas Tuas energias de Paz, Harmonia e Serenidade. Que possamos nos melhorar a cada dia, para estarmos sempre ao Teu lado... na certeza da Tua presença ao nosso lado sempre. Obrigada, querido Amigo.
Graças a Deus. Graças a Jesus.